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Port. 18/19 – Visita a Adega Luis Pato

Adoraria colocar a seguinte legenda nesta foto: “Dois ícones do vinho”.

A galera certamente iria se manifestar: “menos, menos”!

Quem está comigo é o Mr. Baga, o Rebelde, ou simplesmente, Luis Pato, um dos nomes mais respeitados no mundo do vinho. É um daqueles gênios que domou uvas consideradas impossíveis de serem vinificadas e faz maravilhas com o que tem nas mãos.

Curiosamente, sua formação não é em Enologia, graduou-se em Engenharia Química. Munido de muita paciência e de uma simpatia cativante, correu o mundo com seus vinhos, promovendo degustações para Sommeliers, importadores e distribuidores.

Não foi uma tarefa fácil, seus vinhos têm muita personalidade devido às características de solo e clima em Óis do Bairro. Uvas brancas com alto teor de acidez, perfeitas para a produção de espumantes e a famosa e indisciplinada Baga, tão temperamental quanto a francesa Pinot Noir ou a italiana Nebbiolo. Seus vinhos levam muito tempo para “ficarem prontos”, 20 anos ou mais…

A família Pato está totalmente envolvida na história dos vinhos portugueses. Seu tio-avô, Mario Pato, foi um dos primeiros Enólogos que se dedicou a ensinar vinificação em Portugal. Nas veias desta turma corre vinho…

São 55 hectares de variedades portuguesas, algumas com mais de 100 anos: Baga, Touriga Nacional, Maria Gomes, Bical, Cercial e Sercialinho.

A visita é muito simples: um pouco da história familiar, um recorrido das instalações e, o ponto alto, a degustação de 9 vinhos, todos espetaculares.

Eis a relação do que foi provado:

Espumante Maria Gomes;
Espumante Informal (Baga);
Espumante Vinha Pan (Baga);
Branco Vinhas Velhas;
Branco Vinha Formal;
Tinto Vinha Velhas;
Tinto Vinha Pan 2013 (100% Baga);
Quinta do Moinho 2013 (100% Baga);
Abafado Molecular (doce).

Isto foi uma pequena amostra do que é produzido naquela casa. Alguns de seus vinhos nos fazem supor que há um uma boa dose de magia nisto tudo, como o doce Abafado Molecular, obtido não por colheita tardia ou passificação (apassimento), mas simplesmente a partir de colheita antecipada, seguida de concentração molecular e um pouco de criogenia.

Outro vinho que nos faz pensar é o Fernão Pires, elaborado para homenagear seu neto: um tinto desta casta branca cortada com Baga. Para completar o quadro dos vinhos fora de série, produz um Baga, com parreiras 100% em pé franco, sem enxerto, o Quinta do Ribeirinho. Simplesmente incomparável.

Decidi que compraria uma garrafa de Baga, mas aos 71 anos, esperar mais 20 para degustá-lo seria impensável. Exposto o meu argumento, o que gerou algumas risadas, me foi oferecido um Vinha Pan 2003, que aceitei prontamente.

Em 2023 conto como ele é.

Saúde e bons vinhos!

PS: de lá fomos provar o famoso Leitão da Bairrada, que fica ali pertinho. Harmoniza com espumantes. Mas esta é outra história.

Portugal 2018/2019 – Um resumo

Quatro anos após a última visita, retornamos às terras lusitanas para um novo passeio. Desta vez o objetivo não era apenas o Enoturismo. Pelo contrário, havia um viés muito mais turístico que nos levou a conhecer diversas cidades deste encantador país.

Visitamos quatro vinícolas: Luís Pato, na Bairrada, Quinta do Bomfim, no Douro, Quinta do Gradil, na antiga Extremadura – hoje Lisboa – e Caminhos Cruzados, no Dão. Ainda tivemos tempo de visitar a Calem, em Vila Nova de Gaia, uma das muitas Caves de Vinho do Porto. Visita que recomendamos por ser muito bem organizada e interessante.

A imagem ilustrativa desta semana mostra um pouco dos vinhos provados durante a nossa estada em Portugal. Vinhos que nos acompanharam nas celebrações de fim de ano ou simplesmente harmonizavam algumas das excelentes refeições feitas nos mais diversos estilos de restaurantes, fosse no Porto, Aveiro, Guimarães, Peso da Régua, Sintra ou Lisboa.

Para saber um pouco mais sobre cada um deles, acessem a minha página do Vivino: www.vivino.com/users/tuty.pi

Nem todos os vinhos estão comentados, mas, como num bom Boletim, lá estão as notas… (nota máxima = 5,0)

Visitamos outras cidades, sempre encantados com a hospitalidade portuguesa e com alguns passeios icônicos que só aquele país poderia nos proporcionar: Coimbra, Viseu, Mealhada, Braga, Tomar, Óbidos, Seia, Vila Real, Pinhão, Mafra e Santarém.

Não vou comentar, neste espaço, toda esta viagem. Mas vou reservar umas poucas páginas para mostrar como foram as visitas nas vinícolas já citadas e falar de alguns vinhos degustados que ficaram na memória.

As comemorações de Natal e Ano Novo foram ótimas oportunidades para degustar alguns espumantes da terrinha. Eis a lista:

Caves São João Reserva Bruto – Bairrada, 5€;


Regou a nossa divertida Ceia Natalina na nova residência dos Bretas. Tezy e Chris foram mais que anfitriões. Este espumante, com um preço muito em conta, nada fica devendo aos nossos melhores exemplares.

Os três espumantes, a seguir, foram consumidos no Ano Novo, chez Carol Bocayuva.

Murganheira Reserva Bruto – Távora-Varosa – 9€;

Outro ótimo espumante com boa relação custo benefício. A Murganheira é considerada como a grande produtora deste tipo de vinho em Portugal.

Soalheiro Alvarinho Brut – Monção/Melgaço – 13€;

Este é um espumante da região dos Vinhos Verdes. A marca Soalheiro é uma das referências internacionais de ótimos vinhos brancos, elaborados com a casta Alvarinho.

Era uma boa aposta, mas não correspondeu às nossas expectativas. Muito frutado, parecendo um demi-sec. Foi totalmente superado pela próxima garrafa, da mesma região, mesma casta, mas outro produtor.

Valados de Melgaço Reserva Alvarinho Extra Bruto – Monção/Melgaço – 22€;

Simplesmente o melhor de todos. Caro, sem dúvida. Foi recomendado por uma Sommelière da área gourmet do famoso “El Corte Inglés”.

Pequena produção e quase que uma exclusividade desta loja.

– Murganheira Super Reserva Bruto – Távora-Varosa, 11€.

Outro ótimo espumante que foi degustado em Lisboa. Presente do grande amigo Joel Braga.

Simplesmente perfeito e com ótimo preço.

Saúde e bons vinhos!

Dica da Semana: ainda está em férias…

Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – final

Nosso próximo destino nessa jornada era a cidade do Porto, na foz do Rio Douro junto ao Oceano Atlântico. Logo após o café da manhã fizemos o check out e pegamos a bonita estrada que margeia o rio até lá. Um belo passeio, com rápidas paradas para observar a paisagem e as eclusas que permitem a navegação dos grandes barcos de turismo.
 
 
Chegamos ao nosso destino perto da hora do almoço. Após o check in no hotel fomos para o Restaurante Cafeína, onde tivemos uma nada agradável surpresa. Reparem no 1º prato a seguir:
 
 
Óbvio que houve uma saraivada de anedotas. A garçonete afirmou que o dono do restaurante estava arrependido de ter usado este nome, mas o prato era muito saboroso…
 
Para acompanhar os nossos pedidos, todos baseados em peixes ou frutos do mar, escolhemos um delicioso vinho verde, o Soalheiro Alvarinho 2008, que no balanço final de todos os vinhos provados, foi considerado o melhor deles.

 

 
Um verdadeiro clássico, grande frescor, intensidade aromática, boa mineralidade e acidez correta. Perfeita harmonização com os nossos pratos.
 
No dia seguinte seguimos para o último compromisso agendado com uma produtora de vinhos, visitar às caves da Taylor’s, uma das mais respeitadas marcas de Vinho do Porto, seguido de um almoço no seu restaurante, Barão de Fladgate, muito bem localizado e com uma bela vista.
 
Atravessamos a pé a ponte que une as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia, onde estão estas famosas “caves”. Lá se respira Vinho do Porto que, a bem da verdade, deveria ser chamado de “Vinho de Vila Nova de Gaia”, o que acaba sendo quase uma piada: muitos afirmam que denominação “Porto” só vingou por ser um nome mais comercial…
 
As fotos falam por si: frota de barcos “Rabelo” que eram usados para transportar, originalmente, o vinho desde o Alto Douro; o cais de Vila Nova com placas indicativas de todas as marcas que existem por ali; degustação gratuita de quatro Portos simplesmente por termos passeado no teleférico.
 
 
A visita é quase uma volta ao passado. Nada é produzido nestes galpões, apenas é um lugar onde o vinho repousa até a hora de ser comercializado. Fomos recebidos na sala de degustação e após uma breve exposição sobre a história desta marca, seguimos para visitar as instalações.
 
 
Nas duas últimas fotos acima destaco, na esquerda, o maior “balseiro” conhecido de Vinho do Porto e na direita a etiqueta de preenchimento de um barril datada de 31/10/2014, véspera de nossa visita. Retornamos à sala de degustação para provar três Portos: Chip Dry, branco extra-seco, Late Bottled Vintage (LBV) e Tawny 10 anos, todos deliciosos.
 
O elegante restaurante fica dentro deste conjunto de prédios e homenageia o fundador da marca, o Barão Fladgate. Nossa mesa, em posição privilegiada, permitia apreciar uma bela vista de Vila Nova e do Porto.
 
 
O extenso cardápio tem ênfase nos saborosos frutos do mar e pratos regionais.
 
 
Para iniciar, abrimos um vinho verde rosé, o Casa do Valle. Honestamente, não correspondeu às nossas expectativas, valeu mais pela curiosidade. O próximo vinho, o Beyra Quartz foi uma escolha mais acertada.
 
 
Um bom branco vinificado pelo enólogo Rui Madeira a partir das castas Síria e Fonte Cal de parreiras com mais de 80 anos. Recebeu nota 16.5/20 do Guia de Vinhos de Portugal. Estupenda refeição!
 
Na manhã seguinte partimos numa preguiçosa viagem até Lisboa, passando por Óbidos e Sintra, onde almoçamos no restaurante típico Curral dos Caprinos. Na capital, fizemos os tradicionais passeios turísticos, com um importante destaque: uma das mais conhecidas lojas de vinhos, a Garrafeira Nacional, afinal, ainda havia espaço nas nossas malas.

 

 
Agradecimentos
 
Esta viagem teve como cúmplices diversos amigos que vivem em Portugal. Foram inúmeras sugestões, infelizmente não houve tempo suficiente para experimentar tudo.
 
Começo pelo meu amigo Maurício Gouveia, de Mirandela, que nos presenteou com garrafas de um excelente vinho, o Tejoneras, que ele representa no Brasil (http://emporiogouveia.com.br/). Foi o nosso guia até Vila Real indicando o excelente restaurante Cais da Villa. (http://www.caisdavilla.com/)
 
O leitor Laureano Santos, de Oeiras, foi outro importante colaborador. Lamento não ter conseguido encontrá-lo, mas conversamos longamente, por telefone, além de trocamos várias mensagens durante a viagem. Teve a paciência de ler os meus roteiros e fazer as correções e ajustes necessários. Por sugestão dele, provamos um vinho da sua região, Conde de Oeiras Vinho de Carcavelos. Qual não foi a nossa surpresa ao descobrir que ele havia participado da colheita da safra degustada?
 
Outra peça importante foi o Duda Zagari que organizou a visita e almoço na Taylor’s bem como sugeriu o passeio de barco até a Quinta do Crasto. Duda mantem uma das mais badaladas lojas de vinho do Rio de Janeiro, a Confraria Carioca (http://www.confrariacarioca.com.br/empresa.php).
 
Por último um agradecimento todo especial ao casal Maria João e José, ela uma amiga de mais de 40 anos que morou aqui no Rio e me cobrava esta visita há um longo tempo. Promessa cumprida! Preparou um saboroso jantar em sua casa, com um belo tinto, Casal da Coelheira Reserva, e um final delicioso com uma visita a uma fábrica dos famosos Pastéis de Nata, quentinhos, saídos do forno por volta das 22h. Só usando um adjetivo incomum: supimpa! Trouxe alguns destes doces para o Rio…
 
A todos vocês, amigos, leitores e associados desta coluna, desejo um feliz natal e um ótimo 2015.

Até lá!

Dica da Semana:  ainda é tempo de comprar um bom espumante para a festa de fim de ano, desta vez, produto nacional.

 
Domno Ponto Nero Brut Rosé
Cor rosada com reflexos brilhantes, perlage de borbulhas finas, delicadas e persistentes.
Aroma fino e delicado com notas de frutas vermelhas como morango e framboesa com toques de especiarias doces. Extremamente equilibrado, de sensação aveludada e boa maciez e cremosidade.
Harmonização: Saladas, pratos frios, peixes, camarão, massas com molhos pouco condimentados e sobremesas não muito doces, a base de frutas vermelhas

Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – V

Após a intrigante visita na Quinta das Carvalhas, partimos para o almoço num dos restaurantes mais badalados da região, o DOC by Rui Paula.

Inaugurado em 2007, o DOC, uma abreviatura de Degustar, Ousar e Comunicar, está instalado num edifício de linhas contemporâneas situado no cais da Folgosa, na estrada que margeia o rio Douro entre a Régua e o Pinhão. É considerado como um ponto de encontro obrigatório para quem vive no Douro ou viaja pela região, seja para apreciar a boa comida, o vinho ou a paisagem.

 Optamos por pratos tradicionais da culinária portuguesa, onde não poderia faltar uma opção de bacalhau com batatas ao murro. O vinho, sugerido pelo Sommelier, foi o “Olho no Pé” 2009, da região do Douro. Um tinto gastronômico, muito frutado e fácil de beber.
 
 
Pontualmente às 16h chegamos à Quinta das Gaivosas, em Santa Marta do Penaguião, cerca de 4 Km adiante do Peso da Régua.
 
Esta vinícola é comandada pelo Eng. Domingos Alves de Sousa, que representa a 3ª geração desta família. É considerado um dos mais importantes vinhateiros do Douro. Fomos recebidos por seu filho, Tiago, engenheiro agrônomo, atual Diretor de Produção e Administrador, que está sendo preparado para assumir o lugar de seu pai, iniciando a 4ª geração da família à frente dos negócios. Ao contrário da outra vinícola visitada pela manhã, esta não tem uma estrutura para receber visitantes, por esta razão, terem nos recebido aqui foi uma honra, o que nos deixou muito sensibilizados.

A visita foi feita em duas etapas, um passeio pelos íngremes vinhedos e uma degustação dos principais vinhos ali elaborados. De saída, nota-se a diferença no relevo: as colinas nesta região são mais escarpadas que as das margens do Douro. Até o valente 4X4 que nos transportava teve dificuldades para alcançar os trechos mais altos da propriedade. Tiago enfatizou a dificuldade em fazer o trabalho no campo como a poda, a colheita, a limpeza, etc. Contam com um pequeno grupo de trabalhadores que são “especializados” neste tipo de terreno. Vejam algumas imagens a seguir.

Uma das histórias mais interessantes relatadas por nosso anfitrião foi sobre um vinhedo, com mais de 80 anos, localizado numa das encostas mais inclinadas e expostas ao Sol, com algumas aflorações de Xisto no meio das parreiras, o que dificulta o trabalho. Por esta razão, ficou meio abandonado por muito tempo. Tentaram de tudo para revitalizar esta área, mas só as vinhas originais conseguiam sobreviver. Todas as tentativas de replantio não vingaram. Em 2004 decidiram vinificar o que fosse colhido destas vetustas parreiras. Sucesso! O vinho, que recebeu o nome de “Abandonado”, logo mostrou que tinha caráter e personalidade únicos.

Após o passeio, iniciamos uma deliciosa degustação que não deixou nenhuma dúvida sobre a excelência dos vinhos produzidos pelos Alves de Souza:

– Branco da Gaivosa 2013 – elaborado com Malvasia Fina, Gouveio e Viosinho (pode haver outras) colhidas em vinhedos com mais de 60 anos. Bonita coloração amarelo palha, aromas e sabores de frutas secas e uma boa untuosidade devido a um estágio em barris de carvalho francês; Nota: 16/20

– Quinta da Gaivosa Douro 2009 – as castas, Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinto Cão, Touriga Nacional e outras são provenientes de vinhas velhas com 60 anos ou mais. Apresentou cor avermelhada com intensos aromas e sabores de frutas vermelhas e suave nuance de especiarias devido ao estágio em carvalho francês; Nota: 17,5/20

– Alves de Souza Reserva Pessoal Tinto 2005 – produzido com os melhores exemplares de Tinta Roriz, Tinto Cão e Touriga Nacional obtidos na Quinta, vinhas velhas com mais de 60 anos. Um vinho intenso, complexo e encorpado com aromas e sabores transitando desde as especiarias até frutas maduras. Recebeu diversos prêmios em colheitas anteriores, alcançando 17,5 pts na edição atual do Guia de João Paulo Martins;

– Abandonado 2007 – somente é produzido em safras muito especiais, e 2007 foi uma delas. Um “vinhaço”, muito estruturado, encorpado e elegante com predominância de frutas negras no nariz e palato. Recebeu 18 pontos no guia citado acima;

– Porto Quinta da Gaivosa 10 anos – outro vinho de alta gama que encerrou esta degustação maravilhosa. Nota: 16,5/20

 

 

A última foto acima mostra o velho alambique onde era produzida a aguardente adicionada ao “Porto”. Devido a regulamentações governamentais, hoje é mais fácil compra-la de terceiros. O conjunto virou uma bonita peça de decoração.

Quase ao final de nossa prova de vinhos, Tiago recebe um telefonema de seu amigo Álvaro Martinho, nos convidando para ir até seu “armazém” que fica a poucos metros de distância. Começava nova e deliciosa aventura.

Álvaro nos recebeu em grande estilo e com algumas surpresas. Seu armazém fica sob sua residência e funciona como uma micro-vinícola, adega, sala de ensaio da banda, enfim, um espaço multitarefa.

O seu vinho se chama Mafarrico e tem sido bem aceito pelo mercado. O Branco foi escolhido como melhor em sua categoria em 2013.
Outro detalhe que chamou a nossa atenção era sua adega eclética onde havia até vinhos top, como o famoso “Barca Velha”.

Para encerrar esta nossa incrível viagem ao Douro, Álvaro nos brindou com um pouco de sua música, além de diversas garrafas de vinhos, tudo acompanhado de pães, queijos e embutidos.

Inesquecível!

Dica da Semana: continuamos na terrinha…

Casa de Sarmento Espumante Brut
Cor amarela palha de aspecto cristalino, bolha fina e persistente. Aroma elegante, discreto, com alguma fruta.
Muito agradável na boca, fresco, com uma mousse muito delicada e boa acidez.
Excelente para entradas, bem como para acompanhar peixes, mariscos e o típico Leitão da Bairrada.

Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – IV

Nosso último dia no Alto Douro tinha uma programação extensa. Logo pela manhã visitar a Quinta das Carvalhas. Após o almoço, nos deslocaríamos até Santa Marta do Penaguião para conhecer a Quinta das Gaivosas.
 
O agendamento destes passeios começou a ser feito com grande antecedência. Alguns amigos que residem em Portugal ofereceram as sugestões e fomos tentando conseguir que nos recebessem. Algumas quintas têm estrutura de enoturismo e nos aceitaram de braços abertos. Outras nos acolheram devido ao conhecimento de nosso trabalho e através de contatos pessoais em eventos de degustação. Poucas foram as que nem se dignaram a responder nossa solicitação.
 
A Quinta das Carvalhas é uma espécie de símbolo do Alto Douro e a joia da coroa da Real Companhia Velha, sua proprietária. Qualquer cartão postal de lá vai mostrar imagens de sua principal colina, com a Casa Redonda no cume, o ponto mais alto da região com vista de 360º.
Na troca de mensagens, ficou acertado que faríamos uma visita “vintage”, assim descrita pelo signatário, Álvaro Martinho:
 
“Esta visita teria uma duração variável de 1h30 a 2 horas. É uma visita acompanhada onde terá uma explicação detalhada de todo o cenário vitícola: vinha, plantas, o clima, as castas, a história e a vida das pessoas!!! No final poderá desfrutar de uma prova com 3 vinhos (2 douro DOC e um Porto). O custo associado a esta visita é de 20€ pax. Poderemos considerar esta visita… uma experiência no Douro!!! Recomendamos”.
 
Interessante notar que, com base em nosso conhecimento de outras viagens similares, formamos uma imagem do que poderia acontecer nesta visita, inclusive de quem seria o Sr. Álvaro que gentilmente respondia nossas mensagens, inclusive com outras sugestões de passeios e almoços. Não podíamos estar mais enganados, o que foi ótimo.
 
No dia e horário agendado embarcamos no veículo da Quinta para nos transportarem até lá, um percurso que poderia ser feito a pé, bastando atravessar a ponte sobre o Rio Douro, coisa de 3 ou 4 minutos, em frente ao nosso hotel. Conhecemos o nosso anfitrião, Álvaro, que se revelou um verdadeiro “one man show” (fomos descobrindo estas facetas ao longo do passeio): Guia de Turismo; Engenheiro Agrônomo; Paisagista; Gestor da Quinta responsável por toda a viticultura (120 ha); proprietário de uma vinícola na Cumieira de Santa Marta do Penaguião e Músico, com uma banda folclórica chamada Rama de Oliveira. Como se isto tudo não bastasse, aos 42 anos, casado (sua esposa canta na banda), pai de 3 filhos, é um apaixonado pela vida e por tudo que faz.
À medida que nos conhecíamos, ele comentava um pouco sobre sua vida, que sempre girou em torno dos vinhos (seus pais eram viticultores). Nasceu na aldeia de Covas do Douro, que fica a cerca de 5 km de distância do Pinhão. Tinha 13 anos quando visitou uma cidade grande pela primeira vez, Peso da Régua, o que lhe deixou deslumbrado: “Andei dois dias de elevador”!
 
Quando ingressou na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), para estudar Agronomia, compreendeu o valor da sua infância peculiar. Recebera outro tipo de cultura, única, que usava magistralmente para se destacar no seu grupo. Segundo suas palavras:
 
“Não sabia muitas coisas, mas distinguia o chilrear dos pássaros todos ou a cor dos ovos dos Melros, coisas que ninguém mais sabia”.
A visita transcorreu dentro deste clima (faço um aparte: aprendi, nestas duas horas com ele, muito mais do que já sabia, foi a melhor aula sobre a importância do trinômio solo, clima e tempo). Desde 2001 implantou o conceito de quinta produtiva de charme, transformando lugares, por exemplo, como a oficina de manutenção, antigamente banhada em óleo e graxa, num local cercado de agradáveis jardins.
 
A Quinta é literalmente uma joia e Álvaro acredita que mantê-la assim e dar as melhores condições de trabalho aos lavradores vai refletir na qualidade final dos produtos. Passou-nos a impressão que sabe nome e sobrenome de tudo que ali está plantado. As plantas são suas cúmplices, é capaz de fazer de uma simples erva daninha, tema de conversa para um dia, sem que isto seja um assunto aborrecido. Talvez a mais importante lição nisto tudo tenha sido nos fazer compreender a importância da dimensão de um terceiro fator que se junta ao binômio Solo (x) e Clima (y), sempre mencionados em qualquer compêndio de enologia: no Douro compreendem e dominam o Tempo (z), com grande sabedoria. O representam como o terceiro eixo de um gráfico imaginário:
Apresentou e explicou o conceito de “Vinhas Velhas”, algo que só existe lá. Reparem na foto a seguir.
Sem sair do lugar, nosso anfitrião girou o corpo e colheu 4 ou 5 folhas das parreiras ao seu redor. É desta forma que se identificam as videiras, comparando o formato das folhas. Resultado: 4 ou 5 espécies diferentes, podendo haver castas brancas entre elas. Na época em que foram plantadas eram “uvas que fermentadas se transformavam em vinho”. Este era o critério usado pelos antepassados. Hoje já estão fazendo o mapeamento genético para descobrir quais são estas castas, numa tentativa de preservar as características e a história destas vinhas. Se possível, reproduzir estes vinhedos aplicando avançadas técnicas de genética. Novamente, modernidade e tradição.
 
No dia da visita estavam replantando uma parcela de um vinhedo. Álvaro ressalta que para alcançar o mesmo nível de qualidade das outras parcelas terão que esperar 50, 60 ou mais anos. Ele, provavelmente, não vai provar vinhos oriundos desta nova área e não está nem um pouco preocupado com isto. Simplesmente “não me importa”! Está é a maneira de controlar corretamente o fator tempo, o duriense sabe esperar, tem paciência, o ritmo de vida aqui é outro, “nós não sabemos fazer outra coisa que não seja cuidar desta nossa biodiversidade que passa por milhares de tipos de ervas, arbustos, oliveiras, cítricos, sobreiros e parreiras”. São centenas de cheiros e cores e sabores que brotam a partir de um solo xistoso que para os olhos de um leigo não tem condições de gerar nada.
 
“As vinhas vivem, coabitam, são felizes aqui. Não querem dar vinho, querem amadurecer, dar sementes, prolongar a espécie”.
 
Emocionante tudo isto, temos que concordar com Álvaro: “Isto só existe aqui”!
A degustação que encerraria esta deliciosa visita foi de alto nível, com 3 excelentes vinhos:
 
Carvalhas Branco 2011 – elaborado com as castas Viosinho, Rabigato e Códega. As uvas são prensadas em prensa pneumática. A fermentação inicia-se em cubas de inox com controle de temperatura e termina em barricas novas de carvalho Francês. Segue-se um estágio de 8 meses nas mesmas barricas sobre borras finas.
 
Um branco limpo, claro, de brilhante cor citrina. No olfato apresenta aromas com notas de fruta com nuances de baunilha e tosta, provenientes do estágio em madeira. Embora encorpado no paladar, provoca uma sensação de leveza devido à sua frescura de sabores e acidez viva. Boa persistência. É um vinho altamente gastronômico que pode ser apreciado enquanto jovem, mas que pode surpreender após alguns anos em garrafa.
 
Carvalhas Tinto Vinhas Velhas – este foi um dos destaques desta degustação. Um corte com mais de 20 castas diferentes (Vinhas Velhas) fermentado em lagares (tanques abertos) seguido de um estágio de 18 meses em barricas de carvalho francês. Muito aromático onde se destacam notas de frutas vermelhas e negras aliadas à nuances de ervas e especiarias, bem harmonizadas com a madeira de carvalho através de sutis notas de baunilha. Taninos firmes e muito redondos, com sabores realçados por uma equilibrada acidez que torna a prova longa e persistente o fazem um vinho potente e elegante.
Royal Oporto Tawny 40 anos – este foi um capítulo à parte com sua linda garrafa lapidada. Esta é uma das marcas mais antigas de Vinhos do Porto. Uma bebida muito especial de grande intensidade aromática com notas de baunilha, especiarias e frutos secos. Potente e aveludado, enchendo o palato de sabores intensos, com um final muito longo. Uma verdadeira homenagem ao Vinho do Porto.
Tecnicamente, a visita terminaria após esta degustação, mas não foi bem assim. Quando descobrimos a faceta musical de nosso anfitrião, ficamos naturalmente curiosos e perguntamos se haveria alguma maneira de escutar o som do seu grupo musical. Não havia nenhuma apresentação programada o que gerou um convite informal: “só se vocês forem até o meu armazém, que fica sob minha residência”.
 
Nem em sonhos poderíamos imaginar o que aconteceria no final deste dia, logo depois da visita à Quinta da Gaivosa, localizada muito perto do “armazém” de Álvaro Martinho. Mas este episódio, só na próxima coluna.
 
Não há palavras suficientes para descrever o espetáculo que foi esta visita guiada por este novo amigo. Esperamos poder repetir esta incrível experiência o mais breve possível.
 
Dica da Semana:  para não ficarmos num eterna repetição, como no Bolero de Ravel, sugerindo os vinhos acima, vamos indicar um da vizinha região do Minho.
 
Alvarinho Soalheiro
Sempre nas listas dos melhores Alvarinhos de Portugal segundo a imprensa especializada, é proveniente da subrregião de Melgaço que produz os melhores vinhos verdes.
 Leve, frutado e refrescante, com ótima acidez. Delicioso e cheio de charme é mais encorpado e complexo do que os outros vinhos verdes.
 Pode ser armazenado nas condições ideais por 5 até 10 anos
 Combinações: Peixes, carnes brancas, frutos do mar, ostras e mariscos, queijos.
 
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