Espumantes são todos iguais? – de volta ao básico

A resposta é um retumbante não! 

Existem inúmeras maneiras de se classificar os espumantes: pela origem, pelo método de elaboração, pelas castas empregadas e até pela quantidade de borbulhas que apresentam. 

Alguns destes vinhos são muito famosos, como o francês Champagne. É uma denominação protegida, ou seja, só podem ser elaborados na região homônima, seguindo algumas regras muito específicas que apresentamos a seguir: 

  • Castas permitidas: Chardonnay, Pinot Noir, Pinot Meunier. Também são aceitas, em pequenas quantidades, as uvas Pinot Blanc, Pinot Gris, Arbane e Petit Meslier; 
  • Método: Tradicional ou Champenoise. Uma segunda fermentação é induzida na garrafa. 

Uma marca muito forte. Qualquer outro vinho espumante, de onde seja, tenta se passar por ela.  

Existem outros bons espumantes na França, todos produzidos fora da região demarcada. O nome mais genérico é “Vin Mousseux”, os mais conhecidos são o “Crémant” e o “Blanquette”. 

Alsácia, Bordeaux, Borgonha, Die, Jura, Limoux, Loire, Savoia e Luxemburgo (fora da França) elaboram seus Crémant, cada um com castas e técnicas próprias. 

O Blanquette de Limoux, tem uma interessante história. Para muitos pesquisadores, ele foi o pai dos vinhos espumantes. Tudo teria acontecido num mosteiro Beneditino. O excesso de zelo de um Frade o fez engarrafar o vinho prematuramente. A fermentação continuou na garrafa e fez a alegria de todos. A principal casta é a Mauzac ou Blanquette. Chardonnay e Chenin Blanc são utilizadas eventualmente. 

A Itália é outro país produtor de ótimos espumantes, entre eles o Prosecco, hoje quase tão famoso quanto o Champagne. A Glera é a principal casta permitida, que pode e ser cortada com Verdiso, Bianchetta e Perera. Deve ser produzido na região do Veneto, especificamente em Conegliano e Valdobbiadene.  

O principal método de produção é o Charmat onde a segunda fermentação ocorre em tanques pressurizados. Há produtores que utilizam o método tradicional. Alterações recentes nas normas de produção ampliaram o leque de castas, acrescentando Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Grigio. 

O Franciacorta DOCG, elaborado na região da Lombardia é a resposta italiana ao famoso “primo francês”: mesmas castas, mesmo método, terroir diferente. Para alguns especialistas, uma verdadeira joia. 

No Piemonte, são produzidos o Asti DOCG, e seu irmão menos borbulhante, o Moscato d’Asti. Utilizam a uva Moscato Bianco e o método Charmat. Tem perfil mais doce e teor alcoólico muito baixo. Conquistaram uma legião de apreciadores em todo o mundo. 

Na Emilia-Romagna se produz o conhecido Lambrusco, mais um frisante do que um espumante, com uma casta homônima que tem clones em várias províncias, recebendo nomes como “Lambrusco di Sorbara”, “Lambrusco di Graspi Rossi” e muitos outros. 

Trentodoc e Brachetto d’Acqui, são outras denominações italianas, menos conhecidas por aqui, mas igualmente deliciosas. O primeiro é elaborado com as castas tradicionais do Champagne. Os vinhedos estão no mesmo paralelo da região francesa. O produtor mais famoso é Giulio Ferrari. O segundo, um delicado espumante doce, com fama de afrodisíaco, é vinificado com a casta Brachetto, dando origem ao nome do vinho. 

Passamos para a Península Ibérica de onde vem outro famoso espumante, o espanhol Cava. Elaborado a partir das castas autóctones Macabeu, Parellada e Xarel-lo, utilizando o método tradicional. As regiões produtoras são controladas, abrangendo a Catalunha, Navarra, Rioja, Andaluzia, Valencia e Extremadura. São vinhos produzidos em grandes volumes por vinícolas do porte de Freixenet e Codorníu. Para provar rótulos mais sofisticados, procurem por produtores como Juvé & Camps ou Raventós, que pertence ao Grupo Codorníu. 

Para fechar este resumo sobre vinhos espumantes, não poderíamos deixar de mencionar o germânico Sekt, um espumante com fama de barato (e ruim) por conta da importação do mosto vindo de diferentes países. Mas existem raros produtores mais esmerados que buscam melhor qualidade. 

Da África do Sul vem o “Cap Classique”, uma versão local do Champagne. Várias uvas são utilizadas, inclusive a onipresente Chenin Blanc. Simonsig é o principal produtor. 

Na Hungria, que antes da 1ª grande guerra era o 2º maior produtor de espumantes, vem o Pezsgő. A Austrália elabora um curioso espumante tinto com a casta Shiraz. Portugal, Brasil, EUA, Inglaterra, Argentina, Chile, Uruguai, entre outros, produzem seus espumantes, cada um do seu jeito. 

Nosso último destaque vai para os Pét-Nat, apelido para Pétillant Naturel, e o Piquette, raríssimo por aqui. 

Graças a dedicados vinhateiros que estão produzindo vinhos naturais, orgânicos ou biodinâmicos, algumas destas técnicas, muito antigas, estão sendo trazidas de volta com resultados excelentes. 

Os Pét-Nat resgataram o “Método Ancestral” de única fermentação na garrafa. Originária da França, a técnica se espalhou por todo o mundo. Qualquer uva pode ser utilizada, mas os resultados nem sempre são bons. No Brasil já existem ótimos produtores como Vanessa Medin (Amor Imperfeito, Construindo Sonhos) e Vinhas do Tempo (Petulante Natural). 

O Piquette tem origem muito humilde. Era um subproduto da vinificação. O bagaço sofria uma segunda prensagem e o vinho resultante era distribuído entre os trabalhadores. 

Novamente, a turma que resgatou o Pét-Nat, trabalhou em cima desta técnica, refinando e obtendo um resultado interessante: um frisante, com baixo teor alcoólico e custo muito baixo. Fresco, saboroso e fácil de beber. 

Agora vocês já sabem: vinhos espumantes não são todos iguais. Formam, entre si, um mundo aparte. 

Saúde e bons vinhos! 

CRÉDITOS: 

Imagem de Alexandria para o Pixabay 

2 Comments

  1. Ronald Sharp Jr

    Maravilha de artigo. Senti falta apenas de comentário sobre a nossa mais nova D.O. de Pinto Bandeira para espumantes, com as uvas Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico. Ou será que perdi alguma coisa. Um forte abraço.

    • Tuty Pinheiro

      Ronald
      Agradeço seu comentário.
      Quanto a D.O. Pinto Bandeira, creio que este não era o objetivo do artigo.
      As poucas regiões demarcadas que citei entravam neste contexto para mostrar as diferenças entre algumas denominações famosas.
      Aqui, produzimos espumantes em diversas regiões, todos eles de boa qualidade. A nossa 1ª D.O. será seguida por muitas outras (assim espero).
      Ainda não é possível afirmar que temos um vinho espumante brasileiro tipificado e produzido, apenas, em Pinto Bandeira.
      Abs

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