Categoria: Viagens (Page 3 of 9)

Bodega Vivanco

No último dia do passeio pela Espanha, um domingo, fomos visitar a Bodega Vivanco. Um interessante complexo que inclui uma série de atividades e experiências para todos as idades e gostos. Além dos vinhedos e da área de produção, conta com um formidável museu do vinho que abrange inúmeros aspectos da história desta bebida. Há um ótimo restaurante, área de atividades para crianças, salões para os mais diversos eventos, degustações orientadas, cursos e muito mais.

Só o museu já vale a visita. São 5 salas de exposição permanente, espalhadas por uma área de 4000 metros quadrados. Cobre temas como arqueologia, numismática, saca rolhas e arte. Reservem boa parte do seu dia para poder aproveitar bem. Para completar, há salas com exposições temporárias. Não conseguimos ver tudo, no domingo o museu fecha mais cedo. Mais uma dica!

O passeio começa pelo vinhedo. Desta vez não fomos convidados a provar as uvas ainda nas parreiras. Ao contrário da outra vinícola visitada, esta nos pediu, gentilmente, que permanecêssemos atrás de uma faixa amarela, para preservar as melhores condições sanitárias das plantas.

Em seguida descemos para a espetacular sala dos tanques de fermentação (foto de abertura) que é impactante para qualquer visitante. A empresa usa as mais recentes tecnologias e segue a escola bordalesa onde o atual Enólogo, Rafael Vivanco Sáenz, concluiu seus estudos e se aperfeiçoou trabalhando em algumas das grandes casas de Bordeaux.

O portfólio é grande e está divido em diferentes categorias, Jovénes, Criados etc. Cada uma destas classificações tem sua área. A visita passa por algumas, com o ponto alto na sala da Coleção Vivanco, onde estão seus mais preciosos vinhos.

Seguimos para um gigantesco salão de barricas e saímos pela sala dos saca-rolhas, dentro do museu, para subirmos ao piso de acesso e iniciar a degustação.

A imagem pode sugerir que experimentamos todos estes vinhos, mas foram apenas 2: o Crianza 2018 o Reserva 2014. Ambos estavam corretos, com muita personalidade e boa tipicidade. Estão á venda no nosso país.

Para completar esta experiência, o pacote que havíamos contratado incluía um almoço harmonizado.

Estava tudo delicioso. Foi uma ótima visita. No dia seguinte, cedinho, enfrentamos 8 horas de estrada para retornar à nossa base na Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto.

Hubert, Mônica, Tuty, Claudia, Carol e Tomás

Saúde e bons vinhos!

Bodega Luis Cañas

A última etapa de nosso passeio pela Espanha foi na Rioja Alavessa, uma das mais importantes regiões produtoras de vinhos daquele país. Visitar algumas vinícolas era imperativo, o difícil foi escolher quais.

Apesar dos avisos passados por meu filho, Tomás, que “é melhor reservar logo”, fui postergando esta decisão. O resultado foi um pouco decepcionante: a maioria das bodegas consultadas já estavam com suas agendas lotadas, fruto da recessão turística durante a epidemia. Felizmente conseguimos agendar duas excelentes empresas. A Luis Cañas foi a primeira delas.

São quatro gerações ligadas ao mundo do vinho. Tudo começa há mais de 100 anos, com a produção de vinhos simples, utilizando cachos inteiros e maceração carbônica, na histórica Cueva de los Curas, uma bodega primitiva escavada na terra. Os vinhos a granel ali produzidos eram transportados por Carlos Cañas, em carroças puxadas por mulas, até os arredores de Bilbao e San Sebastian, num trajeto de cerca de 100 Km através da Serra de Cantábria e das montanhas Vitoria-Gasteiz.

Coube a seu filho, Luis, nascido em 1928, iniciar a constante busca por qualidade nos seus vinhedos e vinhos a granel, conquistando o paladar dos comerciantes dos armazéns de Bilbao. Em 1970 começa a engarrafar os seus vinhos de “cosechero”, o equivalente ao nosso vinho de colono. Nesta data, é construída a bodega que leva seu nome, ampliando o conceito de vinhos de qualidade.

Em 1989, assume as rédeas da empresa o seu sucessor, Juan Luis Canas, considerado um dos vinhateiros mais criativos da Espanha. Aumenta o portfólio de vinhos, passando a oferecer vinhos maduros, crianza, reserva e gran reserva, ao mesmo tempo que mantém a quase obsessiva busca pela qualidade e perfeição.

Em 1994 é inaugurada uma moderna instalação, equipada com o que há de melhor no mercado. A recompensa vem nos inúmeros prêmios que tem recebido em todo o mundo. Infelizmente seus vinhos não estão à venda no Brasil.

A visita é formidável, umas das poucas que pudemos fazer durante o período de produção. Normalmente, nessa fase, as atividades de enoturismo são restritas ou mesmo suspensas.

Fomos recebidos com dois pequenos agrados que já nos deixaram no clima: uma bela taça e um “pendural”. Este conjunto nos acompanharia durante todo o percurso e, ao final, poderíamos levar conosco. Um delicioso branco de vinhas velhas, deu início aos trabalhos.

Seguimos por um percurso onde um pouco da história da família é apresentada. Saímos para o pátio de recepção das uvas e descemos até o Mirador, onde acontece a segunda degustação: do tinto Reserva 2015 e do excelente azeite deles, que não é comercializado. Para surpresa de todos, somos convidados a entrar no vinhedo adjacente e provar algumas das diferentes varietais ali plantadas. Os pés estão carregados. Só esta experiência já vale a visita.

Passamos para a área de produção, fervilhando de gente trabalhando. Seleção manual de uvas, desengaço, trasfega para as cubas de fermentação. Alguns dos encarregados simplesmente paravam, momentaneamente, suas tarefas, para nos mostrar como tudo funciona, sem segredos. Uma das pessoas do grupo foi convidada a “operar” a máquina selecionadora.

O trajeto passa pela sala de barricas e termina no que chamam de pequeno museu, um ambiente com estantes abarrotadas de vinhos. Lá estão algumas das históricas primeiras garrafas, ao lado de vinificações feitas para terceiros, com rótulos próprios.

Não resisti e perguntei o óbvio: Ainda seria possível provar uma das garrafas originais?

Com um sorriso, nossa guia, Sandra, diz apenas uma palavrinha: vinagre!

A última degustação, de um vinho topo de linha acompanhada de uma tábua de queijos, embutidos e pães, acontece no salão da casa principal. Novamente, pequenos detalhes fizeram a diferença nesta maravilhosa visita. Uma aula de vinhos e de cortesia.

Voltaremos!

Saúde e bons vinhos.

Ametzoi Getariako Txacolina

Essa linda imagem é a vinícola Ametzoi, em Getaria, no País Basco. Uma das mais conhecidas produtoras do vinho Txacoli, que é uma especialidade dessa região. Foi fundada em 1820!

“Getariako Txacolina” significa “Txacoli de Getaria”, uma das D.O. (Denominação de Origem) reconhecidas desde 1989. As outras duas são a de Biscaia e a de Álava.

Mais que um vinho, o Txakoli é um estado de espírito que define bem o alegre, extrovertido e quase sempre boêmio povo Basco. Uma bebida muito leve por conta do seu baixo teor alcoólico, acidez muito refrescante e uma suave e nem sempre percebida efervescência. O tradicional é branco, mas existem versões em rosado e tinto, esta última, quase uma raridade.

É um produto diferenciado do “main stream” dos vinhos, começando pelos parreirais plantados em Latada (Pérgolas), fermentação em grandes “foudres” de madeira (*) e castas quase desconhecidas. Alguém já ouviu falar em Hondarribi Zuria (branca) ou Hondarribi Beltza (tinta)? Para complicar, pode haver outras varietais plantadas juntas, fazendo um “field blend”.

A melhor forma de degustar um bom Txakoli é com Pintxos, pequenos bocados, sempre muito criativos e deliciosos, servidos nos movimentados bares especializados da região. As fotos, a seguir, mostram um pouco deste estilo gastronômico. O vinho deve ser servido de uma maneira bem típica. E nada de elaboradas taças de cristal, é num copo mesmo.

Nossa visita foi uma passeio pelas instalações que inclui, além dos vinhedos e bodega, um pequeno hotel. Em seguida degustamos a extensa linha de vinhos brancos.

Vinhos degustados:

O 9.6 é o vinho com menor teor alcoólico. Leve e fácil de beber. O Ametzoi é o carro chefe da empresa, elaborado no estilo clássico. O Kirkilla é vinificado no estilo antigo, fermentando nos foudres de carvalho francês. É mais sério e pode ser guardado. Foi um dos nossos favoritos, elegante e mineral.

O último vinho provado, o Primus Circumdedisti Me, tem elaboração mais sofisticada, com maceração sobre suas borras. A vinícola sugere que ele seja servido em taças em lugar dos copos. Realmente merece. Um vinho fora da curva, com notas marcantes de frutas brancas e muita untuosidade.

A linha de produtos desta vinícola inclui um espumante, um tinto, um rosado e um destilado típico daquela região, o Orujo, obtido a partir do bagaço das vinificações. Para os fortes: 45º de teor alcoólico.

Foi uma ótima experiência. De lá, partimos para um sofisticado almoço no badalado Elkano, o 16º melhor do mundo, situado no pé da ladeira que nos levou até a Ametzoi. Eis o que nos esperava por lá:

Saúde e bons vinhos!

(*) as empresas mais modernas já utilizam tanques de inox, inclusive a Ametzoi.

Foto do serviço de Txacoli: “@toolmantim pouring the txakoli at pintxos venue 4 of 8 for the night” por simon.wright licenciada sob CC BY-NC-SA 2.0

Enólogo por 1 dia

Não chegou a tanto, “por algumas horas” estaria melhor. Foi uma das atividades mais divertidas e instrutivas pelas quais passei neste imenso mundo dos vinhos.

Tudo começa nestes pequenos tanques, cada um com um vinho semipronto: Trajadura; Loureiro; Avesso; Alvarinho e Arinto. A proposta é aprender as características de cada um e receber alguma informação sobre como se comportam quando misturados. Com tudo isso assimilado e anotado, partimos para o que realmente interessa: cortar o seu próprio vinho.

Para realizar essa tarefa, contamos um conjunto de taças, uma proveta graduada e um rótulo em branco, apenas com o nome da vinícola.

O primeiro passo é degustar cada vinho enquanto um orientador explica as características de cada uva. Em seguida começam os experimentos com as misturas. Uma das recomendações é limitar o número de castas a serem combinadas. Duas seria o normal, três para os aventureiros e mais que isso, “não vai dar certo”. A foto, a seguir, ilustra o momento em que já estava pronto para decidir o que gostaria de misturar e em quais proporções.

Uma das curiosidades ficou por conta da casta Avesso. Nosso mestre explicou que ela se comporta de maneira quase oposta às demais e tende a ser dominante, mesmo em proporções menores. Isso bastou para que eu resolvesse desafiá-la. Só pelo nome, já dava para desconfiar.

O blend inicial é feito com ajuda da proveta. Escolhi a casta Loureiro como base, acrescentei Alvarinho e um toque da rebelde Avesso. O olhar que recebi do professor não foi o de “aprovação” …

Foram necessários uns dois ou três ajustes. Provei a combinação de Loureiro e Alvarinho e fui acrescentando a Avesso até o meu paladar ficar satisfeito. O resultado foi este: 50% Loureiro; 30% Alvarinho; 20% Avesso.

Em seguida o professor calcula as quantidades para encher uma garrafa (750 ml), que nos é fornecida devidamente limpa e esterilizada. Tudo que resta fazer é, pacientemente, encher a proveta algumas vezes, despejando tudo na garrafa. Agora não tem mais volta, alea jacta est.

Mais passos são necessários: arrolhar, encapsular o gargalo, produzir e colar o rótulo. Hora de pagar um mico: como eu era o aluno mais próximo do equipamento, fui convidado a tentar colocar uma rolha na minha garrafa. Primeiro tentei só com um pouco de habilidade e força manual. Como é quase impossível, recebi, para ajudar, um malhete, que também não resultou em nada.

Gargalhadas à parte, e com uma ponta de decepção, sou apresentado à “máquina” arrolhadora, uma relíquia de tempos imemoriais, que funcionou perfeitamente depois de aprender a técnica correta, cheia de pegadinhas: centre a garrafa no apoio, coloque a rolha no receptáculo, ajoelhe no banco com a perna esquerda e faça força na alavanca com o braço direito.

Era assim, antigamente! Uma por uma…

A cápsula não foi difícil, era só escolher a sua cor predileta, colocar no gargalo e usar outra maquininha, aquela vermelha da foto à esquerda, que aquece e cola. Leva poucos segundos. O que vai no rótulo é de livre escolha. Mas ele deve ser colado a “três dedos” acima do fundo da garrafa.

Eis o produto acabado:

Dúvida de todo o grupo que participou dessa experiência: podemos gelar e beber?

A resposta foi: ainda não!

Os vinhos-base estavam em estado bruto. Não foram filtrados, decantados ou mesmo estabilizados. Sugeriu que deixássemos as garrafas de pé, por cerca de 1 semana e só depois estariam adequados para degustar. Podem ser guardados por pouco tempo. O ideal é não esperar muito. Aprendemos, também, que o resultado final pode ter ficado bem diferente do que foi imaginado.

A minha garrafa passou por todas estas recomendações. Viajou até o Rio de Janeiro, onde está repousando. Ainda não decidi quando e com quem vou experimentar este vinho único e que nunca será repetido.

Será que vou pagar outro mico?

Cartas para a redação! (os comentários são sempre bem-vindos)

Saúde e bons vinhos!

Visitamos a Casa da Tojeira

No plano original desta viagem estava prevista uma quarentena de 14 dias por conta da epidemia. No dia de nosso desembarque em Portugal, esta exigência foi suspensa. Havíamos escolhido o Parque Peneda-Gerês como o nosso pouso inicial, numa ótima casa, mas bem isolada, em Fontainho. Como não era possível desistir, tratamos de aproveitar o melhor possível. O lugar é muito bonito e com várias atrações interessantes. Terminado o período contratado, iniciamos nossa viagem para a cidade do Porto, onde residem nosso filho e a esposa.

Um dos objetivos do passeio ibérico era mergulhar no mundo dos vinhos verdes e na região do Minho. Fora de Portugal há uma certa implicância com este tipo de vinho, muito por conta de produtos de baixa qualidade que foram colocados à venda no nosso mercado. Já os portugueses o consomem habitualmente, sendo um ótimo vinho para acompanhar a rica gastronomia da região. Outro fator a ser levado em consideração é o seu custo, girando em torno de 4 Euros para os rótulos de entrada.

A Casa da Tojeira é uma conhecida vinícola localizada em Cabeceira de Basto, que faz parte da região de Peneda-Gerês. A vinícola está listada na Rota dos Vinhos Verdes, uma inciativa da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV).

Fomos recebidos por Mila, que seria nossa guia. Sugeriu que visitássemos a casa-sede onde encontraríamos desde um pequeno museu do vinho até grandes salões onde são realizados os mais diferentes eventos.

A mansão, construída no século XVII está perfeitamente conservada e adaptada aos tempos atuais. Só isso já valeria a visita. Haviam mais surpresas, nossos olhos quase não conseguiam ficar parados, tal a quantidade de preciosas informações contidas em cada ambiente: móveis, acessórios, quadros e muito mais. As fotos falam por si.

Vista do interior:

Foto do museu e da cozinha original da casa, preservada para contar história:

Ao final degustamos dois vinhos do extenso portfólio da vinícola.

Os dois vinhos estavam corretos, mas o branco caiu como uma luva naquela hora da manhã (11:00). Gostamos tanto que foi um dos vinhos servidos no nosso almoço de despedida. Mas essa é outra história.

Mila se tornou uma amiga. Foi um longo bate-papo, animadíssimo, que certamente deixou saudades.

Saúde e bons vinhos!

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