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Corte, Assemblage, Blend

Qualquer um dos nomes acima tem o mesmo significado: um vinho elaborado a partir uma mistura de diferentes tipos de uvas ou de vinificações em tinto, branco ou rosado. Por analogia, um Varietal é o vinho produzido com uma única casta. O principal objetivo de um enólogo ao decidir por um corte é obter um produto de melhor qualidade.
 
Não se pode precisar quem foi o primeiro vinhateiro a elaborar uma mistura. Certamente os primeiros vinhos produzidos eram um tipo de corte: os vinhedos, ainda selvagens, eram compostos por diferentes cepas. Num determinado momento, colhiam-se os frutos, mesmo com pequenas diferenças de maturação, e tudo era jogado nas cubas de fermentação.

O vinho de corte como conhecemos hoje decorre de diversos fatores típicos do Velho Mundo. Observando as principais áreas produtoras da França, inegavelmente o berço do vinho moderno, percebe-se que a divisão das terras (vinhedos) é quase uma colcha de retalhos. Não existem gigantescas propriedades como as que são comuns nas Américas, por exemplo.

O famoso Chateau Petrus tem 11 hectares de vinhedos, enquanto um Clos de Los Site, na Argentina, tem gigantescos 850 hectares. Para complicar um pouco, vinhedos são bens de família e estão sujeitos a serem repartidos por herança. Quando isto acontece, o que era pequeno fica minúsculo. Há casos conhecidos em que cada herdeiro foi contemplado com uma fileira de parreiras…

Produzir um vinho a partir destes vinhedos de pequeno porte quase nunca é possível. A alternativa é vender as uvas para um produtor mais estruturado. Mesmo aqueles agricultores que conseguem montar uma pequena cantina e produzem seu próprio vinho, preferem vendê-lo no atacado: o volume é pequeno, não sendo interessante do ponto de vista comercial engarrafar, distribuir e vender.

Outro fator que reforça estas explicações são os Negociants ou Mercadores do Vinho. Empresários que dispõem de alguma estrutura, inclusive uma vinícola, mas que preferem comprar uvas e vinhos no atacado. A partir do que foi adquirido, elaboram suas misturas e as vendem com rótulo próprio. Alguns dos grandes vinhos da França são produzidos assim: Bouchard Père et Fils; Faiveley; Maison Louis Jadot; Joseph Drouhin; Vincent Girardin; Georges Duboeuf; Guigal; Jean-Luc Colombo; Mirabeau; Jaboulet, etc..

Existem diversos tipos de corte e, dependendo da legislação específica do país produtor, um vinho classificado como varietal pode ser um corte, por exemplo: um Cabernet da Califórnia basta ter 90% do volume com esta casta para ser vendido como varietal.

Os cortes mais comuns envolvem duas ou mais castas diferentes, que podem ser vinificadas em separado ou ao mesmo tempo. O conhecido corte Bordalês é o melhor exemplo: em qualquer lugar do mundo significa um vinho elaborado com Cabernet Sauvignon e Merlot, pelo menos, podendo haver mais outras castas como Cabernet Franc, Petit Verdot, Malbec e Carménère. Mas só estas! Se na composição desta mistura entrar uma quantidade de Syrah ou Tannat ou qualquer outra casta, deixa de ser “Bordalês”.

Atualmente estão na moda os vinhos de parcelas ou vinhedos únicos, o que nos leva a uma outra definição de corte: vinhos produzidos com uma única uva, mas de diferentes terroirs. Um bom exemplo são os Catena DV, abreviatura de “Doble Viñedo”. Outra variedade de corte envolve vinhos de diferentes safras. Dois representantes típicos desta modalidade são os vinhos do Porto e os Champanhes.

Apresentamos a seguir outros cortes clássicos:

GSM – abreviatura de Grenache, Syrah, Mourvèdre. Corte típico da região do rio Rhone.
 
Châteauneuf-du-Pape – também da região do Rhone. A casta Grenache pode ser cortada com até 12 outras, inclusive brancas.

Super Toscanos e Super Piemonteses, são cortes produzidos a partir das clássicas Sangiovese (Toscana) e Nebbiolo (Piemonte) com as mais tradicionais uvas francesas como a Cabernet, Merlot, etc. Durante muito tempo foram classificados como “vinhos de mesa”, mas hoje são o orgulho da Itália.

Amarone, Ripasso, Valpolicella e Reciotto, tradicionais cortes das uvas Corvina, Rondinella e Molinara. O Amarone disputa com o Barolo, o Brunello e o Barbaresco o título de melhor vinho.

Existem infinitas possibilidades, alguns países como Portugal, sempre produziram vinhos de corte: seus vinhedos nunca foram de uma única espécie. Por outro lado, os produtores do novo mundo é que praticamente inventaram o vinho de uma única casta. Mas logo perceberam que a grande arte está no corte: só aqui o enólogo é capaz de mostrar todo o seu potencial.

 

 
 
Dica da Semana:  Um corte bem diferente e saboroso.
 
Viñedo de los Vientos Catarsis 2013
Um versátil corte de Cabernet Sauvignon (70%) e Tannat (30%), podendo ser usado para harmonizar com costela ensopada, penne aos quatro queijos, risoto de cogumelos, polenta cremosa com ricota defumada, carré de cordeiro, ravioli ao molho branco com parmesão gratinado, espaguete ao ragu de linguiça fresca.

Merlot, eterna consorte ou rival?

Recentemente prestei uma consultoria para um evento gastronômico sugerindo alguns vinhos para serem degustados. A harmonização mais importante deveria contemplar o prato principal, escalopes de filet ao molho de shitake fresco e champignon, com um tinto adequado. A empresa encarregada de fornecer os vinhos ofereceu uma relação com vinhos portugueses do Douro e do Alentejo, Cabernet Sauvignon do Chile e da Argentina, além de duas opções de Malbec.

Eram bons vinhos, mas muito “pesados” para um prato que, apesar da carne, é leve. Qualquer um deles sobressairia, escondendo os delicados sabores do molho. Sugeri como alternativa, um vinho baseado na casta Merlot, o que provocou uma reação de surpresa por parte dos interessados, deixando a sensação que esta nobre casta anda meio esquecida. Mas não deveria ser assim, seus vinhos, invariavelmente, são muito fáceis de beber e agradam aos mais ecléticos paladares.

Preferências à parte, a Merlot é uma das principais varietais dos vinhos de Bordeaux. Na margem esquerda do Rio Gironde, é vista como uma consorte: por ser uma uva mais suave e menos tânica, é usada para domar as características mais agressivas da Cabernet Sauvignon. Na margem direita, principalmente em St. Emilion, o quadro se inverte: ícones como Petrus ou Cheval Blanc são elaborados a partir dela.

Então, de onde vem este ostracismo ou desprezo, embora continue firme em Bordeaux?

Vários fatores contribuíram para isto. Nascida e criada na França, a versátil Merlot foi transportada para diversos países com ótimos resultados quando vinificada, gerando deliciosos varietais ou cortes. Vinhos tão saborosos e agradáveis que se tornaram mania em alguns países das Américas, como nos Estados Unidos, onde houve uma verdadeira avalanche de garrafas de bons vinhos elaorados com ela. No nosso país houve uma tentativa para torná-la a nossa uva emblemática, nos mesmos moldes da Carménère, da Malbec, do Tannat ou da Touriga Nacional. Nossos melhores caldos são elaborados com esta variedade de uva.

Infelizmente esta superexposição ou massificação acabou por gerar efeitos colaterais indesejados como, qualidade duvidosa, excesso de oferta e preços ridiculamente baixos, descaracterizando a nobreza desta casta. Para complicar um pouco mais, um dos primeiros filmes sobre o universo do vinho, que obteve sucesso em todo o mundo, o “Sideways – Entre umas e Outras”, tentou liquidá-la: Miles, um dos protagonistas, afirmava que Merlot não era vinho.

O impacto foi sentido na vinicultura americana, houve uma notada queda na venda destes vinhos, muito embora houvesse uma pegadinha quase no final da narrativa: para Miles, o melhor vinho de sua adega era o mítico Cheval Blanc, um belíssimo corte de Merlot com um quase nada de Cabernet Franc. Esta preciosa garrafa acaba sendo usado para curar um momento de depressão, num copo de isopor e acompanhado de um hambúrguer de lanchonete…

No Chile, um dos grandes produtores desta casta atualmente, os vinicultores acreditavam na existência de uma mutação da Merlot que amadurecia mais tarde. Coube ao ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot desfazer o engano ao descobrir que eram parreiras da extinta Carménère.

O nome Merlot seria o diminutivo, em francês, de Melre (Melro, em português), talvez por causa de sua cor escura. Carinhosamente chamada de “pequeno pássaro”, produz vinhos exuberantes, apetitosos e aveludados, em contraste com sua rival, Cabernet Sauvignon, com seus firmes e poderosos taninos. Em Bordeaux, uma não vive sem a outra,

Dica da Semana:  Que tal um excelente Merlot?
 
Casa Lapostolle Merlot 2012
A uva Merlot é uma das grandes especialidades da Casa Lapostolle, mostrando grande caráter varietal e profundidade.Uma das escolhas mais “sólidas” para a Wine Spectator, este saboroso tinto é elegante, macio e bem equilibrado.Robert Parker elogiou o corpo “concentrado e harmonioso, com taninos soberbamente maduros”.
Premiações: Wine Spectator: 87 pontos (safra 07); Robert Parker: 88 pontos (safra 02).
 

10 Conselhos para uma melhor amizade com vinho

Um velho jargão já dizia “Ano novo, vida nova”, geralmente seguido de alguns conselhos ou promessas para ter sucesso a partir da virada do ano. Para não quebrar nenhuma tradição, algo bem supersticioso, vamos iniciar 2015 com uma boa coleção de recomendações, enunciadas pelo excelente enólogo argentino Angel Mendoza, proprietário do Domaine St. Diego, a melhor visita de nossa última viagem à Mendoza. 
 
 Ele nos convida a abandonar alguns mitos sobre a nossa bebida favorita e garante que precisamos continuar explorando outras possibilidades.
 
Faço uma importante ressalva: este texto foi publicado no diário Los Andes em 16 de agosto de 2014, dirigido ao público consumidor argentino. Apenas fiz a tradução, a mais literal possível, mantendo as deliciosas características de sua prosa. Alguns itens, como aquele sobre a temperatura dos vinhos, merecem uma reflexão adicional de nossa parte, não temos no nosso país as mesmas condições climáticas de lá. 
 
 
I – Saborear boas comidas e vinhos é um dos prazeres da vida. “Uma refeição sem vinho é como um dia sem sol”. “O bom vinho é uma deliciosa guloseima que adoça a vida”.
 
 II – Para desfrutar da boa vida e dos vinhos é necessário cultivar os sentidos (visão, olfato, paladar, tato, audição, bom senso) e a curiosidade. O vinho é um maravilhoso mundo de sensações onde se encontra mistério, sofisticação, charme, alegria e surpresa.
 
 III – Para bons vinhos, bons momentos: amigos, amores, filhos, família, triunfos, aniversários, saúde, reuniões sociais, negócios, jantares de gala, restaurantes finos. “O churrasco e as massas no domingo”. “A sede do Verão”. “A reflexão que o inverno convida”, “Nunca sozinho ou solitário”, “A verde esperança da Primavera”, “A Fotocromia do Outono”.
 
 IV – Os milenários benefícios terapêuticos de um bom vinho são redescobertos a cada dia. Uma ou duas taças por refeição prolongam a vida, ou, pelo menos, a tornam mais saudável e feliz.
 
A tragédia do alcoolismo não está escondida nas primeiras taças de uma boa refeição.
 
Quando desejamos saúde ao brindar com o vinho, estamos relembrando o antigo costume de considerá-lo uma bebida saudável e curativa.
 
Embora estudos recentes tenham mostrado que o vinho tinto, consumido diária e moderadamente, reduz o risco de ataques cardíacos, os vinhos brancos e rosados também são saudáveis porque liberam o espírito. Naturalmente, “o bon vivant” sempre começa com um branco para terminar com um tinto.
 
 V – Bons vinhos são parte inseparável da cultura dos povos dominantes do Mediterrâneo. Foi assim que (o vinho) chegou à Argentina e permitiu o desenvolvimento social e econômico desta terra. O vinho surge diferente em cada região. O enoturismo permite descobrir a originalidade desta bebida.
 
Temos que nos preparar, todos os dias, para melhor impressionar cada visitante de nossas vinícolas. O vinho é o melhor embaixador da nossa terra.
 
Os Agrônomos e Enólogos argentinos devem tentar colocar em cada garrafa de vinho uma imagem clara da paisagem (terroir), cultura e identidade das regiões vitivinícolas.
 
Nós nunca bebemos vinhos tão ricos como os de hoje. Mas, certamente, os de amanhã serão melhores.
 
VI – Para apreciar os bons vinhos necessitamos de taças de cristal adequadas ou de vidro claro, transparente, com hastes e formato oval ou de tulipa. Os seus sentidos irão capturar melhor os sedutores estímulos dos vinhos.
 
Para vinhos brancos, taças de menor volume para sempre beber o vinho fresco.
 
Para os vinhos tintos nobres, envelhecidos em madeira e na garrafa, a taça Bordalesa com mais de 300 ml permite uma aeração simultânea liberando o bouquet.
 
Para os espumantes, a sedutora taça flute permite admirar o “perlage”, uma série de bolhas finas que explodem na superfície e liberam os sabores.
 
VII – Aprecie o bom gosto dos vinicultores para engarrafar e rotular seus vinhos. Rótulos são obras de arte que devem corresponder à qualidade do vinho. Você deve perceber isto com os seus sentidos.
 
Junto com cada garrafa se compra a ilusão de um momento especial, como um pôr do sol ao pé da Cordilheira dos Andes ou uma noite romântica. Esta sensação se transmite por meio das imagens; o conteúdo é o toque final.
 
“O bom vinho pode ser comparado com as mulheres honradas: não devem apenas ser, mas demonstrá-lo”.
 
VIII – Seja muito respeitoso e exigente com a temperatura do vinho. As castas brancas resfriadas entre 8 e 12° C. Os tintos encorpados e de guarda a não mais de 18° C. Espumantes bem gelados entre 2 e 6° C, com a taça “flute” gelada no verão.
 
Os vinhos de mesa para o dia a dia, geralmente cortados com suco de uva, devem ser bebidos bem frescos, para matar a sede, entre 8 e 12° C, para que não fiquem muito doces.
 
Na primavera e no verão, para saciar a sede, não hesite em combiná-los com água mineral, ligeiramente gasosa, suco de frutas ou adicionar alguns cubos de gelo. Será uma bebida refrescante muito natural. Mais saudável do que refrigerantes com ácido fosfórico.
 
Também conserve com carinho sua coleção de vinhos de guarda a uma temperatura constante de 12° C.
 
IX – A melhor harmonização entre pratos e vinhos pode estar na cor:
 
Para alimentos de cor clara, vinhos brancos.
 
Para alimentos de coloração escura/vermelha, vinhos tintos.
 
Lembre-se que a prática da desobediência e o gosto pessoal são a base do prazer.
 
X – O melhor vinho é aquele que você gosta. Desafie e recompense o seu bom gosto não esquecendo que:
 
O vinho é uma bebida natural, milenar, saudável e alegre, que gratifica o coração das pessoas quando apreciado com moderação.
 
É uma bebida mágica, sensual e saudável que se renova de geração em geração.
 
É importante também nunca esquecer que é uma bebida elaborada a partir de uvas, não é fabricada. É cultivada no vinhedo, na adega e até na sua venda. Viva com paixão; beba com sabedoria!
 
O contexto cultural do vinho.
 
– A localização dos vinhedos – o sabor das uvas.
 
– A arquitetura das vinícolas.
 
– A paixão dos produtores.
 
– A sedução dos rótulos.
 
– As histórias românticas dos contra rótulos e folhetos.
 
– A linguagem do vinho.
 
– A alegria descontrolada dos amigos com uma segunda taça de vinho.
 
– O calor de uma família reunida em torno de uma mesa de pratos requintados e vinhos solenes.
 
 
Dica da Semana:  quem disse que não se bebem tintos no verão? Experimentem este aqui!
 
Morandé Pionero Pinot Noir 2013
Um vinho fresco e jovem que possui aromas de framboesas e notas de especiarias com toque terroso ao final.
No paladar a acidez é vibrante e os taninos muito delicados.
Siga um dos conselhos de Angel Mendoza e o deguste gelado acompanhando peixes e frutos do mar.
 

Vinhos Laranja

Mais uma denominação?
 
Tintos, Rosés, Brancos, Espumantes, Doces, Fortificados e Laranjas?
 
Tem laranja neste vinho?
 
Resposta única para as três questões: Não!
 
Uma nova tendência apenas, capitaneada por inquietos e criativos enólogos que não param de buscar novos caminhos. O Vinho Laranja é um branco que foi vinificado como um tinto.
 
Para refrescar a memória dos leitores, vinhos brancos eram obtidos a partir da fermentação do suco das uvas, sem as cascas, sementes ou engaços, ao contrário dos tintos onde a presença da pele escura é necessária para garantir cor, taninos e outras características. (o suco da uva é sempre de cor clara, quase incolor…)
 
Quando se vinifica brancos desta forma obtém-se uma simbiose de algumas características desejáveis além de uma cor belíssima. Vejam a foto:
 
 
São bebidas extremamente gastronômicas devido a taninos marcantes, teor alcoólico elevado, acidez moderada e alguma mineralidade. Caso tenham passado por madeira, ganham notas típicas dos vinhos que amadureceram em carvalho.
 
As primeiras experiências nesta linha forma feitas na Eslovênia e na Itália com técnicas adaptadas das antigas vinificações em ânforas de barro ou em recipientes de madeira. Atualmente estão experimentados com os tanques de concreto em formato oval com ótimos resultados.
 
Na Argentina, Matias Michelini em sua Passionte Wine produz um delicioso Torrontés denominado “Brutal” com este recurso. Uma experiência diferente, mas não é um vinho fácil de encontrar, mesmo lá. Trata-se de um experimento, um projeto pessoal.
 
Apresentamos abaixo uma lista dos “Laranjas” mais conhecidos:
 
Itália:
 
Gravner Amfora Ribolla Gialla 2005 (Venezia Giulia)
 
Gravner Breg 2006 (Venezia Giulia)
 
Vodopivec Classica Vitovska 2006 (Venezia Giulia)
 
Eslovênia:
 
Movia Veliko 2007 (Brda)
 
Edi Simcic Sauvignon 2010 (Goriška Brda)
 
Simsic Teodor Belo Selekcija 2008 (Goriška Brda)
 
Kabaj 2006 Amfora (Goriška Brda)
 
Geórgia:
 
Alaverdi Monastery Cellar Qvevri 2010 (Kakheti)
 
Pheasant’s Tears Amber Rkatsiteli 2009 (Kakheti)
 
América do Norte:
 
Channing Daughters Meditazione 2009 (Long Island)
 
Alguns destes rótulos estão à venda no Brasil, mas não são baratos.

Dica da Semana:  Por aqui também temos o nosso vinho laranja.
 
Era dos Ventos Peverella 2010
 
Um toque tipicamente picante ao paladar faz jus ao nome desta uva, pois Peverella significa “pimenta”.
De cor dourada encantadora, é fruto de uma elaboração com mínima intervenção e longo tempo de maceração da uva com a casca.
Com um pouco mais de tempo, vai revelando aromas cítricos, toques minerais e florais e, claro, a típica pimenta.
Rico, amarelado, untuoso, uma verdadeira experiência única.

Nem só de Malbec vive a Argentina

Não se discute que Argentina e Chile são os dois grandes produtores de vinhos da América do Sul. Uruguai e Brasil ainda estão num degrau abaixo quando se fala em vinhos de alto nível. Há exceções, óbvio, assim como existem vinhos de má qualidade em qualquer destes países.
 
Um segundo ponto diz respeito às chamadas uvas emblemáticas, Malbec na Argentina, Carménère no Chile, Tannat no Uruguai e Merlot no Brasil, o que faz com que os vinhos produzidos a partir destas castas sejam os mais visados na hora da compra. É um apelo forte, quase uma unanimidade, como Gilette, Bom Bril ou Coca Cola – o que deveria ser uma marca virou sinônimo do produto: lâmina de barbear; esponja de aço; refrigerante. Dentro desta lógica, Malbec significa um vinho argentino e Carménère é chileno, etc. mesmo sabendo que as castas têm origem em Bordeaux, França.
 
O outro lado desta moeda é que isto provoca uma “cegueira mercadológica” nos consumidores típicos, aqueles que compram um bom vinho baseados nas informações correntes, sem preocupações com mergulhos profundos. Um segmento que representa o maior consumo sendo o alvo das ações de marketing dos produtores. O termo cegueira foi escolhido intencionalmente: estes consumidores, ofuscados por massiva dose de informações e estratégias promocionais, não se dão conta das opções que existem em volta da “casta emblemática”, muitas vezes com qualidade superior e preços bem competitivos.
 
Um bom exemplo é a casta Cabernet Sauvignon, que recebe o título de “rainha das uvas tintas” por inúmeras razões, a principal delas é a qualidade dos vinhos produzidos, desde que a matéria-prima tenha sido corretamente cultivada e que os processos de vinificação sejam adequados. Outra característica desta casta é sua capacidade de adaptação aos mais diferentes “terroirs” do mundo. Seja em Bordeaux, seu local de origem, na América do Norte, Itália, Austrália, Argentina, Chile, para resumir alguns produtores, sempre resulta em vinhos deliciosos, cada um com uma característica ou personalidade própria.
 
Um dos mais importantes episódios do mundo do vinho, já citado nesta coluna algumas vezes, foi o Julgamento de Paris quando vinhos da Califórnia foram comparados com grandes ícones franceses e saíram vencedores. O mundo descobria um novo estilo de Cabernet, mais frutado, intenso e sedoso, criando uma dicotomia: vinhos do velho mundo e vinhos do novo mundo.
 
Há alguns anos atrás um dos grandes produtores chilenos, Eduardo Chadwick, promoveu a divulgação, nos mesmos moldes, de seus vinhos, varietais e cortes a partir da famosa uva Cabernet cultivada em Puente Alto. Novamente, em menor escala, chamou a atenção para os vinhos elaborados no cone sul do novo mundo. Excelentes vinhos sem dúvidas, e se olharmos para outros importantes produtores do Chile vamos encontrar vinhos ainda mais famosos e importantes como o Don Melchor, Almaviva, Lapostole, etc. Cabernet chilenos são excepcionais, muito superiores aos Carménère, embora estes sejam os mais famosos.
 
Este fenômeno se repete na vizinha Argentina, embora não tenham feito, ainda, uma prova comparativa com outros países produtores. Preferem ir conquistando seu espaço num adequado passo a passo. Mas já começam a chamar a atenção, principalmente por terem um estilo bem diferente dos produzidos no país vizinho, criando uma nova dicotomia: cabernet chileno e cabernet argentino.
 
Há uma importante diferença de estilos: os vinhos chilenos são produzidos ao estilo de Bordeaux, inclusive com muita assistência técnica de lá, enquanto os argentinos estão mais próximos dos californianos, com um estilo predominante, mais redondo e maduro, menos herbal e sem aromas e sabores de especiarias típicos nos chilenos.
 
Para não deixar esta dúvida latente sem resposta, sim! o Cabernet argentino é superior ao Malbec (dentro das condições adequadas). Tem mais: a Cabernet Franc, uma das castas que originou a Cabernet Sauvignon, trilha o mesmo caminho de alta qualidade na Argentina sendo, no momento, o grande frisson entre os produtores.
 
Atualmente as melhores uvas estão sendo colhidas nos vinhedos de altitude no Vale do Uco (acima de 1000m). Perdriel, Água Amarga, Altamira e Gualtallary são algumas das regiões consideradas pelo Enólogo Roberto de la Mota como as mais promissoras. Não é uma vinificação fácil, mas o resultado é surpreendente: colorações escuras, aromas de frutas maduras (amoras, framboesas, cassis) e taninos suaves, as mesmas características dos famosos “Cabs” da Califórnia. Para completar, são colocados no mercado numa excelente relação custo x benefício.
 
Como os leitores já devem estar com água na boca, vamos apresentar a seguir uma relação dos Cabernet mais conhecidos e aprovados por enólogos, críticos e consumidores:
 
Rutini Antologia XXXVI 2010 – 95 pontos;
 
Trapiche Medalla 2008 – 94 pontos;
 
Zuccardi Finca Los Membrillos 2011 – 94 pontos;
 
São os mais bem pontuados no respeitado Guia Descorchados. Mas nem todos os grandes produtores estão analisados na atual edição do guia. Neste mesmo nível podemos citar:
 
Riglos Gran Las Divas Vineyard 2011;
 
Finca El Origen Gran Reserva 2011;
 
Terrazas de Los Andes Single Vineyard 2010 Los Aromos.
 
Abaixo, vinhos com uma ótima relação custo x benefício:
 
Lamadrid Single Vineyard Reserva 2012;
 
Trapiche Broquel 2012.
 
Um dos meus preferidos e que já foi Dica da Semana:
 
Bramare Cabernet Sauvignon 2011.
 
Terminamos com alguns Cabernet Franc que estão virando a cabeça de muitos conhecedores:
 
Angelica Zapatta Cabernet Franc 2010;
 
El Enemigo 2012;
 
Durigutti Reserva 2011. 

Dica da Semana:  mais um para a lista de alternativas ao Malbec.

 
Riglos Gran Cabernet Franc 2011
Coloração rubi de média concentração, halo ligeiramente granada. A madeira marca o nariz deste vinho, mas é possível perceber o tradicional frutado vermelho aliado às inspiradoras notas balsâmicas (pimentão e ervas) e também ao grafite.
 Profundo, texturado, rico fim-de-boca.
 Harmoniza com Codornas envolvidas em folhas de repolho; Contra filé grelhado; Risoto com linguiça de javali e cogumelos variados; queijos curados.
 
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