O mundo do vinho está repleto de reis, rainhas, príncipes e outros títulos nobiliárquicos. Estamos falando desde produtores, muitos deles autointitulados rei de alguma coisa, passando por regiões produtoras e estilos de vinhos, onde até podemos encontrar um “Rei dos vinhos” e um “Vinho dos Reis”, chegando até a raiz de tudo, nas castas, onde a disputa é feroz. Existe uma lista de “castas nobres”, amplamente dominada por varietais típicas da França.

A Pinot Noir é uma delas. Talvez seja a mais temperamental de todas, difícil de ser trabalhada, exigindo muita dedicação de seus produtores. Em compensação, produz alguns dos mais fantásticos, e caros, vinhos do planeta. Uma afirmação que ninguém questiona.

A origem desta videira é muito antiga. Estima-se que exista há mais de 600 anos. Muitas teorias sobre sua história ainda são discutidas. Vão desde a domesticação de uma videira silvestre até o surgimento por polinização cruzada entre duas outras espécies, hipótese não muito aceita. Acredita-se que o seu berço seja a região da Côte de Beaune, na Borgonha, especificamente em Chassagne-Montrachet. Os primeiros registros datam de 1383.

Até para explicar o seu nome há inúmeras versões. Pinot decorreria de “pin”, pinho em francês, devido à semelhança do cacho com uma pinha. Noir, negro em francês, se deve a escura coloração dos seus frutos. Há uma extensa lista de denominações regionais para esta uva.

Uma das discussões mais interessantes a este respeito tem origem em um dos seus mais antigos sinônimos: Morrillon. A etimologia dessa palavra pode sugerir muita coisa. Uma linha de pesquisa afirma que este termo deriva da palavra Mouro (Maures), o povo do norte da África, de pele escura. Outro grupo defende a teoria que o termo se originou das expressões francesas “mours” e “mouret” que significam “cereja negra”, numa alusão ao formato e cor das bagas da Pinot Noir. Há, ainda, um terceira linha de pesquisa que se debruça sobre uma palavra do Latim, “maurus”, significando marrom escuro.  No final das contas, historiadores admitem que Morrillon derivou do nome de um rio da região da Ile de France, La Morée, onde esta casta era abundantemente plantada. Um registro de 1375 informava que uma quantidade de vinho “Pinot vermeil” (feito com Morrillon) estava senda enviado para a Bélgica.

Vinicultores de todo o mundo replantaram esta casta obtendo vinhos bem diferentes entre si, cada um deles um belo retrato dos diferentes terroirs e métodos de elaboração. Não é um uva para os fracos, é preciso de muita dedicação, conhecimento e paciência para obter os bons resultados que tornaram esta casta uma unanimidade, indiscutível.

Alguns dos melhores Borgonhas levam 15 anos, ou mais, para chegar ao mercado!

Uma uva extremamente versátil que produz, em mãos competentes, desde sonhados tintos, como o conhecido Romanée-Conti, até os Champagnes – é uma das principais uvas. Entre suas estrelas borbulhantes, o Krug Clos d’Ambonnay Blanc de Noirs Brut, 100% Pinot Noir, pode atingir preços com 5 dígitos…

A família desta casta é extensa e muito importante no cenário vinícola. Além da Noir, vamos encontrar a Pinot Gris, a Pinot Blanc, a Pinot Meunier e outros clones menos importantes. O cruzamento espontâneo da Pinot (genérica) com a Goauis Blanc produziu uma extensa série de descendentes, entre elas a não menos famosa Chardonnay, companheira da Pinot Noir na Borgonha e em Champagne.

Os grandes Pinot borgonheses são facilmente identificados por sua coloração leve, quase um rosado, num curioso contraponto com a pele escura de seus frutos. No paladar apresenta-se muito frutado, com os “sabores do bosque”. São vinhos fáceis e beber, deliciosos e muito complexos, quando estão prontos. Vinhos jovens podem ser simplesmente intragáveis.

Por ser uma casta que se adapta às condições climáticas de cada local onde está sendo cultivada, o Pinot da Borgonha não consegue ser imitado. Cada região tem o seu estilo de vinho. Os da Califórnia ou do Oregon, por exemplo, são escuros e bem mais tânicos que os franceses.

A nossa escolha para representar esta fabulosa casta vem da Itália, um Pinot Nero.

Alois Lageder – Pinot Noir Alto Adige 2018

Elaborado com frutos plantados em altitude, tem boa tipicidade. Bela coloração vermelho rubi leve. Combina notas de frutas vermelhas, violeta, especiarias e de ervas com um toque defumado. Ótima persistência. Harmoniza com carnes grelhadas, carnes brancas, pato e queijos. Para ter sempre na adega, o preço é bem camarada.

Saúde e bons vinhos!

Foto de abertura:

“Pipers Brook Vineyard The Lyre Pinot Noir” por PBVmedia licenciada sob CC BY 2.0