Embora a expressão agradar a Gregos e Troianos seja bem conhecida, não é tarefa fácil. Deveria ser precedida de “não se pode”…. Transportando esta mitologia para o real mundo dos vinhos, a nossa tarefa se torna hercúlea. Selecionar este terceiro vinho icônico chileno foi muito difícil. São tantos produtos de 1ª grandeza por lá que é fácil fazer uma grande injustiça, isto sem levar em conta o número de especialistas que foram consultados. Afinal, gosto é pessoal.
Conheçam a Lapostole
Esta é uma vinícola jovem, inaugurada em 1994 pelo casal francês, Alexandra Marnier Lapostolle e Cyril de Bournet. O sobrenome Marnier tem enorme tradição no ramo de bebidas, o famoso licor Grand Marnier é seu o carro chefe. Mas atuam na vinicultura dirigindo o Chateau de Sancerre no Vale do Loire.
Começaram com uma arquitetura espetacular, 370 hectares de vinhedos em 3 áreas, o que há de melhor em tecnologia e a consultoria de Michel Rolland. O objetivo era um só: produzir um vinho de caráter europeu nos excelentes terroirs do Chile. Está localizada na área de Apalta, Vale de Colchagua, próximo à cidade de Cunaco, a região mais valorizada para vinhos no país.
Dentre os diversos rótulos produzidos, destaca-se o Clos Apalta, um inacreditável corte de 78% Carménère, 19% Cabernet Sauvignon e 3% Petit Verdot (safra 2009), que tem recebido altas pontuações dos grandes críticos. Sua produção é artesanal. Para preservar todo o potencial da fruta, as uvas são colhidas à noite e colocadas em caixas de 14 Kg no máximo. Na vinícola, são selecionadas e desengaçadas manualmente, mantendo o alto padrão de qualidade. Os pequenos tanques de fermentação, de carvalho francês, são preenchidos por gravidade. Não há pressa. Pacientemente se espera que os agentes naturais façam o seu trabalho transformando o mosto em vinho. Nada de químicas alienígenas aqui. A temperatura é mantida em 28° e a maceração dura entre 4 a 5 semanas, com remontas manuais para se extrair o máximo das cascas e sementes obtendo estrutura e concentração no produto final. O amadurecimento é feito por 24 meses em barris novos e não há filtragem antes de engarrafar.
Um colosso de vinho, apaixonante! Sua produção é minúscula e somente é vinificado em anos excepcionais.
Mas não é um vinho fácil. Para apreciá-lo corretamente é preciso entendê-lo e ter um paladar bem apurado. Com um potencial de guarda em torno de 10 anos, temos que esperar que ele fique pronto, não deve ser consumido jovem. Como na foto, decantá-lo é fundamental.
Notas de degustação (safra 2009)
Coloração escura entre o roxo e o vermelho. No olfato, apesar de jovem, já demonstra muita fruta vermelha madura, ameixas e cerejas, além de notas de figo seco e moca. Percebe-se facilmente, aromas de baunilha e cravo da índia no final.
No palato, é um vinho muito estruturado, com um ataque de boca compacto e sedoso. Taninos domados e um surpreendente e longo retrogosto (não falei que era um vinho para os especialistas?).
Harmonização: carnes do tipo contra-filé, ovinos e carne de caça. Ótima combinação com sobremesas ricas em chocolate amargo.
Um único fator contra: é um vinho muito caro! (e muito falsificado…).
Críticas recentes:
Wine Spectator: 93 pontos (safra 08)
Wine Enthusiast: 95 pontos (safra 08)
Wine Spectator: 94 pontos (safra 06)
Wine Spectator: 96 pontos (safra 05)
Cometemos alguma injustiça?
São tantos vinhos maravilhosos no Chile que fica difícil dizer que não. Esta escolha foi baseada em análises de vários profissionais da área. Mas o universo de vinhos deste país é imenso, sem falar nas diversas vinícolas-boutique que produzem vinhos fora de série em pequenas quantidades e, portanto, desconhecidos. Dois outros grandes produtores merecem ser citados:
– Emiliana Vinhedos Orgânicos – outra associação da poderosa Concha y Toro, que produz o fabuloso Coyan;
– Viña Montes – do internacionalmente respeitado vinhateiro Aurélio Montes que, entre várias delícias, produz o Purple Angel, um dos vinhos mais celebrados da atualidade.
Sem dúvida o Chile merece uma nova visita.
Dica da Semana: mais um bom chileno da mesma região do Clos Apalta.
Montes Selección Limitada Cabernet/Carmenère 2010
País: Chile / Apalta
Produtor: Viña Montes
Uva: Cabernet Sauvignon e Carménère
Um sucesso constante. Envelhecido em barricas de carvalho americano, que conferem ao vinho um delicioso toque de baunilha. Segundo a revista Wine Spectator, é difícil não gostar deste vinho. Harmoniza com carnes grelhadas, cortes de ovinos e de caça.
Robert Parker: 90 pontos (safra 09)
Na próxima semana cruzaremos os Andes!