Esta é uma casta muito especial para os enófilos das américas: coube a ela a introdução do vinho em nosso continente.
Sua origem é espanhola, na região de Castilla-La Mancha. A primeira descrição desta casta é de 1513, feita por Alonso de Herrera, que a chamou de Palomina Negra.
Em condições normais, esta uva não teria sobrevivido a epidemia de Filoxera que devastou os parreirais europeus. Mas, com o auxílio da técnicas de análise por DNA, muito atuais, descobriu-se que nos séculos XVI e XVII, colonizadores e missionários a caminho do novo continente a levaram para quatro diferente regiões que hoje são: México, Chile, Argentina e Ilhas Canárias. Em cada local recebeu uma denominação diferente: País, Mission, Criolla Chica, Listán Prietro e muitos outros, totalizando quase 50 sinônimos.
Muitos pesquisadores admitem que esta foi a primeira Vitis vinifera plantada no continente americano, naqueles territórios controlados pela Espanha. Curiosamente não chegou ao Brasil, embora ela exista em Portugal com o nome de Listrão.
Com a chegada de outras castas viníferas, como a Malbec, Cabernet Sauvignon e Merlot, a País foi sendo esquecida, mas seus vinhedos foram preservados e eventualmente era vinificada de modo bem rústico, sem grande importância para o mercado de vinhos finos.
Coube ao Chile redescobrir esta casta e, logo depois, a Argentina. Com técnicas modernas de plantio e vinificação estão produzindo pequenas joias. No Chile é a segunda varietal mais encontrada, depois da Cabernet Sauvignon.
O movimento de vinificar vinhos atuais com a País começou por pequenas vinícolas. Mantinham uma certa rusticidade como principal característica dos vinhos, tudo para preservar um estilo “rural”. Eram vinhos destinados a acompanhar as comidas típicas de um campesino – carnes na brasa, guisados, miúdos e embutidos domésticos.
Os resultados foram ótimos e logo as vinícolas de maior porte embarcaram nesta deliciosa aventura. O Guia Descorchados, apresenta uma categoria só para esta casta. Na edição de 2020 os vencedores receberam 95 pontos: Bouchon Pais Salvage 2019 (Chi) e o Cara Sur Parcela La Tortora 2018 (Arg).
Na relação dos melhores, vamos encontrar produtores como a Vallisto, Durigutti, El Esteco, Cadus e Catena Zapata (Arg); Garces Silva, Garage Wine Co., Miguel Torres e Santa Cruz (Chi). Nada mau.
Tintos e rosados são o caminho desta tradicional casta, quase esquecida. São vinhos com uma interessante acidez, atípica para os tintos e boa tanicidade. São ao mesmo tempo refrescantes e poderosos para enfrentar um gordo naco de carne ou de caça.
O vinho escolhido foge da maioria dessas características, mas abraça, com muita dignidade, a acidez natural desta varietal – um espumante!
Santa Digna Estelado Brut Rosé– Miguel Torres
Elaborado com uvas produzidas por pequenos produtores, apresenta coloração rosa pálido. No nariz, notas frutadas, com ênfase em frutas vermelhas e cítricas. O paladar é descrito como “selvagem” e fresco, característica desta casta histórica.
Perfeito para acompanhar pratos de peixes e frutos do mar.
Na safra de 2018 recebeu 93 pontos do Guia Descorchados e 90 pontos do crítico James Suckling.
Saúde e bons vinhos!
Créditos: imagem de abertura – https://glossary.wein.plus/criolla-chica
Tuty, esta deliciosa historia sobre esta casta Pais parece muito com o que alguns contam sobre outra casta, Carmenere. São castas diferentes, certo? A historia se repetiu nestes dois casos?
Pedro, ótima pergunta!
Há uma diferença importante: a Carménère era desconhecida para os viticultores chilenos. Achavam que era uma mutação, local, da Merlot e assim foi vinificada e comercializada até que um especialista, francês, identificou a casta, até então dada como extinta na Europa.
A País não foi assim. Todo mundo sabia da existência dela, só não achavam que valia à pena vinificar e jogar no mercado para enfrentar as castas nobres. Essa é que foi a descoberta.
Abs