Page 93 of 145

Olfato e Paladar envelhecem?

velho 1

Da mesma maneira que ganhamos rugas e cabelos brancos com a idade, os nossos sentidos também experimentam perdas.

A nossa habilidade de perceber aromas ou a sensibilidade para identificar diferentes sabores, decaem com o tempo, mas são as menos afetadas. Alguns felizardos, entretanto, nunca vão perceber.

De acordo com o Dra. Beverly Cowart do Monell Chemical Senses Center na Philadelphia, que estuda, há 30 anos, o envelhecimento e  as alterações destes sentidos, olfato e paladar são sistemas fisiológicos distintos.

Somos capazes de perceber quatro sabores básicos, doce, azedo, salgado e amargo. Recentemente mais um sabor, “umami” (suculência) foi incluído nesta lista, mas ainda se discute se realmente deveria ser considerado como um sabor primário.

O ser humano começa a sua vida equipado com cerca de 10.000 receptores de sabor, distribuídos pela boca e garganta. Cada receptor envia sinais para o cérebro.

Para o olfato, começamos com cerca de 350 receptores de aromas no interior do nariz, o que nos permite identificar milhares de cheiros diferentes. Mas existem pessoas que não conseguem perceber quase nenhum odor.

Pesquisas médicas já demonstraram que a habilidade de reconhecer diferentes aromas decai muito mais que a capacidade análoga do paladar. Este último é o sentido mais estável do nosso organismo. O número de receptores de sabor diminui com a idade, mas quase ninguém percebe pois estão espalhados por toda a cavidade bucal e pela língua. Se levarmos em conta que as sensações de textura contribuem na identificação de diferentes paladares, a nossa capacidade de saborear e identificar um bom vinho permanecerá por longo tempo.

Os sabores amargos são os que se perdem primeiro, principalmente nos homens. As mulheres só vão perceber esta mudança durante a menopausa. Outros estudos demonstraram que a sensação de alimentos salgados diminui muito mais que a percepção para os doces.

Com relação ao olfato, pesquisas norte-americanas registraram uma acentuada perda na faixa etária entre 70 e 80 anos. As diferenças entre aromas ficam mais difíceis de serem percebidas e alguns, em particular, se perdem para sempre. Cada indivíduo vai reagir de maneira distinta a este problema.

O grande aliado para compensar o declínio natural destes sentidos é a nossa memória: todas as sensações por nós experimentadas ficam registradas, para sempre, dizem alguns pesquisadores. Quanto mais detalhados formos ao degustar um vinho, melhor conseguiremos identificá-lo em outra ocasião.

Esta bagagem se torna muito importante na 3ª idade. O nosso cérebro está preparado para sempre fazer novas conexões, compensando desta forma, as perdas no olfato e no paladar. Isto explicaria, por exemplo, a nossa mudança de gosto com relação ao vinho, tipicamente, quem não gostava de brancos aromáticos passa a preferi-los quando entram na faixa dos “enta”.

Pensando bem, isto bem administrado se torna uma arma formidável: sempre teremos novidades debaixo do nosso nariz, descobrindo novos e desconhecidos prazeres.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: repleto de aromas e sabores.

velho 2Côtes du Rhône Gentilhomme 2014 (Ogier)

Este saboroso corte das castas Grenache, Syrah, Mouvèdre, Cinsault e Carignan, é fresco e repleto de notas de fruta, com um toque terroso no palato que é perfeito para acompanhar comida. Excelente relação qualidade-preço!

O que um Enófilo busca no vinho?

eno 1

Qualquer dicionário vai explicar que Enófilo é quem aprecia e estuda vinhos. Mais que um apreciador comum, é alguém que tem por hábito, entre outras coisas, anotar o que degusta, pesquisar vinhos que melhor se adequam a uma estação do ano ou a um determinado prato ou alimento. Um aficionado em todos os sentidos.

Não existe uma formação obrigatória para ser reconhecido como Enófilo, mas algumas características se impõem:

– Aroma e paladar treinados;

– Sólidos conhecimentos sobre regiões, castas e vinhos;

– Compreender a importância das safras (para grandes vinhos);

– Noções de harmonização;

– Dominar, com confiança e habilidade, o serviço do vinho.

Mais poderia ser dito, mas estaríamos enveredando por adegas, garrafas míticas, cadastros em lojas especializadas e vasta biblioteca. O que importa, entretanto, é entender a diferença entre alguém que pede um vinho para acompanhar sua refeição e a mesma situação vivida pelo Enófilo.

Para estes, não basta gostar do vinho, é preciso ter mais informações para poder apreciar completamente o seu potencial: procedência, como foi elaborado, safra, castas e qualquer outra informação, mesmo que pareça irrelevante, pode contribuir para que se alcance o que é denominado como “toda a extensão do paladar”. Este passo, a mais, faz toda a diferença.

Entramos num terreno quase mítico. Será verdade que o vinho elaborado por um determinado produtor é tão melhor que qualquer um outro? Ou que esta casta produz vinhos mais fáceis de beber?

Uma resposta simples seria “mais mitos que verdades”, mas há muito mais por trás disto.

Cada pessoa que provar um vinho vai ter uma experiência diferente. Há uma razão muito simples para isto: não somos iguais. Cada degustador passou, ao longo de sua vida, por diferentes experiências na formação de seus gostos pessoais, o que inclui aromas e sabores.

Isto posto, como será possível, por exemplo, identificar, ao degustar um vinho, um aroma ou sabor que não conhecemos?

Duas correntes são aceitas, os que ignoram aquilo que não conhecem e os que buscam saber do que se trata. Esta é a atitude que separa um Enófilo do degustador comum.

Há uma satisfação, toda especial, em associar uma gama de conhecimentos, prazerosamente adquiridos anteriormente, com um determinado vinho. Seja pela coloração, aroma, sabor ou pela informação irrelevante. Isto leva tempo para acontecer.

A citação é de Fabricio Portelli, um dos mais importantes conhecedores de vinhos da Argentina:

“Os bons vinhos são possíveis por serem elaborados por pessoas e castas que provêm de lugares específicos, sob um conceito e perseguindo um objetivo preciso. Caso contrário, não existiriam. Entretanto, o seu êxito estará em conseguir agradar”.

O pensamento termina com mais uma frase de difícil tradução literal. Para podermos compreender, foi feita uma adaptação:

“Quando se degusta um vinho, não é qualquer vinho”.

Esta é a chave para entendermos como funciona a cabeça de um Enófilo.

Eles não fazem vinhos, função do Enólogo; não coordenam cartas de restaurantes ou lojas especializadas em bebidas, função do Sommelier; mas são os que melhor sabem consumir a bebida de Baco.

Tiram prazer em cada gota.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: um Syrah chileno cheio de coisas para descobrir

eno 2

 

Ventisquero Queulat Gran Reserva Syrah

De cor vermelha escura, o vinho possui aromas que mescla frutas silvestres escuras, pimenta, couro, tostado, café, tabaco e chocolate.

Na boca tem taninos firmes e elegantes, com final de boca macio e elegante.

 

Fraudes, enganos e trapaças no vinho

O tema desta coluna é inspirado na questão colocada pelo leitor João Carlos Cavalcante:

“Tenho uma curiosidade que surgiu num papo com amigos. Você já teve conhecimento de algum vinho que declara uma determinada uva e na realidade ele foi feito com outra”?

Como em qualquer outro tipo de comércio, onde sempre há negociantes inescrupulosos que não hesitam em falsificar algum produto em busca de um lucro fácil, o mundo do vinho não foge à regra. Vários tipos de falsificações são possíveis, passando pela simples troca de rótulos até elaborados esquemas de forjar garrafas de vinhos míticas para serem colocadas em leilões e vendidas por pequenas fortunas.

O mais famoso falsário da atualidade é Rudy Kurniawan, natural de Jacarta, Indonésia, que alegava ter, em 2007, a maior adega do mundo. Aparentemente tudo era falso. Está preso, seu golpe foi desmascarado. Agia em conluio com certificadores das mais renomadas casas de leilão da Europa e EUA.

Falsificar vinhos é uma prática muito antiga. Plínio, o Velho, reclamava que na Roma antiga era impossível distinguir o bom vinho romano das diversas adulterações que eram colocadas à disposição da classe governante.

Na idade média era comum venderem “gato por lebre”. As tabernas londrinas foram proibidas de estocar vinhos de diferentes origens numa mesma adega (eram vendidos em barricas) para evitar que um consumidor fosse enganado ao comprar um vinho francês ou alemão, por exemplo.

As penas para quem fosse pego vendendo um vinho adulterado eram severas e podiam variar desde a obrigação de beber todo o estoque até ser enforcado. Dureza!

Ao longo do tempo foram criadas diversas legislações e mecanismos de controle que tentavam manter a produção e comércio vinícola sobre boa vigilância, mas nem assim foi possível eliminar totalmente o comerciante inescrupuloso.

Um fato interessante que ressalta a dificuldade em controlar isto tudo é lembrar que durante muito tempo era proibido adicionar aguardente de uva aos vinhos. Hoje está técnica é a que produz os  vinhos fortificados. O Porto é o mais famoso deles.

Um dos método mais simples de alterar um vinho é adicionar água ao produto final. Alguns produtores ainda adotam, conscientemente, esta prática que, dentro de certos parâmetros, é aceita por legislações locais.

O próximo truque é a manipulação dos rótulos. Tipicamente o rótulo de um vinho caro é colocado numa garrafa de vinho barato. Imaginem que, com a tecnologia disponível hoje, é possível imprimir um rótulo de Château Petrus ou de Romanée–Conti, em casa.

frau 1

Conhecido como o mais hábil falsificador de rótulos, Hardy Rodenstock, cujo nome verdadeiro seria Meinhard Görke, era muito audacioso e promovia grandes degustações que incluíam renomados nomes como Parker e Robinson. Dois episódios o tornaram muito famoso, o que permitiu descobrir suas manobras:

– Uma vertical de 125 safras de Château d’Yquem, a mais antiga era de 1784;

– As famosas garrafas que seriam da adega de Thomas Jefferson, quatro unidades de Châteaux Lafite & Branne-Mouton (hoje Château Mouton-Rothschild) safras 1784 e 1787. Falsificações tão impressionantes que se discute, até hoje, a sua autenticidade, mesmo depois de exposta a fraude…

Outra manipulação muito comum é o corte com outros vinhos que não seriam permitidos em algumas regiões. O Objetivo é obter um maior volume e uma qualidade aceitável. Um famoso episódio foi chamado de Brunellogate quando descobriram a adição de outras uvas, que não a Sangiovese, na elaboração do ícone italiano Brunello di Montalcino, se tornando um escândalo que chegou ás páginas de todos os grandes jornais do mundo e abalando a confiança do consumidor final. Um estrago de grandes proporções.

A solução foi aceitar este vinho, que era muito bom, sob uma denominação genérica de “Rosso di Montalcino”.

Na mesma linha, mas feito de forma consciente e aceita por todos, está na produção de vinhos que foram chamados de “super-toscanos”: basicamente um Chianti, incrementado com corte de vinhos obtidos a partir das famosas castas bordalesas, Cabernet Sauvignon, Merlot, entre outras.

O sucesso foi grande, mas só poderiam ser vendidos como vinho de mesa, a escala mais baixa das denominações italianas. Com o passar do tempo e a enorme aceitação destes fabulosos vinhos especiais, acreditem, a Itália mudou a legislação e hoje o tradicionalíssimo Chianti pode receber corte de outras uvas não italianas.

Como se nada disto fosse suficiente, existem outras fraudes consideradas perigosas. São mais comuns do que se imagina e ocorrem quando o produtor resolve adicionar, artificialmente, alguma característica ao seu vinho que não foi obtida na vinificação.

Acetato de chumbo, Dietilenoglicol, Arsênico e Metanol são substâncias perigosas para a saúde que podem ser encontradas em vinhos produzidos para dar lucro, apenas. Felizmente o controle destas substâncias tem sido bastante efetivo e práticas como estas ficam mais difíceis de serem usadas atualmente.

Para que os leitores fiquem mais tranquilos, a grande maioria dos fraudadores busca o mercado de alto nível e não o nosso vinho de todo o dia.

Bons vinhos, saúde!

Vinho da Semana: sem fraude…

frau 2

Torcello Tannat 2014

Eleito como MELHOR TINTO na degustação às cegas do Encontro de Vinhos 2016, etapa RJ.

Vinho de aroma frutado com um leve toque de madeira.

Paladar frutas bastante maduras, com um toque do doce da uva, macio com um final prolongado.

 

A Variedade é o Tempero da Vida

Um dos mais assíduos leitores desta coluna, Sergio Pirilo, de Vitória, ES, colocou uma interessante questão, a propósito dos temas Outras Castas Sul Americanas e Sobre o Nome das Uvas. Reproduzo, a seguir, um pequeno trecho de seu comentário:

“Já entendi que a mesma uva, em diferentes terroirs e com diferentes vinificações têm sabores diferentes. Isso não provaria uma tese que um amigo insiste em tentar provar: o que importa não é a uva e sim o processo de vinificação?”

Para responder com exatidão seria necessário entrar em temas muito técnicos que não são o escopo destes textos sobre o vinho. Vários e importantes conceitos estão envolvidos nesta questão que abrangem desde o cultivo de uma determinada casta, passando pelos diversos métodos de vinificação e terminando no que o enólogo pretende atingir ao fim de todo o processo. Vamos tentar simplificar.

Para início de conversa, a tese do amigo de Sergio Pirilo está errada. Para explicar de modo simples, vou usar um axioma da informática, outro assunto que dominamos e sobre o qual escrevemos, por um bom tempo, para O Boletim.

A pequena sigla, GIGO, abreviatura para a expressão, em inglês, Garbage In, Garbage Out, é usada para explicar falhas no desenvolvimento de um sistema: se os seus dados são ruins, o seu resultado também será.

Isto vale para uvas e vinhos também: se a matéria-prima não tem qualidade, o produto final também não terá. Pode manipular à vontade, nunca será nada de qualidade que, na nossa opinião, possa receber o rótulo de Vinho.

Tudo começa no vinhedo, ou como preferem alguns autores, “terroir”, um conceito de difícil entendimento englobando solo, clima, meio ambiente, e outras características locais, atualmente sendo muito questionado.

Um dos mais famosos enólogos, Emilie Peynaud (Bordeaux) acreditava que o homem não fazia parte do “terroir”, mas a combinação dos dois gerava um grande vinho.

Por esta razão, nenhum Enólogo trabalha sozinho, há sempre um Agrônomo como seu “ala”, que vai ajudar na primeira e mais importante decisão a ser tomada na hora de vinificar: a uva está no ponto de ser colhida?

A resposta vai depender do que se deseja obter como produto final, por exemplo: colhe-se mais cedo para produzir um espumante e bem mais tarde para se obter um vinho licoroso. Entre um ponto e outro, uma mesma cepa pode produzir vinhos de características bem diferentes. Tudo vai depender de ajustes nas principais etapas do processo de vinificação.

Já estamos vendo leitores perguntando: não basta fermentar e pronto?

Não!

Além da escolha do ponto de colheita da uva, sempre associada ao resultado pretendido, o vinho passa por diversos processos: separação ou não dos bagos, prensagem ou outro método que rompa os grãos, maceração, fermentação, conversão malolática, etc.

Vamos explorar apenas um destes processos, a Maceração, de onde os vinhos tintos obtêm cor e tanino (compostos fenólicos e antocianinas). Macerar significa deixar cascas, sementes e talos em contato com o mosto, por um determinado tempo.

var 1

Três diferentes métodos estão em uso atualmente: Longa, a Frio e Carbônica. (Existem outros)

Cada um produzirá resultados diferentes e deve ser feito antes ou durante o processo de fermentação. Para encerrar esta etapa basta remover as cascas, sementes e os talos.

O processo longo, muito tempo de contato inclusive durante a fermentação, é o mais tradicional. Sua versão curta é usada, por exemplo, para os vinhos rosés.

A denominada “a frio”, sempre precede a fermentação e é usada para permitir ao Enólogo, total controle sobre o que vai resultar: a baixa temperatura (-12ºC) inibe a atuação das leveduras.

A Carbônica é um processo bem diferente. Os cachos, inteiros, são submetidos a um ambiente saturado de dióxido de carbono (CO2) forçando o início da fermentação através de enzimas próprias da uva, de dentro do grão para fora.

O importante é compreender que um destes processos é o ideal para determinada casta e para o tipo de vinho que se deseja obter, e não o oposto como sugere a tese exposta no início. As receitas são únicas e não tem sentido usar a casta A com a receita da casta B: GIGO

Se as uvas forem deixadas sozinhas, seu produto será vinagre, se o homem intervir corretamente, será vinho.

A variedade, de castas e vinhos, é o tempero da vida.

Saúde!

Vinho da Semana: um bom tinto italiano.

Centine IGT 2013

var 2

Aromas de frutas vermelhas e negras maduras, toques minerais e defumados. No paladar o vinho possui médio corpo, com taninos redondos e sedosos, além de bom frescor e final de boca macio e persistente. Acompanha bem carnes vermelhas grelhadas ou assadas com molhos médios. Massas e legumes (principalmente berinjela) com molhos à base de tomate e queijos de média maturação.

Sobre o nome das uvas (algumas)

Cas 1

Este texto decorre do comentário do leitor Aloisio Mancini, de Florianópolis, postado no site do O Boletim, na semana passada. Em poucas palavras, ele questiona qual a origem do nome das castas mais conhecidas. Haveria alguma razão em especial?

Assim como a origem das atuais uvas viníferas ainda é uma incógnita que vem sendo dissecada por diversos centros de pesquisa, a etimologia de seus nomes segue o mesmo caminho, muito difícil de trilhar, por onde se misturam lendas, sabedoria popular e verdades.

Até onde conseguimos pesquisar, a maioria das castas que conhecemos hoje e apreciamos seus vinhos tem mais de um nome, às vezes dentro de uma mesma região. O normal é que uma determinada planta ganhe novos apelidos conforme vai sendo plantada em outras regiões. Mas algumas poucas variedades se mantêm fiéis ao nome que as tornaram famosas, Cabernet Sauvignon e Merlot, por exemplo.

No século XVII a Cabernet era conhecida como Vidure ou Bidure e às vezes Biturica (este talvez tenha sido o vinho produzido com ela). Estudiosos como Jancis Robinson acreditam que este termo seja uma deturpação de “vigne dure” literalmente “parreira dura”, numa alusão ao rígido tronco desta planta.

A mudança para o nome atual teria surgido por uma razão específica: os aromas eram semelhantes aos da Cabernet Franc e aos da Sauvignon Blanc, fato que seria confirmado, em 1976, através de testes de DNA.

A Merlot ganhou seu nome por semelhança a um pássaro, o Melro, tão preto quanto a casa desta uva. Literalmente Merlot é um diminutivo de Melre (francês). Dependendo da região onde está plantada, recebe 60 outros apelidos, todos girando em torno do pássaro ou por semelhança com outras castas.

Isto sugere uma regra básica: a maioria destas denominações tem origem na cor, na forma, no tempo de amadurecimento, na região onde florescem, etc…

Um dos exemplos mais interessantes é a casta Tempranillo, que vem de “temprano” ou cedo em espanhol: ela amadurece precocemente, antes das outras uvas plantadas nas mesmas regiões. Na própria Espanha ganha outros nomes: Tinto Madrid; Tinto de La Rioja; Tinta del País; Tinto de Toro e Tinto Aragónes. Uma corruptela deste último nome, Aragonês, é um dos nomes como é conhecida em Portugal na região do Alentejo. O outro nome é Tinta Roriz, no Douro. Na Califórnia é Valdepenas e na Itália se chama Negretto.

Outra casta que foi batizada por ser precoce é a italiana Primitivo (que vem primeiro…). Mas não tem nenhuma relação com seu nome original, na Croácia, Crljenak Kaštelanski (Uva Tinta de Castela) ou a denominação californiana, Zinfandel, atualmente reduzida para “Zin”.

Outro exemplo formidável é a uva icônica da Itália, a Sangiovese. Seu nome vem do latim, “sanguis Jovis”, livremente traduzido como “Sangue de Júpiter”. Esta denominação teria sido cunhada pelos monges da comunidade de Santarcangelo di Romagna, atual província de Rimini, na Emilia-Romagna.

Dependendo da região italiana onde está plantada recebe diferentes nomes, eis alguns deles: Sangiovese Grosso, San Gioveto, Prugnolo, Brunello, Calabrese, Uvetta, Montepulciano etc…

Quando se trata de uvas autóctones, Portugal é o campeão dos nomes e apelidos. Há casos icônicos como o da uva branca Fernão Pires, uma das mais plantadas no país nas regiões do Tejo, Lisboa e Setubal, mas, quando chega na região da Bairrada muda de nome (e sexo) passa a ser chamada de Maria Gomes.

Outra lenda deliciosa se refere a uva Antão Vaz, importante casta branca alentejana. Segundo alguns historiadores, um antigo fazendeiro da região de Vidigueiras, era frequentemente questionado por um dos seus empregados sobre uma uva branca sempre esquecida: Por que não fazemos vinho destas uvas?

E isto se repetiu por muitos anos até que, um dia, o fazendeiro já cansado de tanta arenga respondeu: “Então faz”! (Lembrem-se do sotaque…)

Anedótico, sem dúvidas, mas um perfeito espelho de como são apelidadas as castas viníferas.

Bons vinhos e saúde!

Vinho da Semana: um belo rose para o Dia das Mães

vin

Hecht & Bannier – Côtes de Provence 2014

Os rosados da Provence, de coloração leve e de sabor profundo, são os mais festejados da França. Esta interpretação é simplesmente deliciosa. Fresco e repleto de notas de frutas é uma das escolhas mais charmosas.

Castas: Grenache, Cinsault e Syrah

Harmonização: Aperitivos, massas leves, peixes e frutos do mar.

« Older posts Newer posts »

© 2025 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑