Para ser um apreciador de vinhos, não basta sacar a rolha e degustar. Temos que nos manter atualizados com as tendências do mercado, sempre dinâmico, e visitar outras culturas, conhecendo novas bebidas alcoólicas, sempre que possível. Enófilos de boa cepa tem um bom conhecimento sobre vinhos e outros fermentados e destilados.
Dentro deste espírito, participamos de uma Masterclass sobre duas bebidas japonesas, o Shochu e o Awamori. Foi um evento da Associação de Produtores de Saquê e Shochu do Japão (JSS), The Shochu Academy Brasil (@theshochuacademy), realizado pela Tabiji e pela Mega Sake, com o apoio do Consulado Geral do Japão, no Rio de Janeiro, onde foi ministrada. Roberto Maxwell (@robertomaxwell) foi o palestrante principal. Participaram, também Fabio Ota (@megasake) e Yasmin Yonashiro (@yasminyonashiro)
Embora seja o “Sake” a bebida mais conhecida pelos que apreciam a gastronomia japonesa, fomos surpreendidos ao descobrir que o nome correto desta deliciosa bebida a base de arroz é, na verdade, Nihonshu Sake. A palavra “sake” significa, apenas, bebida alcoólica.
Shochu, outro destilado, é o mais consumido no Japão. Tem um caráter mais popular e pode ser elaborado a partir de diversas bases, como batata doce, cevada, trigo sarraceno, açúcar mascavo e arroz.
Há algumas teorias sobre como a técnica de destilação, uma descoberta dos povos árabes, chegou até o oriente: poderia ter vindo diretamente do Oriente médio ou pela península coreana.
O ponto mais interessante fica por conta da forma como os japoneses passaram a usar este técnica como maneira de aproveitar as sobras de alimentos: em vez de estocá-los, o que significava curtos prazos para sua utilização, preferiram transformá-los em álcool, que duraria muito mais e traria novas formas de consumo.
O Shochu é exatamente isto, uma bebida obtida a partir do cozimento de um legume ou grão, seguido de uma fermentação muito especial onde é introduzido um fungo, o Koji, e uma levedura. Depois, este mosto é destilado em Alambiques, unicamente.
O Awamori, outro destilado, somente é produzido na região de Okinawa, a partir de um arroz tipo tailandês, diferente dos que produzem o “sake”.
Os teores alcoólicos são elevados, em torno de 25% para o Shochu e 30% ou mais para o Awamori.
Muito interessante é a forma como são consumidos na origem: misturados com água morna, ou fria. Raramente são degustados puros. Ao diluir e aquecer levemente esta bebida, os aromas e sabores são realçados.
Nada impede, entretanto, que novas formas de consumo sejam criadas, como elaborados coquetéis. A The Shochu Academy Brasil pretende trazer, para o Rio de Janeiro, o curso completo que já existe em São Paulo, onde é estimulada a parte de mixologia, como forma de divulgar este produto no nosso país. São poucos importadores, atualmente, sendo que o Shochu de batata doce não pode ser comercializado no Brasil.
O preço é alto, em comparação com os do país de origem. Há custos elevados de transporte, é uma bebida delicada que não tolera altas temperaturas, acrescidos dos já conhecidos impostos de importação.
A parte final da Masterclass foi uma degustação dirigida.
Quatro amostras para degustarmos às cegas, num ritual muito semelhante ao de um vinho. Chamo a atenção para a folha, onde cada copinho está sobre uma imagem de “olhos” de cor azul: mostra a transparência da bebida.
Cada uma das tacinhas tinha um Shochu diferente. A técnica consistia em tentar identificar, primeiro, pelos aromas. Só então deveríamos provar e confirmar.
Mesmo para um olfato treinado, não foi tarefa fácil. Os aromas eram bastante sutis, mesmo aquecendo um pouco o recipiente com a ajuda da mão em concha. No palato, era necessário deixar o gole passear um pouco pela boca. De certa forma o álcool predominava no primeiro contato.
Divertido e muito instrutivo. Eis a relação do que foi provado:
A – Iichiko Shochu Silhouette – elaborado com cevada, 25% ABV. Provincia de Oita. Depois de algum treino, percebe-se notas aromáticas semelhantes às de uma cerveja artesanal;
B – Kazehakuba – elaborado com arroz, 25% ABV. Província de Miyazaki. Notas adocicadas nos aroma. Muito redondo e suave no paladar;
C – Tensho soba Shochu – elaborado a partir de trigo sarraceno, 25% ABV. Província de Miyazaki. O mais interessante de todos. Claras notas de “padaria”, bem semelhantes às de um bom Champagne. Paladar elegante e agradável.
D – Mizuho Gold – Awamori, 30% ABV. Província de Okinawa. Alcoólico com sabores marcantes. Foi envelhecido em potes de cerâmica num sistema que remete a Soleira, típica do Jerez: o produto final a ser engarrafado é um blend de diversas destilações.
Saúde, bons vinhos de bons Shochus!
Semana que vem voltamos aos vinhos
Excelente aula Tuty ! Onde encontramos estas bebidas para comprar ?
Valdir
Aqui no Rio comentaram as seguintes lojas: Casa Vitana, Fuji e uma outra na Marquês de Abrantes, já quase na praia de Botafogo.
Em S. Paulo é mais fácil. A importadora Yamato Comercial, traz alguns bons Shochus (www.yamato.com.br). Uma busca na Internet pode revelar mais coisas.
Abs
Parabéns Kyoshi!
Muito elucidativo principalmente para quem viajará para o país.
Berti
Agradeço seu comentário.
Agora vc poderá comprar umas garrafinhas “in loco”.
Abs
Demais, Tuty! Obrigada!