A ideia deste texto teve origem numa situação vivida por um Sommelier durante o atendimento a um cliente.
Instado a sugerir um vinho para uma refeição de peixes e carnes brancas, o profissional ofereceu um belo Chardonnay sul americano, com ótima relação de preço. Ouviu a seguinte resposta:
“Não gosto de Chardonnay, prefiro um Chablis”.
Ficou claro que o cliente nada sabia sobre vinhos, apenas decorara algumas marcas ou nomes que usava para não parecer um leigo total.
Provavelmente muitos leitores não vão perceber a bobagem dita pelo nosso personagem. O mundo do vinho é cheio destas ‘pegadinhas’. Para dificultar um pouco as coisas, algumas destas pequenas armadilhas nunca são totalmente esclarecidas, seja para alunos de um curso ou para leitores assíduos de livros e colunas, como esta.
Aqui vai o mapa do tesouro: Chablis é um Chardonnay produzido na região, homônima, da Borgonha.
A quase confusão começa na maneira como vinhos são designados no Velho Mundo e no Novo Mundo. Anotem a regra básica para não passarem por este vexame:
No Velho Mundo os vinhos são denominados segundo suas regiões produtoras. No Novo Mundo, o mais comum é designar pela uva que foi usada na sua produção. Exemplos:
Bordeaux – talvez a mais clássica denominação, indica um corte de, pelo menos, Cabernet Sauvignon e Merlot. Para os brancos, Sauvignon Blanc e Semillon;
Bourgogne – tinto é Pinot Noir, branco é Chardonnay que pode receber denominações como Chablis, Meursault, Macon, entre muitas outras;
Além destes, produzem o Beaujolais a partir da casta tinta, Gamay, quase nunca lembrada por quem pede este vinho.
Vinhos produzidos pelos vinhateiros do Novo Mundo são mais diretos e fáceis de identificar pelo consumidor final: Cabernet, Merlot, Malbec, Carménère, Sauvignon Blanc, Torrontés, etc.
Normas de vinificação, específicas de cada região produtora, permitem pequenas adições de outras uvas sem que seja obrigatório mencionar em rótulos.
Isto nos leva a outra confusão bem comum entre apreciadores de vinho: a multiplicidade de nomes de uma mesma casta. Algumas são fáceis de perceber, como Alvarinho/Albariño, Syrah/Shiraz.
O trio Grenache/Garnacha/Cannonau é menos comum mas a dupla Zinfandel/Primitivo ficou famosa e poucos erram atualmente.
Existem uvas menos conhecidas. Eis algumas delas:
Jaen (Portugal) é a Mencia (Espanha);
Tinta Roriz ou Aragonez (Portugal) é a Tempranillo (Espanha);
Maria Gomes ou Fernão-Pires é a mesma casta portuguesa;
Malbec também é conhecida como Cot.
Como se isto não bastasse, existem as confusões regionais.
Muitos apreciadores acabam confundindo a região que está no rótulo como sendo a casta vinificada. A mais comum é a denominação italiana Chianti, um vinho elaborado, basicamente, com a uva Sangiovese, podendo conter parcelas menores de outras uvas locais ou europeias.
Pois esta mesma Sangiovese produz, também, o Brunello di Montalcino e o Morelino di Scansano.
Com esta versátil casta ainda é elaborado mais um grande vinho da Toscana, o Vino Nobile di Montepulciano, que é fonte de outra grande confusão com o vinho Montepulciano d’Abruzzo.
O primeiro faz referência à cidade onde é produzido. O segundo cita a casta, homônima, que produz este bom vinho na Pescara, região de Abruzzo.
Outra uva que vale a pena saber um pouco mais sobre suas denominações é a Sauvignon Blanc, conhecida por seus deliciosos vinhos produzidos aqui no cone sul e na Nova Zelândia.
Na França, duas denominações são importantes, Sancerre, no Loire e Pouilly-Fumé, em Nivernais. Esta última é o motivo de preocupação, pois existe um Pouilly-Fuissé que é um Chardonnay da Borgonha. Confusão na certa.
O truque é lembrar que a Sauvignon Blanc também atende pelo nome de Fumé Blanc.
Esta relação não pretende esgotar o assunto. Nem mencionamos a mais recente confusão entre Glera e Prosecco. Fica para outra matéria.
Saúde e bons vinhos!
Vinho da Semana: mais uma dobradinha de nomes, Monastrell/Mourvèdre.
Tarima Monastrell 2015
Orgânico com uvas colhidas à mão. No palato, apresenta notas de alcaçuz e chocolate. Tem aromas florais e de frutas vermelhas. Sua aparência é vibrante, com coloração vermelho rubi.
91 pontos de Robert Parker
Essa coluna de hoje pra mim foi bem interessante!
Obrigada pela aula
Vera
Agradeço seu comentário.
Ao abordar este tema, imaginávamos que seria útil para muitos leitores.
Abraço
Tuty