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Um grande almoço

Uma das confrarias que participo sempre aproveita a data do aniversário de um confrade para organizar uma de suas reuniões. Uma divertida regra faz tudo começar com o pé direito: além de não pagar sua cota na conta, o aniversariante pode indicar o local de sua preferência.
Neste mês de janeiro, o local escolhido foi um simpático restaurante italiano, a Casa do Sardo, localizado em São Cristóvão-RJ. Nunca havia sido feito um encontro por lá, embora 2 confrades já conhecessem a casa. As recomendações eram muito boas, são dois chefes, um Sardo e outro Siciliano, que tocam magistralmente a cozinha. O local é simples, rústico, mas muito confortável. Atendimento de 1ª linha – a equipe foi treinada pelos proprietários nos padrões europeus de qualidade. A grata surpresa é que a casa permite que os clientes levem seus vinhos, nada é cobrado.
Reservamos uma mesa e chegamos pontualmente às 12:30h, dentro do horário previsto para garantir a reserva. E começou a festa!

Enquanto aguardávamos a chegada do nosso Diretor de Gastronomia, encomendamos o antepasto do dia, uma boa tábua de queijos e frios acompanhada por um delicioso pão italiano feito na casa. Abrimos o ‘Vinho da Diretoria’, algo muito especial, só para os madrugadores… Um excelente branco argentino, o Lagrima Canela, um corte de Chardonnay com Semillon elaborado por Walter Bressia. Foi escolhido pelo guia Descorchados 2013 como o melhor branco daquele país.

Com a chegada do responsável pela parte gastronômica, foram selecionadas algumas entradas: carpaccio de tentáculos de polvo com pimenta rosa; mix de bruschettas; presunto Parma. A esta altura, o único branco já havia sido devidamente enxugado. Entramos nos tintos. O primeiro foi o Tribal, um tinto sul-africano, elaborado a partir de uvas viníferas das variedades Pinotage e Pinot Noir. Sua cor é rubi claro, límpido e brilhante, aromas com notas de morango, pimenta do reino e frutas vermelhas. Macio, bom corpo, taninos elegantes e final seco.

Com 9 pessoas presentes, as garrafas secavam rapidamente. Foi a vez do Conti Neri Valpolicella. Com uma coloração vermelha rubi intensa, tendendo a granada. Buquê característico com perfume delicado. Seco com corpo médio. 
Começamos a encomendar os pratos principais. Mesmo sabendo que só haviam tintos, a turma preferiu encomendar frutos do mar, nas diversas variações oferecidas no cardápio. Com poucas exceções, ninguém se importou em harmonizar nada, ou melhor: “partimos para grandes experimentações…”.

A próxima vítima foi o excelente Paulo Laureano DOC Premium, um corte Alentejano de 20% Alicante Bouschet, 40% Aragonez, 40% Trincadeira. Coloração granada intensa apresentando aromas de compotas de frutos negros mesclados com notas de chocolate escuro. Outro excelente vinho. Em termos de aceitação estava ‘empatado’ com o anterior.
Os dois próximos vinhos fizeram o cacife subir bastante. Abrimos o 100% Tempranillo Marqués de Riscal. Um vinho vermelho intenso com borda rosada e aromas inicialmente fechados que rapidamente se abrem revelando frutas maduras, especiarias e toques de carvalho e tostado. No palato, toques de caramelo e tostado típicos desta casta. Houve um momento de silêncio na mesa. A coisa estava séria. A comida foi servida. Tudo estava perfeito. Que me desculpem os conservadores, simplesmente esquecemos até mesmo as mais simples regras de harmonização. Só um adjetivo: delicioso!

Próximo vinho: na abertura do Miguel Escorihuela Gascon um momento de drama: a rolha, com quase 10 anos, se esfarelou e teve que ser empurrada para dentro da garrafa. A equipe do restaurante trouxe um decantador e o vinho foi vertido delicadamente. Pela cor, estava tudo em ordem, o que foi confirmado no palato – excepcional! Este é um dos grandes vinhos argentinos. Coloração rubi muito profunda, com a tonalidade púrpura típica da Malbec. A estrutura tânica, os toques de especiarias da Cabernet e os toques de frutas vermelhas da Syrah complementam em perfeita harmonia a forte personalidade da Malbec, o que torna esse vinho intenso, bastante complexo e muito fácil de beber. Certamente o melhor vinho do almoço.

Como o movimento do restaurante já havia diminuído, recebemos a visita do Chef Silvio Podda que se interessou pelos nossos vinhos, provando alguns e solicitando indicações para sua boa carta. O aniversariante foi agraciado com uma sobremesa.

Já no capítulo final da farra, abrimos o argentino Dignus Malbec, macio e agradável, com aroma fresco de frutos vermelhos e o uruguaio Don Pascual Pinot Noir, redondo, com frutas vermelhas intensas, taninos presentes e aveludados. Outros dois bons vinhos, corretos e ótimos coadjuvantes para o Marqués de Riscal e o Miguel Escorihuela Gascon, escolhidos como os melhores deste encontro.

Para brindar e encerrar, Villaggio Grando Brut, um dos bons espumantes da serra catarinense.
Todos os confrades voltaram para suas residências sem problemas…
Fotos: Pedro Costa e Enoeventos
Dica da Semana: uma proposta: que tal trocar a cerveja do carnaval por um delicioso Rosé?

Languedoc AOC Rosé 2010

Produtor: Hecht & Bannier

País: França/Languedoc-Roussillon

Uva: Syrah (maior parte), Grenache e Cinsault

Este delicioso rosado é saboroso e fresco com muita fruta e um ótimo final de boca. Temperatura de serviço: 13º a 16º

Analisando Listas de Melhores Vinhos

A maioria das publicações especializadas faz, ao fim de ano, um resumo de suas diversas degustações elegendo os ‘melhores do ano’. Algumas, como a “100 Best da Wine Spectator”, tornaram-se icônicas e muito respeitadas.
Aqui no Brasil as recomendações do Jorge Lucki, talvez o melhor crítico de vinhos do nosso país, são sempre compras seguras. Para Chile e Argentina o guia Descorchados é considerado a autoridade máxima.
Houve ainda, no país ‘hermano’, uma grata surpresa: a volta do tradicional guia Austral, que deixara de ser publicado.

A coluna desta semana tentará mostrar como lidar com este mar de informações, algumas vezes conflitantes.

Vamos comparar alguns resultados de diversas listas tendo como foco a seguinte indagação: existe um vinho comum em todas estas listas?
Começamos com as listas de duas importantes publicações estrangeiras a Wine Spectator e a Wine Enthusiast. Para dar uma ideia sobre esta quase insanidade, para a elaboração de uma destas relações foram degustados nada menos que 15.500 vinhos!

Para nossa surpresa, apenas um vinho apareceu em ambas as listas:

Hamilton Russell 2010 Chardonnay, da Nova Zelândia (WS 93 e WE 92).
Um segundo vinho aparece nas duas relações, mas são de safras diferentes:
Quilceda Creek Cabernet Sauvignon 2008 (WS 96)
Quilceda Creek Cabernet Sauvignon 2009 (WE 99). 

Não há dúvida que é um excelente Cabernet Norte Americano.
Apenas como curiosidade, dois produtores conseguiram entrar nestas listas com dois vinhos diferentes: Evening Land, com um branco e um tinto e Williams Selyem com dois Pinot de vinhedos distintos.

O que acontece?

Mais uma vez temos que enfatizar que o vinho está na boca de cada degustador. Este é um experimento fácil de fazer: convidem seu companheiro ou companheira para uma taça de vinho e avaliem as características. Dificilmente vão ter as mesmas opiniões.

Por outro lado, estas listas podem ter foco muito diverso, por exemplo, podem estar provando apenas vinhos de uma determinada faixa de preços. Poucas publicações ou críticos têm capital para bancar o custo de uma prova destas, restando ‘convidar’ os produtores para enviar os vinhos a serem degustados, o que limita o universo.

A respeitada Wine Spectator trabalha um pouco diferente: prefere usar o material publicado durante todo o ano por seus diversos editores. Fazem uma reunião e discutem a relação final. Com isto, nem todos os críticos provaram todos os vinhos.

Vamos ampliar esta análise observando o que acontece com vinhos mais acessíveis para o nosso mercado: chilenos e argentinos.
Na Wine Spectator encontramos os seguintes produtos: (na ordem em que aparecem na listagem – alguns destes vinhos podem ser exclusivos do mercado norte americano)
Achával-Ferrer Malbec Mendoza Finca Bella Vista 2010 (Arg. 95 pt)
Bodega Norton Malbec Mendoza Reserva 2010 (Arg. 90 pt)
Viña Ninquén Syrah Colchagua Valley Antu 2009 (Chi. 96 pt)
Casa Lapostolle Cabernet Sauvignon Colchagua Valley Cuvée Alexandre Apalta Vineyard 2010 (Chi. 92 pt)
Concha y Toro Chardonnay Limarí Valley Marqués de Casa Concha 2010 (Chi. 90 pt)
Veramonte Primus The Blend Colchagua Valley 2009 (Chi 90 pt)

Na Wine Enthusiast encontramos: (na ordem em que aparecem na listagem – alguns destes vinhos podem ser exclusivos do mercado norte americano)
Riglos 2009 Gran Corte Las Divas Vineyard (Arg. 96 pt)
Finca Flichman 2009 Paisaje de Barrancas (Arg. 93 pt)
Trapiche 2009 Finca Jorge Miralles SingleVineyard Malbec (Arg. 95 pt)
Lagar de Bezana 2008 Single Vineyard Limited Edition Syrah (Chi. 93 pt)

Fácil perceber que não há nada em comum entre estes resultados. Um fato importante: o Riglos, que ficou em 1º lugar, simplesmente sumiu do mercado!

Confrontando a lista de melhores tintos do Guia Descorchados Argentina deste ano, encontramos em comum apenas o Achával Ferrer com 94 pt. O reeditado Guia Austral não testou nenhum destes vinhos. O mesmo aconteceu com a Relação do Descorchados chileno, não houve coincidências.
Resumo: todos são bons vinhos. Alguns produtores se valem destes resultados para majorar seus preços o que acaba sendo o famoso ‘tiro no pé’: em vez de vender mais, vende menos.

Examinar as listas é sempre divertido e instrutivo, principalmente se um destes premiados já passou por nossa adega. Mas não podemos confiar integralmente.
Dica da Semana: mais um substituto para a ‘loura suada’ do dia de sol…

Animal Chardonnay 2010

Produtor: Tikal (Ernesto Catena)
País: Argentina/Mendoza
Excelente Chardonnay elaborado por Ernesto Catena, demonstra-se aromático, potente, agradável com muita exuberância e elegância ao mesmo tempo. Na boca é explosivo com longo e prazeroso retro gosto.

Mais dúvidas dos leitores

Interessante como um assunto puxa outro. Eu gostaria de escrever sobre as diversas listas de melhores vinhos, mas os leitores não deixam.
Vamos responder de forma mais completa aos e-mails de três leitores. São questões diferentes que convergem para um tema central.
Primeiro a Renata, de Manaus, gostou da revisão e teve, segundo ela, coragem de perguntar e pedir mais; depois Cristina, de Goiânia, segue o mote e pede novas colunas sobre ‘serviço do vinho’, harmonização’ e até mesmo ‘taças para vinho’, um assunto tratado bem recentemente. Por último, Rodrigo, de Bruxelas, com coro do nosso Editor Valter, afirma que bulas no vinho seriam bem-vindas, principalmente para ajudar na hora de harmonizar com comida.
Antes de mergulhar em maiores profundidades, uma explicação importante. Um leitor afirmou que tem evitado colocar suas dúvidas em público com medo de receber como resposta algo no gênero “procure numa coluna anterior”.
Esta frase ou sua irmã, “está lá no texto…”, são comuns nas minhas respostas, embora nunca tenha deixado de fazer um novo comentário para esclarecer a dúvida do leitor. Gostaria que a entendessem como um convite para uma releitura do texto (a partir da nova explicação) e não como um puxão de orelhas… Ninguém nasce sabendo e a melhor forma de aprender é perguntando para quem conhece o assunto melhor que você. Não se esqueçam: sua dúvida pode ser a de outros leitores.

Vinho x Comida

Talvez seja esta a mola propulsora do comércio desta bebida. Existem os ‘vinhos de meditação’, algo que é extremamente prazeroso. Mas não há dúvida que reunir amigos em torno de uma boa mesa é altamente satisfatório e nos realiza plenamente. Infelizmente, basta um erro para estragar tudo. Para evitar desastres, precisamos unir conceitos clássicos com as nossas próprias experiências. Lembrem-se: regras são feitas para serem quebradas!
Combinar vinho e comida nunca foi uma ciência exata, está mais para algo empírico onde a experimentação dita o rumo. Os leitores já devem estar perguntando de onde surgiram as harmonizações clássicas, como aquela das carnes com tintos e peixes com brancos. Tudo tem uma origem:
– antigamente os vinhos tintos eram muito mais tânicos que os de hoje e o único alimento capaz de enfrentar tal desafio era um bom pedaço de carne com sua textura pesada e gordurosa;
– por analogia, as carnes brancas (peixes, aves e suínos), cuja delicadeza exigia cozimentos suaves para manter a estrutura mais leve, não eram bem acompanhadas por vinhos tintos – os brancos se tornaram naturalmente a melhor opção.
Vamos elaborar um pouco mais neste assunto, pegando um gancho na mensagem do leitor Rodrigo, quando afirma:
-“Imagine que eu possa comprar um vinho cabernet sauvignon, que é tradicionalmente uma uva para se beber com carne de caça (pelo que sei) e bebo com uma massa com um molho qualquer”.
Esta seria uma das múltiplas possibilidades de harmonizar um bom Cabernet, embora eu prefira combinar carnes de caça com vinhos obtidos a partir da Sirah. Eis a primeira dificuldade a ser contornada: gosto é pessoal!
Pinot Noir seria outro vinho que casaria com este prato perfeitamente. Para sair do dilema, temos que analisar estas combinações do ponto de vista organoléptico, tanto do alimento quanto do vinho.
Complicou?
Ninguém disse que seria fácil, mas não é impossível. Os alimentos podem ser classificados como: leves, pesados, doces, salgados, condimentados, gordurosos, suculentos, untuosos, amargos e ácidos.
Os vinhos seguem uma classificação similar: leves, encorpados, tânicos, alcoólicos, ácidos, efervescentes, persistentes, aromáticos, doces e macios.
Harmonizar é combinar corretamente estas caraterísticas:
Comida leve – vinho leve;
Comida pesada – vinho encorpado;
Vinhos tânicos e alcoólicos combinam com pratos suculentos e untuosos;
Alimentos gordurosos exigem vinhos com acidez e taninos elevados;
Vinhos efervescentes acompanham bem alimentos com um viés adocicado;
Pratos condimentados pedem vinhos aromáticos e persistentes;
Sabores salgados, ácidos ou amargos são equilibrados com vinhos macios;
Doçura com doçura…
As diretrizes são estas, escolher o vinho que se encaixa nelas é outra história: só degustando muito e anotando tudo.

Dica da Semana: um interessante branco espanhol dentro do espírito de vinhos para o verão.

Los Navales Verdejo 2010

Produtor: Viñedos de Nieva
País: Espanha/Rueda
Este 100% Verdejo é um vinho que expressa o estilo e caráter dessa variedade de uva. Apresenta aromas de frutas tropicais maduras como abacaxi, grapefruit e limão, sobre um fundo herbáceo. Na boca, sua entrada revela um vinho fresco, balanceado, de acento mineral e cítrico. Excelente como aperitivo ou como acompanhamento de frutos do mar.

Vinho não tem bula (nem contra-indicações)

O tema da semana passada gerou um dilema para uma de nossas mais assíduas leitoras, Marly Chaves, de São Paulo. No seu e-mail ela fez a seguinte colocação:
“Mas aí, como conhecer (um bom vinho) sem sermos um Tuty ou um José Paulo?”

Não pretendíamos continuar neste tema, mas a dúvida é comum a todos que se iniciam na arte de beber um bom vinho. Eu e José Paulo passamos por isto e resolvemos dissertar um pouco mais sobre a questão.
Aprender sempre!
Este é o caminho, a cada gole uma nova experiência, mesmo que ela seja ruim: nos erros se aprende mais. Mas para podermos apreciar um vinho, qualquer vinho, é preciso alguma base. Desde o início desta coluna, há quase 2 anos, temos proposto uma série de textos bem didáticos com a declarada intenção de estabelecer um conhecimento comum entre autores e leitores. Quase como uma analogia ao dever de casa dos tempos de escola, a Dica da Semana deveria funcionar como treino para o olfato e paladar, material de estudo. Não foram escolhas aleatórias e nem obrigatórias, mas direcionadas para o propósito descrito.
Outro bom conselho oferecido e que muitos leitores, na época, afirmaram que adotariam, é anotar tudo que for experimentado. Pode ser num caderno destinado para isto ou nos modelos de Ficha de Degustação sugeridos. O importante é termos uma informação valiosa que possa ser recuperada naquele momento de indecisão: Qual era aquele vinho que gostei?
Se nossas anotações forem consistentes, vamos obter o tipo de vinho (varietal ou corte), quais as uvas, safra, país, região, produtor e até mesmo em que situação foi adquirido e consumido. Isto vale ouro!

José Paulo Gils, nosso experiente consultor, lembra: “Qualquer que seja o produto, você pode comprar um de boa qualidade sem ser conhecedor do assunto. Isto vale para os vinhos”.

Sugere, ainda, simples regrinhas que são brilhantes:
1 – Procurem vinhos em lojas especializadas, pois sempre haverá um funcionário preparado para nos dar informações corretas; (evitem supermercados)
2 – O preço é um indicativo de qualidade, mas nem sempre o mais caro é o melhor;
3 – Observem a cor do líquido na garrafa, contra a luz, se estiver âmbar pode estar oxidado, não comprem. Esta recomendação é para vinhos tintos e brancos;
4 – Comprem vinhos com menos de 4 anos, principalmente para vinhos brancos;
5 – Procurem matérias sobre vinhos em revistas, jornais e sites. Livros são boas opções também. Leiam muito;
6 – Na dúvida sobre a compra do vinho, levem só uma garrafa para conhecer.
Expandindo o nosso universo
Em outras palavras, só vamos crescer no mundo do vinho usando positivamente as anotações colhidas em nossas experiências enológicas. Este é o tal ‘universo’ do título.
Para deixar as coisas claras, vamos imaginar um cenário para um fictício 1º vinho, a partir do qual vamos expandir horizontes: o compramos, por impulso, atraídos por uma boa apresentação e preço acessível. (Caso não tenha sido assim, por favor, façam as adaptações necessárias).

Também não precisamos nos preocupar se o vinho era ruim. Neste caso ele sempre será um bom vinho e aqui começa a nossa aventura. Poderíamos, simplesmente, comprar outra garrafa idêntica. Estaremos absolutamente seguros que vamos repetir uma boa experiência, mas o que aprendemos? Nada!

Examinando rótulo e contra rótulo, descobrimos a origem do vinho, a uva ou uvas no caso de um corte, região produtora, safra, produtor e até mesmo o nome do importador caso não seja um vinho nacional. A questão a ser respondida, neste momento, é: será que existem outros vinhos com estas mesmas características?
Múltiplos caminhos podem ser seguidos na busca desta resposta, e devemos trilhar todos, mas um de cada vez. Um bom começo é o produtor: que outros vinhos ele elabora? Se preferir, podemos buscar outros produtores da mesma região. Talvez apareçam novas combinações de uvas que podem ou não nos agradar. Devemos respeitar o ‘um passo de cada vez’: se algo não deu certo, voltamos para a última coisa boa e mudamos o rumo.
Mais sugestões: outros vinhos do mesmo país; mesmo tipo de vinho feito em outros países e outros desdobramentos possíveis. Mais um caminho plausível: que outros vinhos são trazidos por este importador. Fácil perceber que há muita coisa para testar…
Com isto vamos provando, comparando e ganhando mais bagagem. Passaremos pelas uvas clássicas, Cabernet, Merlot, Sirah e Pinot, pelos cortes bordaleses e pelos inusitados, pelas uvas que brilham nos terroirs do Novo Mundo, Malbec, Carmenere e Tannat. Uma delas vai nos conquistar, sem dúvida, e se tornará o nosso ‘vinho de cabeceira’, o porto seguro, a referência.
Recorrendo ao nosso consultor: “O vinho está na boca de cada pessoa”.

Encontrar este vinho tão especial é quase um rito de passagem. Agora estamos seguros para tentar entender o que é ter paixão por vinhos, discutir sobre Chateau Petrús, Vega-Sicilia e Romanée Conti e, quem sabe, investir numa garrafa icônica.

Não pensamos mais em vinhos de prateleira e nossa literatura predileta são os ricos catálogos dos importadores. Uma viagem de sonho? Para uma grande vinícola, é claro! Começamos a colecionar rolhas, rótulos, taças, decantadores, saca-rolhas, etc.; cada um vai nos trazer boas lembranças, para sempre.
Dica da Semana: outro bom vinho de verão

Colomé Torrontés 2011 
Argentina/Salta
Palha vibrante. Intensamente aromático, com impressões de cítricos confitados, lichias, rosas e madressilva, além de especiarias exóticas. Viscoso em boca, mas com excelente sapidez mineral dando equilíbrio ao conjunto.

O que estamos bebendo: preço, rótulo ou vinho?

Tradicionalmente ao final de cada ano, jornalistas e publicações especializadas divulgam suas listas de melhores vinhos. Cada uma tem o seu enfoque e pode estar direcionada para um determinado mercado. São ótimas balizadoras para as nossas próximas compras, mas até onde podemos confiar nestes especialistas?
Gosto é subjetivo. Podemos avançar um pouco mais: gosto tem características geográficas, o que implica em clima e cultura. Um vinho de 100 pontos do respeitado Robert Parker pode não ser uma unanimidade. Pensando nisto, alguns interessantes experimentos foram realizados para demonstrar como a influência de pequenos detalhes externos pode mudar a nossa avaliação sobre um vinho.
Em 2001, Frèdèric Brochet (foto acima) um pesquisador da Universidade de Bordeaux, conduziu dois experimentos que geraram grande celeuma. No primeiro, reuniu 54 estudantes de enologia e lhes apresentou um copo de vinho tinto e outro de vinho branco, solicitando que cada um os descrevessem com um máximo de detalhes. Para o tinto os termos usados foram: cereja, framboesa e especiarias; para o branco: fresco, cítrico, pêssego e mel.
O que as cobaias não sabiam é que estavam provando um mesmo vinho branco que fora tingido com um corante inerte para ficar semelhante a um tinto. O objetivo, plenamente alcançado, era demonstrar que a cor do vinho influencia o nosso paladar.
No segundo teste, outro grupo de especialistas foi servido com duas garrafas bem diferentes, um Grand Cru de Bordeaux e um Vin de Table. Foi solicitada a avaliação dos vinhos. Como esperado, o de melhor qualidade ganhou comentários como ‘complexo’, ‘bom final de boca’ e ‘excelente’, enquanto o outro foi considerado como simples e sem graça. Novamente o pesquisador foi capaz de despistar os degustadores com embalagens mais ou menos sofisticadas: o vinho servido era exatamente o mesmo, um corte bordalês de qualidade mediana. Apenas a garrafas e rótulos eram diferentes.
O estudo mais polêmico até o momento veio da Universidade de Davis. Selecionaram 20 voluntários que provariam 5 Cabernet Sauvignon com preços variando de 5 até 90 dólares. Suas reações seriam medidas através de uma ressonância magnética do cérebro. A metodologia era servir o vinho informando sua faixa de preço. Na realidade, usaram apenas 3 vinhos, com preços de 5, 45 e 90 dólares. Na hora de apresentá-los aos voluntários, faziam diversas trocas como oferecer o mais barato como se fosse o mais caro ou repetir o mesmo vinho alterando o preço declarado.
Os resultados foram dentro do esperado: as melhores avaliações eram para os vinhos mais caros, mesmo que lhes fossem servidos os mais baratos.
Resumindo: as listas de melhores vinhos são necessárias e interessantes, mas devemos usá-las associadas às nossas próprias avaliações.
O guia Descorchados é a principal publicação enológica da América do Sul. Organizado por Patrício Tapia, tem versões para o Chile, Argentina e Brasil.
Apresentamos, abaixo, uma prévia do Guia 2013 para o Chile.
Melhores Tintos:
01 – Clos Quebrada de Macul Domus Aurea 2008, Maipo – 96 pontos
02 – Concha y Toro Carmín Carmenère 2010, Peumo – 96 pontos
03 – Carmen Gold Reserve Cabernet Sauvignon 2010, Maipo – 95 pontos
04 – Concha y Toro Terrunyo Cabernet Sauvignon 2010, Pirque – 95 pontos
05 – Almaviva 2010, Maipo – 94 pontos
06 – Antiyal 2010, Maipo – 94 pontos
07 – Aquitania Lázuli 2004, Maipo – 94 pontos
08 – Bodegas RE RE Cabergnan 2009, Loncomilla – 94 pontos
09 – Calyptra Zahir Cabernet Sauvignon 2009, Cachapoal – 94 pontos
10 – Casa Marín Miramar Vineyard Syrah 2010, Lo Abarca – 94 pontos
Melhores Brancos:
01 – Casa Marín Cipreses Vineyard Sauvignon Blanc 2011, Lo Abarca – 95 pontos
02 – Concha y Toro Terrunyo Sauvignon Blanc 2011, Casablanca – 95 pontos
03 – Aquitania Sol de Sol Chardonnay 2009, Malleco – 94 pontos
04 – Bodegas RE Re Chardonnoir 2011, Casablanca – 94 pontos
05 – Calyptra Gran Reserva Chardonnay 2009, Cachapoal – 94 pontos
06 – Concha y Toro Terrunyo T. Bottles Sauvignon Blanc 2011, Casablanca – 94 pontos
07 – Concha y Toro Amelia Chardonnay 2011, Casablanca – 94 pontos
08 – De Martino Single Vineyard Quebrada Seca Chardonnay 2010, Limarí – 94 pontos
09 – Maycas del Limarí Quebrada Seca Chardonnay 2010, Limarí – 94 pontos
10 – Tabalí Talinay Chardonnay 2011, Limarí – 94 pontos

Dica da Semana: uma ótima opção para este inclemente verão.

Carmen Classic Chardonnay 2011
País: Chile
Este ótimo Chardonnay, parcialmente barricado, é um verdadeiro achado, bastante rico e intenso, de excelente relação qualidade/preço.
Harmoniza com peixes e frutos do mar, vários queijos, aves e legumes grelhados.
Robert Parker: 87 pontos (03)

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