O mercado de vinhos pós epidemia

Um dos piores efeitos colaterais, resultante das tentativas de conter a propagação do vírus COVID-19, foi uma devastação na área comercial. Diversos tipos de negócios não sobreviveram ao fechamento, mesmo temporário, ou não conseguiram se adaptar e trabalhar de forma remota ou online, criando um comércio eletrônico (e-commerce), por exemplo.

Um dos segmentos que sobreviveu e cresceu de forma inesperada foi o dos vinhos. O brasileiro, que nunca chegou a fazer parte das estatísticas de consumo, passou a arranhar a parte inferior dos gráficos que medem esse aspecto. No meio de tantas coisas preocupantes, essa é uma ótima notícia que traz no seu bojo mais uma novidade, a descoberta dos bons vinhos finos produzidos no país. Algumas vinícolas conseguiram zerar seus estoques!

Um dos fatores que contribuíram, decisivamente, para esse sucesso foi a grande variedade de lojas on-line que permitiram desde a compra direta do produtor como através de uma rede de revendedores muito confiável. Clubes de vinhos também fazem um excelente trabalho neste segmento. Um único entrave, o frete, tem sido contornado com boa logística e ofertas do tipo combo que simplificam e reduzem as despesas de envio.

Como até mesmo os mais pessimistas esperam o fim deste período de muitas restrições, já há alguma preocupação com as atuais operações de compra e venda, que estão funcionando azeitadinhas. Uma pergunta é comum: será possível manter este esquema no futuro?

Uma resposta afirmativa é o resultado mais provável, mas adaptações serão necessárias. Apresentamos, a seguir, algumas ideias do que pode ocorrer. Não é um exercício de futurologia, apenas uma observação comparativa sobre o que ocorre aqui e em outros países.

1 – A venda direta do produtor vai continuar e ser ampliada. Algumas novidades, principalmente no que se refere a embalagens, estão chegando ao mercado: garrafas mais leves e produzidas com outros materiais, vinho em lata passa a ser uma opção mais comum assim como vinhos melhores vendidos em volumes maiores, por exemplo, em caixas de papelão ou em barriletes para uso doméstico.

As lojas na Internet devem se adaptar para oferecer mais flexibilidade na hora das encomendas. Assim como não tem sentido comprar uma garrafa, somente, nem sempre é interessante adquirir uma caixa de um só vinho. Caixas com um mix de produtos de uma vinícola podem ser opções muito atrativas.

2 – Aproveitando as mudanças climáticas, tão faladas no momento, haverá uma maior variedade de vinhos à disposição dos consumidores. Castas que ficaram esquecidas ou eram apenas coadjuvantes tendem a ser mais exploradas com resultados muito bons. Esperem por produtos inovadores não só no conteúdo como na apresentação. O foco é conquistar jovens consumidores que ainda não embarcaram nesta deliciosa aventura. O ganho é para todos…

3 – Ainda, como consequência das variações climáticas, as vinificações terão um menor teor alcoólico ao final. Os 15% a 17% que são comuns atualmente darão lugar a faixas mais baixa, em torno de 12%, o que é desejável.

Vinhos sem álcool é outro “trend” que aparece com frequência nos noticiários. Será que podemos classificar este tipo de bebida como um vinho? Acho que seria um “suco de uva luxuoso”. Fazendo uma analogia, já existe cerveja sem álcool: apresenta a mesma coloração, tem gosto semelhante, mas não é cerveja…

4 – Novas oportunidades de negócios podem surgir para complementar as vendas diretas do produtor ao consumidor. Um dos grandes problemas é conseguir fretes que não desestimulem a compra. Dentre as soluções viáveis, a de criar uma rede de estocagem para atender localidades fora do grande eixo das capitais pode ser um bom negócio. Desta forma, o custo do frete em grande volume não impactaria muito no preço final do vinho. O consumidor faria uma compra local, em sua cidade. É uma boa oportunidade se planejada corretamente. Lembrem-se que este estoque deve ser mantido em temperatura e umidade controladas.

5 – Embora os custos de um e-commerce não sejam abusivos, para os pequenos produtores nem sempre é viável. Uma das saídas é criar lojas multimarcas on-line reunindo diversas vinícolas de pequeno porte. O segmento dos vinhos naturais já tem algumas soluções nesse caminho. Bom para todos.

6 – Do ponto de vista dos consumidores, as melhores compras poderão ser feitas reunindo um grupo de amigos e aumentando o volume da encomenda. Sempre se obtém melhores preços e, quase sempre, consegue-se que o frete seja por conta do vendedor. Está é uma de nossas regrinhas mais antigas, sempre batemos nesta tecla e vamos continuar batendo.

Boas compras, saúde e bons vinhos!

FOTO: “Wine Store” por mastermaq está licenciada sob CC BY-SA 2.0

2 Comments

  1. Rodrigo Augusto

    Bom dia.
    Gostei muito da reportagem e parabéns pela analise sobre o cenário que estamos vivenciado e a tendência para o futuro.
    Sou fã e consumidor incondicional dessa bebida e de um tempo pra cá tenho consumido muito vinho nacional.
    A qualidade de nosso vinho de uma forma geral aumentou expressivamente.
    Vejo que a nível de comparação sobre o preço entre um vinho estrangeiro e um vinho nacional em muitos casos o nosso ganha a nível de qualidade.
    Muitas vinícolas se modernizaram, algumas possuem uma estrutura incrível.
    Vejo que o grande “problema” é a questão do imposto.
    É um absurdo o que pagamos de imposto e na minha modesta opinião é o grande vilão dessa história toda.
    Algumas vinícolas, além do vinho, possuem estrutura belíssimas como Don Guerino, Luis Argenta, Pizzato, Lidio Carraro, Alma Única e tantas outras.
    Um grande ponto a ser explorado a nível nacional é o TURISMO.
    Particularmente, vinho tem que ser vinho !!! Esse detalhe de vinho de lata, com menos teor alcoólico, vinho com embalagem diferente da garrafa, não me atrai.
    Existe uma grande resistência e uma certa ignorância de que vinho é “coisa pra gente rica”, mas vejo que isso vem sendo superado aos poucos.
    Não vejo propagandas na televisão sobre vinho ! Prevalece as das cervejas.
    Minha aposta é ainda no turismo, que seja explorado pacotes para aqueles que não conhecem vinhos e outros para aqueles já apaixonados e que entendem de vinhos.
    Informação também, sobre os detalhes que rondam esse universo do vinho, tais como os tipo de uvas, o uso de barricas, as diferenças entre barricas, a classificação de uva e vinhos, história do vinho, vinhos com a filosofia purista, diferença entre vinho reserva e reservado, devo beber vinho reservado ou suco de uva, e etc.
    No mais, meus parabéns e fica ai minha modesta opinião.
    Att,
    Rodrigo Augusto

    • Tuty

      Rodrigo
      Agradeço seu ótimo comentário.
      Sou fã do Enoturismo. Infelizmente, por enquanto, só é possível degustar vinhos, ainda há muitas restrições para os viajantes.
      Mas, não custa sonhar.
      Abraço e muita saúde!
      Tuty

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

© 2024 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑