Saber descrever um vinho, ou seja, passar para um possível cliente ou amigo as sensações que você percebeu ao degustar, é uma arte que deve ser perfeitamente dominada por Sommeliers, críticos e demais autores sobre este tema.
Embora pareça uma tarefa rotineira, nem sempre os descritores utilizados podem fazer sentido para quem os escuta. Há uma grande dose de subjetividade e regionalização, deixando quem recebe estas avaliações com algumas dúvidas sobre o que realmente está sendo descrito.
Por exemplo: “Aromas de compostagem”; “Água de frutos silvestres”.
Acaba parecendo um misto de pedantismo com frases de efeito.
Uma das melhores tentativas de padronizar este tipo de linguagem partiu da Dra. Ann C. Noble, da Universidade da Califórnia em Davis, que criou a Roda dos Aromas (foto que ilustra esta matéria) com o objetivo de sistematizar os descritores a serem usados no mundo do vinho.
Dividiu os possíveis aromas em 12 classes, e os distribuiu pelo disco:
– Químicos;
– Pungentes;
– Oxidativos;
– Microbiológicos;
– Florais;
– Especiarias;
– Frutados;
– Vegetais;
– Frutos secos;
– Caramelizados;
– Madeira;
– Terrosos.
Estes eram os grupos originais do trabalho da Dra. Noble. Ao longo do tempo foi necessário simplificar e adicionar novos descritores, incluindo termos que ajudariam na identificação de outras características do vinho como corpo, coloração, estilo, etc…
A ideia de padronizar a forma de apresentar um vinho foi bem aceita, mas ainda está longe de se tornar uma unanimidade. Esta é a principal arma de quem tenta ‘vender’ um vinho para um cliente de um restaurante ou loja. Precisam encantar o comprador, falando numa linguagem que seja compreensível. Neste aspecto, esta sistematização cumpre seu papel.
Mas e os simples degustadores, não profissionais? Podemos usar estes termos sem problemas?
Vamos ser bem realistas para responder a estas questões: tudo vai depender dos seus objetivos.
Mesmo os profissionais já citados, que foram treinados para utilizar estes termos em seu benefício, não se limitam a eles, criando expressões próprias que complementam o descritor padronizado, muitas vezes seco e sem sentido.
Surgem expressões que acabaram consagradas: xixi de gato, cachorro molhado e estrebaria, entre outras.
Um outro grupo de estudiosos, mais preocupados com a pouca precisão dos termos em uso, advoga que deveríamos empregar somente as designações científicas para cada grupo de aromas. Eis alguns exemplos:
– Mercaptanos ou Tióis: lembra os aromas de alho, cebola, etc… e representam defeitos no vinho;
– Terpenos: engloba os aromas florais;
– Pirazinas: lembram pimentões, gramíneas e outros vegetais;
Provavelmente ficaria ridículo descrever um vinho degustado numa reunião com os amigos como “cheio de Lactonas e uma nota de Indol”.
Pesquisas científicas já demonstraram que nossa memória olfativa é bem limitada. Perfumistas, muito treinados, alegam que seriam capazes de reconhecer mais de 1000 aromas diferentes (nunca 100% comprovado) enquanto um reles mortal consegue memorizar 20 aromas no máximo.
O caminho deve ser outro, mais simples e mais autêntico: sejam vocês mesmo, ao tentar descrever um vinho.
Em lugar de se aterem às regras existentes, que muitas vezes nem compreendemos bem, descrevam as sensações que aquele momento lhes proporcionou.
Trouxe memórias de uma viagem, de outro encontro, é isto que deve ser mencionado.
Lembrou de uma bela refeição que até hoje sonha em repetir? Quem sabe não é a hora de tentar reproduzir este bom momento?
Se a degustação passou a sensação de momentos de tristeza, certamente estes vinhos não deverão mais voltar à sua adega.
Pensem nisto. Troquem a preocupação por momentos de simplicidade e alegria.
Saúde e bons vinhos!
Vinho da semana: mais um ótimo rótulo provado na degustação dos Vinhos do Brasil. Desta vez, de Santa Catarina.
Thera Sauvignon Blanc 2017 – $$
Apresenta coloração amarelo palha, com reflexos esverdeados, nariz marcante por sua potência aromática, destacando notas de maracujá e ervas fresca, entrelaçados por um toque mineral. No paladar apresenta intenso frescor e suculência com final bastante longo e persistente.
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