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Estamos na Itália – Terra do Rei dos Vinhos!

A bota é uma região vinícola surpreendente, com uma diversidade de castas que equivale à de Portugal e uma quantidade de diferentes terroirs equiparável a dos franceses. Algumas das uvas italianas só vinificam bem em solo natal, mesmo tendo sido plantadas nos quatro cantos do mundo. Apaixonados por tudo que fazem, os seus vinhos refletem esta intensidade. Cada pequena cidade tem sua uva e vinho característicos e, haja discussão para saber qual é o melhor. 

Talvez o vinho típico mais conhecido seja o Chianti, obtido com a Sangiovese, aquele da garrafa embrulhada em palha. Produto da Toscana que teve a infelicidade de ser (mal) copiado por produtores inescrupulosos. Chegou a ser considerado um vinho de segunda para desespero dos apreciadores. Após alguns ajustes na condescendente legislação local, existem, hoje, dois tipos de Chianti: o clássico e o DOCG. Apesar da evidente melhora na qualidade, houve uma descaracterização. 
O Brunello de Montalcino, toscano como o anterior, é obtido através da vinificação de um clone da Sangiovese, chamado Grosso ou Brunello. É um dos vinhos mais caros da Itália, por isto mesmo, copiado e falsificado. Com o intuito de aumentar a competitividade no mercado mundial, produtores oportunistas incluíram outras uvas, não italianas, como a Merlot e a Cabernet na sua elaboração. Um escândalo nacional! O Ministro da Agricultura perdeu seu cargo por não ter exercido os controles com a devida autoridade. O vinho adulterado foi rebaixado e rotulado como Rosso de Montalcino. Resultado prático: ficou difícil confiar nos vinhos que estão à venda. 

Uva Nebbiolo 

A grande cepa nacional, Nebbiolo, da região do Piemonte, é tão temperamental e difícil de vinificar quanto a Pinot da Borgonha. Dois fabulosos vinhos são produzidos a partir dela. O mais famoso é conhecido como Rei dos Vinhos há, pelo menos, 200 anos, epíteto cunhado por um francês que foi contratado para vinifica-lo: O Barolo. 
Até o início do século XIX, o vinho produzido na região de Barolo era uma bebida doce ou, na versão mais seca, um vinho amargo e tânico. Coube à Marquesa Giuletta Falletti convidar o enólogo francês Louis Oudart para mudar este quadro. Em pouco tempo estava vinificando uma das maravilhas do mundo dos vinhos. Seu grande divulgador foi o Conde Cavour que o apresentou a realeza. Rapidamente os demais vinicultores do Piemonte copiaram o modelo de Oudart. Nascia a lenda. 

Castelo de Barolo 

Pelo método tradicional, utilizado até hoje, as uvas são colhidas prematuramente, seguida de uma longa fase de maceração e fermentação. O vinho é envelhecido por um longo período, acima de três anos, em grandes dornas de carvalho esloveno. Uma vez engarrafado, é necessário esperar mais alguns anos para domar a acidez e o tanino. O resultado final é surpreendente, com aromas de rosas, notas de alcatrão e sabores inebriantes. 

A Guerra dos Barolos 
Com a expansão dos vinhos feitos no Novo Mundo, este e outros monstros tradicionais da vinicultura europeia, rapidamente perceberam que teriam que se atualizar: esperar mais de cinco anos para colocar um vinho no mercado, mesmo que fosse um produto inigualável, começava a deixar de ser um bom negócio. 

Alguns renomados produtores do Barolo modernizaram técnicas e métodos, adotando o modelo que fazia sucesso: tanques de Inox com temperatura controlada, uvas colhidas no ponto ideal, menor rendimento nos vinhedos, maceração a quente, fermentadores rotativos, enfim, tudo que a moderna tecnologia pode oferecer. O produto final foi, novamente, um vinho maravilhoso. Mas gerou uma verdadeira guerra, de um lado, os tradicionalistas, de outro os modernistas. 

Não há vencedores ou derrotados, talvez, o orgulho ferido de um vinhateiro mais arraigado às tradições. Ganham os consumidores. 
Principais Produtores 
Copiando a vida real onde há tantos títulos da nobreza italiana à disposição de quem se dispuser a pagar por eles, há uma infinidade de Reis do Barolo. Vamos apenas citar alguns. 
Os nomes mais respeitados entre os tradicionalistas são: Giuseppe Rinaldi, Giuseppe Mascarello, Giovanni Conterno, Paolo Conterno, Cavallotto, Bruno Giacosa, Luigi Pira e Vietti. 
Os modernistas são: Scavino, Ceretto, Sandrone, Domenico Clerico, E. Pira, Parusso, Silvio Grasso e Pio Cesare. 
Dois produtores fazem uma fusão destas escolas: Roberto Voerzio e Elio Altare. 
O outro vinho, famoso, produzido com a Nebbiolo é o Barbaresco, que tem como expoente o produtor Angelo Gaja, o nome mais conhecido do moderno vinho italiano. Sua versão do Barolo é o Sperss. Mas esta é outra história… 

Vinhos de Angelo Gaja 

Dica da Semana: Não existem Barolos ou Barbarescos com preços acessíveis aos pobres mortais. Procuramos um vinho de um ótimo produtor, Batasiolo, vinificado com a uva Nebbiolo. 

Batasiolo Langhe Nebbiolo 
Da uva cultivada nos vinhedos da prestigiosa zona de Langhe, obtém-se um vinho tinto grená de sabor pleno e harmonioso. O perfume é intenso e delicado, com traços de fruta madura que muda para um agradável traço de especiarias se o vinho for envelhecido. 
Harmonização: Rondelle de ricota e espinafre com molho ao sugo.

Chegamos à França!

Temos de enfrentar o doce dilema de escolher um ícone. Com tantos vinhos importantes, o que fazer? Poderíamos escolher um Champanhe, perfeito para as grandes comemorações. Mas qual? As famosas Moet & Chandon ou a Veuve Clicquot? A celebrada Cristal? Quem sabe a Bollinger, preferida por James Bond? Nos tintos, teríamos que pinçar um dos muitos Chateauxs Bordaleses, aumentando a dificuldade: Haut-Brion, Margaux, La Tour, Angélus, Petrus etc, alguns muito pouco conhecidos, mas simplesmente maravilhosos. Há, ainda, as regiões do Rhone, da Provence e Alsácia, nos deixando uma tarefa inglória… 
Um vinho, entretanto, tornou-se muito significativo, para os brasileiros, ao ser usado em uma grande festividade. Tornou-se um ícone, neste país. Vamos escolhê-lo, não só por esta razão, mas por ser um grande vinho, raro, de difícil produção e com preços exorbitantes, o que limita o seu acesso às camadas mais altas da sociedade. Um vinho para quem é um apreciador mais que apaixonado, um vinho para poucos, o mais cobiçado do mundo. 
Da Borgonha, apresentamos o Domaine de La Romanée-Conti. 

Um pouco da história 
Para entendermos 11 séculos de existência, 9 proprietários e uma fama que não tem preço, convém dar a conhecer, primeiro, um importante detalhe da legislação francesa: a classificação é dada ao vinhedo, ou Cru, particípio passado do verbo croître, traduzido como cultivar. Dependendo da região vinícola, há pequenas particularidades nesta classificação. Na Borgonha temos: Grand Cru; Premier Cru; Village. 
O que vale é o terreno, o terroir. Dentro da Borgonha, os mais valorizados estão na região de Vosne-Romanée, onde nasce o vinho desta semana. A saga, de quase 1500 anos, começa em 1232, quando a Abadia de Saint Vivant, em Vosne, adquire 1,8 hectares de vinhedos. Em 1631, as terras são vendidas aos Croonembourg, que passam a denominá-las La Romanée, aparentemente em homenagem a soldados romanos que por ali haviam passado. Na mesma ocasião, a família compra uma área adjacente, conhecida como La Tâche, outro vinhedo famoso atualmente. 

O ano chave seria 1760, quando os proprietários resolvem vender a área, num disputado leilão, do qual participaram Madame de Pompadour e seu arqui-inimigo Louis François de Bourbon, Príncipe de Conti, que saiu vencedor. Surgia assim o Domínio Romanée-Conti. Anos depois, durante a revolução francesa, Sua Alteza foi encarcerado, suas terras expropriadas e, novamente, leiloadas. Somente em 1869, após sucessivas trocas de mão, começa a se formar o Domínio tal qual é hoje conhecido. Foram acrescentadas novas áreas, todas Grand Cru, até que em 1936, em consequência de outras disputas, o vinhedo de La Tâche volta a ser incorporado, criando-se o atual monopólio de Grand Crus. A família Villaine é a atual proprietária. 
O Romané-Conti, ou DRC, foi produzido até 1945, quando a praga da Filoxera dizimou as vinhas, obrigando o replante através de enxertos, ocorrido em 1947. Uma nova vinificação só ocorreria em 1952. Há, portanto, duas fases bem distintas na história deste vinho. 
Notas de Degustação safra 2008 
(gentileza do nosso correspondente na Bourgogne, Monsieur Tareco) 
O DRC é 100% Pinot Noir, uma uva temperamental e famosa por sua dificuldade em ser bem vinificada, a grande especialidade Bordalesa. São produzidas, em média, 450 caixas por safra, o que torna este vinho um dos mais raros. Todos os vinhedos do monopólio são conduzidos de forma orgânica e biodinâmica. No trabalho de campo são empregados cavalos ao invés de tratores. 
O vinho é fermentado com os engaços, o que é incomum naquela região. O amadurecimento, por um período entre 16 a 20 meses, é em barris novos de carvalho, provenientes de uma parcela própria na floresta de Troncais. Não se usa bombeamento; todas as operações de trasfega, assemblage ou engarrafamento são feitas por gravidade. O vinho não é filtrado, e caso seja necessário clarificá-lo, apenas clara de ovo é utilizada. 

De coloração rubi, mostra aroma de frutas vermelhas, flores jovens, um pouco de mentol e notas de molho de soja. O corpo é médio, característica desta varietal, com um soberbo equilíbrio entre acidez e taninos; boa textura e um final de boca longo e radiante. 
Um monstro de vinho! 
Segundo o respeitado crítico internacional Clive Coates: “o mais raro, o mais caro e, frequentemente, o melhor vinho do mundo (…) o mais puro, o mais aristocrático e o mais intenso exemplo de Pinot Noir que se possa imaginar. Não é apenas um néctar, mas uma referência para se julgar todos os outros vinhos da Borgonha”. 
O DRC tem vários irmãos, como o La Tache, em determinadas safras considerado superior, além do Échézeaux, o Richebourg e o St-Vivant. 

Pertencente também ao mesmo grupo, a denominação Montrachet (pronuncia-se monrrachê) é nada mais, nada menos, que o melhor branco da França!… 

Dica da Semana: Um vinho um pouco mais caro, mas um excelente Pinot da Borgonha, que não fará feio acompanhando um bom arroz de pato. 

Bourgogne rouge 2008 
Produtor: Joseph Drouhin 
País: França / Bourgogne 
Casta: 100% Pinot Noir 
Este borgonha é produzido por Joseph Drouhin, um dos mais antigos e respeitados produtores da região. Um vinho concentrado e cheio de fruta madura. Na boca é amplo e sedoso. Harmoniza com pato, caça ou mesmo alguns peixes mais gordurosos como atum.

Um ícone espanhol

Continuamos na Península Ibérica. Pelas águas do Rio Douro, atravessamos a fronteira e chegamos à região espanhola de Ribeira del Duero, terra de um dos mais fantásticos vinhos do mundo. Tudo começou quando mercadores fenícios vinificaram, na região da Andaluzia, a mesma do Jerez, entre 1100 a 500 AC. Os gregos vieram depois, com seus animais e suas vinhas. Os romanos, em 200 AC, transformaram a agricultura familiar em indústria, para suprir suas legiões e a própria Roma. Com a chegada dos Mouros, em 711 a produção seria interrompida. Somente a partir do século XIV a vinificação ganharia novo impulso. Atualmente, a Espanha ocupa uma insofismável posição de destaque no cenário vinícola. 

A região de Ribeira del Duero incorpora-se a este mercado em 1850, época em que os métodos bordaleses são introduzidos. Em 1864, Don Eloy Lecanda funda sua bodega com o objetivo de produzir vinhos que se equiparassem aos de Bordeaux. Plantou 18.000 mudas de videiras dos tipos Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec e Pinot Noir, castas até então desconhecidas no território espanhol. 

O reconhecimento viria em 1915, graças a Domingo Garramiola, o Txomin, que se encarregou de produzir a primeira safra do fantástico

Vega Sicilia Unico, um dos 10 melhores vinhos do mundo. 

A bodega de Lecanda fora adquirida pela família Herrea que, por sua vez, a alugou a Cosme Palacio, que contratou Txomin. Trabalhando duro, sua primeira providência foi limpar a área e adotar técnicas higiênicas. Ele trocou todos os barris, ou dornas de envelhecimento, por madeiras de carvalho francês. Adotando, estritamente, as técnicas de Bordeaux, nasceria um vinho lendário. Os proprietários não o vendiam, distribuindo as garrafas entre membros da alta sociedade e pessoas amigas, forjando o mito que tal vinho não poderia ser pago com dinheiro, somente com estima. Um vinho único, exclusivo. 
A Evolução do Vega Sicilia 
No início de sua produção, o Único ficava guardado em tonel carvalho por 10 anos, sendo engarrafado a pedidos. Isto dava ao vinho uma madeira exagerada, mas com muita fruta e perfume. Em 1966, o enólogo Mariano Garcia introduz técnicas mais recentes, reduzindo a madeira sem perda de outras qualidades. A Vega Sicilia foi comprada por David Alvarez, em 1982, que promove uma grande modernização, aos moldes do que fez Txomin, no início do século XX. O Veja Sicilia Único não é mais um vinho pesado e amadeirado, embora mantenha uma bela estrutura, harmonioso, com muita fruta escura, grande potência e capacidade de guarda. A tradição se mantém, a ponto de não se fazer sequer a colheita quando a safra não é boa. 

Notas de Degustação – safra de 1999 
Um corte de 80% Tempranillo e 20% Cabernet Sauvignon, envelhecido por 2 anos, em grandes dornas de carvalho, seguido de 16 meses em barris menores, novos, de carvalhos franceses e americanos. Depois, mais 3 anos em uma mistura de diferentes tonéis e, por fim, mais duas rodadas de 3 anos, em barris usados e de volta às grandes dornas. 
É um vinho homogêneo e escuro. Aromas muito complexos e perceptíveis notas de couro, adstringência como a das frutas vermelhas, carnes de caça e a doçura de chocolate e cerejas negras. Na boca é muito elegante, com alguma fruta, inicialmente, complementado por excelentes taninos e corpo que crescem no paladar. Perfeitamente balanceado e integrado. 
Desde sua primeira safra o Único é acompanhado por irmãos menores. Por exemplo, o Valbuena, quase tão famoso e, muitas vezes, confundido; o Vega Sicilia Gran Reserva, produzido somente em anos especiais, e o Reserva, que não é safrado. 

Dica da Semana: um espanhol da região de La Mancha que, como D. Quixote, luta por seus ideais. 

Manon Roble Tempranillo 2008 
Produtor: Bodegas Mano a Mano 
País: Espanha / Região: La Mancha 
Casta: Tempranillo 
Apontado por Robert Parker como uma das melhores compras do mundo do vinho, este cativante tempranillo é maturado 7 meses em barricas de carvalho. Macio e cheio de fruto, dotado de certa elegância, é uma magnífica escolha para ter sempre em casa.

Grandes vinhos do Mundo – uma série interminável…

Fechamos um ciclo no Boletim. As colunas iniciais tiveram um objetivo: apresentar uma parte do universo dos vinhos. Fomos bem longe, entrando até na seara dos destilados. A partir desta semana, vamos apresentar os vinhos icônicos, aqueles que todos sonham em provar um dia. Escolhemos um vinho Português, para começar. 
Portugal já foi o principal exportador de vinhos para o Brasil, lugar ocupado por Chile e Argentina, atualmente. Mas ainda está firme no mercado, lutando, com qualidade, para retornar ao topo do pódio. Dois fatores contribuíram para ofuscar o brilho dos produtos lusitanos: o preço e a qualidade. 
Infelizmente, a busca por um lucro fácil provocou uma enxurrada de vinhos de baixíssima qualidade em nosso mercado, a preços nem sempre convidativos. Mesmo lá na terrinha as coisas não estavam indo bem. Mais preocupados com a quantidade, os produtores não se atualizaram, insistindo em técnicas artesanais e obsoletas enquanto outros países modernizaram vinhedos e vinícolas. 
Portugal é um país com ampla diversidade de uvas, vinhos e regiões produtoras. Há desde os deliciosos Vinhos Verdes até vinhos sérios e encorpados como os das regiões do Douro, Dão e Alentejo. 

A modernização dos vinhos portugueses é recente. Somente a partir da entrada do país na comunidade europeia foi quando grandes investidores aportaram capitais nas principais vinícolas, introduzindo técnicas atuais de manejo do vinhedo, equipamentos de aço inoxidável e controle de temperatura na vinificação. Mas alguns pioneiros já haviam trilhado por estes caminhos. Fernando Nicolau de Almeida, vinicultor da Casa Ferreirinha, uma das mais importantes empresas do Douro, foi um deles. 

O Douro era famosos pelos vinhos do Porto, mas seus tintos, não fortificados, nunca se destacaram. Fernando visitou a região de Bordeaux, em 1940. Voltou encantado com que viu, decidindo produzir um vinho que se equiparasse aos bordaleses. Nascia uma das glórias do vinho português: o mítico Barca-Velha, um excepcional corte das uvas Tinta Roriz, Touriga Nacional e Touriga Franca. 

A primeira safra desta maravilha surgiu em 1952 (só foi comercializado 8 anos depois). Foram selecionados os vinhedos, todos de pequeno porte e localizados na parte mais alta das encostas. Na vindímia, só as melhores uvas eram aproveitadas. A temperatura de fermentação foi controlada com gelo trazido da cidade do Porto, que dista 100 Km. Foi envelhecido em barricas novas de carvalho francês, durante 12 a 18 meses, seguido de um período em garrafa. A ideia era colocar o vinho, no mercado, pronto para o consumo. 
A busca, quase obsessiva, pela qualidade gerou bons dividendos. Só foram comercializadas poucas safras até hoje (15 ou 16): se o vinho não estivesse de acordo com a prova do enólogo, recebia o rótulo de Reserva Especial Ferreirinha e não o de Barca Velha. 
Notas de Degustação do Barca-Velha 1999 
Sabores concentrados de frutas negras e grande frescor. Nos aromas nota-se cedro e baunilha, com toques florais e achocolatados. Um vinho encorpado, vigoroso e de grande elegância. Degustar um Barca Velha exige uma preparação cuidada de acordo com a exigência do momento. Deve ser saboreado com calma, acompanhado por pratos mais cuidados de carne, caça ou mesmo alguns queijos, com sabores requintados e bem integrados. Recomenda-se que seja servido à temperatura de 17º-18º. 
O Barca-Velha moderno 
No início dos anos 90, a casa Ferreirinha foi vendida para o grupo português Sogrape. Apesar de algumas mudanças óbvias, o vinho continua sendo produzido e ainda é muito respeitado. O principal vinhedo que fornecia as uvas para o Barca permaneceu com os descendentes da fundadora, D. Antônia Ferreira. Em 1998, decidiram produzir o seu próprio vinho, com as mesmas uvas, empregando as mais modernas técnicas de vinificação. Este vinho é o Quinta do Vale Meão ou, como preferem alguns, o Barca Nova, sem dúvida o mais espetacular vinho português do momento. 
Para os leitores aventureiros, há garrafas de Barca Velha à venda no Brasil. Procurem em boas e confiáveis lojas de vinho e prefiram as safras mais recentes 1999 ou 2000. O custo é acima de R$ 1.000,00 por garrafa. 

Dica da Semana: um bom português vindo da região do Douro, com as mesmas castas do Barca e com preços mais em conta: 

Cadão Douro Reserva 2005 
Produtor: Quinta do Cadão 
Uvas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca 
De cor granada intensa, tem sabores macios, volumosos e delicados. Nos aromas mostra boa evolução. Harmoniza com carnes de caça, queijos e defumados. 

Mudando o Foco: Derivados do Vinho – Final

O tópico de hoje nem poderia ser chamado de aguardentes vínicas, seria um desrespeito a tão nobres e importantes bebidas. São tão sofisticadas e antigas que quase ninguém mais lembra que só existem por que o vinho existe. Vamos mergulhar no interessante mundo do Cognac, do Armagnac e do Brandy de Jerez. 
O Cognac (conhaque) 
Antes de qualquer outro esclarecimento, o texto a seguir não se refere, definitivamente, à bebida homônima, popular, servida nos botequins da esquina, inclusive uma vinda do alcatrão… 

O verdadeiro conhaque só é produzido na França e está protegido por uma série de leis que regulam sua produção, denominação e até as uvas que podem ser empregadas. Cognac é o nome de uma cidade francesa, na região vinícola de Charente e Charente-Maritime, onde a bebida se originou. Deve ser produzida a partir de uma vinificação especial, muito seca, ácida e com pouco corpo (não se pode beber este vinho), obtida pela fermentação das uvas brancas: Ugni ou Trebbiano, Folle e Colombard. 
Este líquido é destilado duas vezes, em alambiques de cobre e envelhecido, por pelo menos 2 anos, em barris de carvalho, antes de ser comercializado. Só podem ser usadas as barricas que foram produzidas com madeira das florestas de Tronçais ou de Limousin. 

Destilador de Conhaque 

Classificação 
V.S. (very special) ou *** (3 estrelas) – indica uma mistura de diferentes destilações na qual a mais nova foi amadurecida por 2 anos, no mínimo, em barril de carvalho. 
V.S.O.P. (very superior old pale) – indica uma mistura de diferentes destilações na qual a mais nova foi amadurecida por 4 anos, no mínimo, em barril de carvalho, mas a idade média, dos barris, é muito mais velha.
X.O. (extra old) – indica uma mistura de diferentes destilações na qual a mais nova foi amadurecida por 6 anos, no mínimo, em barril de carvalho. Tradicionalmente, esta classe envelhece por mais de 20 anos. A partir de 2016 o tempo mínimo de amadurecimento para a destilação mais jovem da mistura, passará para 10 anos. 

Evolução da cor do conhaque 

O Armagnac (Armanhaque) 

Muitas vezes confundido com o conhaque, também herdou seu nome da região onde é produzido, na Gasconha, sudoeste da França. É obtido a partir de um vinho fermentado com as uvas Ugni, Colombard, Folle e Baco22A e destilado, uma única vez, numa coluna de destilação, seguido de longos períodos de envelhecimento. 

Coluna de destilação 

Foi o primeiro destilado a ser produzido na França, inicialmente com fins medicinais. Até hoje, acredita-se nas suas propriedades médicas que auxiliariam no tratamento da obesidade e das doenças cardíacas: a região do Armagnac tem o menor índice do mundo. (beber com moderação) Classificação 
São classificados da mesma forma que os conhaques: V.S; V.S.O.P; X.O. A estas, se acrescenta mais uma categoria: 
Hors d’âge – indica que a destilação mais jovem da mistura é envelhecida por 10 anos, no mínimo. 
O Sherry Brandy (Aguardente de Jerez) 

Quase todo produtor de Jerez faz um brandy. A curiosidade fica por conta da origem dos vinhos, que não são os mesmos utilizados para o Jerez – não se destila um Jerez. Basicamente, vem de diversas áreas da Espanha, e a uva mais comum é a Airen. Recebe o nome por ser produzido nas regiões de Jerez de La Frontera, Sanlúcar de Barrameda ou El Puerto de Santa Maria. Sua origem remonta ao período dominado pelos Mouros. Como não podiam beber o vinho ali produzido, por motivos religiosos, passaram a destilá-lo para obter álcool com fins medicinais ou para perfumaria. A história não registra quando resolveram envelhecê-lo em barris de carvalho, nascendo esta famosa bebida. 
As regras de produção são simples: 
– podem ser utilizados alambiques ou colunas de destilação, todos de cobre (destilação simples); 
– devem ser produzidos na região demarcada; 
– serão envelhecidos em barris de carvalho americano, de 500 litros, previamente usadas para o Jerez; 
– é obrigatório o uso de Soleras e Criaderas. 
Classificação: 
Brandy de Jerez Solera– é o mais jovem e frutado. 1 ano de envelhecimento e no mínimo 150mg de matéria volátil por 100 cc de álcool; 
Brandy de Jerez Solera Reserva – 3 anos de amadurecimento e 200mg de matéria volátil por 100cc de álcool; 
Brandy de Jerez Solera Gran Reserva – 10 anos de envelhecimento e 250mg de matéria volátil por 100cc de álcool; 
O Ícone 

Este é o Touro de Osborne, figura criada para promover o Sherry Brandy deste produtor. Tornou-se tão popular que hoje é adotado como um símbolo, informal, da Espanha. A bandeira com o touro é comum em estádios de futebol e outra competições esportivas. 
Serviço 
Estas são bebidas de inverno ou dias muito frios. São servidas em um copo baixo e bojudo e, na maioria das vezes, ligeiramente aquecida.

Podemos empregar um dispositivo como o da foto ou simplesmente segurar a taça com as duas mãos, por alguns minutos. 

Dica da semana: As bebidas desta categoria são extremamente caras. Algumas são vendidas em garrafas de cristal, verdadeiras obras de arte. Depois de extensas pesquisas, indicamos este produto: 

Brandy Fabuloso – Solera 
Produtor: Hidalgo / Espanha / Jerez 
Rico, macio e muito equilibrado, este belo destilado oferece grande classe e complexidade, com excelente relação qualidade/preço.

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