Uma das melhores coisas que pode acontecer com um enófilo, como eu, é ser convidado para uma prova de avaliação de novos vinhos. Esta, em particular, foi especial.
Começou com o local, a agradável adega e restaurante Enoteca DOC, anexa à tradicional Chapelaria Esmeralda, situada no centro do Rio de Janeiro. Os atuais donos, Fabio Soares e sua esposa Christiane Faria, entraram neste negócio quando Chris herdou a chapelaria, propriedade de sua família desde 1920. Ouvindo os clientes que comentavam que “ficariam por ali se houvessem charutos e vinhos à venda” promoveram uma alinhada reforma dividindo a loja em dois charmosos segmentos. De um lado a renovada loja de chapéus que funciona de 9:00 às 18:30. Do outro a adega com ênfase em vinhos e cervejas que atende seus clientes de segunda a sexta a partir das 11:00 até as 21:00.
Marcada para às 15h, ao chegar já encontrei Fabio, José Paulo Gils e Alexandre Ventura, da importadora DOCG, finalizando uma garrafa de um belo tinto português que não deu nem para sentir o gostinho. O confortável e aconchegante ambiente do andar superior da casa pedia que fosse aberto mais um vinho. Desejo realizado! Alexandre propôs que enquanto aguardávamos os demais participantes, derrubássemos uma garrafa de um dos seus melhores vinhos, um excelente tinto do Douro, o Mapa.
Este nome foi inspirado pelos mapas da região do Douro elaborados pelo Barão de Forrester, um empresário inglês radicado em Portugal que promoveu importante reforma no comércio de vinhos em 1831.
Sua morte, em condições no mínimo curiosas, aconteceu num naufrágio em 1861. Relatos de época dão conta que ele teria sido “arrastado para o fundo por causa do cinto com dinheiro que levava consigo, nunca tendo sido encontrado o seu corpo. Nessa derradeira viagem, fez-se acompanhar por D. Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida como “Ferreirinha”, que segundo reza a história, não se afogou porque as saias de balão que então vestia, a fizeram flutuar até à margem do Rio Douro”.
Fácil perceber que este vinho é cheio de referências, a mais importante delas a região (e as famílias) onde era produzido o aclamado vinho Barca Velha, ícone da vinicultura portuguesa. O MAPA é um projeto pessoal de Pedro Garcias, jornalista e crítico de vinho do Jornal Público.
Começou a ser desenhado há cerca de uma década, com a compra das primeiras terras em Muxagata, Vila Nova de Foz Côa, na mesma região da famosa Quinta do Vale Meão que forneceu, durante muitos anos, as uvas para a elaboração do Barca Velha. Hoje a Quinta produz seu próprio vinho, homônimo, carinhosamente apelidado de Barca Nova.
O MAPA é no mínimo excepcional!
Um corte de Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão e Tinta Roriz, passa 20 meses em barricas de carvalho francês. São produzidas apenas 2.900 garrafas. Joia rara. Para harmonizar optamos por pequenos pedaços de queijo tipo Grana Padano regados levemente com um Vinagre Balsâmico de Modena 18 anos, um luxo.
Isto nos criou um pequeno problema. A degustação seguinte seria para avaliar um Champagne que, em breve, será trazido para o Brasil pelas mãos de Soraya Vasconcelos. Embora de origem francesa, as garrafas são exportadas para a Califórnia onde recebem um acabamento em malha de cobre, obtida com reciclagem de materiais. Muito interessante, vejam a foto.
Nosso palato precisava ser ‘limpo’ para apreciarmos corretamente as duas “Beau Joie”, uma Rosé e outra Brut. A solução foi degustar uma cerveja. A escolhida foi a “Blanche de Bruxeles”.
Devidamente preparados, partimos para as duas garrafas que restavam.
Este Champagne tem uma trajetória bem diferente. Concebida para ser um produto de alto luxo, é produzida em Epernay pela Maison Bertrand Senecourt. Exportada para os EUA, recebe um revestimento em malha de cobre que tem múltiplas funções. Funciona como a armadura de um cavaleiro dos tempos medievais. Segundo seu produtor norte americano, esta era a época de Reis, Rainhas e seus Cavaleiros, onde se valorizava o romance, o amor, a honra e as paixões. A ideia por trás desta rica embalagem é nos remeter a estes tempos, como uma mágica. Além disto, a malha por ser feita com cobre (reciclado) é ótima condutora do frio ajudando a manter a garrafa na temperatura ideal por mais tempo e aumentar a segurança no manuseio. Um programa especial deste produtor reutiliza os revestimentos de garrafas usadas.
A Brut é um corte de 60% Pinot Noir e 40% Chardonnay, sem dosagem de licor de expedição (sem adição de açúcar) garantindo sabores marcantes desde o primeiro gole. Alguns degustadores deste painel acharam que a amostra estava levemente oxidada, o que não comprometia em nada o produto. O perlage era perfeito, acidez equilibrada, como deve ser um Champagne seco.
A Rosé foi a que mais agradou. Com um corte em partes iguais das duas castas já citadas, tem uma bela e sedutora coloração, suave como pétalas de rosa. Perfeitamente equilibrada com um delicioso sabor frutado. Ideal para ocasiões muito especiais. Bom perlage e boa acidez.
Um produto único e para poucos, sua produção não é grande. Mas o espetáculo visual é incrível. Torcemos para que Soraya consiga vencer todos os entraves burocráticos deste nosso país e traga este produto com preços competitivos.
A foto abaixo foi tirada ao final da prova. Em pé estão Chris e Soraya, sentados, da esquerda para a direita Luis Miguel Duarte, da Duaber, José Paulo e eu.
Só nos resta esperar…
Dica da Semana: mais que um vinho, um investimento. Vale cada centavo. Melhor: podemos guardá-lo para grandes ocasiões.
MAPA Reserva Tinto 2009
CLASSIFICAÇÃO: Douro DOC CASTAS: Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão e Tinta Roriz. VINIFICAÇÃO: Desengace total seguido de pisa a pé. Estágio de 20 meses em barricas novas de carvalho francês. De cor vermelho carregado, apresenta uma boa paleta aromática e um buquê intenso e convidativo. Na boca, taninos presentes, boa acidez. O teor alcoólico (14,5%) induz alguma sensação de doçura.
Importado pela DOCG Vinhos.
Enoteca DOC – Fabio Soares – Av. Marechal Floriano, 32 – Centro.
Tel.: (21) 2516-4220 – www.enotecadoc.com.br
Tel.: (21) 3936-321