
Quase um senso comum, os produtores de vinho têm no seu leque de opções pelo menos três tipos de vinhos: um de “entrada”, geralmente jovem e pronto para beber, um segundo com elaboração mais cuidada e algum amadurecimento em madeira, e um topo de linha, geralmente denominado “Reserva”, um vinho bem mais sofisticado e caro que os anteriores.
Nas grandes regiões produtoras como Espanha, Itália ou Portugal, existem rígidas normas para que um vinho possa ostentar esta palavrinha no seu rótulo.
Curiosamente, não são iguais. Cada país adota um conjunto de regras.
As mais famosas são as espanholas, consideradas como muito rígidas. Serviram de base para muitas outros países produtores.
São três estágios, o Crianza, o Reserva e o Gran Reserva. Cada um deve cumprir um período mínimo de envelhecimento:
Crianza – 2 anos de amadurecimento total, sendo 6 meses, pelo menos, em madeira e o resto na garrafa;
Reserva – 1 ano em barricas de carvalho e 2 de repouso após o engarrafamento, totalizando três anos;
Gran Reserva – mínimo de 4 anos divididos em 2 anos na barrica e 2 na garrafa.
Outro país que leva muito a sério a definição de “Riserva” é a Itália. Cada região produtora pode ter seus critérios mínimos. Alguns exemplos:
Brunello di Montalcino Riserva – são 6 anos de amadurecimento antes de serem comercializados, sendo obrigatório 2 anos em barricas de carvalho e 4 meses em garrafa. Só elaboram em safra muito boas;
Barolo, Riserva – 5 anos de amadurecimento, com 1 ano e meio em carvalho. Igualmente, só em safras especiais;
Chianti Classico Riserva – 2 anos em carvalho e 3 meses na garrafa.
Em Portugal, a legislação acrescenta mais uma etapa além do amadurecimento prolongado: o vinho deve passar por um painel de degustadores. São eles quem vão decidir se pode ser rotulado como Reserva.
Para serem aceitos nesta prova, precisam ter um teor alcoólico maior que o mínimo previsto. Devem amadurecer cerca de 1 ano em madeira e algum tempo na garrafa. Reserva, neste país, é quase um sinônimo de “Vinho de Guarda”.
Países do Novo Mundo tendem a ser mais liberais com os “Reserva”. Alguns nunca regularam o termo e os poucos que têm alguma norma, preferem fazer vista grossa.
Na Argentina não existe uma lei, mas um “entendimento”. Devem ser elaborados com as uvas permitidas, observando um rendimento de 135Kg de matéria prima por 100l de vinho e amadurecimento por 1 ano em madeira.
O Chile também adota um “entendimento”, inspirado na norma portuguesa. Os Reserva devem ter um teor alcoólico ligeiramente mais alto e passar um período, não especificado, por barricas de madeira e estagiar na garrafa, antes de serem vendidos.
No Brasil a legislação ainda engatinha. Há uma instrução normativa do Ministério da Agricultura indicando que o vinho deve ter 11% de teor alcoólico, podendo ser “chapitalizado” (*) em até 1%. Amadurecimento de 12 meses para tintos e 6 meses para brancos. O uso de madeira é facultativo.
No Uruguai não existe nenhuma lei ou norma. O uso do termo Reserva fica a critério do produtor. É aceito que são vinhos de melhor qualidade.
Além deste, EUA, Austrália e Nova Zelândia não regulam o uso desta denominação, ficando a critério dos produtores.
Por último, vamos voltar ao Velho Mundo, para comentar sobre as regras francesas. Não existe um consenso sobre o uso do termo “Réserve”. Tudo vai depender de cada região produtora. De certa forma, elas têm autonomia para regular isto.
Um fato a ser observado é que vinhos “Réserve” são raríssimos, demonstrando que os franceses, embora não regulados, são criteriosos quanto ao emprego deste adjetivo.
Por outro lado, alguns oportunistas decidiram criar a categoria “Reservado”, que nada mais é que um vinho de entrada em roupa de festa. A ideia era criar confusão e vender “gato por lebre”.
Como não poderia ser de outra forma, nossos “legisladores” oficializaram esta denominação, criando uma norma nacional para esta aberração.
Não se deixem enganar.
Saúde, bons vinhos!
(*) Chaptalização é a prática de acrescentar uma quantidade de açúcar ao mosto a ser fermentado, para aumentar o teor alcoólico. Esta técnica é proibida na maioria dos países produtores e vinho.
Dica da Karina – Cave Nacional

Seis Mãos é uma micro vinícola, que valoriza as Seis Mãos que fazem o vinho acontecer, o viticultor, o enólogo e o tanoeiro. Possui pequena produção, com uso de madeira brasileira. Criados pela enóloga Caroline Gonzatti, que reuniu conhecimentos de diversas experiências acumuladas ao longo de 15 anos, cada vinho é pensado com carinho e técnica, na busca constante da máxima: “Nas mãos o trabalho, no vinho a verdade”.
O Seis Mãos Rosé safra 2024 é um corte secreto com maceração pré-fermentativa em madeira de castanheira, prensagem e fermentação em tanque. Posterior maturação em barrica de Cabreúva por 7 meses.
Um vinho de coloração rosa salmão profundo. No nariz, especiarias como cravo e pimenta do reino, evoluindo para notas florais e frutadas. Em boca, lembra Copa, cravo e fruta de polpa branca. Tem elevada mineralidade, salinidade, acidez equilibrada e taninos delicados, com grande volume e final de boca.
A Cave Nacional envia para todo o Brasil.
Prezado Dr TUTY
Como sempre um ótimo artigo
Lúcido e esclarecedor
Um forte abraço
CH