Ano novo, década nova e, na falta de assuntos mais palpitantes, quase toda a imprensa especializada sobre vinho parte para a velha e consagrada técnica de sugerir as novas (nem sempre) tendências que poderão ser observadas doravante.
Para não destoar, neste meio tão unido, convoquei o “Pai Tuty d’ O Boletim”, para receber os espíritos de Baco e Dionísio, e nos trazer uma visão do que pode acontecer no mundo vínico.
1 – Os rosados vão continuar em alta.
Um tema tão forte que até o clássico Prosecco, um espumante essencialmente branco, já está sendo comercializado numa versão em rosa.
Na verdade, não pode ser chamado de Prosecco, uma denominação protegida. Os produtores estão fazendo muita pressão para que a autoridade reguladora aceite este corte de Glera e Pinot Nero e permita o uso do nome no rótulo.
Para a alegria do público feminino, há uma versão demi-sec a caminho.
2 – Vinhos naturais vão marcar uma presença ainda maior.
Este é um caminho sem volta. Quem rege esta tendência são os consumidores jovens, preocupados, cada vez mais, com sustentabilidade, preservação do meio ambiente, ‘carbon footprint’ e outras modernidades.
Pode soar estranho, mas as técnicas de produção dos vinhos naturais são as mais antigas e simples possíveis, o que transforma esta pressuposta modernidade numa volta ao passado.
Ainda há muito o que deixar claro neste assunto. Poucos são capazes de diferenciar entre vinhos orgânicos, biodinâmicos, veganos ou naturais, além de outras classificações menos conhecidas.
Importante é saber que não são vinhos de guarda: são próprios para consumo imediato.
Neste verão que promete temperaturas dignas de um aquecimento global, os Pet Nat serão a pedida.
3 – Chegou a vez do vinho em lata.
E em outras embalagens pouco usuais. Isto também vale para outras bebidas alcoólicas, inclusive para alguns tipos de coquetéis.
Já imaginaram lhe servir um vinho direto de uma torneira no balcão de um bar?
Ou melhor: comprar uma latinha de vinho da mesma forma que se faz com refrigerantes e cervejas.
Em vários países da Europa isto já é uma realidade.
A poderosa casa Moet & Chandon apresentou uma máquina de venda automática que foi um sucesso. Os poucos modelos produzidos foram vendidos rapidamente.
4 – Outras possibilidades.
Olhando para tudo isto que foi relatado, podemos deduzir que mais mudanças estão por vir. Já há um declínio visível nas vendas dos vinhos de alto luxo. Os produtores Bordaleses buscam se adaptar aos novos tempos, plantando outras castas para produzir vinho menos sisudos e mais ao gosto dos paladares dos grandes consumidores atuais.
Uvas eternamente consagradas começam a ceder espaço, nas prateleiras, para uvas regionais que, até então, eram ilustres desconhecidas. Mas que vinhos!
Por fim, talvez seja o momento de começar a olhar para alguns países que sempre produziram ótimos vinhos, mas que permaneceram na sombra dos grandes e famosos.
Uma aposta segura são os vinhos austríacos. Procurem por cepas mais regionais deixando a Grüner Veltliner de lado: Blaufränkisch, Zweigelt e Saint Laurent são a ordem do dia.
O mesmo palpite vale para os vinhos espanhóis. Vamos em busca de vinificações mais regionais: Cariñena, Garnacha, Verdejo e Bobal em lugar do Tempranillo Riojano.
Tudo vai depender da guerra de tarifas. Se os nossos governantes não forem devidamente pressionados, nem os bons vinhos sul-americanos poderão ser adquiridos sem nos quebrar.
A opção seriam alguns vinhos nacionais, de pequena produção. Mas com esta classe de impostos, ficam mais caros que qualquer importado.
Nossos gurus esotéricos não vislumbram nenhuma mudança significativa neste panorama, por aqui.
Pena.
Saúde e bons vinhos!
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