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Vinho e Ciclismo – Tour de France

O Tour de France, disputado desde 1903, é a mais importante prova ciclística de estrada de todos os tempos. Uma competição tão famosa que seu ganhador é colocado no rol dos grandes esportistas, juntos com outras celebridades dos demais esportes. São 21 etapas englobando as principais modalidades deste pouco difundido esporte aqui no Brasil: escalada, velocidade e contrarrelógio.

O mapa que ilustra o início de texto nos dá uma ideia do percurso. Podemos assistir num dos muitos canais esportivos oferecidos nas TVs a cabo. É um show de imagens, um grande passeio virtual pela França que, no momento, supre a impossibilidade de viajarmos para assistir ao vivo.

Um dos aspectos mais divertidos de cada transmissão é a interação entre os espectadores e a dupla locutor e comentarista. Discute-se tudo, agilmente, num moderno diálogo proporcionado por redes como Twitter e Instagram. Dentre os divertidos participantes há um craque do mundo dos vinhos, Luiz Gastão Bolonhez, editor contribuinte da revista Prazeres da Mesa, que sempre faz uma sugestão de um bom vinho, típico de cada região por onde o Tour está passando. Já faz isso há algum tempo, inclusive nas duas outras grandes voltas, o Giro d’Italia e a Vuelta a España.

A ideia é fantástica e as suas indicações sempre nos levam a grandes vinhos. Duplo passeio, um esportivo e outro gastronômico. Neste 2021, o Tour se iniciou na região da Bretanha o que gerou uma certa dificuldade para indicar um vinho. Lá, as bebidas alcoólicas típicas são as Cidras e as cervejas artesanais.

Neste mapa, as regiões produtoras da França estão sombreadas com um leve tom de vinho. A Bretanha não é uma delas, mas nem sempre foi assim. Há cerca de 300 anos, uma série de decisões políticas erradicou a maior parte dos vinhedos. Não era uma região de fácil produção por conta de condições climáticas bem adversas. Sobreviveram, apenas, pequenos vinhedos que sempre existiram junto a Igrejas, com produções muito limitadas, em torno de 1500 garrafas por ano. Vinhos simples, para consumo próprio.

Desde 2016, a plantação de novos vinhedos na região foi incentivada, se antecipando a futuras mudanças climáticas. A aceitação foi boa e já existem vinhos desta nova fase. Um dos primeiros é um tinto obtido a partir da casta Rondo, uma uva hibrida de origem portuguesa. Dentre as castas brancas, Chenin Blanc, Treixadura, Chardonnay e Pinot Gris, são as mais promissoras.

A expectativa dos vinhateiros é que por volta de 2025 a Bretanha volte a ser reconhecida como uma área e produção digna de ser assinalada no mapa. Por enquanto, a cena está bem movimentada. Um dos principais produtores é a associação da Coteau du Braden. Só para não deixar em branco, a foto apresenta alguns de seus vinhos.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:
– Mapa do Tour de France obtido no site oficial – https://www.letour.fr
“Carte des Vins de France “ por geraldineadams está licenciada sob CC BY-NC-ND 2.0

Chegou o inverno!

Isto muda tudo, pelo menos aqui no Rio de Janeiro onde está localizada a redação deste site. Poder degustar um belo tinto, encorpado, aromático, saboroso, acompanhado de iguarias que são atípicas para o dia a dia carioca é um prazer inigualável.

Conhecemos Enófilos que nem se preocupam com a época do ano, consumindo tintos, brancos e rosados, espumantes ou tranquilos, ao sabor do controle remoto do ar condicionado (e da conta de luz).

E daí? Perguntam muitos, aliás, pergunta da moda…

O vinho tem raízes históricas, é cheio de pequenos mistérios, de conceitos e regras não escritas e de disputas por certos títulos “nobiliárquicos” que podem ser definidos como esplêndidas formas de marketing, apenas. Mas há muitos fatos concretos e importantes que sendo observados vão elevar ao máximo as delícias de saborear um tinto.

Um desses mistérios, que é melhor definido como um conceito muito complexo de ser compreendido, o Terroir, é um ótimo ponto de partida para explicar as razões pelas quais não basta abrir a garrafa e degustar. Esta experiência deve ser mais abrangente. Assim como no Terroir, devemos levar em conta os diversos fatores que estarão envolvidos no ato de beber uma taça de vinho: o ambiente, a comida, as pessoas e sobretudo o clima.

Agora imaginem-se abrindo um Barca Velha, um dos grandes tintos de Portugal, aqui na areia da praia de Copacabana, sob um escaldante sol de 40º. Tem cabimento? Já no alto da serra, a coisa muda muito de figura.

Um belo tinto, mais pesado, bem vinificado, tem a cara do inverno. Algumas castas se identificam, naturalmente, com esta estação do ano: Cabernet, Syrah, Malbec, Merlot, Carménère, varietais ou em alguns dos mais famosos cortes como o bordalês e o GSM, onde vamos encontrar as uvas Grenache e Mourvedre, só para mencionar as mais conhecidas.

Vinhos tintos são icônicos por natureza. Não precisam ser de Bordeaux, da Borgonha ou do Rhône para imporem sua presença. Basta serem bons vinhos.

No capítulo dos acompanhamentos a variedade é quase tão extensa quantos a das uvas tintas. Começamos pelos mais diversos tipos de pães, passamos pelos embutidos, presuntos e outros frios, chegando aos queijos maturados com seus fortes sabores. Podemos comer sem culpa.

Não podemos nos esquecer dos caldos e sopas que tanto nos reconfortam nos dias frios. Fondues e Raclettes completam o quadro. Já os apreciadores de uma boa carne na brasa sabem o que significa a combinação do calor da churrasqueira com a taça de vinho e a fatia de picanha: é insuperável.

Para que esta degustação fique perfeita, não se esqueçam de deixar o vinho nas condições ideais de temperatura e aeração. Se não possuírem uma adega climatizada, retirem antecipadamente a garrafa do depósito para que chegue na temperatura ambiente, naturalmente. Tirem a rolha cerca de 1 hora antes de servir, permitindo que o vinho respire. Se tiverem um decantador, usem, este é o momento.

Taças imaculadamente limpas, não estraguem o primeiro prazer, observar a coloração e nem acrescentem aromas e sabores vindos sabe-se lá de onde…

Aproveitem, em alguns locais do Brasil isso só possível em umas poucas semanas do ano.

Saúde e bons vinhos!

Créditos: imagem de Mandy Fontana por Pixabay

Dia dos namorados na pandemia.

Chocolate ou vinho?

Vinho, é claro!

Alguma preferência?

Espumantes! Napoleão afirmava sobre o Champagne: “merecida nas vitórias, necessária nas derrotas”.

Nem todos são fãs de vinhos borbulhantes, neste caso, vinhos tintos, brancos ou rosados vão alegrar a comemoração, “toute façon”.

O que realmente vai importar é o clima da celebração. Podemos fazer uma analogia com o “terroir” de um vinhedo: o local, a ambientação, a temperatura e os coadjuvantes.

O grande lance é fazer isso durante um período de restrições e não correr riscos desnecessários que, em última análise, podem colocar tudo a perder.

Mesmo para a turma que já foi duplamente vacinada, não é mais uma decisão tranquila optar por um jantar romântico num bom restaurante, exceto se houver ampla área aberta e São Pedro colaborar.

Encontrar um local aprazível, ao ar livre e seguro, pode ser uma tarefa desafiadora, mas existem opções. Cada cidade vai oferecer diferentes possibilidades, em linhas gerais, fazer um piquenique romântico será uma ótima forma de celebrar esta simpática data. Não importa a idade dos pares ou se o namoro é novo, antigo ou apenas para recordar as boas lembranças dos casais que continuam namorando até hoje.

Uma canga, vinho, taças, saca rolhas e um pequeno farnel é o que basta.

Para os casais que preferem os tintos, afinal estamos entrando no inverno, um vinho bem frutado, queijos mais duros, um pouco de patê e pães ou torradas e pronto.

Pode ser um bom Merlot nacional, um Malbec argentino mais jovem ou um Cabernet chileno. O queijos podem girar em torno de um Serra da Canastra, um Manchego espanhol ou mesmo um pedaço de Parmesão, menos curado, como o Serrano. Se o vinho for mais encorpado, um Provolone vai bem.

Temos sugestões para quem optar por um branco ou um rosado. Escolham um Chardonnay mais maduro, um Sauvignon Blanc no estilo chileno ou um rosado de Cabernet Franc que são deliciosos. Um belo pedaço de Gorgonzola, se possível deixado no azeite por algum tempo, um Camembert ou um Brie, já macios e uma pasta de truta defumada completam o cardápio. Acrescentem pãezinhos e frutas secas como damasco, amêndoas e castanhas, sem sal. Dão um toque todo especial.

Vinhos espumantes são a marca registrada de qualquer celebração e, na opinião de muitos, indispensáveis num dia que pretende criar um clima romântico. Uma opção muito elegante é abrir o encontro com uma ½ garrafa e depois passar para o vinho tranquilo escolhido. Frutas frescas como uvas ou cerejas são boas opções de acompanhamento.

O grande problema é manter estas garrafas na temperatura ideal de consumo. Sempre haverá a possibilidade de se usar uma caixa de Isopor cheia de gelo, um trambolho que pode estragar o clima…

Existem ótimas opções no mercado e, honestamente, um enófilo que se preza deve ter uma delas, pelo menos, no seu repertório de acessórios. Mais úteis que Bombril, com certeza.

1 – Capa térmica – mantenham no congelador. Na hora de usar é só vestir a garrafa, que pode ser de qualquer tipo de vinho. Dura cerca de 2 horas.

2 – Bolsa de gelo – este é outro achado, uma bolsa na qual colocamos gelo, um pouco de água e a garrafa. As alças de transporte são um charme a mais.

Pronto! Agora é só comemorar, não esquecendo dos protocolos de segurança.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

– Foto de abertura por Rémi Rivière no Unsplash

– Foto no corpo do texto por Anastasia Shuraeva no Pexels

Dois concursos importantes

Concursos são ótimas fontes de informação para os enófilos. Há uma infinidade deles, alguns muito mambembes e outro duríssimos e considerados imparciais, como o International Wine Challenge (IWC).

Os resultados da edição de 2021 estão neste link:

IWC  (em inglês)

Nele, vocês poderão pesquisar de diversas formas: por tipo de premiação (Award), pontos atribuídos (Points), país (Country) e muitas outras opções.

Eis alguns destaques.

Na categoria máxima, Trophy (Troféu), 82 vinhos foram premiados. Entre eles, alguns sul americanos:

Vigno 2019, da Vina Undurraga, Vale do Maule, Chile, um belo corte das uvas Carignan e Cinsault;

Gran Sombrero Malbec 2020, da Huentala Wines, Mendoza, Argentina;

Besoain Cabernet Sauvignon 2016, da Besoain Estate, Vale de Maipu, Chile;

55 vinhos brasileiros obtiveram prêmios expressivos com medalhas de prata, bronze e comendas. A maioria são espumantes, com alguns vinhos tranquilos bem conhecidos por aqui:

Casa Valduga 130 Blanc de Noirs, medalha de prata;

Casa Valduga 130 Brut Rosé, medalha de bronze;

Casa Valduga 130 Blanc de Blanc, medalha de bronze;

Destacamos, também, a vinícola Zanoto com 11 prêmios.

A lista completa está no link a seguir.

IWC – Vinhos Brasileiros

Para os que gostam dos sempre surpreendentes vinhos portugueses, o concurso Vinhos de Portugal é um dos mais respeitados. No nosso país há uma grande legião de apreciadores que se dividem nos diversos estilos produzidos por lá, como o Porto, o Madeira, únicos por sinal, e vinhos como os do Alentejo, Dão e Minho, sempre associados com uma cultura gastronômica que tem fortes raízes no Brasil.

A página dos resultados está no link abaixo.

Vinhos de Portugal

São quatro categorias de premiação: prata, ouro, grande ouro e melhores.

Listamos os campeões:

– Melhor do ano e melhor tinto de corte- Quinta Vale D. Maria Vinha da Francisca, 2018, Quinta da Aveleda, Douro. Medalha de prata no IWC;

– Melhor tinto varietal – Grande Rocim, 2017 (Alicante Bouschet), Quinta do Rocim, Alentejo;

– Melhor branco varietal – Falcoaria Vinhas Velhas, 2018 (Fernão Pires), Quinta do Casal Branco, Tejo;

– Melhor branco (corte) – Quinta do Sobreiró de Cima – Reserva, 2019, Quinta do Sobreiró, Douro;

– Melhor espumante – Casa de Santar Vinha dos Amores Espumante Encruzado, 2013, Dão;

– Melhor fortificado – Porto Kopke Colheita 1966, Sogevinus, Douro.

Alguns desses vinhos podem ser encontrados nas boas lojas daqui. Mas olho nos preços.

Saúde e bons vinhos.

Quais vinhos podemos decantar?

Depois do sacarrolhas, o decantador talvez seja o acessório mais importante de um enófilo que realmente aprecia bons vinhos. Ao mesmo tempo, é a ferramenta menos compreendida e usada, acabando seus dias transformada num belo vaso decorativo em cima do balcão do bar.

Vamos mudar isso?

Decantar significa, na química, “passar suavemente um líquido de um vaso para outro, a fim de o separar de impurezas, sedimento ou depósito, que se fixam no fundo”.

O decantador é o vaso para o qual vertemos, lenta e cuidadosamente, o conteúdo de uma garrafa de vinho. Os profissionais realizam esta manobra com toda a pompa e circunstância num show de habilidade. Sommeliers são treinados nesta arte que além de melhorar o vinho que será servido, aumenta a expectativa dos que vão prová-lo em seguida.

Em casa podemos ser menos requintados e mais práticos, mas nada de pressa: decantar é uma operação que leva tempo e pede paciência.

Um dos fatores colaterais é aumentar a oxigenação do vinho, fazendo com que ele “abra”, termo do jargão corrente, indicando que os aromas podem ser percebidos com maior intensidade, influindo diretamente na etapa de degustação.

Se os decantadores foram pensados para limpar os vinhos de resíduos típicos de vinificação sem filtragem ou por longa guarda, o uso mais comum, atualmente, é funcionar como um aerador, liberando de forma mais rápida todo o seu potencial.

Colocado dessa forma, logo imaginamos vinhos tintos: os de safra mais antigas devem ser decantados, e os mais jovens, que ainda estão muito fechados, só têm a ganhar quando são vertidos num dos muitos tipos de garrafas decantadoras.

Vinhos brancos beneficiam-se, igualmente. Os espumantes, inclusive Champagne, também podem ser decantados embora parte do perlage seja perdida. Um dos estilos mais atuais, denominado “sobre as borras” (sur lie) deve passar por uma decantação antes de ser servido. O processo mais comum é fazê-lo na própria garrafa, mantendo-a na posição vertical por, pelo menos, 12 horas antes de abrir e servir, cuidadosamente.

É muito tempo? Não desanimem, há vinhos que devem ser decantados por até 24 horas antes de serem consumidos.

Para complicar um pouco as coisas, nem todo vinho deve ser decantado. A satisfação pessoal é o mais relevante nesse momento. Se você aprecia vinhos na sua forma mais primitiva, assim como saem da garrafa, não hesite e esqueça o decantador.

Por outro lado, quanto mais antigo o vinho, mais crítica é a decantação. Vinhos com 20 anos, ou mais, de guarda podem ter pouco tempo de vida logo após uma decantada.

O controle do tempo é peça chave na decantação: pouco tempo não muda nada e muito tempo pode ser um desastre. Quem sabe não seria melhor não decantar nesse caso?

Uma das coisinhas que não se deve fazer é agitar uma garrafa que vai ser decantada. Planeje antes e, dependendo das sua condições de armazenamento, deixe-a na vertical por alguma hora antes de abrir e processar.

Por último, higiene absoluta no seu decantador: o risco de contaminar um vinho é grande se resíduos de outros usos estiverem presentes.

Não é fácil lavar um acessório como este, cheio de curvas de difícil acesso. Existem no mercado algumas escovas e esferas de aço que ajudam nesta operação. Se pretendem usar algum tipo de detergente, que seja absolutamente neutro e sem cheiros. O correto é usar só água quente.

Saúde e bons vinhos, decantados ou não.

Foto de abertura: “Wine Decanters” por Rod Waddington está licenciada sob CC BY-SA 2.0

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