Aristóteles afirmava que “a dúvida é o princípio da sabedoria”. Com um pouco de razão, podemos aplicar à nossa situação facilmente, afinal, quem já não ficou num dilema como este na hora de decidir o que servir?

Em algumas situações a escolha é direta, por exemplo, num churrasco. No máximo vamos ter que optar por um bom tinto ou uma cerveja gelada. Já se o prato for uma carne mais leve ou um pescado, os brancos serão a opção mais segura.

O mundo do vinho é bem mais complexo que esta simples escolha que, para muitos, é bastante difícil. Imaginem que temos cerca de dez mil variedades de uvas e um volume de produção anual de vinhos, de todos os tipos, em torno de 270 milhões de hectolitros. São mais de 193 países que elaboram esta bebida.

A escolha deixa de ser um simples tinto ou branco e ganha contornos bem mais amplos.

A frase de Aristóteles se encaixa com perfeição e podemos acrescentar mais um adágio: “A sabedoria não vem do acerto, mas do aprendizado com os erros”. Logo, relaxem, ninguém vai levar nota zero por servir um vinho que não combinou 100% com o seu evento.

Em contrapartida, imaginem o stress que passa um Sommelier para ser aprovado no seu exame: tem que acertar o máximo de informações sobre os vinhos que lhe serão submetidos, totalmente às cegas. Nem a cor saberá. Tudo tem que ser deduzido a partir dos aromas e do paladar. Dureza!

Para os que apenas preferem desfrutar de um bom momento com um vinho, as exigências são bem menores. Ainda assim, algum conhecimento é necessário para, pelo menos, saber se é a hora de tinto ou do branco.

Um dos elementos chave para ajudar na escolha e, diga-se de passagem, determinante na maioria das “harmonizações” é o sal. Este onipresente mineral talvez já não seja tão importante a ponto de ser a origem da palavra que indica o que recebemos por nosso trabalho: “salário” deriva do latim “salarium” que significava o “pagamento em sal”, hábito do tempo do Império Romano. O sal valia quase como o ouro e era visto como uma maneira de preservar os alimentos, prática que é usada até hoje.

Deixando a história um pouquinho de lado, o sal é usado como realçador de sabor. “Sem sal” é algo sem graça, desinteressante e pode ser aplicado até para definir pessoas. Já “salgado” pode ser usado como um sinônimo de exagerado.

Aqui está o nosso segredinho: o sal suaviza a sensação de amargor provocada pelo tanino. Assim como nos alimentos, o sal também acentua as qualidades sápidas de um vinho, deixando-o mais fácil de beber. Tintos e brancos podem ganhar muito em qualidade com o teor correto de sal na comida. Um único cuidado: não exagerem.

Leitores da velha guarda vão recordar um truque ainda muito usado: acrescentar uma pitada de sal para realçar o sabor de uma fruta. Laranjas e melões ficam perfeitos. Para os que são cervejeiros, esta pitadinha também funciona, ficando ainda melhor com um toque de limão.

Com isto em mente, podemos partir para um extenso e delicioso aprendizado fazendo as mais inusitadas combinações, sem medo de errar. O objetivo de acrescentar uma taça de vinho nas nossas refeições é enriquecer uma experiência, vinho e comida devem ficar melhor. As regras que todos aprendemos servirão de ponto de partida ou, se preferirem, de porto seguro. Daí em diante a experimentação é livre.

E o que vamos aprender? Onde está o ganho em sabedoria?

Nada nos impede de servir um vinho branco com carne vermelha ou mesmo um vinho tinto com um delicado peixe grelhado. O balizador ideal é a quantidade de sal nestas combinações.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Foto por WDnet Studio para StockSnap