Saber degustar um vinho corretamente é muito importante para o grupo de especialistas, críticos e jornalistas que estão sempre escrevendo sobre este apaixonante tema. Duas atividades dependem desta habilidade de degustar e analisar um vinho: o Sommelier ou Escanção e os Enólogos.

Curiosamente enquanto um Sommelier vai em busca das qualidades de um vinho, para indicá-lo aos seus clientes, um Enólogo está mais preocupado em encontrar os defeitos, para corrigi-los na próxima vinificação.

Já os meros mortais e pobres Enófilos tentamos nos valer destas respeitadas opiniões e, com base nelas, achar aquele vinho que vai nos satisfazer.

Algumas vezes não funciona assim. São muitas variáveis envolvidas e controlar todas elas nem sempre é prático no momento que vamos compartilhar e analisar uma boa garrafa com amigos e confrades, como numa degustação mais técnica

Uma das mais importantes variáveis é definida, em inglês, pela palavra “mood” ou estado de espírito, um conjunto de aspectos que vão desde o ambiente onde será feita a degustação, o humor de cada convidado e até mesmo o objetivo do encontro.

Imaginem, por exemplo, a logística necessária e o “mood” de cada juiz do concurso da Decanter, mencionado na matéria anterior a esta.

Numa rápida pincelada, foi realizada num conjunto de prédios no centro de Londres, com os julgadores espalhados por 3 andares. Não era uma degustação qualquer. Cada juiz tinha tarefas bem definidas e objetivos a serem cumpridos para que, ao final, um ranking fosse estabelecido e publicado.

Detalhe que pode passar despercebido: a degustação era às cegas o que significa taças numeradas, garrafas ocultas dentro de embalagens opacas, inúmeras fichas de degustação a serem classificadas e pessoal treinado para distribuir, recolher, lavar, servir e que mais fosse necessário, seguindo rígidos protocolos sanitários – estavam no meio de uma pandemia…

Avaliem o “stress” desta turma!

Nada disto é necessário numa degustação em que se busca alguma satisfação, exceto os controles sanitários, ainda estamos “pandêmicos”.

Mas uma boa iluminação, toalhas ou jogos americanos de cor branca, boa ventilação e temperatura adequada são básicos. A temperatura de serviço dos vinhos a serem degustados também merece alguma atenção: nada de “estupidamente gelados” e nem “temperatura ambiente” num dia de 40º à sombra.

Se optarem por fazer degustação técnica preenchendo fichas, não se esqueçam de distribuir todo o material necessário.

Muitas vezes não nos damos conta, mas cheiros estranhos vindos da cozinha ou de banheiros, de cômodos recém-pintados e coisas semelhantes interferem diretamente na análise olfativa. Até mesmo aquela loção pós barba ou o perfume do grupo feminino devem ser evitados.

No capítulo dos cheiros estranhos, é bastante comum encontrarmos aromas nada agradáveis logo ao sacar a rolha. Vinhos que estão adegados há algum tempo ou que receberam uma dose maior de SO2 apresentam esta característica. Deixe-os de lado por um tempo, agite um pouco a taça ou coloque num decantador para servir mais tarde.

Se o cheiro ruim não passar podemos ter problemas de contaminação da rolha ou mesmo na elaboração por interferência de leveduras não desejáveis. Geralmente se descarta este tipo de vinho, não sendo usado nem para cozinhar. Se quiser ousar, tente experimentá-lo depois de 24 ou 48 horas e só então decida o que fazer.

Usem este mesmo tipo de procedimento se o vinho estiver sem nenhum aroma logo ao ser servido: um pouco de agitação na taça e tempo. Neste caso, diz-se que o vinho esta “fechado”. Ao surgirem os esperados aromas é o sinal que ele “abriu”.

Taças são outro ponto importante. Vale à pena investir em um bom material. Não precisa ser o melhor do mercado. Cristal ou meio cristal é aceitável. Bordas finas, transparência perfeita sem ondulações e uma haste firme que não cause apreensão em que vai segurá-la.

Há uma discussão sobre como proceder ao trocar de vinho: lava-se a taça com um pouco de água ou com um pouco do novo vinho?

Está técnica se chama avinhar a taça: nada melhor para lavar um vinho do que outro vinho. A turma profissional simplesmente descarta o que está na taça e o próximo vinho é servido em seguida. Só avinham, com um novo vinho, se estiverem mudando de branco para tinto por exemplo.

Uma última recomendação: tudo foi feito como manda este ou outro figurino e os vinhos não corresponderam. É frustrante pagar algum dinheiro por um rótulo super premiado e na hora “H” é um fiasco.

Isso é mais comum do que se imagina. Há uma daquelas leis não escritas que afirma “eu vou detestar o vinho que você vai gostar”. Vinhos perfeitos não existem. Releiam o início desta matéria: Enólogos buscam defeitos quando degustam um vinho…

Cada enófilo tem o seu estilo de vinho que vai lhe marcar. Muitas vezes não se dá conta disto até passar por uma situação como a descrita. Neste momento cai a ficha e percebemos que preferimos um Syrah ao Cabernet ou vinho italiano em vez de um francês.

Esta é a graça de uma degustação. Experimentem, aprendam e se divirtam.

Saúde e bons vinhos.