Recentemente, fomos bombardeados com uma boa campanha de marketing anunciando o 1º vinho brasileiro produzido por Inteligência Artificial, um corte das castas Marselan, Cabernet Sauvignon, Merlot e Teroldego, elaborado pela Casa Tertúlia (RS) e denominado “IA”.
Antes dele, em 2023, pesquisadores da Universidade Europeia Miguel de Cervantes (UEMC) de Valladolid, associados à Bodega Cooperativa de Cigales, já haviam apresentado um vinho assim elaborado, numa Semana de Ciência em Castilla y León.
Dentro deste espírito, há um registro ainda mais antigo, de 1976, quando uma empresa de San Francisco, EUA, a Ava Winery, produziu um vinho sintético usando compostos saborizantes e etanol.
Então a ideia não é nova, sendo lícito afirmar que também não é inovadora.
Novo é o pouco compreendido conceito de Inteligência Artificial, um elaborado conjunto de instruções para computadores, capazes de analisar impressionantes quantidades de dados e produzir um resultado, previamente planejado, que dentro de certos limites pode ser comparado com a decisão de um ser humano.
Curiosamente, está IA só é operacional depois de “aprender” esta grande quantidade de informações antes de processá-las. O correto, honestamente, seria chamar de Ignorância Artificial…
Como o melhor só vem ao final, a IA não produz vinhos, “ipso facto”, mas pode ajudar a tomar certas decisões, desde que tenha aprendido tudo sobre o tema.
Neste momento, é necessário fazer um balanço entre dois tipos de tomada de decisão. Há aquelas que são eminentemente técnicas, cartesianas, nas quais um tipo de precisão é um fator primordial.
O outro tipo de decisão é aquele movida pelas nossas emoções, memórias afetivas e por um conhecimento empírico baseado na nossa vivência.
Elaborar um grande vinho depende de qual tipo de decisão?
A resposta é intuitiva e óbvia: vinhos começaram a ser elaborados há cerca de 6.000 anos a.C.. Todas as teorias e atuais tecnologias de vinificação decorrem destas primeiras produções de vinho, que foram feitas na base do erro e acerto.
Essa IA ainda tem muito que aprender.
Mas é uma boa ação de mercado e muitos consumidores vão comprar um vinho com este selo, nem que seja para matar a curiosidade.
Olhando todo o processo de elaboração de um vinho, há vários aspectos em que uma decisão técnica pode contribuir para facilitar a vida dos produtores. Vamos mostrar algumas delas.
1 – No vinhedo, onde tudo começa: já existem diversos tipos de sensores que vão coletar dados como o estado do clima, nutrientes no solo, insolação, crescimento vegetal e alguns outros, indicando a necessidade de irrigação, ponto de colheita, etc.
Mas quem vai decidir quando colher será o binômio Agrônomo/Enólogo.
2 – Na Cantina: já existe muita tecnologia embarcada na hora de extrair o mosto e fermentá-lo. Controlar a temperatura, escolher as melhores leveduras, acompanhar a fase de maceração, entre outras.
A IA pode aumentar a precisão destes controles e até diminuir a quantidade de trabalho manual envolvido. Mas nunca vai substituir o conhecimento de um tarimbado profissional que sabe, por experiência própria, o momento certo de interromper qualquer um destes processos, em busca do resultado que tem em mente.
Como exemplo, lembramos de uma palestra de um produtor de Franciacorta, Itália, que relatou como obteve a linda cor rosada de seu espumante: “passamos uma madrugada inteira coletando amostras, de hora em hora, durante a maceração, até chegar na coloração que queríamos. Não dormimos, mas ficou linda”.
3 – Para o consumidor: são os quem mais podem se beneficiar destas técnicas de IA. Num futuro, não muito diante, vinhos poderão ser cortados para atender a um gosto 100% pessoal.
Grupos específicos de consumidores, como os que não apreciam vinhos, podem ser levados a gostar de um novo produto que seria feito com este objetivo, depois de analisar as razões de não gostarem de uma bebida, como o vinho.
Até mesmo recomendações de harmonização podem ganhar uma nova roupagem, se o Sommelier virar um robozinho.
Mas a IA ainda tem muito que aprender.
Fiquem com a Dica da Karina, 100% humana.
Saúde e bons vinhos!
Dica da Karina – Cave Nacional
A Vinícola Peculiari é uma pequena produtora familiar do Vale dos Vinhedos. Fundada na década de 90 por Ronaldo Zorzi, foi a primeira a vinificar um vinho de Denominação de Origem no Vale dos Vinhedos (um Merlot). Mas hoje apresentamos o Peculiare Saperavi safra 2022, uma uva ancestral originária da Geórgia. Este vinho passa 50% por tanques de inox e 50% em barricas de madeiras brasileiras, por 6 meses. Vinho de coloração rubi de alta intensidade com olfativo de frutas vermelhas frescas, como amora, framboesa e ameixa, com presença envolvente de ervas gastronômicas. Na boca apresenta taninos firmes e potentes, sustentando grande persistência e textura marcante.
Para comprar este vinho, clique no nome ou na foto. A Cave Nacional envia para todo o Brasil.
CRÉDITOS: Imagem de abertura por Freepik
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Parabéns pelo tema!