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Mendoza 2014 – 2º dia

A jornada começou cedo, às 8:30 já estávamos a bordo da van a caminho de Maipu e Lujan onde visitaríamos outras três vinícolas. A primeira, Domaine St. Diego, do renomado enólogo Angel Mendoza, foi um dos pontos altos desta viagem.
 
Ao contrário da grande maioria das visitas, destinadas a turistas, que enfatizam a arquitetura, a modernidade e a tecnologia e ainda oferecem um elaborado almoço conduzido por um grande Chef, esta pequena vinícola, estritamente familiar, conduz os visitantes unicamente por seus vinhedos, todos localizados dentro da propriedade de apenas 3,3 hectares. Cada metro quadrado está ocupado, seja pelas parreiras e oliveiras (produzem azeite também), pela bodega ou pela casa da família. Só por isto a visita já toma um caráter único.
 
Quem nos acompanhou foi Laura, filha do proprietário, que não poupou informações e nem deixou pergunta sem resposta. Como não dispõem de muito espaço, empregam técnicas de plantio ousadas, como a “espaldeira dupla” que utiliza duas alturas diferentes para as plantas, dobrando a capacidade do espaço disponível e exigindo, em compensação, o dobro de trabalho para manter e colher (são duas colheitas – as uvas amadurecem em diferentes períodos) ou a condução em “Globelet” ou arbusto, em busca de sabores e aromas únicos para seus vinhos. Até as suaves encostas que cercam a propriedade estão plantadas, nada é desperdiçado.
 
 
Mais importante que a utilização racional do solo, a otimização do uso da água, rigidamente controlada neste distrito de Lulunta, é fundamental. Aqui não há água de subsolo. Tudo que conseguem vem do degelo dos Andes distribuído através de um sistema de diques, canais e comportas, criados pelos índios Huarpes que aprenderam a técnica com os Incas.
 
Atualmente a distribuição é controlada por um “Tomero”, pessoa encarregada de alimentar os diversos canais de distribuição e operar as comportas de cada consumidor de acordo com um contrato de fornecimento muito simples: paga-se por um determinado número de horas, por período. Se precisarem de mais água devem esperar pela próxima data. Quase uma dosagem “homeopática”. Laura nos mostrou a comporta. Difícil imaginar que com tão pouca água consigam produzir vinhos estupendos.
 
 
Angel Mendoza, proprietário e enólogo tem como filosofia a ideia de ‘colher o vinho’ em lugar de produzi-lo. Acredita que deveria se dar maior importância às videiras, obtendo-se um bom vinho no terreno em vez de corrigir os erros na cantina. Para comprovar esta máxima, somos convidados para a degustação dos seus produtos, que acontece na casa da família. Nada de salas especiais com iluminação estudada e outros requisitos sofisticados e mercadológicos. Apenas uma varanda envidraçada, com vista para os vinhedos, amplas mesas e cadeiras plásticas, toalhas brancas cobertas de plástico transparente é tudo o que precisam para, neste momento, nos encantar com seus vinhos e azeite. Simplicidade é o segredo!
 
 
Começamos com o bom azeite Almazara, obtido com a azeitona Arauco, seguido do quase exclusivo espumante Brut Rosé Elea. Aprovação incondicional.
 
O vinho seguinte, Paradigma, foi uma surpresa para todos. Elaborado a partir das uvas plantadas como arbustos, o que permite uma maturação diferente. Um formidável corte de Malbec, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon que não passa por madeira. Eu diria que “nem precisa”!
 
Se houve, nesta viagem, um vinho que nos intrigou, foi este. Aromas e sabores deliciosos que poderiam confundir até mesmo um bom enófilo. O seu nome decorre disto, um verdadeiro paradigma. Por que recorrer a técnicas mirabolantes ou desconhecidas quando tudo que é necessário para obter um grande vinho é olhar para a terra. Um verdadeiro vinho de terroir que derruba, sem piedade, qualquer outra teoria. Esta é uma das razões, pelas quais, Angel Mendoza é respeitado entre seus pares. Espetacular.
 
Os dois outros vinhos degustados, Pura Sangre e Pura Sangre Nueve Lunas, também eram fora de série, mas não conseguiram nos fazer esquecer o intrigante Paradigma.
 
 
Quase ao final da prova de vinhos recebemos a simpática e esfuziante visita de Angel. Encantou a todos com sua simplicidade e franqueza desconcertante. Teve a delicadeza de elogiar e recomendar que consumíssemos mais os nossos próprios vinhos, principalmente os de Santa Catarina, Santana do Livramento e Campanha Gaúcha. Ganhou uma legião de fãs com direito a fotos e autógrafos!
 
 
Esta vinícola tem uma interessante característica: seus produtos são comercializados unicamente “in loco”. Não tem representantes comerciais nem importadores. Se alguém quiser revendê-los tem que comprar lá primeiro. Com isto, a nossa van saiu carregada…
 
Nossa próxima parada foi na Bodega Sin Fin, um projeto inovador segundo a nossa guia, Maria José. Por termos passado da hora prevista, ficamos apreciando a paisagem ao redor, aguardando o fim da visita de outro grupo. Uma empresa relativamente pequena e pouco conhecida, mas tinha um Ás escondido na manga: o importante não estava ao alcance dos olhos…
 
 
Ao ingressar no prédio da foto, somos apresentados a uma pequena história da família e da empresa que, por longos anos, se dedicou ao cultivo de uvas e depois da produção de vinhos a granel que são revendidos a outras vinícolas. Só muito recentemente entraram para o segmento dos vinhos próprios.
 
O tema foi exposto e a pergunta veio rapidamente: quem compra o vinho a granel? A resposta pegou todos no “contrapé”: principalmente vinícolas francesas… Nosso anfitrião recomendou que olhássemos com muita atenção os contra-rótulos de alguns vinhos em busca de uma informação como “produzido por: 1234567890”, em letrinhas muito miúdas. Esta seria uma indicação que o vinho, naquela garrafa, teria outra origem.
 
Interessante; vinhos argentinos “en bouteille”!
 
Embarcamos em um elevador para acessar o subsolo e descobrir mais surpresas escondidas. Ao abrir a porta nos deparamos com um ambiente de raro bom gosto e muito aconchegante. Estávamos sob a área de produção, onde criaram um espaço cultural que recebe shows, peças de teatro ou exposições de arte, uma loja de vinhos e de decoração de alto nível, a simpática sala de degustação e uma microssala de barricas onde estava toda a produção.
 
 
A sequência de degustação foi bem tradicional iniciando com um espumante, seguido de 1 branco e de alguns tintos. Todos corretos. O ponto alto ficou com o Sauvignon Blanc que apresentou um estilo totalmente “velho mundo”, sendo o vinho que mais agradou a todos.
 
Fizemos mais uma preciosa descoberta: quais os rótulos que devemos ficar mais atentos.
 
 
Uma boa visita, mas sem fortes emoções que estavam reservadas para o premiado almoço na Melipal, conduzido pelo Chef Lucas Bustos, reconhecido como um especialista em harmonizações. Vejam o cardápio de 5 passos:
 
1º – Terrina de frango e figos secos ao sol, com geleia de marmelo;
 
– vinho Ikela Merlot;
 
2º – Crocantes de beterrabas com pesto de tomates secos e “tartar” de carne bovina;
 
– vinho Ikela Cabernet Sauvignon;
 
3º – Creme de Lentilhas e “funghi” de pinheiro, servida sobre panceta defumada e croutons;
 
– vinho Melipal Malbec (100% Malbec com 12 meses em barricas de carvalho francês);
 
 
4º – Medalhão de Filé, purê de batatas de Ugarteche (uma localidade), vegetais da época e Chimi Churry de tomates assados;
 
– vinho Melipal Nazarenas Vineyard Malbec (100% Malbec do vinhedo Nazarenas, plantado em 1923 e 18 meses em barricas de carvalho francês);
 
 
5º – Trufa de chocolate amargo e Amaranto, frutas grelhadas e molho de laranja;
 
– vinho Melipal Malbec Colheita tardia.
 
 
A melhor descrição que posso dar a este almoço é: “uivos diversos”!
 
O Crocante de Beterrabas foi uma unanimidade: delicioso!
 
Um ambiente maravilhoso, pratos saborosos com apresentação primorosa e vinhos de alto nível. Ficamos no restaurante até quase o fim de tarde, aproveitando o belo visual e o clima ameno. Quase nos expulsaram…
 
 
Dica da Semana:  um dos bons vinhos servidos neste almoço.
 
Melipal Malbec
 
Melipal é o nome da constelação Cruzeiro do Sul no idioma dos Huarpes. Apresenta coloração vermelho rubi com reflexos violeta.
No olfato mostra aromas intensos de ameixas, cerejas pretas, frutos e nozes. No palato percebe-se frutos vermelhos e especiarias com taninos firmes e persistentes.
Harmoniza com carnes vermelhas, lombo de porco e queijos curados.
91 pontos de Robert Parker
 
 

Mendoza 2014 – 1º dia

Já estava na hora de retornarmos à capital dos vinhos da Argentina e nos atualizarmos. A grande novidade é que seriamos acompanhados por um grupo de seis amigos: Ronald, Marcio, Fabio, Lobianco e o casal Gustavo e Lu. Partimos do Rio numa 5ª feira em voo direto para Buenos Aires de onde embarcamos para Mendoza. Foi um dia inteiro de viagem chegando já de noite em nosso destino.
Para este dia não passar em branco havíamos programado um jantar de boas vindas num dos excelentes restaurantes de alta culinária, o Anna Bistró, com um variado cardápio e excelente adega. A tônica, obviamente, foram os pratos à base de carne com algumas pedidas de massa. Para harmonizar, abrimos os trabalhos com o Petite Fleur da vinícola Monteviejo. Duas garrafas foram consumidas rapidamente devido à baixa temperatura da cidade e à “sede” do grupo.
 
 
O segundo vinho servido com a chegada dos pratos foi o excelente Bressia Profundo, categoria Premium, nitidamente superior ao primeiro. Para finalizar brindamos com um dos bons espumantes da nova geração, o Cruzat, e fomos descansar, no dia seguinte iniciaríamos uma maratona de vinícolas e almoços harmonizados que se estenderia até Domingo.
 
 
6ª feira
 
Nosso roteiro de 3 dias, organizado pela Divinos Rojos (www.divinosrojos.com.ar – María José), foi montado sobre a ideia de conhecermos os terroirs mais importantes: Vale do Uco, Lujan de Cuyo e Maipu. Neste dia nos deslocamos para Tupungato, um dos distritos dentro do vale, para visitar o empreendimento Clos de Los Site, um consórcio de vinhedos e vinícolas de diversos proprietários franceses, comandado pelo famoso enólogo Michel Rolland.
 
São 5 empresas: Menteviejo, Flecha de Los Andes, Cuvellier de Los Andes, Diamandes e Rolland Collection. Visitamos estas duas últimas.
 
A Diamandes impressiona por sua premiada arquitetura. Um prédio muito bem estudado que cumpre as funções de integrar com a bela paisagem e ser perfeitamente funcional para a atividade que se propõe. Vejam as fotos a seguir e tirem suas conclusões.
 
Após esta visita seguimos para a vinícola de Michel Rolland, um contraste impressionante, era apenas um rustico galpão, apelidado de “Concrete Box” (caixa de concreto) que nada tinha de charmoso, pelo contrário, era uma forte presença afirmando claramente: aqui se produz (excelentes) vinhos.
 
 
Fomos recebidos pelo enólogo chefe, o simpático Rodolfo Vallebella. Mais que uma bodega, aqui é um laboratório onde são testadas as mais recentes inovações na arte de produzir vinhos. Tudo é muito simples e direto, sem frescuras. A imagem abaixo mostra a atual tendência, um “ovo” de concreto onde o vinho é produzido e amadurecido.
 
 
Seguimos para a sala de barricas onde seria feita a degustação. A sequência começou com um Sauvignon Blanc em fase final de produção, retirado diretamente do tanque de aço inoxidável, seguido de Pinot Noir, Merlot, Malbec e terminando com o excepcional Camille, dedicado para a neta de Rolland. Este é um produto fora de série elaborado com um cuidado redobrado que inclui especialíssimos barris de carvalho montados com madeira de mais de 200 anos (foto). Tudo o que foi servido veio das barricas, nada em garrafa. Segundo o enólogo, esta é a forma correta de se visitar uma bodega. Vinho engarrafado qualquer um prova…
 
Observação registrada!
 
 
A sequência preparada por Rodolfo nos mostrou diversas possibilidades e foi altamente instrutiva: vinhos jovens, Malbec de diferentes vinhedos e vinhos de sonho. Valeu a pena!
 
O dia terminaria num delicioso almoço harmonizado preparado na Finca Blousson (finca = vinhedo) do simpático casal Victoria e Patrick, dois Portenhos que praticamente largaram suas atividades de origem (áreas financeira e de sistemas) e se mudaram para Mendoza para plantar uvas e, um dia, fazer vinhos.
 
 
Sem dúvida que o projeto é muito sério, lá estão 2 “ovos” já em pleno funcionamento com a assessoria de Matias Michelini, um dos bons enólogos argentinos.
 
 
Eis o cardápio do almoço e os vinhos servidos, todos muito exclusivos:

Recepção:

Empanadas de carne;

Vinho: Espumante Rosé Laureano Gomez;

Entrada: Sopa de cebolas ao Gruyere;

Vinho: Sabato Cabernet Sauvignon (Susana Balbo);

Prato Principal: Cordeiro no Forno de Barro com verduras assadas;

Vinho: Montesco Parral (Passionate Wine/Matias Michelini);

Sobremesa: Torta de maçãs com sorvete;

Café/Chá/Licor de Malbec (Artesanal Finca Blousson).

 
O melhor vinho, minha opinião, foi o Montesco Parral que merece um comentário: Parral significa Latada ou Pérgola, um sistema de condução da parreira em franco desuso. Michelini não só descobriu um vinhedo assim em Mendoza como o recuperou e produziu um belo vinho, mostrando que este tipo de arranjo para as vinhas ainda tem seu lugar. O sistema mais usado é a Espaldeira. Comparem as fotos:
 
 
Já estava escuro quando retornamos ao nosso hotel.
 
Dica da Semana:  não poderia ser outro, mas não é figura fácil por aqui.
 
Montesco Parral 2012
 
Elaborado a partir de 40% Cabernet Sauvignon, 30% Malbec e 30% Bonarda de vinhedos de mais de 30 anos plantados em latada, com estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês e americano.
Bem estruturado e encorpado, com estilo vibrante e com acidez refrescante, envolto por taninos de textura quase granulada. Consegue aliar opulência e austeridade.
94 pontos em 2010 e 90 pontos em 2012 (Parker).
 
 P.S.: só para constar, este vinho nas lojas em Mendoza ou em Buenos Ayres custa 140 pesos, algo como R$ 28,00 pelo câmbio paralelo…

Machupicchu e os vinhos que não bebi – Final

 5º e 6º dias Cusco novamente
 
Depois de uma modorrenta manhã e uma divertida viagem de trem até a estação de Ollanta, seguido de 1:30h de van, retornamos ao nosso simpático hotel em Cusco, já bem aclimatados com o ar rarefeito de lá. Nosso principal objetivo tinha sido plenamente alcançado e estávamos com um dia e meio livres para desfrutar da gastronomia “cusqueña” e nos prepararmos para a celebração do ano novo.
 
Após um breve descanso partimos para jantar num dos mais badalados restaurantes, o Limo, que serve uma culinária peruana com forte sotaque japonês. Interessantíssimo. Nas fotos a seguir uma montagem dos pratos e sobremesas. É para deixar com água na boca mesmo!
 
Para começar os aperitivos: algumas variantes do Pisco Sauer, cervejinha e uma prosaica limonada com especiarias locais. O “amuse bouche” era composto de algumas pastinhas moderadamente picantes e batatinhas assadas no lugar do pão, para mergulhar.
 
 
Os pratos:
 
 
O forte são os pescados, seguido das aves. Carne vermelha, embora boa, é escassa. Assim como no México, o abacate é presença constante nas saladas ou como acompanhamento. A grande novidade ficou por conta do prato mostrado na primeira foto à esquerda: Cuy.
 
Trata-se do nosso “Porquinho da Índia”, uma fonte de proteínas desde os tempos dos Incas. Há, inclusive, pequenos quiosques no Vale Sagrado que os vendem como os nossos espetinhos de carne, “Cuy al Palo”. São muito apreciados e quem provou achou saboroso. É uma carne de porco!
 
Para harmonizar, um belo Finca Las Moras Sauvignon Blanc que estava delicioso. Até que enfim um bom vinho!
 
Um curioso detalhe na hora de servir o vinho foi a pergunta: “local o helado?” Os peruanos não têm o hábito de beber nada com gelo ou muito gelado, tudo é na temperatura ambiente. Nesta noite fazia cerca de 10º na rua e um pouco mais quente no restaurante. Pedimos que gelassem o vinho, só então o balde com gelo e água foi trazido. Voltamos para o hotel em alegre caminhada pela principal via de Cusco, a Avenida del Sol.
 
No dia seguinte, último do ano, após uma manhã de museus, passeio em ônibus aberto e comprinhas, fomos almoçar em outro restaurante badalado, o Cicciolina, com um cardápio de influências italianas. De interessante um diferente presunto cru de pato, servido em delgadas lâminas sobre cubos de polenta. Pensando na ceia de ano novo optamos por pratos mais leves e deixamos os vinhos para mais tarde.
 
 
Bela refeição, embora a nossa preferida tenha sido a da noite anterior. Um vinho perfeito para acompanhar seria o Orvieto DOCG da Piccini, leve e aromático.
 
 
A ceia de Réveillon foi outro capítulo formidável. Compramos, com a devida antecedência, um pacote no Inka Grill, prestigiado restaurante bem localizado na Praça de Armas, epicentro das comemorações. A ilustração a seguir mostra o cardápio oferecido.
 
 
Começamos com uma rodada do onipresente Pisco Sauer. Eu tive que derrubar mais um, que seria do Rubens, o mais novo apreciador da Inca Cola. O problema é que os efeitos do álcool são mais intensos por aqui. Se não moderar a festa acaba mais cedo. Estávamos com uma grande expectativa para saber qual vinho nos serviriam. Podíamos optar por tinto ou branco, apenas.
 
Vieram as entradas e logo depois os pratos principais (fotos).
 
 
Ofereceram-nos um tinto chileno, o Santa Helena Varietal Carmenére. Confesso que tenho certa reserva com vinhos que trazem nomes de Santas ou Santos em seus rótulos, nunca me acertei com eles. Para não bancar o enochato aceitei. Não me arrependi, estava correto e foi boa opção de harmonização. Após as sobremesas foi servido um cava Freixenet Cordon Negro, que é uma aposta certeira apesar de produzido em larga escala.
 
 
Um pouco antes da meia-noite deixamos o restaurante e fomos assistir e participar da comemoração na Praça de Armas, bem diferente do espetáculo pirotécnico do Rio e de outras capitais do mundo. A grande farra em Cusco é correr em volta da praça. Os jovens gastam energia nisto e são muito animados. Contagiante!
 
Fogos de artifício não são bem vistos por lá: colocam em risco o importante patrimônio cultural da cidade (mas tem sempre alguém que solta um rojão…).
 
 
Alegres e satisfeitos voltamos para o hotel. Nosso avião para Lima partiria no final da manhã do dia 1º.
 
6º e 7º dias Lima
 
O primeiro dia do ano na capital peruana é meio morto. Chegamos ao hotel por volta das 15h e logo saímos para passear. Fomos conhecer o Shopping Larcomar, construído sobre uma das muitas falésias locais. Ficamos passando o tempo e fotografando a linda vista para o Pacífico até a hora de jantar.
 
O grupo se dividiu.
 
Cecília e Rubens foram para o turístico restaurante Rosa Náutica (foto), um complexo situado sobre o mar e acessado por um longo píer cheio de lojinhas. Claudia e eu fomos procurar algo mais autêntico, mas não havia muitas opções, tudo estava fechado por conta do feriado. Repetimos o Alfresco e, novamente, foi uma boa pedida.
 
 
Nosso último dia no Peru foi movimentado. O avião que nos traria de volta decolaria às 21:45h, hora local, nos deixando com o dia livre para conhecer melhor a capital do país. Depois de umas compras num supermercado próximo, partimos para conhecer o Centro Histórico e o Museu Larco de arte pré-colombiana, muito recomendado.
 
Este museu é imperdível. Uma instituição particular fundada em 1926, por Rafael Larco Hoyle, aos 26 anos de idade, com ajuda de seu pai. Conta com cerca de 45.000 peças e é um espetáculo à parte.
 
No início de sua coleção se deu conta da falta informações arqueológicas que permitissem classificar adequadamente o material que adquiria. Enveredou-se pelos caminhos da arqueologia, fazendo inúmeras pesquisas e suas próprias escavações. Criou-se o sistema de ordenação cronológica, adotado até hoje, além de ter revelado diversas culturas até então desconhecidas, como a Moche.
 
 
Almoçamos, sem vinho, no simpático restaurante do museu e nos despedimos deste impressionante país, esperando voltar um dia para conhecer outras atrações como as Linhas de Nasca e o Lago Titicaca.
 
O outro lado da moeda
 
A propósito dos comentários feitos na coluna da semana passada, recebi este interessante e-mail do leitor Maurcio Steinberg, que residiu em Lima. Acho importante conhecer os aspectos que não são mostrados aos turistas:
 
“Tuty.
 
Morei e trabalhei em Lima por 1 ano e meio. Lecionei matemática na Federal de Lima como parte de meu doutorado em matemática. No início eu pensei como você que os nativos eram educados e nos tratavam bem, mas conforme a convivência ia aumentando víamos que a educação não é o mais forte deles. Apenas aquelas profissões ou funções que têm integração com o turismo são vigiadas de perto e se houver qualquer tipo de reclamação, o funcionário está fora. O governo trata com mão de ferro quem cuida e atende aos turistas, mas não cuida daqueles que dão educação a seu povo, tal como o daqui, não interessa ter um povo aculturado.
 
Todos os serviços que têm por finalidade o atendimento ao turista são duramente treinados e se não servirem são descartados.
 
Durante os 18 meses que fiquei por lá, bebi alguns bons vinhos, caros, mas bons.
 
Não é comum você ir a jantares em casas de nativos porque eles não recebem bem os estrangeiros que trabalham por lá. Eles acham que você está tirando uma vaga deles e o desemprego por lá é grande.
 
O Peru que você viu, não é o Peru real, o do dia a dia. O que você viu é o Peru para turista.
 
Não estou criticando sua coluna, por favor não me entenda mal, apenas estou colocando minha experiência sobre viver em Lima. Acredite, foi gratificante, mas pesada.
 
Abraços
 
Maurcio-Natal”
 Dica da Semana:  para encerrar esta viagem, uma verdadeira volta ao passado, um clássico.
 
Albert Bichot Petit Chablis 2011
Cor amarela claro com reflexos esverdeados. Apresenta notas de maçã, limão e um belo toque de mineralidade. Na boca é redondo e com boa persistência.
 
Este vinho é muito adequado para servir como aperitivo ou com pratos acompanhados com frutos do mar.
 

Machupicchu e os vinhos que não bebi – III

4º dia: Machupicchu
 
Se vocês estão pensando que o Peru é uma espécie de Brasil subdesenvolvido estão redondamente enganados. Tudo aqui funciona na hora certa e o turista é prestigiado o tempo todo. Não se negam informações e nem mesmo nos lembramos de ter escutado a frase “no lo entiendo”, tão comum na Argentina quando tentamos um “portunhol”. No máximo eles pedem para que falemos pausadamente. Entendem tudo, acham graça, e nos respondem com eficiência e simpatia. Ponto para eles, turismo de 1º mundo.
 
 
Obviamente o nosso trenzinho partiu da estação Ollanta exatamente no horário previsto, 6:30. Optamos pelo serviço Vistadome da operadora Perurail, que nos colocou num vagão com teto panorâmico. Viagem deslumbrante, o trem acompanha o leito do rio Vilcanota/Urubamba pela meia-encosta, atravessando alguns túneis que mal davam para o vagão passar. Pessoas nervosas não ficariam incólumes. Para distrair há um simpático serviço de bordo e venda de camisetas, bonés e coletes, mas cuidado com os preços…
 
Depois de 1:30 chega-se ao Pueblo de Machupicchu/Águas Calientes de onde parte o micro-ônibus morro acima. Se vocês procuram fortes emoções indico esta subida. Uma estradinha muito sinuosa e íngreme por onde trafegam uma quantidade substancial destes pequenos ônibus. Andam de “pé em baixo”, subindo ou descendo e quando há um cruzamento deles simplesmente não cabem os dois na largura. Um tem que ceder. São cerca de 15 minutos de respiração suspensa. (foto)
 
 
Há uma série de restrições para entrar nesta cidade, considerada uma das maravilhas do mundo atual e patrimônio da humanidade:
 
– não se permite comidas;
 
– não podem ser usadas garrafas ou copos descartáveis (tudo deve ser levado de volta);
 
– nem pensar em jogar lixo no chão;
 
– mochilas e similares são limitadas a um volume de 20 litros;
 
– bastões de caminhada só os aprovados pela autoridade local (ponta chata que não deixa marcas no solo);
 
– proibidíssimo fumar;
 
– não se pode tocar em quase nada, somente nos muros. (pichadores que se cuidem);
 
– não danificar a flora ou fauna local;
 
– não criar novas trilhas, utilizar as que já estão abertas.
 
Atento a estas recomendações, desisti da minha ideia de levar uma garrafa de vinho e taças para degustar lá em cima. Imaginava um bom vinho de corte, talvez um Susana Balbo Brioso, tomado ao cair do sol.
 
 
Mesmo sem o vinho, Machupicchu é indescritível, nenhuma foto de cartão postal chega perto da realidade. Após saltar do ônibus e atravessar a burocrática portaria do parque, chega-se ao muro e ao portal de acesso original da cidade perdida. Honestamente, ninguém está preparado para o que se vê ao atravessar o umbral que nos separa da realidade para a magia desta cidadela. É de perder o fôlego!
 
 
Nossa guia, Srta. Silu, valorizou cada etapa deste tour com suas explicações teatralizadas, sempre arrematadas pelo bordão “e así és”, autenticando a veracidade de suas afirmações e das muitas lendas e suposições relatadas. Foram 2 horas de encantamento. Muitas caminhadas, sol intenso (recomenda-se chapéu/boné além de protetor solar) e temperatura elevada porem agradável. Superou qualquer expectativa.
 
Ao final, nossa guia se despediu e nos deixou com tempo livre para exploramos a cidade, com a recomendação de subir até o patamar onde se encontra a casa original do guardião, cujo telhado foi recomposto para mostrar como era aos visitantes e “sacar la foto para el postal!”. Já um pouco cansados, preferimos continuar na parte baixa, nos dirigindo lentamente até a saída e embarcar no transporte de volta até Pueblo de Machupicchu/Águas Calientes.
 
 
O que falar sobre este pequeno povoado nos pés da montanha? Conhecem Pirapora de Bom Jesus do Mato Dentro? Ganha fácil!
 
Apesar de termos almoçado num bom restaurante com saboroso buffet de um dos melhores hotéis do local, não havia muito mais para fazer por aqui. Na rua principal, Calle Pachacutec, há uma série interminável de pequenos albergues e restaurantes, todos com absolutamente o mesmo cardápio e preços, voltados para um público muito específico como os aventureiros ou mochileiros. Para eles aqui deve ser o paraíso. Outra opção era o banho nas águas termais, mas fomos avisados por um brasileiro que passava pelo local de que “a água é meio suja e provavelmente aquecida artificialmente”…
 
 
Nosso trem de volta só sairia no dia seguinte às 13:30h, o que nos levou a ficar procurando opções para passar o tempo: pizza no jantar, fotos diversas, comprinhas no mercado de artesanato e até mesmo “massagem Inca”, seja lá o que isto for.
 
Vinho? Nem pensar, no máximo uma cervejinha. É um chavão antigo, mas verdadeiro: não havia clima, nem para celebrar a beleza de Machupicchu.
 
Em todo o caso, o que vem a seguir seria apropriado…

Dica da Semana:  este seria o vinho perfeito para nos lembrarmos do que foi uma viagem perfeita.
 

Ken Forrester Petit Chenin Blanc
Um Chenin Blanc sul africano típico, em versão leve e sem carvalho. É super-refrescante e bastante cítrico: indispensável em dias de calor. Amadurecido em tanques de aço inox, exala aromas de frutas cítricas, marmelo, pera e flores. Na boca confirma seu frescor, lembrando sabores de maçã verde e grapefruit, tem bom corpo e um final “picante”.

 

Machupicchu e os vinhos que não bebi – II

3º dia: Vale Sagrado
 
Precisamente às 8h lá estava o nosso ônibus da excursão contratada para nos levar ao Vale Sagrado do Incas, onde pernoitaríamos, para, na manhã seguinte, embarcar no trenzinho com destino a Machupicchu. De malinha em punho partimos em nova etapa de nosso passeio.
 
O Vale Sagrado, se estende por mais de 120 quilômetros tendo em seus extremos as cidades de Pisac e Machupicchu e a Cordilheira dos Andes pelos dois lados. Esta estreita planície está situada a 2800 metros acima do nível do mar, bem mais baixo que Cusco. Tem um clima muito agradável com 18º C de temperatura média anual, rica flora e fauna, terra fértil e inúmeros riachos descendo das cordilheiras nevadas e alimentando o Rio Vilcanota, velho conhecido nosso por ser um dos formadores do Rio Amazonas.
 
Tudo gira em torno deste caudaloso rio, que em determinado trecho é mais conhecido por Urubamba, nome de um dos muitos vilarejos que atravessa. As atrações são múltiplas começando com as plantações de milho e batata. São diversas variedades de um e de outro, algumas muito exóticas como o milho roxo, que só é usado para fazer sucos ou o delicioso milho gigante, servido como acompanhamento para qualquer tipo de refeição. Com relação às batatas, existem cerca de 3800 espécies catalogadas.
 
A visita começa com uma paradinha num dos vários mirantes da estrada, para termos uma visão geral do local. (foto)
 
 
Há monumentos, sítios arqueológicos e ruínas por todos os lados, demonstrando que este vale nunca deixou de ser ocupado, desde tempos imemoriais. A próxima parada foi em Pisac, uma interessante cidade dupla, com a parte Inca em cima do morro e a arquitetura espanhola ao pé da montanha, com sua praça central e casas de adobo.
 
Incrível! Tudo em perfeito estado de conservação. Hoje em dia a praça central de Pisac é o ponto de reunião, aos domingos, de todos os grupos indígenas que habitam esta região. Promovem uma grande feira para vender seus produtos e ao mesmo tempo fazerem uma socialização onde os jovens, vestidos de acordo com as regras de cada grupo, procuram suas futuras esposas, igualmente identificadas pelas vestes como comprometidas ou solteiras.
 
 
Na montagem acima estão as duas cidades. Dali seguimos para o almoço, um buffet de comídas típicas, que nos prepararia para a impressionante visita da tarde: Ollantaytambo.
 
Esta outra cidade Inca talvez seja a única que nunca deixou de ser ocupda desde sua criação. A moderna arqueologia afirma que esta região foi um complexo militar, religioso, administrativo e agrícola, alem de palco de uma das poucas derrotas impostas aos espanhóis.
 
Como em tudo por aqui, há uma bela lenda que explica o seu nome. Ollanta era um chefe militar que se apaixona pela filha do Imperador Pachacutec. Decide “raptá-la” (foi consensual) gerando um conflito de mais de 10 anos nas tentativas, do pai, para recuperar sua filha. Somente após a morte de Pachacutec foi que seu filho, o novo Imperador, concede a mão de sua irmã, Cusi, transformando o chefe Ollanta em seu mais fiel oficial.
 
Visitar Ollantaytambo requer um bom preparo físico, são 236 degraus a serem galgados até seu topo para descortinar uma das mais belas e intrigantes paisagens do vale.
 
Quem do nosso grupo se habilitou?
 
Somente eu!
 
 
A foto acima dá uma idéia do percurso. A “escada” está à esquerda junto à encosta. A subida é gradativa, com pausas para recuperar o fôlego a cada 4 ou 5 patamares. Mas valeu cada momento. Ao chegar ao topo minha adrenalina estava no máximo. Para comemorar o meu feito brindaria com um delicioso espumante, um Cave Geisse Brut Nature seria perfeito!
 
Lá em cima pudemos observar esta imagem (foto) de uma face esculpida na montanha:
 
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Este seria o rosto dos Deus das Sementes.
 
Comparem com as fotos seguintes. A primeira foi tirada de uma ilustração que representa esta divindade no livro que o nosso guia levava, a segunda é de uma das muitas ilustrações de Francisco Pizarro, o Conquistador Espanhol:
 
 
Há uma notável semelhança!
 
O resto da história fica por conta de cada um, mas imaginem Pizzaro chegando em seu cavalo, animal desconhecido paras os Incas, a este povoado: no mínimo acharam que era a encarnação do Deus esculpido na montanha.
 
Os meus companheiros de viagem ficaram num barzinho ao pé da montanha, enquanto eu enfrentava um retorno nada fácil. Vejam na foto da direita: a trilha de descida fica do lado oposto ao da subida sendo bastante íngreme e sinuosa.
 
 
Ao final do dia fomos deixados em nosso hotel no Vale onde jantaríamos. Todo animado e com o sério intuito de me recompensar pela subida de Ollantaytambo, pedi a carta de vinhos do pequeno restaurante. Quase uma decepção: só havia um único vinho, peruano e totalmente desconhecido para mim. Mais por curiosidade do que por qualquer outro motivo, pedi uma tacinha. (foto)
 
 
Não era de todo ruim, ingênuo talvez, lembrando muito os vinhos nacionais quando ainda eram nada mais que uma tentativa de fazer um bom vinho. Claudia detestou, Cecília disse que “dava para tomar”, Rubens não bebe álcool preferindo uma “deliciosa” Inca Cola. Consultamos um famoso guia de vinhos internacionais que trouxe o seguinte comentário: “melhor não beber”…
 
Depois desta ducha de água fria só restava um merecido descanso. Às 6h o trem para Machupicchu partiria. 

Dica da Semana:  mais uma boa opção para enfrentar o calor sem deixar de apreciar a nossa bebida predileta. 

 

MAIA VARIETAL COLLECTION TORRONTÉS

De cor amarelo palha, este vinho apresenta aromas florais, com toques de frutas cítricas e brancas como melão e maçã. Acidez correta garantindo o frescor e realçando os aromas se realcem. Boa untuosidade e persistência.
Ideal para o inclemente verão de 2014.

 

 
 
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