Categoria: Harmonização (Page 2 of 9)

Cozinhado com vinho.

Dentre as muitas regras “não escritas” que existem no mundo do vinho, uma diz sobre o vinho na cozinha: use o mesmo vinho que você vai beber.

Simples, direta e dentro de certos limites, um bom conselho. Mas não cobre todos os aspectos, nem da culinária e nem da famosa harmonização.

Esta regrinha olha, apenas, para a importância de usar bons produtos, ou seja, não estraguem uma boa refeição utilizando um vinho barato e ruim, seja na panela ou na taça.

Um ponto muito importante a ser observado é a técnica culinária que será utilizada no preparo: deglacear, reduzir e brasear são as mais indicadas. Para cada uma há um vinho mais adequado.

As reduções talvez sejam as mais conhecidas. Deixa-se o líquido, no qual um alimento foi cozido (foto), em lenta fervura até que sobre um caldo mais espesso, concentrado e cheio de sabores. O que quase nunca nos lembramos, na hora de escolher um vinho para este procedimento, é que o “concentrado e cheio de sabores” vai valer para ele também.

A escolha do que vamos usar é a chave para tudo dar certo. Vinhos tintos ou brancos, secos, são os mais aconselhados. Entretanto, se a ideia forem sabores diferentes, podem ser usados vinhos frutados e até mais suaves. Lembrem que estas características serão amplificadas.

Deglaçagem é a técnica de usar um líquido para soltar os resíduos do cozimento que estão no fundo da panela. Qualquer livro básico de culinária nos ensina que ali estão os sabores mais marcantes. Utilizar uma bebida alcoólica, vinho ou um destilado, é o segredo dos grandes Chefs para obter deliciosos molhos.

O truque, neste caso, é evitar vinhos amadurecidos em carvalho. Prefiram tintos ou brancos de corpo médio, Merlot e Sauvignon Blanc, que não passaram por madeira, são as sugestões que mais aparecem em consagradas receitas. Podem ser servidos na harmonização sem nenhum problema, nos aproximando da primeira regrinha.

A terceira técnica, o braseado, consiste em cozinhar, por um longo tempo, uma carne ou legumes e vegetais, previamente dourados, em uma pequena quantidade de líquido que resultará no molho, ao final. O vinho é considerado como um excelente veículo para esta forma de cocção, quase sempre cortado por um caldo culinário.

Assim como na redução, devem ser evitados os vinhos madeirados. O longo tempo de cozimento pode trazer sabores amargos e desagradáveis. Outra vantagem desta preparação é que podemos, por exemplo, usar um branco seco para preparar um prato de carne vermelha. O resultado é muito aromático e saboroso. O Chef do restaurante parisiense Jamin, Benoît Guichard, ficou famoso por seus cortes de carne cozidos assim.

Vinhos doces ou os fortificados devem ser usados para a elaboração de doces. Existem muitas sobremesas deliciosas com Porto, Sauternes ou algum colheita tardia. A menos que uma receita indique, especificamente, um vinho destes, como a do conhecido molho Madeira, não os utilizem para as técnicas descritas acima: a doçura será intensificada. Isto pode não ser do agrado de todos.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Foto de Esra Özer

Tinto ou Branco? – de volta ao básico

Aristóteles afirmava que “a dúvida é o princípio da sabedoria”. Com um pouco de razão, podemos aplicar à nossa situação facilmente, afinal, quem já não ficou num dilema como este na hora de decidir o que servir?

Em algumas situações a escolha é direta, por exemplo, num churrasco. No máximo vamos ter que optar por um bom tinto ou uma cerveja gelada. Já se o prato for uma carne mais leve ou um pescado, os brancos serão a opção mais segura.

O mundo do vinho é bem mais complexo que esta simples escolha que, para muitos, é bastante difícil. Imaginem que temos cerca de dez mil variedades de uvas e um volume de produção anual de vinhos, de todos os tipos, em torno de 270 milhões de hectolitros. São mais de 193 países que elaboram esta bebida.

A escolha deixa de ser um simples tinto ou branco e ganha contornos bem mais amplos.

A frase de Aristóteles se encaixa com perfeição e podemos acrescentar mais um adágio: “A sabedoria não vem do acerto, mas do aprendizado com os erros”. Logo, relaxem, ninguém vai levar nota zero por servir um vinho que não combinou 100% com o seu evento.

Em contrapartida, imaginem o stress que passa um Sommelier para ser aprovado no seu exame: tem que acertar o máximo de informações sobre os vinhos que lhe serão submetidos, totalmente às cegas. Nem a cor saberá. Tudo tem que ser deduzido a partir dos aromas e do paladar. Dureza!

Para os que apenas preferem desfrutar de um bom momento com um vinho, as exigências são bem menores. Ainda assim, algum conhecimento é necessário para, pelo menos, saber se é a hora de tinto ou do branco.

Um dos elementos chave para ajudar na escolha e, diga-se de passagem, determinante na maioria das “harmonizações” é o sal. Este onipresente mineral talvez já não seja tão importante a ponto de ser a origem da palavra que indica o que recebemos por nosso trabalho: “salário” deriva do latim “salarium” que significava o “pagamento em sal”, hábito do tempo do Império Romano. O sal valia quase como o ouro e era visto como uma maneira de preservar os alimentos, prática que é usada até hoje.

Deixando a história um pouquinho de lado, o sal é usado como realçador de sabor. “Sem sal” é algo sem graça, desinteressante e pode ser aplicado até para definir pessoas. Já “salgado” pode ser usado como um sinônimo de exagerado.

Aqui está o nosso segredinho: o sal suaviza a sensação de amargor provocada pelo tanino. Assim como nos alimentos, o sal também acentua as qualidades sápidas de um vinho, deixando-o mais fácil de beber. Tintos e brancos podem ganhar muito em qualidade com o teor correto de sal na comida. Um único cuidado: não exagerem.

Leitores da velha guarda vão recordar um truque ainda muito usado: acrescentar uma pitada de sal para realçar o sabor de uma fruta. Laranjas e melões ficam perfeitos. Para os que são cervejeiros, esta pitadinha também funciona, ficando ainda melhor com um toque de limão.

Com isto em mente, podemos partir para um extenso e delicioso aprendizado fazendo as mais inusitadas combinações, sem medo de errar. O objetivo de acrescentar uma taça de vinho nas nossas refeições é enriquecer uma experiência, vinho e comida devem ficar melhor. As regras que todos aprendemos servirão de ponto de partida ou, se preferirem, de porto seguro. Daí em diante a experimentação é livre.

E o que vamos aprender? Onde está o ganho em sabedoria?

Nada nos impede de servir um vinho branco com carne vermelha ou mesmo um vinho tinto com um delicado peixe grelhado. O balizador ideal é a quantidade de sal nestas combinações.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Foto por WDnet Studio para StockSnap

Harmonizar – de volta ao básico

A ideia de combinar vinho e comida não é nova, vem de muito tempo atrás, quando beber água não era seguro: naqueles tempos, não existiam tratamentos para água potável e nem filtros caseiros. Beber um vinho ou outra bebida alcoólica durante as refeições diminuía o risco de se contrair alguma doença.

Atualmente, alguns autores e profissionais da gastronomia definem a harmonização de vinho e comida como uma experiência que vai otimizar aromas e sabores de uma refeição. Geralmente quem mais se beneficia desta “experiência” são os “restaurateurs” (Chefs, Sommeliers etc.) que não só vendem a comida como os vinhos que lhes interessam passar adiante.

Não são os vinhateiros que descobriram ou inventaram as regras de harmonização e nem vinhos são produzidos para serem consumidos com este ou aquele prato, isto é coisa dos salões dos restaurantes mundo afora.

Por outro lado, existe uma curiosa raiz, neste capítulo, que nos ajuda a entender como tudo pode ter começado: as comidas típicas das regiões produtoras de vinho. Podemos imaginar livremente que tanto o vinho quanto os pratos tenham se ajustado ao longo da história.

Esta talvez tenha sido a primeira forma de harmonização, digamos, consciente e, quem sabe, tenha originado a mais clássica das “regras”, a que combina a cor da comida com a cor do vinho.

Funciona?

Em certos casos, sim. Mas não é disto que estamos falando.

Harmonizar não é uma ciência, é algo totalmente empírico. Em qualquer curso sobre vinho este é um tema considerado obrigatório, e algumas regras, que eu prefiro chamar de técnicas, vão ser explicadas. Há livros também, muitos, e cada escritor aborda o tema de uma forma diversa.

Em comum, todos tentam criar a tal “experiência” que melhora tudo. Nem sempre acertam. Um dos piores resultados de uma combinação errada é chegar no desagradável sabor metálico, muito comum quando se misturam frutos do mar com alguns vinhos tintos. Neste caso, a proteína dos frutos do mar não reage bem com o tanino do vinho. Para quem quiser se aprofundar mais, visite esta matéria do meu site: “O tal do gosto metálico”.

Qualquer Enófilo de boa cepa tem sempre um caderninho onde faz anotações de tudo que acha relevante, o que pode variar desde uma excepcional garrafa de vinho até locais onde uma formidável experiência gastronômica foi vivenciada. Se algum dos leitores ainda não tem um, aqui vão algumas informações sobre como não errar na hora de combinar vinho e comida e dar partida nestas anotações pessoais. Desta forma, em vez de seguir pétreas normas, podemos nos aventurar em criar nossas próprias elocubrações.

1 – Os principais fatores que serão determinantes nas diversas combinações são: taninos, acidez, doçura, teor alcoólico e passagem (ou não) por madeira.

Para refrescar a memória, quando se fala em “acidez” estamos nos referindo àquela sensação de refrescância no palato. Já tanino é o oposto, uma sensação adstringente. Vinhos, tintos ou brancos, que passaram por madeira tendem a ser mais arredondados e fáceis de beber – menos tânicos no caso dos tintos;

2 – O termo harmonizar é uma pista importante para o que deve acontecer: equilíbrio. Um prato com molhos densos e pesados deve ser combinado com um vinho de características semelhantes: encorpado, marcante. Já um prato como peixe ou salada, pede um vinho mais leve. Cuidado, entretanto, com molhos muito cítricos ou avinagrados. Neste caso, optem por um vinho com maior acidez;

3 – Doces harmonizam com vinhos um pouco mais doces. Algumas combinações são clássicas, como chocolate e Vinho do Porto, mas não é a única opção: vinhos tintos frutados e com taninos domados ficam ótimos com chocolates amargos;

4 – Teores maiores de gordura são compensados por vinhos mais tânicos. Pratos picantes podem se beneficiar de um vinho mais adocicado. Para pratos com maior acidez combinem com vinhos brancos com acidez destacada;

5 – Surgindo dúvidas, harmonizem o molho ou o acompanhamento em vez da proteína principal. Atenção com aspargos, couve de Bruxelas e similares – não se entendem bem com qualquer vinho…

6 – Espumantes são considerados coringas, harmonizando, por contraste, com uma inacreditável quantidade de pratos, inclusive a nossa onipresente Feijoada.

7 – Alguns vinhos chave:

Sauvignon Blanc é mais leve e tem mais acidez que um Chardonnay que é mais encorpado e menos ácido;

Cabernet Sauvignon é mais encorpado e tem mais taninos do que um Pinot Noir que é de corpo leve e pouco tânico;

Saúde, bons vinhos e boas harmonizações!

Foto: Queijo e vinho, criada por master1305 para Freepik

Presente para o Dia das Mães? Vinho Rosé!

Pode ser um espumante ou um vinho tranquilo. Quanto a coloração, rosado, numa das milhares de tonalidades possíveis, desde os mais clarinhos até os mais escuros.

Existe a turma que torce o nariz e acha que isso não é vinho e tratam, logo, de depreciar afirmando que são inocentes misturas de sobras da vinificação de tintos e brancos. Estão redondamente enganados.

Os mais famosos são os elaborados na região da Provence, França. Um Rosé de Provence dispensa comentários. As castas tintas Cinsault, Grenache e Syrah são as mais utilizadas na elaboração.

No nosso país, muitos vão lembrar do famoso Mateus Rose, português, ou do Rosé d’Anjou, francês, que ajudaram a embalar alguns encontros românticos, num tempo que os nossos filhos classificariam de “Jurássico”. Os dois rótulos ainda podem ser encontrados nas prateleiras das lojas…

Os rosados andaram sumidos, saíram de moda, simplesmente. Um belo dia reapareceram, com novas opções, e caíram no gosto, novamente, principalmente do público feminino.

A cor é o grande chamariz. Num país como o nosso, de clima tropical e quase sempre com lindos dias, assistir um pôr do sol com uma taça de Rosé é a combinação perfeita.

Ao contrário do que se possa imaginar, elaborar um bom rosado não é uma tarefa simples. Existem cinco métodos que podem ser empregados. Além das castas citadas, outras uvas clássicas são vinificadas em rosa como a  Cabernet Sauvignon, Tempranillo, Merlot, Malbec e muitas mais.

O segredo é o tempo de contato das cascas com o mosto que será fermentado. Controlar este tempo, associado com o tipo de uva, terá como resultado uma coloração mais ou menos intensa com sabores e aromas equivalentes.

Os detratores deste tipo de vinho entendem que nada mais é do que um corte entre tintos e brancos. Infelizmente existem produtores que preferem elaborar assim. O resultado é ruim, refletindo a má qualidade da matéria prima, do processo e do produtor. São vinhos grosseiros.

O método mais tradicional é Maceração Curta: são os mesmos passos para a elaboração de um vinho tinto. Num determinado momento, as cascas serão removidas e o processo segue como se fosse um vinho branco.

A Prensagem Direta é outra técnica bastante empregada. Neste caso as uvas tintas são esmagadas, delicadamente, fazendo com que o mosto já saia com alguma cor. Para refrescar a memória, na vinificação em tinto as uvas não precisam ser esmagadas. Para os brancos, sim.

O processo mais complexo para a elaboração de um Rosé é chamado de Cofermentação. Apenas nesta opção, uvas tintas e brancas são misturadas e fermentadas de uma só vez. Os resultados podem ser interessantes, mas o controle deste processo é extremamente difícil. Uma pequena desatenção pode estragar tudo.

Outra solução bastante utilizada, principalmente por produtores de grandes volumes, é a Sangria. Durante a fermentação de um tinto, uma parte do mosto é separada (sangramento) e vinificada como se fosse um branco. O resto do mosto segue como tinto.

O presente do Dia das Mães não estaria completo sem um bom almoço ou jantar. O que harmonizar com o Rosé?

São vinhos muito versáteis, cobrindo uma boa variedade de opção de pratos que vão desde os peixes e frutos do mar, saladas, massas e até carnes leves como aves, suínos, ovino e caprinos.

Uma das clássicas combinações são as Quiches com salada, perfeita para o nosso Outono.

Saúde e bons vinhos!

Imagens:

Rose Wine Selection 1” de NwongPR – sob  CC BY-ND 2.0.

Pôr do Sol – obtida no Pixabay

Vinhos para a Páscoa

Nada mais elegante do que servir vinho nas tradicionais comemorações da Sexta-Feira Santa e de domingo de Páscoa, dia de caça aos ovos de chocolate.

Tradicionalmente o bacalhau é a presença mais comum em nossas mesas, sugerindo algum vinho português para acompanhá-lo, ou como preferem os Enófilos, “harmonizar”. Esta não é a única opção. Há quem prefira outros peixes, crustáceos, polvo, massas, pratos vegetarianos e até mesmo carne de ovinos ou caprinos.

Para não fazer feio, na hora de escolher um bom vinho, vale a pena seguir algumas regrinhas básicas, uma delas bem conhecida, a que sugere combinar a cor do alimento com a cor do vinho. Não é uma certeza, mas pode evitar o desagradável gosto metálico quando se tenta combinar alguns frutos do mar com um vinho tânico.

Há exceções: o nobre polvo, dependendo do modo de cocção, fica excelente com um bom e encorpado tinto. O Bacalhau também pode ser acompanhado por diversos estilos de vinho, dependendo da receita. O “às natas” combina muito bem com um branco ao estilo dos Vinhos Verdes ou um dos nossos bons espumantes. Já o “Gomes de Sá” pede um tinto de corpo médio e pouca madeira. Um rosado funciona como coringa.

Embora existam especialistas e diversos livros sobre como harmonizar alimentos e vinhos, qualquer um pode se aventurar por estas combinações. Basta lembrar e adaptar duas regrinhas;

1 – Acidez, característica nos faz salivar, ajuda a equilibrar receitas menos untuosas;

2 – Taninos, que traz adstringência, ajuda a cortar o excesso de gordura.

A arte de harmonizar é saber combinar estas duas características com o que vai ser servido.

Quanto aos tipos de vinhos, os tintos são considerados tânicos e os brancos têm maior acidez. Mas não é uma regra universal: existem tintos com boa acidez e brancos ligeiramente tânicos. Tudo vai depender do método de elaboração.

Para não errar:

– Brancos com boa acidez: Alvarinho, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Viognier;

– Tintos moderadamente tânicos: vinhos portugueses de corpo médio, Merlot nacional, Malbec argentino sem madeira, Pinot Noir chileno.

Para o capítulo dos doces, o chocolate é a grande estrela, com a doçaria portuguesa em segundo plano. Os chamados vinhos de sobremesa são elaborados para cumprir a função de harmonizar com elas.

Existem em diversos estilos e alguns deles se adaptam melhor a um determinado ingrediente. Uma combinação clássica, que os chocólatras adoram, é com Vinho do Porto. Outra boa possibilidade é usar um tinto bem aveludado e com boa acidez.

Os “colheita tardia”, elaborados com uvas já bem maduras ou quase pacificadas, são outra ótima opção. Para os que gostam de uma ousadia, que tal um espumante à base de Moscatel? Os produzidos aqui são excelentes e já ganharam prêmios e fama internacionais. Muito versáteis, agradam aos mais diversos paladares, harmonizando com qualquer tipo de doce. Devem ser servidos bem frios.

Boa Páscoa para todos os leitores!

Saúde e bons vinhos!

Créditos: Foto por Maksym Kaharlytskyi no Unsplash

« Older posts Newer posts »

© 2024 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑