Categoria: O mundo dos vinhos (Page 13 of 76)

Vamos brindar com um “Kalte Ente” (Pato Frio)?

Há muitas maneiras de celebrar as festas de fim de ano. São tradições que foram importadas de outras culturas. Nosso Papai Noel veste roupas adequadas para um rigoroso inverno em plena canícula carioca de 40º…

Este princípio vale, também, para as ricas comidas que serão servidas nas fartas mesas das nossas famílias e se estende nas bebidas.

Foi pensando nisto que resolvemos resgatar uma receita de origem alemã, uma bebida gelada e refrescante, à base de vinhos e muito fácil de preparar: o “Kalte Ente”.

Traduzido literalmente vira “Cold Duck” em inglês ou “Pato Frio” no nosso idioma.

A origem deste primo dos Ponches festivos tem algumas variantes. A mais aceita nos relata que um Príncipe da Saxônia, Clemens Wenceslaus Von Sachsen, tinha o hábito de misturar as sobras das diversas garrafas de vinho servidas no jantar, tintos, brancos e espumantes e degustar esta combinação para ter um “kalte ende” ou uma bebida fria, ao final de sua refeição substituindo um café ou chá.

Curiosamente, a ideia vingou e esta mistura começou a ser copiada em outros lugares, com ligeiras variações. Isto acabou alterando a pronúncia do nome original: “ende” que significa fim, virou “ente” que é pato.

Coube a um bar em Detroit, o Pontchartrain Wine Cellars, que pertencia a um imigrante alemão, o Sr. Harold Borgman, criar a versão norte americana, desta bebida, que fez enorme sucesso.

Um produtor de espumantes pegou carona na fama desta bebida e lançou o “Cold Duck”, bastante popular até hoje.

Não existe uma receita exata desta deliciosa e divertida bebida de festa. Na Alemanha, terra de fabulosos vinhos brancos, costumam usar os seguintes ingredientes:

2 partes de vinho Riesling seco;

2 partes de vinho Mosela meio seco;

2 partes de vinho espumante brut

Folhas de erva cidreira, coentro, capim limão ou rodelas de limão

2 colheres de suco de limão

2 colheres de açúcar, açúcar de baunilha ou fava de baunilha

2 partes de água mineral gasosa

Gelo

Inúmeras variações desta fórmula podem ser elaboradas, inclusive com vinhos tintos e rosados. As ervas aromáticas são opcionais, escolham 1 ou 2 no máximo.

A doçura é outro ponto delicado. Um truque que pode ficar muito agradável é usar um de nossos espumantes de uva Moscatel, com dois vinhos brancos secos. Prove e ajuste a seu gosto.

Tradicionalmente é apresentado em jarrões de vidro transparente, para que todos os ingredientes sejam vistos. Se um de vocês é da “velha guarda” e ainda tem aquela poncheira ganha no seu casamento, chegou a hora de tirar a poeira e usar, com concha e tudo.

Sirvam em taças, canecas, copos, potes com tampa, enfim, qualquer recipiente de vidro claro pode ser usado.

Decore com rodelas de limão, laranja ou com as ervas utilizadas. Podem beber de canudinho!

Uma coisa garantimos: tenham mais garrafas à mão para preparar novos lotes. Neste calorão que estamos enfrentando é a bebida ideal.

Saúde e bons vinhos!

Nossa coluna entra em recesso até janeiro.

Feliz Natal e um grande Ano Novo!

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Foto de abertura por vecstock no Freepik

Qual a sua lista de vinhos para Natal e Ano Novo?

Enófilos, de boa cepa, adoram escolher estas datas para abrir seus melhores vinhos. Nem sempre os convidados estão à altura das preciosidades que serão servidas, o que pode gerar uma grande frustração por parte do anfitrião.

Além de serem ocasiões muito especiais, as ceias de Natal ou de Ano Novo têm características próprias, como troca de presentes ou aquele desejo de ter um ano melhor que o anterior, resultando que vinhos e alimentos quase não sejam tão importantes quanto se imagina.

É muito desapontamento abrir aquela garrafa guardada com tanto zelo e carinho e nenhum dos convivas tecer comentários emocionados sobre o que está degustando. Pior, podem reclamar…

Esta seleção de vinhos tem que ser feita com muito critério, vários fatores terão que ser levados em consideração.

– Qualidade ou custo?

Este é um ponto chave. Estas reuniões tendem a ser longas, com numerosos convidados e as quantidades de bebidas consumidas podem extrapolar qualquer orçamento.

Espumantes são obrigatórios. Mas não precisa ser um Champagne. Temos excelentes produtos nacionais, com preços mais que aceitáveis. Também não precisa ser aquela manjada “Cidra”.

O serviço pode ser feito durante toda a festa ou apenas num brinde. Calculem 2 a 3 pessoas por garrafa, no primeiro caso, ou 8 pessoas no segundo.

– Harmonizando

Harmonizar com o cardápio também é importante. Há uma certa tendência para os brancos e rosados. Vinhos tintos leves e frutados são boa opção. Saladas, tender, bacalhau e aves são as presenças mais comuns. O nosso clima tropical também pede vinhos menos encorpados e mais frescos.

Pinot Grigio, Sauvignon Blanc e Chardonnay que não passou por madeira são opções ideais. Tintos como Pinot Noir, Barbera e Gamay (Beaujolais) são aceitáveis. Devem ser servidos entre 6º C (brancos) e 12º C (tintos).

Calculem 1 garrafa para até 4 pessoas.

Vinhos que possam ser comprados por até R$ 90,00, por garrafa, são a melhor opção. Podemos gastar um pouco mais nos espumantes. Brut, por favor.

– A garrafa especial

Muitas vezes sonhamos com uma oportunidade para desarrolhar e compartilhar um de nossos melhores vinhos. Para dar certo, é preciso fazer algum planejamento e avaliação.

O primeiro ponto são os convidados: quantos e quem são.

Baseado no cálculo acima, com uma única garrafa especial só vamos oferecer uma taça para 8 pessoas ou 2 taças para 4 pessoas, e acabou…

Pensem nisto antes de decidir.

Como é bastante comum que as pessoas se dividam em grupos, muitos enófilos separam uma ou duas garrafas especiais que serão degustadas “en petit comité”. Se alguém, de outro grupo, reclamar desta exclusividade, convide-o para provar ou leve tudo para a brincadeira com uma tirada como “este é o vinho da diretoria”.

– Para a sobremesa

Não é um hábito consolidado no nosso país, mas servir um vinho doce para acompanhar a sobremesa, neste caso, sobremesas, é simplesmente delicioso.

Há muitas e boas opções entre vinhos nacionais e sul-americanos. Os chamados Late Harvest (colheita tardia) são perfeitos para a “farandole” dos doces tradicionais desta época.

Mas há um que se destaca.

Vem de Portugal e, assim como aquela garrafa toda especial, pode, sozinho, demonstrar todo o bom gosto e conhecimento do anfitrião: Vinho do Porto!

Com rabanadas, é uma experiência inesquecível.

Não precisa ser um vintage. Um bom Ruby ou um LBV são perfeitos.

Os vinhos de sobremesa devem ser servidos refrescados.

Saúde, bons vinhos e ótimas comemorações!

CRÉDITOS: Imagem de Freepik

Presentes para o amigo enófilo

Presentear os nossos amigos que adoram vinhos nem sempre é uma tarefa simples. Existem presentes óbvios, como uma garrafa de vinho, o que traz dificuldades adicionais, por exemplo, como saber se vai agradar ou o quanto gastar neste presente.

A proposta da nossa coluna semanal é fugir do batido e presentear com objetos que são sempre necessários e bem-vindos. Elaboramos uma pequena lista, a seguir.

– Rolhas para vinhos tranquilos e para espumantes

Existem em diversos formatos e cores. Algumas incluem uma bomba de vácuo para aumentar a vida de um vinho depois de aberto. Preferimos as de silicone para os vinhos tranquilos e as metálicas para os espumantes.

Os preços giram em torno de 20 reais para as metálicas. As de silicone são vendidas em conjunto por um valor semelhante.

– Cooler térmico

Dois modelos são mais comuns, uma manta que enrola uma garrafa e o outro, tipo uma luva que veste a garrafa. Servem para vinhos tranquilos e espumantes. No verão brasileiro são imprescindíveis, até para aquele tinto que exige um “microclima” para ser degustado.

Preço em torno de 100 reais.

– Bolsa para transporte de garrafas

Outro acessório de grande utilidade. Pode ser uma simples bolsa de lona com alças largas para pendurar no ombro até sofisticadas e caras bolsas de couro que, além das garrafas, podem levar taças e outros acessórios.

Nossa sugestão recai nas mais simples, de Neoprene e térmicas, para um par de garrafas, pelo menos.

Preços a partir de 50 reais.

– Saca rolhas profissional

Nada melhor do que uma boa ferramenta na hora do serviço do vinho. Apresentamos dois modelos de saca-rolhas: o da direita é chamado de modelo Sommelier; o da esquerda é conhecido como “pinça” ou lâminas paralelas.

Existem inúmeros outros modelos, sofisticados e caros, que na hora “H” falham por que esquecemos de colocar pilhas ou carregar pelo USB …

Os modelos sugeridos são “old school” e infalíveis. O de lâminas paralelas é menos conhecido. Foi desenvolvido para abrir vinhos antigos, não estraga a rolha. Pode abrir vinhos novos, sem problemas. Exige algum treino para dominar sua técnica.

Preços em torno de 150 reais para o primeiro e 50 reais para o segundo.

– Decantador e aerador

Dois acessórios muito úteis, principalmente o aerador: pequeno, leve e eficiente. Ambos fazem o mesmo trabalho, em linhas gerais. A vantagem do decantador é permitir a separação de sedimentos, presentes em alguns tipos de vinhos.

Existem aeradores com pequenas telas filtrantes. São mais caros e nem sempre dão conta do recado, colmatando facilmente.

Preços a partir de 50 reais. Para os decantadores de cristal, calculem acima de 200 reais.

– Balde de gelo/Champanheira

Um presente que deve ser avaliado com cuidado, afinal, é uma peça grande e o amigo pode não ter onde guardá-la.

Mas é uma mão na roda, principalmente os que servem como balde de gelo, também.

A nossa sugestão é um modelo como o da foto, onde duas garrafas podem ser acomodadas. Prefiram os de acrílico.

Preços a partir de 20 reais.

Saúde, bons vinhos e ótimos presentes!

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Imagem de abertura por Freepik

Alguns vinhos icônicos – Tokaji Oremus

Para encerrar esta primeira série sobre alguns dos vinhos mais conhecidos mundialmente, vamos contar a história deste vinho de sobremesa, húngaro, que ficou escondido, por décadas, atrás da “cortina de ferro”.

Pode parecer um plágio, mas a verdade é que por trás de um grande vinho há, sempre, um grande vinhedo. As primeiras menções ao vinhedo Oremus datam de 1630. Tem a seu crédito o fato de ter fornecido as uvas para a produção do primeiro Tokaji.

Luis XIV gostava tanto deste vinho que chegou a afirmar que era “um vinho para reis e o rei dos vinhos”. Seu reconhecimento como um vinho de excelência só cresce desde estes tempos.

Uma curiosa história relata a possível origem desta maravilha. Começa em 1650. Temendo uma invasão turca, a colheita em Oremus é postergada por cerca de 2 meses. Isto permitiu que as uvas ficassem desidratadas e com alto teor de açúcares. Uma vez vinificadas, o produto resultante era maravilhoso. Nascia o Tokaji.

Com a queda do regime comunista, a família Alvarez, proprietária do não menos icônico Veja-Sicilia, compra a operação em 1993. Fundam a Tokaj-Oremus Viñedos y Bodegas. A nova empresa tem como foco manter todas as tradições e continuar com a fama deste vinho.

Produzir um Oremus não é tarefa simples. Só é elaborado em safras muito especiais.

As uvas, basicamente Furmint, precisam estar atacadas pela podridão nobre (Botrytis cinérea) e são selecionadas, bago a bago, manualmente, por mulheres, num extenuante processo.

A vinificação, seguindo a quatrocentona receita, é complexa e demorada, envolvendo vinhos base, fermentações, um precioso líquido desprendido na colheita, denominado “eszencia” e um longo amadurecimento em barricas de carvalho, húngaro, obviamente.

Muito mais que um vinho, o Oremus é uma história cheia de tradições, lendas e curiosidades. Assim como o seu “alter ego francês”, é perfeito com patês de fígado de pato ou ganso, bem como, carnes de caça, castanhas e até charutos suaves.

Curiosidades:

Tradicionalmente, a quantidade de açúcar residual nestes vinhos era medida por “Puttonyos”, nome dado a um cesto onde as uvas são colhidas. Hoje adotam padrões decimais. Cada “puttonyo” equivale, aproximadamente, a 25 g/l de açúcar. Um Oremus, como o da foto, tem 125 g/l.

O vinhateiro que elaborou o que seria o primeiro Tokaji Aszsu, logo depois da colheita atrasada, se chamava László Máté Szepsi. Ganhou o apelido de “Dom Perignon da Hungria” e lhe atribuiram, incorretamente, a descoberta da Botrytis.

A região do vinhedo Oremus é, seguramente, a mais antiga região vinícola demarcada e classificada, muito anterior a do Vinho do Porto ou das de Bordeaux. Em 2002, a UNESCO declarou está área como Patrimônio da Humanidade.

Aszu, que significa “lágrima” na língua húngara, também é o termo utilizado pelos vinhateiros para identificar a uva já desidratada: uva aszu.  Além da Furmint, podem ser usadas as varietais Hárslevelü, Sárga Muskotály, Zéta, Kövérszolo e Gohér.

Preço no Brasil: R$ 1.400,00 – safra 2000, garrafa de 500 ml.

Tempo de guarda: mais de 10 anos, pelo menos…

Saúde e bons vinhos!

P.S.: Muitos outros vinhos poderiam entrar nesta lista. Não citamos nenhum italiano e nem atravessamos o Atlântico para falar de América do Norte e do Sul.

Não dobramos o Cabo das Tormentas para chegar na África do Sul e nem tomamos o “Caminho das Índias” em busca de Austrália e Nova Zelândia.

Em breve voltaremos ao tema.

Alguns vinhos icônicos – Château d’Yquem

Seguindo a nossa saga em busca dos vinhos emblemáticos, retornamos à Bordeaux para apresentar um produto fora do comum.

Eis algumas de suas credenciais:

– Sua história começa em 1593!  

– Foi o único vinho de sua região, Sauternes, a entrar na classificação de 1855;

– É um “Premier Grand Cru Supérieur”, a mais alta classificação;

– Em 2011, Christian Vanneque, um dos jurados do famoso “Julgamento de Paris”, arrematou, em um leilão, uma garrafa da safra de 1811 por US$ 117,000.00, o que o torna o vinho mais caro já comercializado, levando em conta que o volume da garrafa era de 375 ml. (a garrafa normal de vinho é de 750 ml)

A safra de 1811, um ano do cometa Halley, é considerada uma das melhores e carrega toda esta mística criada em torno do ilustre visitante que aparece, por aqui, a cada 76 anos.

Os vinhos de Sauternes são doces, os famosos “de sobremesa”. O Château d’Yquem é considerado como um milagre da natureza, algo sublime.

A vinificação deste corte de Semillon e Sauvignon Blanc (80/20 aprox.) começa nos vinhedos. As uvas precisam ser atacadas pela “podridão nobre” (Botrytis Cinerea) antes de serem colhidas, o que é feito manualmente: cada cacho é inspecionado bago a bago. Muitas vezes, mais de uma colheita é necessária para colher todos os frutos.

O processo de fermentação, atualmente, é feito em barricas novas de carvalho francês. Dura, em média, de 2 a 6 semanas, dependendo do teor de açúcar das uvas. Cada parcela de vinhedo é vinificada separadamente.

O período de amadurecimento pode durar até 30 meses, em diferentes barricas. O corte é feito após este período.

O Chateau d’Yquem é, literalmente, um pequeno castelo. Tem uma história de origem nobre.

As terras pertenciam a Henrique II, Rei da Inglaterra e Duque da Aquitânia. Concede direitos feudais para a nobre família Sauvage, que constrói o Château por volta de 1700. (ainda mantém a aparência original)

A família Lur-Saluces, através de enlaces matrimoniais, assume a propriedade a partir de 1785, mantendo este controle até 1996, quando o grupo LVMH compra toda a operação.

Por conta do baixo rendimento dos vinhedos, há uma lenda que afirma que cada cacho produz, apenas, um cálice deste vinho. A produção fica limitada a 10.000 caixas por ano, vendidas a um preço perto do “exorbitante”.

Desde 2020, os vinhedos foram 100% convertidos para manejo biodinâmico.

Pode ser consumido jovem, mas os especialistas recomendam deixá-lo guardado por cerca de 35 a 50 anos, quando atingiria sua plena maturidade.

Há uma série de harmonizações possíveis; as sobremesas são as mais óbvias. Uma é muito especial que une este extraordinário vinho e outra iguaria icônica: o Foie Grass.

Não é para qualquer um…

Preço médio no Brasil: R$ 9.000,00 safra 2014, garrafa de 750 ml.

Saúde e bons vinhos!

CREDITOS:

Foto de abertura obtida em: Yquem

Link para a foto do Château

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