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Syrah a poderosa: Vinhos do Rhône

 Parece que erramos a mão no desafio da semana passada. Até o momento em que começo a escrever a coluna, nenhuma sugestão. A resposta estava na definição de Ampelografia, uma disciplina da botânica e da agronomia que estuda e identifica as castas de videiras por suas características. A mais simples delas é a forma e coloração das folhas! Reparem nas imagens a seguir: 

Cada tipo de uva tem uma folha diferente, esta era a resposta esperada. 
Mais um desafio lá no final! 
Os Vinhos 
Esta é, estatisticamente, a região que recebeu mais notas 100 do crítico Robert Parker. Há uma lenda sobre sua preferência por este tipo de vinho, na verdade, um gosto bem universal: são fáceis de beber e harmonizar com uma boa refeição, embora sejam encorpados, pedindo um clima mais ameno. Nada de calores tropicais. 
Hermitage 
Um dos produtores que se destacam é M. Chapoutier, com seus Ermitage (ou L´Hermitage). Produz vários vinhos sob esta denominação, destacam-se o L’Ermite e o fabuloso Le Pavillon, ganhador de nada menos que 4 notas 100, safras de 1989, 1990, 1991 e 2003. 

Descrito como um vinho de cor púrpura escura com aromas predominantes de flores silvestres, frutas negras, grafite e trufas. Em boca, uma textura excepcional, muito encorpado e rico. Levemente adocicado com taninos e acidez em perfeito equilíbrio. Um fora de série destinado aos que tem paciência de esperar 10 ou 15 anos para prová-lo e, quem sabe, continuar bebendo nos próximos 50 a 100 anos. Um vinho que pode ser guardado por 60 anos sem problemas. Monumental. 100% produzido a partir da Syrah. 
Côte Rôtie 
Outro grande produtor é a E. Guigal, um dos nomes mais respeitados na denominação Côte Rôtie. Três de seus vinhos receberam 21 notas máximas em diferentes safras: La Landonne, La Turque e La Mouline. 

São obtidos a partir da Syrah, unicamente. Descritos como vinhos de coloração vermelha profundamente escura, com os característicos aromas intensos de frutas negras, alcaçuz, especiarias orientais e algo defumado ou enfumaçado. No palato são concentrados, com bom ataque, taninos firmes e acidez equilibrada. Segundo o produtor, a mais perfeita expressão possível de cada terroir. Vinhos fantásticos! Enorme potencial de guarda: 30 anos. 
Premiações: 
La Landonne 1985, 1988, 1990, 1998, 1999, 2003, 2005; 
La Mouline 1976, 1878, 1983, 1985, 1988, 1991, 1999, 2003, 2005; 
La Turque 1985, 1988, 1999, 2003, 2005. 

Chateauneuf-du-Pape 
Dificílimo selecionar um representante desta denominação. Depois de um longo período com vinhos abaixo da crítica, fraudados e sem expressão, os produtores reunidos promulgaram a primeira região demarcada da França (AOC), que serviria de base para as demais. Muitos anos depois e com grandes esforços, estes vinhos voltariam a brilhar, tornando-se um ícone do Rhône. 
Seguindo a legislação, podem ser usadas até 13 uvas diferentes no corte, mas somente estas: Cinsaut, Counoise, Mourvèdre, Muscardin, Syrah, Terret Noir, Vaccarèse, Bourboulenc, Clairette, Picardan, Piquepoul, Roussanne e Grenache. Podem ser usadas as varietais tintas, brancas ou rosadas indistintamente. Existe um Châteauneuf branco, elaborado com varietais brancas unicamente. 
O Château de Beaucastel (Famille Perrin) é o único produtor que realmente elabora seus vinhos com as 13 castas. Talvez por isto seja muito famosos nesta região. Um dos mais premiados somente é produzido em grandes safras, o Hommage à Jacques Perrin. 

Com uma coloração entre o azul escuro e o púrpura, apresenta aromas suntuosos que vão desde as frutas negras passando por assados, especiarias, trufas e incenso. O paladar é muito encorpado, corretamente equilibrado, trazendo sabores de frutas frescas e um interminável final. Muitos já afirmaram que dariam a vida para provar um destes. Infelizmente a produção é muito pequena, atingindo a 500 caixas no máximo. Loucura! 

Há muitos outros vinhos maravilhosos nesta região. Poderíamos incluir as regiões de Cornas, Gigondas e Condrieu, entre outras. Importante é lembrar que um vinho com denominação genérica Côtes do Rhône vale a pena experimentar. 
Semana que vem vamos conhecer um trio de uvas da Alsácia. Enquanto isto: 
Desafio para esta semana: 
Este é infinitamente mais fácil que o anterior. Tentem descobrir o que há em comum com os vinhos de Châteauneuf-du-Pape, Discos Voadores e um vinho da Califórnia. 
Curioso e divertido! 

Dica da Semana: um Syrah elaborado pelo rival de Chapoutier. 

Le Petit Jaboulet Syrah 2008 
Produtor: Paul Jaboulet Aîné 
País: França 
Região: Rhône 
Paul Jaboulet rivaliza com Chapoutier pelo posto de melhor produtor do Rhône. Seus vinhos estão entre os melhores da região. Um achado de ótima relação custo x benefício. Classificado como Vin de Pays, tem interessante complexidade, bom ataque de boca e nariz.

Syrah a poderosa


Esta é uma uva que não pertence aos grupos de Bordeaux ou da Bourgone e que produz vinhos, em todo o mundo, com qualidade igual ou superior aos citados. Vamos conhecer um pouco mais desta casta que origina vinhos exuberantes, musculosos e encantadores. 
Duas denominações são empregadas Syrah e Shiraz. O segundo nome é o mesmo de uma cidade do Irã, levando a crer que sua origem estaria ligada àquela região. Estudos muito recentes, realizados na Universidade de Davis, Califórnia, mapeou o DNA até sua origem: um cruzamento natural entre as castas, Durezam da região de Ardéche (pai) e Mondeuse Blanche da região da Savoia (mãe). Portanto, uma casta tipicamente francesa. 
Ainda existem várias questões, a respeito desta uva, envoltas em lendas e mistérios, por exemplo, não se conhece a época de seu surgimento. Especula-se que já existiria no tempo de Plínio, o Velho (Caio Plínio Romano), 77 DC. Também não se sabe como chegou à região do Rio Ródano (Rhône), considerado como seu habitat. Produz vinhos encorpados e de coloração profunda com sabores de frutas negras, pimenta e um pouco enfumaçado. 
Em outras regiões do mundo, os Syrah podem variar do intenso ao delicado, conforme a linha a seguir:

África do Sul –> Califórnia –> Sul da França –> Vale do Rhône –> Austrália 
Delicado —————————————————————> Intenso 

Segundo os grandes críticos e especialistas, a melhor expressão desta casta está no Rhône, principalmente na região da Côte Rôtie (Encosta Assada). Mais para o sul é encontrada em cortes com outras varietais como Grenache, Mourvèdre e Cinsault, entre outras. 
Onde ela brilha? 
No mapa abaixo podemos entender a extensão desta região que é cheia de contrastes. Começamos na Côte Rôtie, próxima à cidade de Lyon. 

Aqui a Syrah é a única protagonista. São 5 áreas de vinhedos ou Crus: Côte Rôtie, Hermitage, Cornas, Saint Joseph, e Crozes-Hermitage. O terreno é montanhoso exigindo a adoção de patamares para o plantio. 

O vale termina ao sul, na região de Chateauneuf Du Pape, o Novo Castelo do Papa, com geografia plana e múltiplas denominações. Novas uvas fazem companhia à Syrah e os vinhos aqui produzidos são quase um oposto aos da região mais ao norte. 
Para muitos da minha geração, um Chateauneuf talvez tenha sido o primeiro vinho saboreado com prazer, por isto mesmo, há uma identificação particular com toda esta região do Rhône: para o meu gosto pessoal, são vinhos inesquecíveis! 

Semana que vem trataremos deles. 
Desafio da Semana passada: 
A Campeã foi a leitora Maria do Carmo, do Rio de Janeiro. Sua resposta foi completíssima. (os meus comentários estão em vermelho) 

“Topei o desafio e fui pesquisar, já que não tinha a menor ideia e, pra falar a verdade, nunca tinha reparado. Fui pesquisar e descobri um monte de razões”: 
1- É um remanescente histórico da era em que as garrafas eram feitas artesanalmente, sopradas através de um cano. Essa técnica deixava uma ponta na base da garrafa, fazendo com que fosse necessária a concavidade para que essa ponta não arranhasse a mesa ou deixasse a garrafa instável (sem equilíbrio). 
Esta é a resposta correta. Um bom mestre soprador poderia achatar o fundo de uma garrafa sem problemas, mas ela continuaria com uma pequena marca que arranharia uma mesa. Além disto, as garrafas de fundo chato são menos estáveis. 
Hoje em dia não há mais sopradores, mas mantiveram o recesso por tradição e para melhorar a estabilidade. No caso do Champagne é mandatório, pois aumenta a rigidez da garrafa para suportar a pressão exigida pelo espumante. 
Há mais um fato curioso. Na foto do desafio dá para perceber umas pequenas ranhuras na borda do recesso. São equivalentes aos frisos de um pneu de automóvel, servindo para deixar a água passar. A origem deste detalhe vem de muito longe: as primeiras garrafas patinavam numa superfície molhada, muitas vezes caindo e quebrando. 

Vamos às demais descobertas de Maria do Carmo: 
2 – Teria a função de deixar a garrafa mais estável, já que uma pequena imperfeição na mesa seria suficiente para desestabilizar uma garrafa de fundo plano. 
Correto, já explicado acima; 
3 – Consolida os sedimentos em um anel espesso no fundo da garrafa, diminuindo a quantidade de resíduos despejada nas taças, ao ser servido o vinho. 
Esta é uma consequência, só funciona dentro de certos limites; 
4 – Aumenta a resistência das garrafas, permitindo que armazenem vinhos ou champanhe com pressão mais elevada. 
OK! Já explicado; 
5 – Mantém as garrafas fixas em pinos de esteiras condutoras nas linhas de produção onde as garrafas são preenchidas. 
Está mais para lenda… 
6 – Acomoda os dedos, facilitando o serviço do vinho. 
Outro uso inventado por “gente de muito requinte”…, não é uma boa forma de servir vinhos; 
7 – De acordo com a lenda, a concavidade era usada pelos servos. Eles frequentemente sabiam mais que seus mestres sobre o que se passava na cidade e, com o dedo colocado na concavidade, sinalizavam caso o convidado não fosse confiável. 
Lenda; 
8 – Diminui o volume real da garrafa dando a falsa impressão de que se está levando mais vinho. 
Verdadeiro, embora o propósito não fosse o de enganar o consumidor e sim tornar a garrafa maior ou com formato ligeiramente diferente; 
9 – As tavernas possuíam um pino de aço verticalmente fixado no bar, onde as garrafas vazias teriam seus fundos perfurados de modo a garantir que não seriam cheias novamente. 
Outro uso não confirmado, mas plausível; 
10 – A concavidade age como uma lente, refratando a luz e tornando a cor do vinho mais chamativa. 
Pouco provável, seria necessária a iluminação pelo fundo. Se funcionar, só para garrafas transparentes;
11- Diminui a chance de a garrafa ressonar durante o transporte diminuindo a possibilidade de quebra durante o transporte. 
12- Permitia o empilhamento mais fácil das garrafas em porões de navios, sem que rolassem ou quebrassem. 
Pouco provável: garrafas são transportadas em caixas e embaladas individualmente. Mas não há dúvida que ficam mais resistentes com o recesso. 
Desafio para esta semana: 
Estamos no meio de um vinhedo, com várias espécies de uvas plantadas. Como distinguir rapidamente cada casta? Existe um recurso de campo, empregado por agrônomos, ampelógrafos e plantadores em geral. Algum leitor se arrisca? 

Dica da Semana:um ótimo vinho desta região para ir aguçando o nosso paladar. 

Côtes du Rhône St Esprit 2009 
Produtor: Delas Frères 
Castas: 75% Syrah e 25% Grenache 
Notas de Degustação: Cor rubi carregada de especiarias e frutas negras no aroma, e um final de boca maravilhoso. Potencial de guarda de 7 anos. 
Harmonização: carnes grelhadas, vitela recheada, coelho com molho de ameixas. 
RP – 90 pontos

Pagando algumas dívidas

Nenhum cronista gosta muito de usar chavões em seus textos. Algumas vezes perdemos um bom tempo procurando uma forma alternativa de passar uma ideia que é apresentada, de maneira simples e direta, por um daqueles provérbios que aprendemos quando criança. Quando decidimos ir contra as regras da boa escrita, embarcamos num novo problema: qual frase usar? 
O melhor é deixar a prosopopeia de lado. Hoje vamos começar a cumprir algumas promessas antes que entrem na relação dos arquivos mortos. Primeiro, as mais recentes. 
Uma das colunas que mais nos surpreendeu foi a das garrafas. Movimentou bem a caixa postal e trouxe uma nova visão sobre a curiosidade de nossos leitores. Na sequência, fizemos um pequeno desafio sobre as garrafas de Chianti, envoltas em palha. Havia uma foto, logo abaixo, mostrando a garrafa sem a palha e revelando, para os mais atentos, uma das razões da curiosa embalagem, mas não todas. A brincadeira era completada na Dica da Semana, quando sugeríamos um Chianti em garrafa Bordalesa e perguntávamos onde estava a forma tradicional. 

A primeira leitora a responder o teste foi a Mariana Almeida, de Uberlândia, sugerindo que a palha era uma forma de proteção, neste caso, para manter uma temperatura agradável para o consumo: acertou parcialmente, é uma forma de proteção, mas para outras finalidades. 
A resposta completa foi dada por um dos meus confrades, Mario Ramos, numa verdadeira aula sobre esta tradicional garrafa italiana. Saboreiem: 

“Caro Tuty, 
A palha era originariamente usada para proteger as garrafas (frágeis, sopradas à mão) e colocá-las em pé em cima das mesas graças ao formato achatado da base de palha. Facilitava muito a guarda das mesmas, com o hábito de pendurá-las no teto, paredes ou hastes, economizando espaço. Depois por tradição. Posteriormente a uma fase de conceito baixo (e as garrafas já eram seguras e perfeitas) alguns produtores resolveram mudar para o formato bordalês, numa tentativa de recuperar o prestígio. 
Mário” 

Resolvida esta questão, vamos propor outra: Por que será que existe aquele recesso no fundo das garrafas de hoje? Para ajudar, existem algumas explicações, mas uma é a razão original, as demais seriam usos alternativos para este detalhe. Cartas para a redação! (não resisti ao chavão)… 

O nosso comparsa José Paulo Gils está de volta:  
O assunto não poderia ser outro que o polêmico tema das Salvaguardas. Gils chamou a nossa atenção para dois textos publicados no Blog Wine Report. 
O primeiro, de Alexandre Lalas, intitula-se “A Luta Continua” e trata da audiência pública promovida pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) no dia 28/06/2012 para julgar a necessidade de aplicação das salvaguardas. (http://www.winereport.com.br/winereports/a-luta-continua/2021)
Reproduzo, a seguir, os dois últimos parágrafos: 

“Nos corredores do MDIC corre a certeza de que o pedido de aplicação de salvaguarda para o vinho nacional carece de embasamento técnico. No entanto, a pressão política exercida pela corrente gaúcha do Governo Federal pode fazer com que a salvaguarda seja adotada assim mesmo. Em recente entrevista a uma rádio gaúcha, o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, garantiu que o pedido seria aceito, independente da posição do MDIC.
Caso a salvaguarda seja adotada, um boicote aos vinhos nacionais dos produtores que não se manifestaram contra o pedido pode causar sérios prejuízos à indústria vinícola nacional. Um abaixo-assinado contra o pedido já ultrapassou as 10 mil assinaturas”.

De lastimável, somente a declaração inoportuna do Ministro do Desenvolvimento Agrário, Sr. Pepe Vargas, também conhecido por Gilberto José Spier Vargas, gaúcho de Nova Petrópolis. Acho que não é preciso falar mais nada… O segundo texto, de Rogerio Rebouças, “Não há Caso” , comenta a atuação na audiência de dois representantes da indústria vinícola europeia, o Secretário-geral do Comitê Europeu das Empresas de Vinho (CEEV), Sr. José Ramon Fernandez e o Sr. Nicolas Ozanam Secretário-geral da Federação dos Exportadores de Vinhos e Espirituosos da França (FEVS).
(http://www.winereport.com.br/winereports/nao-ha-caso/2023)
Reproduzo alguns trechos abaixo: 

“O que os europeus tentaram mostrar na audiência é que não existem as condições necessárias, como alega o IBRAVIN e demais entidades gaúchas, para a aplicação das Salvaguardas. “Com base em todos os argumentos técnicos apresentados não há caso”, afirma Ozanam. Fernandez garante que o momento é de deixar os técnicos analisarem com calma as informações fornecidas e não jogar gasolina no fogo, ao menos da parte dos produtores europeus. Acredita que a questão técnica prevalecerá e também o bom senso. Seu desejo é de que esta disputa não tivesse sido criada e que os esforços dos produtores brasileiros fossem direcionados, conjuntamente com os importadores e produtores estrangeiros, em prol do vinho e de seu consumo. “Preferia estar investindo em promoção e formação ao invés de estar pagando advogados em Brasília”, assegurou. 
A decisão técnica deve acontecer até o final de julho. “Fomos firmes, mostramos a real situação e aguardamos a decisão do Ministério. O abaixo-assinado, a mobilização dos consumidores, importadores, lojistas e donos de restaurantes, associações de Sommeliers e amantes do vinho e da imprensa foi muito importante”, constatou entusiasmado o Secretário do CEEV. “Não vamos nos precipitar, vamos aguardar agora a decisão. O ideal seria que todos no Brasil se unissem em prol do vinho e que não desperdiçassem tanta energia e recursos neste tipo de confronto que não ajuda o mercado. Se a indústria brasileira do vinho crescesse e puxasse o consumo seria melhor para todos. Prefiro uma pauta positiva”, concluiu”. 

Vale a pena, também, ler um texto do colunista Didú Russo, “Salvaguardas, chegou a hora do Bom Senso”. 
Dois pontos muito importantes ressaltados pelo colunista: 

“Se saírem as Salvaguardas e os técnicos do MDIC já sinalizaram que seria uma decisão política e que viria em cotas e que provavelmente limitaria o mercado importador a algo como 40 milhões de litros/ano, o desastre estaria feito para os dois lados: 
1) O mercado ficaria reduzido em relação ao volume de hoje, por tanto os preços subiriam para nós consumidores. 
2) Os supermercados (60% da venda dos nacionais com 90 mil pontos de venda) partiriam para a retaliação, pois não são obrigados a vender vinho brasileiro. Já declararam isso. Os consumidores então nem se fale, já boicotam os nacionais neste momento. 
3) Os importadores e suas associações entrariam no dia seguinte com pedido de mandado de segurança. Ainda existe Poder Judiciário no país graças a Deus. Aconteceu com o Selo Fiscal e deu no que deu. É muito provável que o mesmo roteiro se repita. 
Este é o cenário do PERDE–PERDE. Ou seja, os dois lados querendo ganhar fazem com que todos percam”. 

“Mas acontece que eu sou otimista, eu sou do GANHA–GANHA, onde os dois lados entram em entendimento, cada um negociando o que lhe é mais importante, cedendo daqui, concedendo dali e todos saem ganhando. E acredito nisso pelo seguinte: 
1) Os produtores brasileiros já sentiram que o boicote acontecerá e que poderá quebrar de verdade muita gente além de desvalorizar os enormes investimentos dos grandes produtores. 
2) A possibilidade de um mandado judicial é muito grande e muito provável. O que deixaria os produtores nacionais sem nada na mão para negociar e com a imagem lá em baixo. 
3) Os importadores não querem de forma alguma um mercado limitado para baixo. Quem é que monta um negócio que não pode crescer e ainda terá que diminuir? 
Pois por mais absurdo que possa parecer, este cenário é possível neste governo, como os fatos estão mostrando. Os técnicos do MDIC deverão encaminhar suas decisões técnicas ao Ministro até o fim de julho quando o assunto então iria aos Ministros que participam da Camex (*) para avaliar e decidir. Só então haverá uma decisão”. 

(*) Camex – Câmara de Comércio Exterior, do Conselho de Governo, tem por objetivo a formulação, a adoção, a implementação e a coordenação de políticas e atividades relativas ao comércio exterior de bens e serviços, incluindo o turismo. O Conselho de Ministros é composto pelos seguintes Ministérios: do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que o preside; Chefe da Casa Civil da Presidência da República; das Relações Exteriores; da Fazenda; da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; do Planejamento, Orçamento e Gestão e do Desenvolvimento Agrário. 
Vinhos não comentados 
Algumas das dívidas mais antigas surgiram durante a nossa viagem pelos grandes vinhos do mundo. Tivemos que fazer algumas escolhas, quase sempre muito difíceis. Na França, como decidir entre Bordeaux e Bourgone? Ou por que não optar pelos vinhos do Rhone, os mais premiados pelo respeitado Robert Parker? Na Itália, escolhemos o Barolo, deixando de lado joias como o Brunello di Montalcino, o Barabresco, os espetaculares Super- Toscanos e mais uma quase interminável relação de grandes vinhos. 
Outra enrascada, um nó-górdio que nem a espada de Alexandre, o Grande, é capaz de dar jeito: continuamos obrigados a fazer escolhas… Sabedores que uma falha será inevitável, imaginamos uma saída criativa. Vamos escrever sobre as uvas viníferas, afinal, está será uma tarefa fácil, são cerca de 3500 variedades das quais, apenas, 1500 são usadas na produção de vinhos. Moleza! 
Começamos na próxima semana! Um dia terminamos (se não descobrirem mais algumas durante este longo tempo). Para ajudar, vamos fazer algumas simplificações, por exemplo, nada destas uvas que estão nas garrafas do dia a dia, já estão mais que conhecidas e não gastaremos nenhum tempo com elas. Buscaremos outros caminhos para ampliar nossos horizontes. Como um efeito colateral, apresentaremos mais alguns grandes vinhos. Preparem-se! 

Dica da Semana: o clima anda bom para vinhos encorpados e saborosos. 

Zorzal Malbec 2010 
País: Argentina / Gualtallary, Tupungato 
Vinícola: Zorzal 
Variedade: 100% Malbec 
Zorzal representa a intensidade, o romantismo e a paixão Argentina. Localizada em um dos vales de maior altitude da Argentina, os vinhos surpreendem pela tipicidade, estrutura e personalidade, características únicas de um terroir de mais de 1.300 metros acima do nível do mar. Cor rubi intenso, aroma de framboesa. Na boca é redondo e bem equilibrado. 
93 pts WS; 90 pts Descorchados 2012

Lidando com os Enochatos

Este é um fato quase inevitável: à medida que vamos aprofundando no mundo do vinho, esbarramos com um determinado tipo que se acha superior aos demais. Eles aparecem em qualquer lugar, nas degustações, nas festividades, na mesa vizinha no restaurante, são onipresentes. 
Para lidar corretamente com esta situação, precisamos conhecer a personalidade de um bicho destes. Em geral, são eles que se intrometem oferecendo um comentário que ninguém solicitou. Podemos ter certeza que frequentaram algum curso sobre vinhos e, a partir daí, acham que sabem mais que todo o mundo. Muitas vezes nos deixam em situações embaraçosas, por exemplo, ao comentar a qualidade de um vinho servido num evento, na frente de quem selecionou a bebida (ele nunca vai estar satisfeito com qualquer vinho que lhe sirvam) afirmando que outro vinho seria mais adequado. 
Se houvesse um manual de psicologia, esta atitude seria qualificada como uma autodefesa que esconde as suas deficiências enológicas. Simplificando, o enochato não entende de nada, mas gosta de cantar de galo. Isto não torna as coisas mais fáceis, mas podemos tomar algumas atitudes para conviver com o tipo. 

1ª – Nunca beba vinho com um Eno Chato. 
Este é o melhor conselho: evite-os. Nem sempre será possível e algumas vezes teremos que caminhar pelas raias da má educação, mas é preferível não desarrolhar uma garrafa na presença de um deles: pode ser um desastre. A saída ideal é adotar uma atitude sarcástica e afirmar, na lata: com você não bebo vinho, prefiro abrir uma cerveja. 
Além do consumo, devemos evitar conversas sociais sobre esta bebida, ao menor descuido, lá vem ele querendo ensinar padre a rezar missa. Haja paciência… 
Se for inevitável a sua companhia… 
2ª – Desafie-o: faça o teste da prova às cegas. 
Mesmo um grande conhecedor de vinhos vai ter muito trabalho para reconhecer a uva e a origem de um vinho provado no escuro. Baseado nisto, uma das maneiras de calar o nosso inconveniente companheiro é desafiá-lo para uma provinha. Mas não podemos facilitar as coisas, se ele acerta estamos perdidos… 
Um bom truque é usar um vinho de corte para o teste. Preferencialmente um fora do circuito mais conhecido. Um bom vinho português com aquelas uvas que só tem por lá é tiro e queda. 
A nosso favor está o fato que o personagem de hoje poderá ser facilmente desmascarado na frente de todos. 
Se nada disto resolver, seguimos com mais uma sugestão. 

3 ª – Bombardeie com muitas dúvidas. 
Todo enochato é insatisfeito com a vida e reclama das coisas mais bobas. Se prestarmos atenção, ele mesmo vai nos fornecer a munição adequada para enfrentá-lo. A lista de questões tem que ter duas características: 
1 – devem ser dirigidas à pessoa, jamais pergunte numa forma genérica ou impessoal; 
2 – usem sempre o modo negativo, por exemplo, por que você não gosta disto? 
Algumas sugestões que podem ser usadas livremente:
– Por que razão você não bebe vinho desta safra?
– O que você não aprecia nos vinhos (cite qualquer país)?
– Como é mesmo a sua explicação para não comprar vinhos de tampa de rosca? 
Só precisamos estar seguros de conhecer as respostas corretas e não abusar, neste caso, o feitiço pode virar contra o feiticeiro. A manobra é para obrigá-lo a contar o maior número de abobrinhas possível, ridicularizando-o. 
4ª – Chame-o à razão 
Como eles se acham os donos da verdade, nem sempre trazê-los à razão é uma tarefa fácil. Mas vale a pena tentar se os argumentos forem sólidos. Como o negócio deles é criticar, nunca se dão conta de um velho ditado que diz: cada coisa em seu lugar. Adaptando para o nosso relato, existe um vinho para cada situação. 
Um exemplo clássico é um evento, como num casamento, em que um vinho mediano é servido. Bem entendido que isto é o correto, mas eles sempre querem algo superior – criticar um vinho que custa vinte ou trinta reais não tem graça… Este é o momento de imprensar o seu chato favorito: O que você queria que servissem? Um Chateau Petrus? (ou outro vinho do mesmo nível). 
Quase sempre funciona, mas tem umas almas empedernidas! 

5ª – O Contra–ataque: mas com as suas regras. 
Esta jogada, se bem executada, é um xeque-mate. Vamos usar algumas expressões bem genéricas, de grande efeito, para confundi-lo. A trama é nos passarmos pelo expert acabando com a graça de sua encenação. Temos que nos antecipar ao que ele poderia criticar. 
Eis uma boa lista, mas antes uma recomendação: não abusem! Podemos ser chamados de enochatos também:
– Este vinho precisa respirar um pouco. (podemos usar em qualquer degustação de tintos)
– Está jovem demais, ganharia muito com mais alguns anos na garrafa! (idem)
– Aromas de pera e maçã. (ideal para Chardonnay)
– Muito maracujá e frutas cítricas. (Sauvignon Blanc)
– Querosene! (Riesiling Alemão ou Alsaciano)
– Toneladas de frutas vermelhas. (aplica-se a qualquer Pinot Noir)
– Muita/o: terra/trufa/azeitona/herbáceo/mineral. (para qualquer tinto do Velho Mundo)
– Taninos domados. (idem)
– Refrescante e com boa acidez – óbvio que não passou por madeira. (use com a maioria dos brancos jovens, precisamos ter certeza que não foram barricados)
– Amanteigado. (idem para brancos que passaram em madeira)
– Ótimo no nariz. (somente se realmente for aromático)
– Este vinho pede uma comida. (esta é clássica, uso universal) 
Se a situação chegou ao extremo, podemos apelar para esta saideira:
– Certamente você não leu a última Coluna de Vinhos do Tuty… 

Dica da Semana: para enochato nenhum botar defeito. 

Gayda Syrah 2009 

Produtor: Domaine Gayda País: 
França / Languedoc-Roussillon 
Vinhedos: Brugairolles (200m de altitude) e La Livinière (250m de altitude) 
Vinificação: Maceração a frio por uma semana. Fermentação natural com temperatura de 26-28°C. Maturação: 10% permanece em barricas de carvalho de 1, 2 e 3 anos por 9 meses. 90% permanecem em tanque com as borras. 
O saboroso Syrah do Domaine Gayda foi um dos únicos 9 vinhos franceses que mereceram a medalha de ouro no concurso Syrah du Monde, comprovando sua ótima relação qualidade/preço. Encorpado, com camadas de frutas negras e grande frescor, é uma bela descoberta para os amantes da casta Syrah.

Atendendo aos pedidos

Vários leitores, por e-mail, expressaram suas dúvidas sobre a coluna da semana passada. Como o tema é interessante, preparamos esta nova página em cima dos questionamentos. A pergunta mais recorrente foi: 
As garrafas de vinho poderiam indicar a qualidade, a idade ou a origem? 
Com relação à qualidade ou à idade, a resposta é pura e simplesmente um não. Com relação à origem, em certos casos, é perfeitamente possível saber de onde vem o vinho. Vamos elaborar um pouco mais estes pontos. 
Não há como saber, pelo menos para o consumidor final, qual a qualidade do conteúdo, usando apenas a garrafa como indicador. Talvez nos brancos, em cascos claros, seja possível avaliar se o vinho está passado (cor âmbar), e nada mais. Este é o grande trunfo dos falsificadores, ninguém quer arriscar desarrolhar uma garrafa e prová-la antes de colocar num leilão de vinhos antigos… 
Mas há indicadores confiáveis que podem ser usados para qualificar um produto como melhor que outro. O mais visível é o rótulo: procurem por material mais encorpado e impressão nítida. Outro ponto a ser considerado é a chamada cápsula que envolve o gargalo protegendo a rolha: os melhores vinhos usam estanho ou lacre de cera, os vinhos comuns, plástico. A garrafa, hoje, funciona mais como um apelo mercadológico: pode haver novos formatos e rótulos em impressão direta sobre o vidro; o peso, muitas vezes, é usado para passar a sensação de que este é um produto superior – garrafas de mesmo formato com pesos bem diferentes. Dentro, o mesmo vinho… 
Falando em rótulos, nem sempre foram de papel: 

Seguindo certos parâmetros, poderíamos avaliar se uma garrafa é antiga ou nova, mas nada do que vamos aprender, a seguir, vai estar no nosso dia a dia de apreciador de um bom vinho. Observem a próxima foto: 

Está seria uma garrafa de Chateau Lafite, safra de 1789 da adega do Presidente Thomas Jefferson. Era uma fraude, embora a garrafa fosse antiga. Reparem no formato, não é uma bordalesa com pediria o Lafite, se aproximando do formato da Borgonha. 
Um outro exemplo de garrafa nitidamente antiga (ou pelo menos mal cuidada): 

Quanto ao conteúdo… 
O terceiro ponto: se uma garrafa pode indicar a origem do vinho, a resposta é um possível sim, dentro de certos limites. Os formatos descritos na semana passada têm origem precisamente neste fato – os produtores buscavam uma identidade visual para seus produtos. Com a chegada dos vinhos do novo mundo, esta lógica sofreu uma alteração: os novos produtores gostariam que a identidade visual dos seus vinhos remetesse aos vinhos franceses. 
Resumindo: o que se pode esperar de um vinho, numa garrafa Bordalesa, é que ele tenha sido elaborado com uma ou mais castas originárias de lá: Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Cabernet Franc, Malbec e Carmenére. O mesmo raciocínio vale para as varietais da Borgonha e do Vale do Ródano (Rhone). Já estamos escutando a nova dúvida: Há exceções? Sim, muitas! 
Não precisamos ir muito longe, Itália, Portugal e Espanha. Quais a garrafas para os vinhos de Touriga Nacional, ou do Tempranillo ou ainda das inúmeras castas italianas? O melhor a fazer, neste caso, é interpretar por aproximação. Por exemplo: vinhos portugueses em garrafa bordalesa são vinificados, com as castas locais, à moda de Bordeaux. 
Podemos ir mais longe: há garrafas italianas que são quase exclusivas. Dois exemplos abaixo: 

A primeira é o clássico Chianti e a segunda o formato usado para os vinhos produzidos na região de Alba, um meio-termo entre os formatos de Bordeaux e Bourgone. 
Algum dos leitores sabe a razão do corpo em palha da 1ª garrafa acima? 

Uma única linha sobre cores: alguns vinhos, principalmente tintos, devem ser protegidos da luz, logo, as garrafas escuras. 
Por que 750 mililitros? 
Esta foi outra dúvida que tem múltiplas respostas; não há consenso entre os pesquisadores. Começamos com um pouco de história. As primeiras garrafas variavam desde 600 ml até 800 ml. Quem mais se preocupava com isto, naquela época, era a Inglaterra: direito do consumidor é coisa séria até hoje. Eventualmente eles teriam padronizado um volume de 1/5 de galão, medida básica do sistema vigente de então. Os norte-americanos copiariam a ideia, adaptando-a para o seu galão (US gallon), o que dava aproximadamente 757 ml, mais tarde arredondada para 750 ml pelo Canadá e EUA, no início da adoção do sistema métrico por estes países (1979). Mas isto não explica a escolha por este tamanho. Eis algumas possibilidades: 
1 – como as primeiras garrafas eram sopradas individualmente, esta medida era equivalente à capacidade pulmonar média dos sopradores; 
2 – o peso de uma garrafa deste volume se aproxima de 1,5 Kg o que é conveniente para o transporte; 
Esta última é a mais curiosa; 
3 – 1/5 de galão era considerado como uma quantidade aceitável para um adulto consumir numa refeição! 
Os Grandes Tamanhos 
Esta foi uma pergunta intrigante: como servir as garrafas de grandes tamanhos? 
A resposta é meio sem graça: como se serve uma garrafa padrão! (mesmo que seja necessária a ajuda de outra pessoa) 
Mas vale a pena levantar outras dúvidas, por exemplo, quando devemos usar tamanhos maiores? 
Se vamos servir durante um evento apenas o mesmo vinho, tinto ou branco, vale a pena usar garrafas Magnum em lugar de várias garrafas normais. A Magnum dupla é mais complicada e servirá melhor para fazer uma performance. Os produtores gostam de exibi-las, é um chamariz! 
Mas se o assunto for espumante, surge um novo problema para ser resolvido: como gelar uma garrafa como a Melquisedec com seus 1,5 metro e 40Kg ou mais? Sinceramente, não é para os pobres mortais. Mas nos grandes restaurantes do mundo, isto não parece ser um grande problema! 

Para futuras referências, uma coleção de diversos formatos: 

Da esquerda para a direita: Bordeaux, Bourgogne, Flauta, Champagne, D’Alba, Marsala, Porto, Húngara, Bocksbeutel (Francônia). 

Dica da Semana: para deixar todo mundo sem entender nada! 

Chianti DOCG 2009 
Produtor: Piccini 
País: Itália 
Região: Toscana 
Fermentação tradicional com controle de temperatura e um longo período de maceração. Maturação: Não passa por madeira. 
Este eterno Best Buy, para a Wine Enthusiast, mostra um bouquet cheio de frutas maduras. No palato é rico e macio, com um toque fresco que o deixa perfeito para acompanhar comida. 
Combinações: Carnes, queijos, massas, risotos e aperitivos. 

(Cadê a garrafa típica?) 

Agradeço a colaboração dos leitores: Sérgio Pirilo, Felipe Carruncho, Augusto Escobar e Giancarlo Marreti, esperando que suas dúvidas tenham sido esclarecidas.

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