Seria possível que um vinho, elaborado na garagem dos pais de um Enólogo, fosse laureado, não uma, mas duas vezes, com os sonhados 100 pontos Parker? E, de quebra, ser o primeiro vinho espanhol a receber esta pontuação?
Ele existe e se chama Contador, fruto de muita dedicação e paixão de um só homem, Benjamim Romeo, de cativante personalidade que se confunde com a de seu maior vinho.
Filho de uma família de vinhateiros, aprendeu cedo com seu pai que, no pós-guerra, em tempos duros, nunca deixou de correr atrás de seus sonhos, cultivando uvas e fazendo alguns vinhos.
Formou-se em Enologia na prestigiada Escuela de la Vid, em Madrid. Quando pensou em ir trabalhar com os grandes de Bordeaux, foi contratado por uma tradicional vinícola da Rioja, a Artadi, onde permaneceria por 15 anos, desenvolvendo todas as suas habilidades, entre elas, a de ser um transgressor das regras estabelecidas, diga-se de passagem, com muito sucesso.
Dentre as diversas inovações, está uma maior atenção ao vinhedo e fazer vinhos mais tânicos e concentrados, reduzindo drasticamente o corte com varietais brancas, uma antiga tradição. A vinícola Artadi se torna uma das grandes de Espanha.
Em 1999 passa a se dedicar, exclusivamente, ao seu projeto pessoal. Adquire uma velha adega, uma caverna, no subsolo do castelo de San Vicente de la Sonsierra, batizada como “La Cueva del Contador”, onde produz seus primeiros vinhos, com uvas do vinhedo da família. Ganharam reconhecimento rapidamente.
Como a demanda por seus produtos aumenta, começa a adquirir vinhedos de terceiros, em diversas regiões e transforma a garagem da casa de seus pais em uma vinícola. Ali nasceria o reverenciado Contador.
A Cave sob o castelo servia como um local de guarda de vinhos, por suas características de baixa temperatura ao longo do ano. Originalmente, eram transportados em Odres, bolsas feitas com pele de cabra. Não só cada uma destas bolsas tinha diferentes tamanhos, como cada indivíduo que as transportava eram mais ou menos fortes. Assim, um sistema de pesagem era feito na porta da cave, registrando todo o movimento de entrada e saída. Fazer este controle era responsabilidade do “Contador”, sempre a postos na porta de entrada.
O nome do vinho é uma homenagem a este personagem.
Um 100% Tempranillo com uvas vindas de diversos vinhedos diferentes das regiões de San Vicente de la Sonsierra e de Briones. Fermentado em tanques de carvalho e amadurecido em barricas de carvalho francês, de 1º uso, por cerca de 20 meses. Não é clarificado e nem filtrado. Em algumas safras, pode receber um pequeno corte de outras uvas como Garnacha, Graziano, Manzuelo.
A safras que receberam os 100 pontos Parker foram 2004 e 2005.
A produção gira em torno de 5.000 garrafas.
Preço médio no Brasil: R$ 7.000,00
Benjamim Romeo produz outros bons vinhos, tintos e brancos. Um deles se chama Predicador, que tem uma curiosa história:
Ele cria pessoalmente seus rótulos. Predicador significa “Pregador ou Pastor”, em espanhol. A inspiração veio do filme “Cavaleiro Solitário”, de Clint Eastwood, que caracterizava seu personagem com este chapéu.
Para poder usar a imagem, fez um acordo com o ator e produtor norte-americano – os direitos seriam cedidos desde que ele pudesse experimentar uma garrafa de cada safra elaborada.
Recebe, até hoje, uma garrafa Magnum a cada Natal. Um belo presente.
Saúde e bons vinhos!
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