Imaginem a seguinte situação:
Entramos em uma loja e encontramos duas versões e um mesmo vinho. A única diferença é a palavra “Reserva” (ou em outros idiomas) no rótulo de uma delas.
Naturalmente, somos levados a crer que um deles é superior ao outro. A curiosidade fala mais alto e decidimos comprar as duas garrafas para compará-las.
Ao fazer a degustação comparativa, o título de “melhor vinho” acaba ficando para aquela garrafa que não declarou ser um vinho especial…
Surpresos?
Saibam que é mais comum do que se possa imaginar. Vinhos “Reserva” nem sempre seguem regras preestabelecidas. Na maioria das vezes, quem decide é o departamento de Marketing, que pode ter opiniões não muito claras sobre o que é um vinho especial.
Como deveria ser um vinho Reserva?
A ideia é muito simples e direta: um lote de um bom vinho que ficou reservada para o produtor.
Um bom observador logo deduzirá que a quantidade não é grande; a safra foi boa, o mesmo pode ser dito com relação à vinificação e que a decisão foi tomada durante a prova do vinho, digamos, básico. No mínimo esta quantidade reservada passará por um envelhecimento maior.
Caso venha ser comercializada, isto já explicaria o preço maior e algum requinte na embalagem e rotulagem.
Infelizmente não é possível generalizar: poucos países estabeleceram normas que asseguram esta qualidade aos “Reserva”.
Dois deles se destacam e se tornaram referência no setor: Espanha e Itália.
As normas espanholas são as mais famosas. Para poder ostentar este título em seu rótulo, um vinho tinto deve envelhecer por 3 anos, sendo um deles em barricas de carvalho. No caso de brancos ou rosados, o prazo cai para 2 anos, com 6 meses em carvalho.
Na Itália, um Chianti Reserva passa um mínimo de 2 anos envelhecendo antes de ser comercializado. Um Amarone precisa de 4 anos e um Barolo 5 anos, para atender à regra.
Ambos os países são bem rigorosos no cumprimento destas leis.
Portugal, outro grande produtor europeu, tem uma regra bem elástica: basta ter um teor alcoólico 0,5% acima do mínimo legal. Para sermos justos, o termo “reserva” é muito pouco usado por lá. Preferem “Garrafeira” que tem regras mais rígidas.
Nos países produtores do “Novo Mundo” é onde as regras não existem ou são tão genéricas que a palavra “Reserva” passa a não ter nenhum significado: Austrália, Argentina, América do Norte, Nova Zelândia e alguns outros.
O destaque fica para o Chile, que chegou a inventar o (detestável) “Reservado” (para os otários) e para o Brasil que, na tentativa de copiar e adaptar as normas espanholas, criou um monstrengo, sem fundamento, oficializando o tal do “reservado” …
Gente oportunista e inescrupulosa existe em qualquer lugar e em qualquer atividade, inclusive no mundo do vinho.
Agora já sabemos: olho nos vinhos ditos “Reserva”, podemos estar comprando gato por lebre!
Saúde e bons vinhos.
CRÉDITOS:
Imagem de Freepik
Parabéns, Tuty, pela matéria esclarecedora. Nos restaurantes de forma geral os que nos oferecem vinhos tem sempre essa conversa. ” Este é reserva, portanto mais caro…..”
Berti
Agradeço seu comentário.
Sempre é bom saber que nossos textos estão ajudando.
Abs
Tuty,
Perfeito. tudo no seu artigo é verdade.
Parabéns,
Abraços
Olá, Tuty! Parabéns pela matéria esclarecedora e bem didática, como sempre.
Entendo que o Chile é o “campeão” no uso inadequado da palavra RESERVA! Puro golpe de marketing.
Sucesso!
Abr