O recipiente apresentado na foto é uma reprodução da “taça” de vinho usada no século VI aC. Foi presentada aos assinantes de um clube de vinhos europeu e a história por trás deste brinde é muito interessante.
A próxima foto mostra uma peça original que está no Museu de Huelva, na Andaluzia.
Eram produzidas na cidade grega de Ionia e comercializadas em diversos entrepostos do Mediterrâneo. Pesquisas arqueológicas recentes, encontraram peças como estas na região de espanhola de Jaen, alta Andaluzia, o que acabou inspirando alguns ceramistas, entre eles, Joan Carles Llarch, autor da peça moderna.
Llarch foi além. Produz as novamente famosas ânforas, garrafas, copas e fermenta o seu próprio vinho.
A argila branca utilizada vem do leito do Rio Llobregat, próximo a Barcelona. O design atual é mais liso e menos decorado que o original. A borda foi suavizada para facilitar o contato com os lábios na degustação.
Na hora de beber um vinho, a copa deve ser segurada com as duas mãos. Para manter sua coloração original, o artista aconselha que só seja usada para os vinhos brancos.
Quanta diferença para os dias de hoje!
O que mais chama a atenção é o modo de empunhar a taça. Partimos de uma composição de utensílios e movimentos que seria mais adequada para consumir um alimento e chegamos nas elegantes e refinadas taças de cristal, que se dão ao luxo de terem formatos estudados para cada tipo de vinho com finas e delicadas hastes que mantem nossas mãos, supostas fontes de calor, a uma distância segura do precioso líquido que está no bojo…
Dava para escrever um tratado sobre isso. Séculos atrás não existia refrigeração, a cor do vinho não era ponto de discussão entre os degustadores, a temperatura de serviço era a “do dia” e, imaginem só, os vinhos eram bem rudimentares, não tinham nenhum tipo de conservante e estragavam rapidamente. Não estaríamos errados afirmando que eram consumidos, no máximo, em 1 ou 2 dias após ficarem prontos. Depois, viravam vinagre… (e alguns consumiam mesmo assim)
A história do vinho acompanhou o desenvolvimento das “boas maneiras” da sociedade. Na mesma proporção que as diferentes culturas foram ficando mais civilizadas, utilizando um termo bem atual, o serviço do vinho foi se sofisticando. Em alguns casos ficou irritantemente complicado e isso fez com que a nossa bebida predileta recebesse a pecha de “esnobe”.
A Copa Jonia é a prova que o vinho era uma bebida descompromissada, sem as complicadas etiquetas. O que se buscava era ter uma alegria, um momento de pequeno prazer. Ninguém se incomodava de bebê-lo numa cumbuca de cerâmica, segurando com as duas mãos. Nenhuma preocupação com ritos de abrir a garrafa, servir, aerar, observar cor, aromas, retrogosto, ou saber qual era a casta, safra, produtor etc.
Beber um vinho era uma coisa mundana. Pensem nisso antes de degustar a próxima taça.
Saúde e bons vinhos!
Créditos:
Foto de abertura e da taça de cristal por Tomás Pinheiro;
Foto da Copa original obtida no site do Museu de Huelva;
Foto do ceramista Carles Llarch obtida no site de Linda Silva.
Excelente texto. A título de contribuição, e em reforço à ideia de servir o vinho branco em taça, escutei recentemente no País das Uvas, Vila de Fraudes, em Beja, Alentejo (berço do vinho de talha em Portugal), que todos vinhos eram brancos, uma vez que as cascas eram desprezadas na vinificação. Ou seja, o vinho de talha original era branco.
Ronald.
Maravilha, bela contribuição.
Obrigado.
Tuty