Um evento, que tinha por finalidade apenas apresentar alguns vinhos norte americanos para o consumidor europeu, acabou se tornando um marco histórico, afinal, ninguém poderia imaginar que um painel de especialistas, daquela época, 1976, escolhessem desconhecidos rótulos como superiores a tradicionalíssimos e consagrados rótulos franceses.
O Julgamento de Paris foi quase um escândalo!
A partir disso, a utilização das expressões “vinho do Velho Mundo” e sua análoga, “vinho do Novo Mundo”, passaram a ser empregadas para marcar diferenças de estilo, principalmente. O estilo Napa Valley, com um frutado bem característico, quase sempre calcado numa única casta, encorpados, mais alcoólicos e, talvez o mais significativo, muito mais em conta que seus similares europeus. Nas entrelinhas, um “novo mundo” era uma espécie de senha para “vinho barato e de pouca qualidade”.
O Velho Mundo nunca gostou de concorrentes…
O que começou com vinhos dos EUA se tornou um grande negócio mundial e o “Novo Mundo” expandiu para outros países. Chile, Argentina, Uruguai, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e alguns outros, produzem vinhos respeitáveis e apreciados nos quatro cantos de nosso planeta.
Todos são vinhos e se olharmos para este fato por um ângulo diferente, vamos descobrir que esta divisão é bem injusta, principalmente agora que novas pesquisas arqueológicas datam as primeiras vinificações a cerca de 8.000 anos atrás, na Georgia. Velho Mundo é pouco…
Outro fato a ser ponderado nos leva aos tempos dos grandes descobrimentos e o papel da Igreja, que seria fundamental como base de toda a indústria do vinho nos países novos. Missionários levaram as primeiras mudas e produziram os primeiros vinhos que eram utilizados nas cerimônias religiosas. Algumas destas espécies, na América do Sul e EUA, ainda são usadas para produzir alguns dos vinhos mais inovadores do momento.
Talvez seria mais justo usar “vinhos tradicionais” e “vinhos modernos” como alternativa. Ainda assim não estaríamos sendo totalmente corretos. O que realmente diferencia os dois estilos de vinhos é a famosa definição de Terroir: o clima ou microclimas, as temperaturas de cultivo, os diferentes tipo de solo, mas não só isso. Importante, também, são as regras, as normas de elaboração, menos rígidas, que concedem maior liberdade aos vinhateiros.
O velho ou mundo tradicional sentiu o impacto e está reagindo.
Tendo como pano de fundo as mudanças climáticas, novas castas estão sendo aceitas nas principais regiões produtoras da Europa. Da mesma forma, alguns produtores começam a se aproximar do estilo dito “Novo Mundo”, em busca de melhores resultados comerciais.
Curiosamente, os produtores fora do circuito tradicional, também estudam mudanças em seus estilos, desta vez em busca de soluções que são inspiradas nos velhos vinhos de corte.
Não há mais uma clara e precisa linha divisória entre produtores de qualquer continente. Novos players surgem ou ressurgem a todo instante. Países que ficaram muitos anos escondidos sob regimes totalitários, como a Eslovênia, a Croácia ou a própria Georgia, agora têm luz própria e vinhos maravilhosos.
É só procurar e provar.
Saúde e bons vinhos!
Foto: Mapa vetor criado por channarongsds em Freepik
Excelente texto e lindamente ilustrado.
Parabéns!
Marcos
Apesar de o novas descobertas, tecnologia, etc.
A tradição do vinho é o Velho Mundo e Novo mundo.
Gosto dessa “tradição”, tem um charme sabe?!
Não acho ruim ter isso…
Não é complicar as coisas, mas nem tudo precisa ser mudado, a nomenclatura.
Com certeza certeza tem vinhos até melhores aqui do que lá.
Mas não mudem muito o “charme” do vinho kkkk…
Mais uma vez obrigado por compartilhar seus conhecimentos!
Bruno.
Ótimo o seu comentário.
Neste assunto, não há o certo ou o errado. Cada um vai usar o que achar melhor.
Abraços