Enólogo por 1 dia

Não chegou a tanto, “por algumas horas” estaria melhor. Foi uma das atividades mais divertidas e instrutivas pelas quais passei neste imenso mundo dos vinhos.

Tudo começa nestes pequenos tanques, cada um com um vinho semipronto: Trajadura; Loureiro; Avesso; Alvarinho e Arinto. A proposta é aprender as características de cada um e receber alguma informação sobre como se comportam quando misturados. Com tudo isso assimilado e anotado, partimos para o que realmente interessa: cortar o seu próprio vinho.

Para realizar essa tarefa, contamos um conjunto de taças, uma proveta graduada e um rótulo em branco, apenas com o nome da vinícola.

O primeiro passo é degustar cada vinho enquanto um orientador explica as características de cada uva. Em seguida começam os experimentos com as misturas. Uma das recomendações é limitar o número de castas a serem combinadas. Duas seria o normal, três para os aventureiros e mais que isso, “não vai dar certo”. A foto, a seguir, ilustra o momento em que já estava pronto para decidir o que gostaria de misturar e em quais proporções.

Uma das curiosidades ficou por conta da casta Avesso. Nosso mestre explicou que ela se comporta de maneira quase oposta às demais e tende a ser dominante, mesmo em proporções menores. Isso bastou para que eu resolvesse desafiá-la. Só pelo nome, já dava para desconfiar.

O blend inicial é feito com ajuda da proveta. Escolhi a casta Loureiro como base, acrescentei Alvarinho e um toque da rebelde Avesso. O olhar que recebi do professor não foi o de “aprovação” …

Foram necessários uns dois ou três ajustes. Provei a combinação de Loureiro e Alvarinho e fui acrescentando a Avesso até o meu paladar ficar satisfeito. O resultado foi este: 50% Loureiro; 30% Alvarinho; 20% Avesso.

Em seguida o professor calcula as quantidades para encher uma garrafa (750 ml), que nos é fornecida devidamente limpa e esterilizada. Tudo que resta fazer é, pacientemente, encher a proveta algumas vezes, despejando tudo na garrafa. Agora não tem mais volta, alea jacta est.

Mais passos são necessários: arrolhar, encapsular o gargalo, produzir e colar o rótulo. Hora de pagar um mico: como eu era o aluno mais próximo do equipamento, fui convidado a tentar colocar uma rolha na minha garrafa. Primeiro tentei só com um pouco de habilidade e força manual. Como é quase impossível, recebi, para ajudar, um malhete, que também não resultou em nada.

Gargalhadas à parte, e com uma ponta de decepção, sou apresentado à “máquina” arrolhadora, uma relíquia de tempos imemoriais, que funcionou perfeitamente depois de aprender a técnica correta, cheia de pegadinhas: centre a garrafa no apoio, coloque a rolha no receptáculo, ajoelhe no banco com a perna esquerda e faça força na alavanca com o braço direito.

Era assim, antigamente! Uma por uma…

A cápsula não foi difícil, era só escolher a sua cor predileta, colocar no gargalo e usar outra maquininha, aquela vermelha da foto à esquerda, que aquece e cola. Leva poucos segundos. O que vai no rótulo é de livre escolha. Mas ele deve ser colado a “três dedos” acima do fundo da garrafa.

Eis o produto acabado:

Dúvida de todo o grupo que participou dessa experiência: podemos gelar e beber?

A resposta foi: ainda não!

Os vinhos-base estavam em estado bruto. Não foram filtrados, decantados ou mesmo estabilizados. Sugeriu que deixássemos as garrafas de pé, por cerca de 1 semana e só depois estariam adequados para degustar. Podem ser guardados por pouco tempo. O ideal é não esperar muito. Aprendemos, também, que o resultado final pode ter ficado bem diferente do que foi imaginado.

A minha garrafa passou por todas estas recomendações. Viajou até o Rio de Janeiro, onde está repousando. Ainda não decidi quando e com quem vou experimentar este vinho único e que nunca será repetido.

Será que vou pagar outro mico?

Cartas para a redação! (os comentários são sempre bem-vindos)

Saúde e bons vinhos!

4 Comments

  1. José Paulo de Aguiar Gils

    Experiência maravilhosa. Gostaria muito de fazer. Que viagem proveitosa.
    Parabéns Tuty.
    Forte abraço.

  2. Marcos Aarão Reis

    Tuty, você fez tudo como imaginou, arriscou-se um pouco, mas com coragem e o conhecimento que tem. Só pode dar certo. Boto fé.
    À vida!

  3. RENATA AFFONSO

    Que experiência bacana! Sucesso com seu corte!

    • Tuty

      Obrigado Renata.
      Quando eu degustar, vou comentar na coluna.
      Abs

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