Desenvolver o nosso paladar a ponto de conseguir identificar as diferentes castas, por seus aromas e sabores, é uma das metas mais prazerosas e difíceis de se conquistar. Não existem atalhos, mas com boa dedicação e um pouco de organização, é possível chegar lá de uma maneira didática e divertida.

Ficaram curiosos?

O caminho mais seguro e eficiente é através de degustações comparativas. Existem alguns estilos destas provas, por exemplo, quando participamos de um evento de vinhos aberto ao público. Várias vinícolas ou seus distribuidores são reunidos, num mesmo espaço, onde podemos degustar uma enorme variedade de vinhos. Temos a oportunidade de experimentar e comparar, castas, métodos de elaboração, origens, estilos e muito mais.

Se não formos muito objetivos, seremos envolvidos pelo excesso de ofertas, perdendo-se o efeito da comparação. O ideal é organizar estas degustações em “ponto pequeno”, com alguns amigos e, se possível, com alguém mais experiente para tirar dúvidas. O truque é começar comparando uma ou duas castas de cada vez. Escolham as clássicas incialmente, só acrescentado as menos conhecidas à medida que vamos nos sentindo mais seguros.

Um ótimo ponto de partida seria comparar a uvas tintas Cabernet Sauvignon e Merlot e, em um flight separado, as brancas Chardonnay e Sauvignon Blanc.

Para quem não sabe, a palavra “flight”, literalmente “voo” em inglês, é o nome que se dá, no nosso meio, ao conjunto de taças, com vinho, para serem provados em sequência, como na foto que ilustra este texto.

A escolha dos vinhos que serão testados é muito importante. Não se trata, apenas, de pegar duas garrafas quaisquer, abrir e servir. O sucesso por trás desta simpática forma de aprender depende de escolhas acertadas.

Aqui vão algumas sugestões:

Cabernet Sauvignon e Merlot chilenos. Ambas as castas são muito bem vinificadas naquele país, com destaque para a primeira, cujos vinhos são considerados como um dos melhores do mundo. Procurem comprar de uma mesma vinícola e dentro de uma mesma linha, por exemplo “Reserva”.

No Cabernet, procurem identificar os aromas e sabores que nos remetem a frutas vermelhas muito maduras: cereja, groselha, amora. Se o vinho passou por madeira, vamos encontrar, também: pimenta do reino, tabaco, baunilha e alcaçuz. Devem ser encorpados, com taninos presentes, mas suaves, e boa acidez.

No Merlot, a grande característica é a sua suavidade quando comparada com a Cabernet. Tem quase o mesmo perfil de aromas e sabores, acrescentando amora madura e ameixa preta ao leque anterior. Ao passar por madeira, vamos encontrar, café, chocolate, louro e pirazinas, mais conhecidas como “o gosto do pimentão”.

Algumas variações desta prova são bem interessantes e podem ser usadas: comparar vinhos de países de clima frio com os de clima mais tropical. Tentem descobrir as diferenças.

Entre as brancas, um bom começo seria comparar dois vinhos argentinos. Procurem por vinícolas menores, com pequenas produções. Alguns Chardonnay de lá estão no nível dos famosos californianos.

As principais características a serem identificadas são:

Chardonnay – maçã verde, frutas cítricas, pera, pêssegos, mel e notas florais. Se passou por madeira vamos encontrar aromas e sabores láticos, temperos e defumados leves. O corpo é de leve a médio, mas será notada uma certa “crocância”. Tem muita personalidade.

Sauvignon Blanc – ervas selvagens, notas cítricas, de abacaxi e de maracujá. Muito mineral, corpo leve, alta acidez e longa permanência.

Uma variação muito instrutiva seria fazer, simultaneamente, esta mesma prova com dois vinhos chilenos e explorar as diferenças.

Uma vez dominadas estas quatro castas, é hora de ampliar os nossos horizontes. Aqui vão mais sugestões:

Syrah: australiano, francês, norte americano, sul africano e brasileiro;

Tempranillo: Espanha, Portugal (Aragonês ou Tinta Roriz) Chile e Argentina;

Pinot Noir: francês, chileno e norte-americano;

Alvarinho: Espanha (Albariño), Portugal e Uruguai;

Riesling: alemão, austríaco e alsaciano (França);

Pinot Grigio: Itália, França (Pinot Gris).

Para acompanhar, nada de exageros: pão e água seria o ideal. Procurem por alimentos com sabor neutro e que não conflitem com o que está sendo degustado. A ideia é manter o paladar limpo e sem influências externas.

No início, as degustações serão abertas. Deixe as degustações cegas para um estágio mais avançado.

Para encontrar as características mais marcantes de cada uva, consulte um bom livro sobre vinhos ou pesquise em sites confiáveis.

Sobretudo, divirtam-se.

Saúde e bons vinhos!

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