Última etapa nesta viagem
Um pouco de história
Vamos voltar ao ano de 1659 quando o fundador da Cidade do Cabo, Jan van Riebeeck, produziu o primeiro vinho naquela região. A cidade ainda não existia, era apenas um entreposto da poderosa Companhia das Índias para reabastecimento de seus navios em busca das cobiçadas especiarias. O governador que o sucedeu, Simon van der Stel, demarcou, em 1685, a região de Constantia: seu projeto era produzir um vinho de qualidade. Em pouco tempo o Vin de Constance havia conquistado algum respeito nas mesas europeias. Após sua morte, a produção decaiu e só foi retomada a partir de 1778 quando um empresário, Hendrik Cloete, adquire as terras, recupera o vinhedo e inicia nova fase de produção conseguindo obter ótimos resultados com um vinho de sobremesa elaborado a partir das cultivares Muscat de Frontignan também conhecida como Muscat Blanc à Petits Grains, Pontac, Muscadel branca e tinta e Chenin Blanc. A reputação deste vinho foi uma influência positiva na produção sul africana.
A indústria vinícola prosperou até 1860. A partir desta data, por força de alguns acordos comerciais, a produção começou a diminuir. Em 1866 enfrentaram uma epidemia de Filoxera que devastou os vinhedos. Um desastre que levaria mais de 20 anos para ser superado. Somente em 1900 a plantação de vinhedos retomaria sua força. A política da segregação racial (apartheid) fez com a produção de vinhos ficasse escondida por muito tempo: os produtos eram boicotados, mesmo sabendo que não havia restrições para trabalhadores negros neste segmento. Este quadro durou até meados dos anos 90. Com o fim da política segregacionista, a África do Sul entrou no período de renascença. A produção hoje gira em torno de 800 milhões de litros e 3500 produtores. As principais castas plantadas são (% sobre a área total plantada aprox.. 94.000 Ha):
Chenin Blanc – 18%
Chardonay – 8%
Sauvignon Blanc – 10%
Cabernet Sauvignon – 12%
Merlot – 6% Pinotage – 6%
Shiraz – 10%
Regiões Vinícolas
A ilustração ao lado nos dá uma bela ideia da distribuição dos vinhedos. Cada área tem suas características climáticas e de solo, produzindo vinhos com tipicidades bem diversas. Existe uma interessante condição geográfica produzida pelo cabo: a separação de dois oceanos, Atlântico e Índico. Cada um vai provocar pequenas alterações climáticas que podem ser percebidas no produto final.
Existe uma legislação que classifica os vinhos por sua origem, a WO (Wines of Origin), elaborada em 1973. Esta classificação deve aparecer nos rótulos dos vinhos, indicando desde a posição geografia até a sub-região do vinhedo.
A maior parte da produção de vinhos finos está concentrada em 3 regiões: Constantia (Cape Town), Stellenbosch e Paarl. As regiões mais recentes como Klein Karoo, Olifants River e Robertson vêm se destacando e chamando a atenção dos consumidores mais críticos.
A região de Constantia ficou famosa por seu Vin de Constantia, produzido desde os tempos imemoriais. Ainda é respeitadíssimo, numa recente degustação o Klein Constantia safra 2006 recebeu 93 pontos da Wine Spectator.
Paarl foi durante todo o século 20 o centro nervoso da produção vinícola. As sub-regiões de Franschhoek Valley e Wellington ainda se destacam. Mas o foco foi gradualmente mudando para Stellenbosch principalmente por ser a sede de uma Universidade dedicada ao estudo da vinicultura e vinificação. Hoje responde por 14% da produção total do país. Os vinhos mais famosos tem origem nesta região que conta com uma diversidade de cepas, Cabernet, Merlot, Shiraz, Pinotage e a branca Chenin, de fazer inveja a muitos países produtores.
Um dos seus principais vinhos é o Rust en Vrede Shiraz, de vinhedo único. O nome que significa Descanse em Paz, indica a vinícola fundada há mais de 300 anos, embora nem sempre tenha produzido neste período. Nos últimos 30 anos, tornou-se muito produtiva e regular trazendo vinhos formidáveis elaborados com Cabernet, Merlot e Shiraz. Seus rótulos foram servidos no jantar de comemoração ao Premio Nobel da Paz recebido por Nelson Mandela bem como no almoço oferecido à Rainha da Dinamarca celebrando este feito.
O premiado Shiraz É um vinho que se orgulha de ser o melhor representante do terroir de Stellenbosch. Sua vinificação é feita em fermentadores abertos com pelo menos 5 remontas manuais por dia.
O processo fermentativo dura 7 dias, seguido de 10 dias de maceração. A fermentação malolática é feita parcialmente em tanques de aço inox e em barris de carvalho. Amadurece por 18 meses em barricas 100% novas, na proporção 75% de origem americana e 25% francesa (safra 2009). Depois de engarrafado aguarda alguns meses antes de ser comercializado.
Notas de Degustação safra 2009, uma das melhores do país até hoje:
Coloração – Grená profundo;
Aromas – no primeiro ataque percebem-se Jasmim e doces à base de leite. Esta impressão inicial passa rapidamente para frutas negras, saborosas e suculentas;
Palato – sabores de ameixa e cereja perfeitamente integrados com os taninos, passando uma deliciosa sensação aveludada no final.
Harmoniza com carnes grelhadas, assados e cordeiro.
Um show de vinho, imperdível!
Mas não é barato, sendo vendido no Brasil na faixa dos R$ 300,00, pena… (e ainda querem salvaguardas) (dados de 2012)
Dica da Semana: Para não ficarmos só nos tintos de lá, há um bom branco que é uma pechincha.
Pearly Bay Cape White
Região – Paarl – Suider
Vinícola – KMV (a maior cooperativa da RSA)
Vinho de cor amarelo palha claro brilhante, com aromas vivos de verão, flores brancas e feno. Na boca é delicado e refrescante, ideal como aperitivo ou para acompanhar saladas. Perfeita harmonização para fondues. (tampa de rosca)