O que é “Élevage”?

Que os franceses dominam o mundo do vinho ninguém discute. Até na terminologia. Embora existam correspondentes na nossa rica língua, predominam os galicismos no jargão usados por enófilos, sommeliers, enólogos, etc…
O mítico e pouco compreendido “terroir” está aí para confirmar esta regrinha. Élevage é mais uma palavrinha para incluirmos no nosso glossário.

A tradução literal não diz muito e, talvez, justifique o estrangeirismo. Élevage significa criação, aprimoramento. Esticando um pouco esta definição, poderíamos incluir maturação e amadurecimento, o que já nos deixa bem próximos do vinho.

Tecnicamente falando, élevage abrange todo o período compreendido entre o final do processo fermentativo até o engarrafamento. E não são poucas etapas. Um tempo que vai exigir um máximo de atenção aos detalhes e onde importantes decisões devem ser tomadas. Para muitos observadores, a élevage é considerada como uma arte. É neste momento que o vinho realmente passa a existir, desenvolvendo suas qualidades, potencial e características mais marcantes. Mas também pode ser o caminho para um completo fracasso.

Em linhas gerais, três grandes processos acontecem durante este aprimoramento: filtragem, afinamento e passagem por madeira (ou não). Alguns especialistas consideram que a própria fermentação, o tipo de estocagem entre as etapas, o envelhecimento e até o engarrafamento deveriam fazer parte disto tudo. Um pouco de exagero.

Para quem não se recorda, após a fermentação, quando o açúcar contido no sumo das uvas é convertido em álcool, o produto resultante deve ser, pelo menos, decantado para separar a parte líquida da sólida.

Em seguida, passa por processos de filtragem mais ou menos extensos, terminado com um afinamento, quando uma solução tipo coloidal (clara de ovo, ictiocola, outros) é adicionada ao líquido para que este fique límpido, sem nenhuma partícula em suspensão.

Atualmente há uma grande corrente de produtores que advoga a não filtragem e afinamento, principalmente aqueles de linha orgânica e natural. Para os Veganos, seria inaceitável um vinho que recebeu, em qualquer estágio, algum produto de origem animal.

O próximo passo envolve a mais importante a ser tomada: passar ou não o vinho por madeira, ou seja, deixá-lo repousando em contato com o ‘carvalho’, por um determinado período antes de engarrafa-lo.

A influência da madeira no vinho é enorme e acrescenta importantes aromas e sabores, aos quais muitos apreciadores se torna adeptos. Para muitos, vinho sem madeira não é vinho. (Entre os consumidores jovens, a tendência é diametralmente oposta: sem carvalho.)

Escolher o tipo de madeira, tamanho e formato (barricas, tonéis, dornas), a tosta, se serão novas ou usadas e qual o tempo de guarda são decisões difíceis.

Eis um resumo das opções disponíveis:

Carvalho americano, francês ou esloveno – cada um vai agregar diferentes características;

Barricas nova ou usadas – significa maior ou menor intensidade da influência da madeira sobre o vinho;

Chips ou aduelas – mais baratas que as barricas e com os mesmos efeitos, embora muito criticadas pelos ‘experts’;

Tosta – na fabricação de uma barrica, por exemplo, a superfície de contato com o vinho deve receber uma queima prévia, a tosta, para intensificar e criar alguns dos muitos sabores e aromas transmitidos. Três pontos são usados: leve, média ou intensa;

Tamanhos ou formatos – além de influir sobre os custos, estão diretamente ligados à intensidade mencionada no item acima;

Tempo de contato – talvez seja a chave de tudo – com pouco tempo as notas de madeira serão tênues e sutis. Tempos prolongados significam sabores mais marcantes. Tempos excessivos podem destruir um bom vinho.

Micro-oxigenação – a porosidade do material permite uma lenta e saudável oxigenação do vinho durante o seu período de amadurecimento.

A madeira é considerada como o ambiente ideal para a realização da fermentação malolática, quando o ácido málico é transformado em ácido lático, introduzindo sabores amanteigados que deixa o vinho mais cremoso e sedoso.

Para finalizar, eis algumas das características passadas pela madeira:

– Frutos secos, caramelo, tostados;

– Notas defumadas, de coco, chocolate, café;

– Especiarias como canela, noz moscada, endro;

– Baunilha, açúcar.

Vida de vinhateiro não é fácil.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: um interessante vinho italiano.

Liberi di Bere Bene – $

Um intrigante corte das castas Bonarda, Barbera e Cabernet Sauvignon, elaborado na região da Emilia Romana, pela Cantine Casabella.

Aromas de vinho jovem frutado com notas de frutas do bosque. No palato é seco, macio e redondo e com notas minerais. Muito harmonioso.

Harmonização: pizza, massas, carne branca, hambúrguer e outros sanduiches.

Compre aqui:

– Vina Brasilis – Rômulo – romulo@vinabrasilis.com.br – (21) 96756-6123 – https://www.facebook.com/pg/VinaBrasilis/shop/?rid=133172546824172&rt=6

Vinoart vinhos – https://www.vinoartvinhos.com/

No Rio de Janeiro, está na carta destes restaurantes:

Le Poulê – R. Jangadeiros, 10 – Ipanema – Tel: (21) 2523-2466

Taberna da Glória – Rua do Russel, 32 A – Tel: (21) 2265-7835

2 Comments

  1. Helvecio Teles Teixeira

    Muito bacana Rômulo. Sou vinhateiro em Minas, produção de inverno há 05 anos. Estou produzindo Syrah, Sauvignon blanc laranja ou âmbar para diferenciar dos demais. Em evolução para a qualidade das uvas e depois consequentemente o vinho. Vinifico uma parte na vinícola do estado , outra parte em casa. Mas todos são analisados e adoto as boas práticas de processamento conforme Embrapa. Breve terei o MAPA.

    • Tuty

      Olá Helvecio
      Agradeço seu comentário e parabéns por seus vinhos.
      Espero prova-los um dia.
      Só gostaria de fazer um correção nisso tudo: meu nome é João, ou Tuty, apelido de longa data.
      Rômulo é o nome de um negociante que vendia o vinho indicado no texto que vc comentou.
      Abs e saúde para vc e família.
      Tuty

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

© 2024 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑