Existiria um grande vinho fora do Velho Continente, mais especificamente, fora de Bordeaux?

Quem tem esta resposta é um dos maiores enólogos de sua geração, Michel Rolland, o mais conhecido “Flying Winemaker”, com um impressionante currículo.

Este bordalês trabalhou como consultor em mais de uma centena de vinícolas ao redor do mundo, inclusive no nosso país. Exerceu grande influência não só na forma de cultivar as uvas, como nas técnicas de elaboração dos vinhos. Criou um estilo que perdura até hoje.

Sua primeira vista a uma vinícola argentina aconteceu em 1988, na região de Cafayate, Salta. Naquela época, a casta que dominava a vinificação local era a onipresente Cabernet Sauvignon.

Pressentiu que aquele país tinha um imenso futuro pela frente, mas dependeria de muito trabalho, de vencer preconceitos antigos e correr alguns riscos para obter os resultados que tinha em mente.

Já na década de 90, Michel se interessou por conhecer os vinhos elaborados com a Malbec plantada nos terrenos próximos à Cordilheira dos Andes, em Mendoza. A curiosidade se transformou em paixão quando resolve empreender nesta região.

Adquiriu, junto com 6 sócios franceses, todos com vinícolas em Bordeaux, uma área de 850 hectares em Vista Flores, Vale do Uco. Enormes desafios estavam pela frente, era uma área em que uvas nunca haviam sido cultivadas. A geadas eram o terror dos eventuais produtores.

O plano era bem simples: 60% do terreno seria cultivado com Malbec. Outras castas seriam plantadas para completar a superfície. Todas as vinícolas seriam construídas dentro do empreendimento criando o “Clos”, que pode ser traduzido como “intramuros”.

Cada um dos produtores forneceria parte de suas uvas para a elaboração de um vinho comum a todos, por Michel Rolland.

Nascia o “Clos de los Siete”, um autêntico corte bordalês, baseado em Malbec. Sua primeira safra foi em 2002. Malbec, Cabernet Sauvignon e Merlot compunham o blend, amadurecido, parcialmente, em barricas novas e usadas de carvalho francês.

A cada safra, uma nova composição era estabelecida, com base na matéria prima obtida. Nestas vinte edições, nenhuma tem o mesmo corte. A mais recente a ser comercializada – 2021 – é composta por 59% Malbec, 15% Merlot, 13% Syrah, 6% Cabernet Franc, 4% Cabernet Sauvignon e 3% Petit Verdot.

Dos sete nomes originais, que incluíam peso pesados como Laurent Dassault, Benjamin e Edmond de Rothschild, Philippe Schell, Jean-Michel Arcaute, apenas quatro decidiram seguir o plano original: Bodega Monteviejo (Catherine Péré-Vergé), Bodega Diamandes (família Bonnie), Bodega Cuvellier do los Andes e a Bodega Rolland.

Que o C7 é um grande vinho ninguém discute. Uma verdadeira “ponte” entre os estilos do velho e do novo mundo. Meticulosamente elaborado com o que há de melhor, sejam as uvas ou o arsenal técnico disponível.

Um vinho que ainda tem muito para mostrar, vinte anos é um marco louvável, mas falta passar na prova do tempo.

Um importante fator o coloca num patamar exclusivo: é um vinho muito acessível, ao contrário dos seus pares franceses. O preço médio da safra atual está na casa de uma centena, na nossa moeda.

Estão esperando o quê?

Melhor que isto só a dica da Karina.

Saúde e bons vinhos!

Dica da Karina – Cave Nacional

Valparaíso – Naturo Torrontés

Situado em Vila Rica, município de Barão, na Serra Gaúcha, encontra-se a Valparaíso Vinhos e Vinhedos. Arnaldo Antonio Argenta, sócio proprietário da Valparaíso é um Engº agrônomo apaixonado pela profissão e que sempre teve enfoque na uva em sua carreira profissional. A propriedade foi adquirida por ele na década de 70 e recentemente reestruturada para dar lugar a um projeto de vinhos de baixa intervenção (filosofia de oferecer vinhos na sua forma mais natural e genuína). O Valparaiso Naturo Torrontes possui profundidade aromática que inicia com frutas cítricas, passando a ervas (capim limão) e revelando também notas de leveduras. Em boca fresco e equilibrado, com ótima acidez. Um vinho branco muito elegante.

Para comprar este vinho, clique no nome ou na foto. A Cave Nacional envia para todo o Brasil.

CRÉDITOS: imagens obtidas junto ao Clos de Los Siete.