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Uma coluna para o Natal e Ano Novo – 1ª parte

Apesar do nosso clima tropical, as festas de fim de ano são sempre uma boa oportunidade para presentear e consumir bons vinhos. Difícil é acertar uma combinação do que vai ser servido nas tradicionais ceias com sua contraparte enológica ou acertar a lembrancinha para o nosso mais querido enochato. Vamos ajudar! 
Começando bem o dia 
Que tal nos presentearmos com um diferente café da manhã no Natal ou no último dia do ano? Esta receita, apesar de inusitada, vai nos preparar para enfrentar este movimentado dia e servir de introdução para um delicioso assunto: Espumantes! 
Ovos mexidos com salmão defumado, sobre fatias de pão torrado, servido com uma taça de espumante! 
Vamos precisar: 
75g de manteiga amolecida 
2 colheres de chá de massa ou purê de tomate 
2 colheres de sobremesa de ervas (endro, salsa, cebolinha) picadas 
2 colheres de sobremesa de alcaparras drenadas e picadas 
Sal e pimenta do reino a gosto 
4 fatias de pão rústico ou italiano com 2 cm de espessura 
4 ou 5 ovos batidos 
100g de salmão defumado cortado em tiras pequenas 
Preparo: 
1- Separe 50 da manteiga e misture com a massa de tomate, as ervas e as alcaparras. Tempere com sal e pimenta e reserve. 
2– torre as fatias de pão e as mantenham aquecidas. 
3– utilizando uma frigideira em fogo médio/baixo, derreta o restante da manteiga e prepare os ovos mexidos com metade do salmão, de modo que fiquem macios ou baveuse como dizem os franceses. Não deixe secar. 
4 – passe um pouco do creme de manteiga em cada torrada, cubra com os ovos, algumas tiras do salmão e decore com ervas e tomates picados. 
Para acompanhar, uma taça de bom espumante Brut, branco ou rosé. Mas qual? 
Há ótimos vinhos da França, Itália, Espanha, alguns muito caros. Portugal, Argentina e Chile já exportam boas borbulhas também. Mas nem tudo que reluz é ouro. Cuidado com algumas ofertas: nem sempre o barato é bom. 
Os nacionais são excelentes. Procure por linhas que levam as denominações Ouro, Milléssime, Reserva ou Gran Reserva. Algumas sugestões: 

Chandon – sempre entre os melhores 

Casa Valduga – edição especial de 130 anos, delicioso 

Miolo Millésime – outro peso pesado 

Pouco conhecido, o Don Guerrino tem excelente relação custo x benefício 

O Villagio Grando é um ótimo representante da Serra Catarinense 

Presenteando 
Comprar uma boa garrafa de vinho e presentar é a coisa mais fácil do mundo e ainda faz um grande efeito. Para fugir da mesmice, que tal escolher um bom acessório ou mesmo um livro sobre vinhos. Eis algumas sugestões. 
Saca rolhas tipo Sommelier – é aquele que a maioria dos profissionais usa. Prático, fácil de usar e, com os seus 2 estágios, simplifica muito o esforço necessário para tirar uma rolha. 

Um modelo mais sofisticado é o Rabbit, mas só vale a pena para aqueles que abrem muitas garrafas. 

Outras boas sugestões são termômetros, decantadores e taças (sempre 1 par). 

Para incrementar a biblioteca do bom enófilo: 

1001 vinhos para beber antes de morrer – este é imperdível! Até os menos aficionados vão adorar 

Guia Ilustrado Zahar de Vinhos do Mundo Todo – livro de referência, muito bem elaborado e completo.Um must 

A Arte de Fazer um Grande Vinho – interessantíssimo documentário sobre Angelo Gaja, o maior nome do vinho italiano na atualidade e sua obsessão em produzir um grande vinho, o Sori San Lorenzo. Apaixonante. 

Na semana que vem, falaremos da harmonização dos pratos natalinos e mais algumas receitinhas.

Alemanha, Líbano e Grécia

Antes de cruzarmos o Atlântico e iniciarmos a jornada pelos vinhos famosos do Novo Mundo, vamos conhecer um pouco destes três países e seus surpreendentes vinhos. 
Alemanha e seus brancos maravilhosos 
Os Romanos introduziram a vinicultura na Alemanha. Na idade média, a Igreja Católica adquiriu e expandiu os vinhedos. Coube ao Imperador Carlos Magno, no século XVIII, posicionar vinhedos na região de Rheingau. A vinicultura alemã também fez história. 
Não tendo mais a importância de antigamente, atualmente a área plantada é aproximadamente um décimo de França ou Itália. Muito respeitada por ser o berço da uva Riesling, uma das grandes damas do vinho branco, ao lado da Chardonnay, produz uma vasta gama de vinhos, desde os secos Kabinet aos raros e caros Trackenbeerenauslese (TBA) e bons tintos à base de Pinot Noir ou Spätburgunder. Os alemães são grandes consumidores de seus vinhos, não sobrando muito para exportar. O pouco que vai para o exterior não é a parcela mais significativa, principalmente no item qualidade. 
Alguns rótulos alemães foram falsificados sem nenhum escrúpulo como o famoso Liebfraumilch, muito popular há alguns anos atrás. Houve ainda a invasão dos vinhos conhecidos como garrafa azul, de pouca qualidade, que ajudariam a destruir a reputação dos germânicos aqui no Brasil. Mas há exceções. 

Uma das histórias mais interessantes é a do vinhedo Bernkasteler Doktor localizado na mais valorizada área rural do rio Mosela. Ocupa uma pequena área e poucos produtores o exploram. Há uma lenda sobre este nome: teria sido dado pelo arcebispo Boemund de Trier, século XIV, proprietário de um castelo sobre a cidade de Bernkastel. Um dia adoeceu e nenhum dos remédios conhecidos o faria melhorar. Mas uma taça do vinho ali produzido fez a cura milagrosa. Em gratidão, atribuiu o título de Doutor (Doktor) àquele local. Anos mais tarde, em 1921, sairia destas vinhas o primeiro TBA do Mosela. O principal vinhateiro da região é Dr. H. Thanish, seus vinhos estão entre os melhores e mais caros do país. 
A Mosela não é o único terroir da Alemanha: Reno, Palatinato, Nahe, Francônia, etc. produzem excelentes vinhos. São nomes famosos: Dr. Loosen (Mosela), Dr. Burkiln Wolf (Palatinato), Robert Weil (Reno) e Hans Wirsching (Francônia). 

Líbano e o Chateau Musar 

Este é uma das glórias entre os vinhos tintos, uma das poucas bebidas com uma enorme personalidade que traduz, perfeitamente, o carinho e a dedicação da família Hochar, que o vinifica desde 1930. Tendo superado todo o tipo de adversidade, inclusive uma devastadora guerra civil nos anos 80, conseguiram manter vinhedos e vinícola intactos, transportando as uvas, muitas vezes, pelas linhas de frente. 

Um delicioso corte de Cabernet Sauvignon, Cinsault e Carrignam, em proporções que variam a cada safra. Dependendo do ano, pode parecer um Côtes du Rhône ou um Medoc. Surpreendente e respeitado por críticos de todo o mundo. São produzidas versões em branco e rosé, além de um varietal de vinhedo único, o Hochar Pére et Fils. 

Serge Hochar atual proprietário 

Outros produtores libaneses conhecidos são Chateau Kefraya e Chateau Ksara. 
Os vinhos Gregos 
Grécia foi um dos berços dos vinhos. Sua história de vinicultura tem mais de 4.000 anos. Em 1000 AC, eram os grandes exportadores utilizando, como recipiente, as famosas ânforas que já naquela época mostravam sinais de uma legislação vinícola: havia diferentes formatos para cada área produtora, era obrigatória a indicação do ano de produção e cada vaso recebia um selo de autenticidade emitido pelo governo local. 

Os gregos difundiram o plantio de uvas em várias partes do Mediterrâneo, marco inicial da vitivinícola europeia. No sul da Itália ainda se encontram cepas com os nomes usados na Grécia. 

No mundo moderno a parcela de produção atual é mínima se comparada com a antiguidade. A partir dos anos 80, surge uma nova geração de enólogos, formados nos principais centros vinícolas do mundo e diversas marcas multinacionais investiram na produção de vinhos modernos, aproveitando a excelente diversidade de uvas autóctones. Cepas como Aghiorghitiko, Assyrtiko e Moschofilero e os produtores como Boutari, Gerovassiliou e Gaia já estão no repertório de bons enófilos. 

Existe uma classe de vinhos muito particular e simpática aos gregos, o Retsina. Para impedir a oxidação dos produtos que eram exportados nas ânforas, estas eram seladas com uma resina de pinheiro. Mais tarde, a resina passou a cobrir o líquido alterando o seu sabor e criando uma nova categoria: vinho com sabor de resina. Pouco a pouco, por exigência do mercado, esta característica foi se tornando mais sutil, com sabor menos intenso, fresco e fácil de beber. Embora renegado, existem exemplares de excelente qualidade e que harmonizam perfeitamente com a culinária local mais condimentada. 

Dica da Semana: um delicioso tinto da Grécia. 

Náoussa OPAP 2006 
Produtor: Boutári 
País: Grécia egião: Macedônia 
O mais emblemático vinho grego de qualidade, colecionando prêmios há mais de 50 anos, o ótimo Naoussa, elaborado com a uva Xynomavro, é rico e concentrado, bastante saboroso. Tem cor vermelha vívida e seu complexo buquê denota frutas vermelhas maduras, canela e carvalho. Tem grande potencial de envelhecimento. Foi o primeiro vinho a ser engarrafado na Grécia, continuando até hoje a ser um dos tintos de referência do país. 
RP 88 (06) – WS 87 (06)

Estamos na Itália – Terra do Rei dos Vinhos!

A bota é uma região vinícola surpreendente, com uma diversidade de castas que equivale à de Portugal e uma quantidade de diferentes terroirs equiparável a dos franceses. Algumas das uvas italianas só vinificam bem em solo natal, mesmo tendo sido plantadas nos quatro cantos do mundo. Apaixonados por tudo que fazem, os seus vinhos refletem esta intensidade. Cada pequena cidade tem sua uva e vinho característicos e, haja discussão para saber qual é o melhor. 

Talvez o vinho típico mais conhecido seja o Chianti, obtido com a Sangiovese, aquele da garrafa embrulhada em palha. Produto da Toscana que teve a infelicidade de ser (mal) copiado por produtores inescrupulosos. Chegou a ser considerado um vinho de segunda para desespero dos apreciadores. Após alguns ajustes na condescendente legislação local, existem, hoje, dois tipos de Chianti: o clássico e o DOCG. Apesar da evidente melhora na qualidade, houve uma descaracterização. 
O Brunello de Montalcino, toscano como o anterior, é obtido através da vinificação de um clone da Sangiovese, chamado Grosso ou Brunello. É um dos vinhos mais caros da Itália, por isto mesmo, copiado e falsificado. Com o intuito de aumentar a competitividade no mercado mundial, produtores oportunistas incluíram outras uvas, não italianas, como a Merlot e a Cabernet na sua elaboração. Um escândalo nacional! O Ministro da Agricultura perdeu seu cargo por não ter exercido os controles com a devida autoridade. O vinho adulterado foi rebaixado e rotulado como Rosso de Montalcino. Resultado prático: ficou difícil confiar nos vinhos que estão à venda. 

Uva Nebbiolo 

A grande cepa nacional, Nebbiolo, da região do Piemonte, é tão temperamental e difícil de vinificar quanto a Pinot da Borgonha. Dois fabulosos vinhos são produzidos a partir dela. O mais famoso é conhecido como Rei dos Vinhos há, pelo menos, 200 anos, epíteto cunhado por um francês que foi contratado para vinifica-lo: O Barolo. 
Até o início do século XIX, o vinho produzido na região de Barolo era uma bebida doce ou, na versão mais seca, um vinho amargo e tânico. Coube à Marquesa Giuletta Falletti convidar o enólogo francês Louis Oudart para mudar este quadro. Em pouco tempo estava vinificando uma das maravilhas do mundo dos vinhos. Seu grande divulgador foi o Conde Cavour que o apresentou a realeza. Rapidamente os demais vinicultores do Piemonte copiaram o modelo de Oudart. Nascia a lenda. 

Castelo de Barolo 

Pelo método tradicional, utilizado até hoje, as uvas são colhidas prematuramente, seguida de uma longa fase de maceração e fermentação. O vinho é envelhecido por um longo período, acima de três anos, em grandes dornas de carvalho esloveno. Uma vez engarrafado, é necessário esperar mais alguns anos para domar a acidez e o tanino. O resultado final é surpreendente, com aromas de rosas, notas de alcatrão e sabores inebriantes. 

A Guerra dos Barolos 
Com a expansão dos vinhos feitos no Novo Mundo, este e outros monstros tradicionais da vinicultura europeia, rapidamente perceberam que teriam que se atualizar: esperar mais de cinco anos para colocar um vinho no mercado, mesmo que fosse um produto inigualável, começava a deixar de ser um bom negócio. 

Alguns renomados produtores do Barolo modernizaram técnicas e métodos, adotando o modelo que fazia sucesso: tanques de Inox com temperatura controlada, uvas colhidas no ponto ideal, menor rendimento nos vinhedos, maceração a quente, fermentadores rotativos, enfim, tudo que a moderna tecnologia pode oferecer. O produto final foi, novamente, um vinho maravilhoso. Mas gerou uma verdadeira guerra, de um lado, os tradicionalistas, de outro os modernistas. 

Não há vencedores ou derrotados, talvez, o orgulho ferido de um vinhateiro mais arraigado às tradições. Ganham os consumidores. 
Principais Produtores 
Copiando a vida real onde há tantos títulos da nobreza italiana à disposição de quem se dispuser a pagar por eles, há uma infinidade de Reis do Barolo. Vamos apenas citar alguns. 
Os nomes mais respeitados entre os tradicionalistas são: Giuseppe Rinaldi, Giuseppe Mascarello, Giovanni Conterno, Paolo Conterno, Cavallotto, Bruno Giacosa, Luigi Pira e Vietti. 
Os modernistas são: Scavino, Ceretto, Sandrone, Domenico Clerico, E. Pira, Parusso, Silvio Grasso e Pio Cesare. 
Dois produtores fazem uma fusão destas escolas: Roberto Voerzio e Elio Altare. 
O outro vinho, famoso, produzido com a Nebbiolo é o Barbaresco, que tem como expoente o produtor Angelo Gaja, o nome mais conhecido do moderno vinho italiano. Sua versão do Barolo é o Sperss. Mas esta é outra história… 

Vinhos de Angelo Gaja 

Dica da Semana: Não existem Barolos ou Barbarescos com preços acessíveis aos pobres mortais. Procuramos um vinho de um ótimo produtor, Batasiolo, vinificado com a uva Nebbiolo. 

Batasiolo Langhe Nebbiolo 
Da uva cultivada nos vinhedos da prestigiosa zona de Langhe, obtém-se um vinho tinto grená de sabor pleno e harmonioso. O perfume é intenso e delicado, com traços de fruta madura que muda para um agradável traço de especiarias se o vinho for envelhecido. 
Harmonização: Rondelle de ricota e espinafre com molho ao sugo.

Chegamos à França!

Temos de enfrentar o doce dilema de escolher um ícone. Com tantos vinhos importantes, o que fazer? Poderíamos escolher um Champanhe, perfeito para as grandes comemorações. Mas qual? As famosas Moet & Chandon ou a Veuve Clicquot? A celebrada Cristal? Quem sabe a Bollinger, preferida por James Bond? Nos tintos, teríamos que pinçar um dos muitos Chateauxs Bordaleses, aumentando a dificuldade: Haut-Brion, Margaux, La Tour, Angélus, Petrus etc, alguns muito pouco conhecidos, mas simplesmente maravilhosos. Há, ainda, as regiões do Rhone, da Provence e Alsácia, nos deixando uma tarefa inglória… 
Um vinho, entretanto, tornou-se muito significativo, para os brasileiros, ao ser usado em uma grande festividade. Tornou-se um ícone, neste país. Vamos escolhê-lo, não só por esta razão, mas por ser um grande vinho, raro, de difícil produção e com preços exorbitantes, o que limita o seu acesso às camadas mais altas da sociedade. Um vinho para quem é um apreciador mais que apaixonado, um vinho para poucos, o mais cobiçado do mundo. 
Da Borgonha, apresentamos o Domaine de La Romanée-Conti. 

Um pouco da história 
Para entendermos 11 séculos de existência, 9 proprietários e uma fama que não tem preço, convém dar a conhecer, primeiro, um importante detalhe da legislação francesa: a classificação é dada ao vinhedo, ou Cru, particípio passado do verbo croître, traduzido como cultivar. Dependendo da região vinícola, há pequenas particularidades nesta classificação. Na Borgonha temos: Grand Cru; Premier Cru; Village. 
O que vale é o terreno, o terroir. Dentro da Borgonha, os mais valorizados estão na região de Vosne-Romanée, onde nasce o vinho desta semana. A saga, de quase 1500 anos, começa em 1232, quando a Abadia de Saint Vivant, em Vosne, adquire 1,8 hectares de vinhedos. Em 1631, as terras são vendidas aos Croonembourg, que passam a denominá-las La Romanée, aparentemente em homenagem a soldados romanos que por ali haviam passado. Na mesma ocasião, a família compra uma área adjacente, conhecida como La Tâche, outro vinhedo famoso atualmente. 

O ano chave seria 1760, quando os proprietários resolvem vender a área, num disputado leilão, do qual participaram Madame de Pompadour e seu arqui-inimigo Louis François de Bourbon, Príncipe de Conti, que saiu vencedor. Surgia assim o Domínio Romanée-Conti. Anos depois, durante a revolução francesa, Sua Alteza foi encarcerado, suas terras expropriadas e, novamente, leiloadas. Somente em 1869, após sucessivas trocas de mão, começa a se formar o Domínio tal qual é hoje conhecido. Foram acrescentadas novas áreas, todas Grand Cru, até que em 1936, em consequência de outras disputas, o vinhedo de La Tâche volta a ser incorporado, criando-se o atual monopólio de Grand Crus. A família Villaine é a atual proprietária. 
O Romané-Conti, ou DRC, foi produzido até 1945, quando a praga da Filoxera dizimou as vinhas, obrigando o replante através de enxertos, ocorrido em 1947. Uma nova vinificação só ocorreria em 1952. Há, portanto, duas fases bem distintas na história deste vinho. 
Notas de Degustação safra 2008 
(gentileza do nosso correspondente na Bourgogne, Monsieur Tareco) 
O DRC é 100% Pinot Noir, uma uva temperamental e famosa por sua dificuldade em ser bem vinificada, a grande especialidade Bordalesa. São produzidas, em média, 450 caixas por safra, o que torna este vinho um dos mais raros. Todos os vinhedos do monopólio são conduzidos de forma orgânica e biodinâmica. No trabalho de campo são empregados cavalos ao invés de tratores. 
O vinho é fermentado com os engaços, o que é incomum naquela região. O amadurecimento, por um período entre 16 a 20 meses, é em barris novos de carvalho, provenientes de uma parcela própria na floresta de Troncais. Não se usa bombeamento; todas as operações de trasfega, assemblage ou engarrafamento são feitas por gravidade. O vinho não é filtrado, e caso seja necessário clarificá-lo, apenas clara de ovo é utilizada. 

De coloração rubi, mostra aroma de frutas vermelhas, flores jovens, um pouco de mentol e notas de molho de soja. O corpo é médio, característica desta varietal, com um soberbo equilíbrio entre acidez e taninos; boa textura e um final de boca longo e radiante. 
Um monstro de vinho! 
Segundo o respeitado crítico internacional Clive Coates: “o mais raro, o mais caro e, frequentemente, o melhor vinho do mundo (…) o mais puro, o mais aristocrático e o mais intenso exemplo de Pinot Noir que se possa imaginar. Não é apenas um néctar, mas uma referência para se julgar todos os outros vinhos da Borgonha”. 
O DRC tem vários irmãos, como o La Tache, em determinadas safras considerado superior, além do Échézeaux, o Richebourg e o St-Vivant. 

Pertencente também ao mesmo grupo, a denominação Montrachet (pronuncia-se monrrachê) é nada mais, nada menos, que o melhor branco da França!… 

Dica da Semana: Um vinho um pouco mais caro, mas um excelente Pinot da Borgonha, que não fará feio acompanhando um bom arroz de pato. 

Bourgogne rouge 2008 
Produtor: Joseph Drouhin 
País: França / Bourgogne 
Casta: 100% Pinot Noir 
Este borgonha é produzido por Joseph Drouhin, um dos mais antigos e respeitados produtores da região. Um vinho concentrado e cheio de fruta madura. Na boca é amplo e sedoso. Harmoniza com pato, caça ou mesmo alguns peixes mais gordurosos como atum.

Um ícone espanhol

Continuamos na Península Ibérica. Pelas águas do Rio Douro, atravessamos a fronteira e chegamos à região espanhola de Ribeira del Duero, terra de um dos mais fantásticos vinhos do mundo. Tudo começou quando mercadores fenícios vinificaram, na região da Andaluzia, a mesma do Jerez, entre 1100 a 500 AC. Os gregos vieram depois, com seus animais e suas vinhas. Os romanos, em 200 AC, transformaram a agricultura familiar em indústria, para suprir suas legiões e a própria Roma. Com a chegada dos Mouros, em 711 a produção seria interrompida. Somente a partir do século XIV a vinificação ganharia novo impulso. Atualmente, a Espanha ocupa uma insofismável posição de destaque no cenário vinícola. 

A região de Ribeira del Duero incorpora-se a este mercado em 1850, época em que os métodos bordaleses são introduzidos. Em 1864, Don Eloy Lecanda funda sua bodega com o objetivo de produzir vinhos que se equiparassem aos de Bordeaux. Plantou 18.000 mudas de videiras dos tipos Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec e Pinot Noir, castas até então desconhecidas no território espanhol. 

O reconhecimento viria em 1915, graças a Domingo Garramiola, o Txomin, que se encarregou de produzir a primeira safra do fantástico

Vega Sicilia Unico, um dos 10 melhores vinhos do mundo. 

A bodega de Lecanda fora adquirida pela família Herrea que, por sua vez, a alugou a Cosme Palacio, que contratou Txomin. Trabalhando duro, sua primeira providência foi limpar a área e adotar técnicas higiênicas. Ele trocou todos os barris, ou dornas de envelhecimento, por madeiras de carvalho francês. Adotando, estritamente, as técnicas de Bordeaux, nasceria um vinho lendário. Os proprietários não o vendiam, distribuindo as garrafas entre membros da alta sociedade e pessoas amigas, forjando o mito que tal vinho não poderia ser pago com dinheiro, somente com estima. Um vinho único, exclusivo. 
A Evolução do Vega Sicilia 
No início de sua produção, o Único ficava guardado em tonel carvalho por 10 anos, sendo engarrafado a pedidos. Isto dava ao vinho uma madeira exagerada, mas com muita fruta e perfume. Em 1966, o enólogo Mariano Garcia introduz técnicas mais recentes, reduzindo a madeira sem perda de outras qualidades. A Vega Sicilia foi comprada por David Alvarez, em 1982, que promove uma grande modernização, aos moldes do que fez Txomin, no início do século XX. O Veja Sicilia Único não é mais um vinho pesado e amadeirado, embora mantenha uma bela estrutura, harmonioso, com muita fruta escura, grande potência e capacidade de guarda. A tradição se mantém, a ponto de não se fazer sequer a colheita quando a safra não é boa. 

Notas de Degustação – safra de 1999 
Um corte de 80% Tempranillo e 20% Cabernet Sauvignon, envelhecido por 2 anos, em grandes dornas de carvalho, seguido de 16 meses em barris menores, novos, de carvalhos franceses e americanos. Depois, mais 3 anos em uma mistura de diferentes tonéis e, por fim, mais duas rodadas de 3 anos, em barris usados e de volta às grandes dornas. 
É um vinho homogêneo e escuro. Aromas muito complexos e perceptíveis notas de couro, adstringência como a das frutas vermelhas, carnes de caça e a doçura de chocolate e cerejas negras. Na boca é muito elegante, com alguma fruta, inicialmente, complementado por excelentes taninos e corpo que crescem no paladar. Perfeitamente balanceado e integrado. 
Desde sua primeira safra o Único é acompanhado por irmãos menores. Por exemplo, o Valbuena, quase tão famoso e, muitas vezes, confundido; o Vega Sicilia Gran Reserva, produzido somente em anos especiais, e o Reserva, que não é safrado. 

Dica da Semana: um espanhol da região de La Mancha que, como D. Quixote, luta por seus ideais. 

Manon Roble Tempranillo 2008 
Produtor: Bodegas Mano a Mano 
País: Espanha / Região: La Mancha 
Casta: Tempranillo 
Apontado por Robert Parker como uma das melhores compras do mundo do vinho, este cativante tempranillo é maturado 7 meses em barricas de carvalho. Macio e cheio de fruto, dotado de certa elegância, é uma magnífica escolha para ter sempre em casa.

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