O texto anterior a este, “Um Tinto Para o Seu Paladar”, gerou interessantes comentários, entre eles, um que me chamou a atenção para uma dificuldade, do leitor, em identificar a presença de madeira nos vinhos.
Na resposta, destaco que o aroma de baunilha é o indicador mais simples que confirma a passagem de um vinho pelos famosos barris de carvalho, como na foto que ilustra esta matéria.
Identificar os diferentes aromas e sabores presentes numa bebida é quase uma arte e, como tal, exige algum treinamento ou aperfeiçoamento. Nada difícil e laborioso. Pode ser muito divertido adquirir esta capacidade, o que inclui passeios por mercados e feiras livres, experimentando as várias frutas, verduras, legumes e flores.
Para identificar as características adquiridas pelos vinhos que foram armazenados ou fermentados nos recipientes de carvalho, o caminho será outro, ainda assim bem prazeroso.
Eis um plano em duas etapas.
A casta branca Chardonnay será a nossa guia nesta primeira fase. Os dois tipos de vinhos produzidos a partir dela, com e sem madeira, são facilmente identificáveis, permitindo que um leigo treine seu paladar sem dificuldades.
Começamos pela coloração: o vinho que passou por madeira exibe tons mais escuros, amarelo palha, em comparação com um Chardonnay jovem que apresenta uma coloração bem clara, quase transparente.
Na prova olfativa, os vinhos sem madeira apresentam os aromas de frutas, tipicamente maçã verde, abacaxi e nectarina, bem em evidência. Nos madeirados será fácil perceber a presença das notas de baunilha e tostado.
No palato estão as maiores diferenças. Os que passaram por madeira terão aqueles deliciosos e marcantes sabores cremosos e amanteigados em oposição à acidez quase crocante dos vinhos jovens.
Não tem como errar, são quase antagônicos.
Na segunda fase, aplicamos estes princípios aos tintos.
A maioria dos varietais, Cabernet, Merlot, Syrah/Shiraz, e muitas outras, tem versões com e sem madeira.
Para tudo ficar coerente, alguns detalhes são importantes:
– Os vinhos devem ser de um mesmo produtor e se possível dentro de uma mesma safra;
– Não usem vinhos de corte;
– Analisem as fichas técnicas dos vinhos antes de comprá-los. Muitas vezes um determinado vinho varietal não preenche as características ideais para este exercício. Prefira os que declaram ser elaborados com 100% da casta.
Há uma interessante alternativa, por conta de normas de produção bem estruturadas e rígidas: vinhos tintos espanhóis.
Destaco os DOC Rioja, elaborados com Tempranillo.
Serão quatro etapas, correspondendo as tradicionais classificações destes vinhos.
A primeira, chamada comumente de Cosecha, abrange os vinhos com um ou dois anos de produzidos, que não foram amadurecidos ou envelhecidos em tonéis de carvalhos. São jovens, frutados e com muito frescor.
Na segunda denominação, Crianza, vamos encontrar vinhos com três anos de idade, dos quais, um ano em madeira. Já é possível notar os aromas e sabores de baunilha e algumas especiarias. Pouca influência sobres os taninos, embora paladares mais treinados possam perceber uma evolução ao comparar com o Cosecha.
As categorias seguintes, Reserva e Gran Reserva vão apresentar diferenças bem marcantes. Com tempos em barricas que podem chegar a dois anos, o impacto sobre os taninos é dramático. Os sabores frutados dão lugar a camadas mais complexas. A sensação de boca seca é nítida, tornando estes vinhos bem gastronômicos. Quanto mais envelhecerem na sua adega, melhor vão ficar. Justificam aquele velho ditado…
Os caminhos estão apresentados. Trilhá-los é sua responsabilidade.
Saúde, bons vinhos e bom treino!
Vinho da Semana: um Crianza, para começar a educar o paladar.
Rioja Bodegas Ramirez Crianza Tempranillo 2013
Cor vermelho rubi profundo com reflexos violáceos. No nariz a característica de frutas vermelhas combinam com toques de madeira e especiarias. Na boca é saboroso, picante e estruturado, com notas de baunilha e café e um bom equilíbrio entre o vinho e o carvalho. O final é longo e com um sabor pronunciado.
Harmoniza com: carnes na brasa com pouco tempero, molhos à base de aves para massas (pato, ganso), Pernil/Paleta de Cordeiro e queijos amarelos, de macios a duros.
Compre aqui: www.vinhosite.com.br
Didaticamente irretocável. Muito bom trabalho. Parabéns.
Abraços quase lusitanos,
TZ
P.S.: A Cris ontem a noite foi jantar com os moleques. Disse-me hoje que bebeu um Luis Pato que custou NO RESTAURANTE 12,50 euros e que estava bem bom. Apesar dos estuprantes 4,80 de cambio, ainda assim fica ridícula face aos preços praticados aqui,,, Eis porque parto. CQD
Tezy
Agradeço seu comentário.
Espero que mais leitores façam proveito destas ‘instruções’.
Em breve nos vermos em solos portugueses.
Abs