Na coluna sobre o Romanée-Conti, um leitor fez o seguinte comentário:
“bebida é vinho, vinho é tinto …”
Ao que, outro leitor, retrucou:
“Vinho é tinto, mas é branco também, e como é …”
Polêmicas à parte, vinhos podem ser classificados pelas suas cores: tinto, branco, rosado, laranja, ou por seus estilos: tranquilos, espumantes, fortificados ou ainda pela quantidade de açúcar residual: seco, meio seco e doce…
Enfim, denominações não faltam, mas, o que não pode faltar é boa qualidade. Todos os vinhos “icônicos” já apresentados nesta série são, neste quesito, impecáveis!
O Champagne Cristal, é mais um destes ícones incontestáveis. Tem uma curiosa história.
Em 1876, o Tzar Alexander II da Rússia procura a Maison Louis Roederer e faz um pedido muito especial: queria uma cuvée de Champagne exclusiva, só ele poderia servir ou degustar.
Impôs algumas exigências:
– A garrafa deveria ser de cristal, absolutamente transparente o que, mais tarde, daria origem ao seu nome comercial. Isto permitia que o conteúdo fosse examinado antes do consumo. Ele temia ser envenenado;
– O fundo deveria ser chato, sem aquele indentação (punt), para evitar que explosivos fossem, ali, escondidos. (parece que assassinar Tzares era uma prática bem popular na época)
A Louis Roederer começou a elaborar um champagne que se tornaria mundialmente famoso e desejado.
Mesmo com o fim da monarquia russa (1917), a Maison Roederer manteve a sua produção. A comercialização para o resto do mundo iniciou em 1945, com a marca Cristal. Um produto super premium, voltado para as classes mais abastadas.
Sua elaboração é extremamente criteriosa, sendo produzido em safras especiais, apenas. Um corte de Pinot Noir e Chardonnay que fica maturando, sobre as borras, por seis anos. Após a degola (dégorgement), ainda repousa por outros oito meses antes de ser comercializado.
O manejo dos vinhedos, todos próprios e certificados como Grand Cru e biodinâmicos (desde 2012), não emprega meios mecânicos. Cavalos são usados para lavrar a terra. A idade mínima das vinhas gira em torno de vinte e cinco anos.
A luxuosa apresentação traz mais curiosidades sobre esta formidável bebida: o rótulo dourado é uma especial distinção, reservada para champagnes extraordinários, seguindo uma antiga regra (século XIX) que associava cor à qualidade.
O invólucro de celofane dourado não é só um luxo a mais. Foi projetado para proteger o líquido da ação dos raios UV, o que as garrafas escuras fazem naturalmente.
Por conta de sua pouca produção, 300 a 400 mil garrafas por ano, seu preço é considerado como muito elevado.
Custo no Brasil: R$ 4.000,00 a R$ 7.000,00 dependendo da safra.
A Maison Roederer produz, também, um Cristal Rosé.
Quem ainda concorda que “bebida é vinho, vinho é tinto …”?
Saúde e bons vinhos!
CRÉDITOS:
“Champagne Louis Roederer Cristal 2006 Vintage” por Fareham Wine está licenciada sob CC BY 2.0.
No aniversário da sua esposa, aquele amigo que me deu o privilégio de abrir um Romanée-Conti para bebermos juntos, também consumimos duas garrafas da Cristal. Já outro amigo, roteirista, ainda esta semana, convidou-me para um almoço tardio, lá pelas 15:00, durante o qual tomamos um Belo Verdejo e um Perdices, que desceram lindamente. Sem nenhum preconceito, por suposto. Detalhe: conhecedor do meu vício, en dessert ele ofereceu brigadeiros.