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Existe Vinho Bom e Barato?

Nas últimas colunas foram mencionados alguns ícones do mundo do vinho. Todos muito bons e muito caros. Se olharmos para este mercado de alta gama ficaremos chocados com os valores pagos por determinados rótulos famosos. Recentemente uma garrafa de Romanée–Conti foi arrematada por mais de 13 mil dólares!

Há alguma coisa que justifique estes valores?

 

 
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São vários aspectos que devem ser levados em conta, desde a legislação de um país, volume de produção, técnicas de marketing e até a má administração de empresas que buscam cobrir seus prejuízos.

No caso do renomado vinho da Borgonha o preço se justifica por duas razões:

1 – a legislação francesa, sempre muito rigorosa, só classifica naquela região como vinhedo de excelência uma pequena parcela;

2 – em função disto a produção é minúscula. Logo, são poucas garrafas à venda deste fabuloso vinho.

A segunda pergunta que devemos nos fazer antes de embarcar numa compra ousada é: vale a pena?

Nem sempre. Muitos destes vinhos têm uma fama que, hoje em dia, não é mais devida – foram grandes vinhos. A concorrência é feroz e com a chegada dos vinhos do Novo Mundo a guerra de marketing se tornou a parte mais importante do negócio.

Reparem na divisão entre Novo e Velho mundo – há lugar para grandes vinhos nos dois segmentos. Não há dúvida que os rótulos mais tradicionais vão se agarrar ao seu passado e extrair tudo o que puderem disto. Do outro lado do Atlântico, onde não há tanta tradição, o caminho será o de se equiparar, inclusive no preço…

 

 
 

Mas é possível comprar um excelente vinho por um preço palatável. Basta seguir alguns conselhos.

A menção ao Romanée-Conti não foi gratuita. Sua principal característica é ser elaborado com uvas de um único vinhedo. Esta é a primeira dica: procurem nos rótulos a expressão ‘Vinhedo único’ ou as traduções ‘Single vineyard’, ‘viñedo único’, ‘U.V.’ (unique vigneron) ou a versão mais moderna que prefere citar ‘Block #’ e ‘Parcela #’. Isto é uma garantia de um produto de melhor qualidade, com elaboração cuidadosa. Podemos encontrar excelentes produtos, que equivalem a um Borgonha Prémier Cru por 1/3 do preço.

Uma segunda dica são os chamados ‘segundos vinhos’ das grandes vinícolas. Esta opção surge quase naturalmente quando uma determinada safra não atinge o padrão para o grande vinho ou, mais comum atualmente, para enfrentar a concorrência do mercado sem alienar a marca mais famosa da vinícola.

 

 
 

Este vinho é ruim?

De maneira nenhuma. Não se pode esquecer que vinho é um negócio. Nenhum produtor vinifica só por amor à arte, precisam de retorno para o investimento. Outra trilha muito usada é a venda do vinho por atacado para engarrafadores independentes. Estes lançam excelentes produtos com seus próprios rótulos e a preços bem mais competitivos. Alguns exemplos:

Pavillion Rouge é produzido pelo Château Margaux;

Les Forts de Latour, pelo Château Latour;

Liberty School, produzido pela afamada Caymus da Califórnia;

Hawk Crest, elaborado pela premiada vinícola Stag’s Leap.

Os ‘Negociantes’, muitas vezes vinhateiros também, são comuns na França, por exemplo: Bouchard Père et Fils, Louis Jadot, Joseph Drouhin e Vincent Girardin na Borgonha; Georges Duboeuf em Beaujolais; Guigal, Jean-Luc Colombo e Mirabeau na Provence; Jaboulet no Vale do Rhône.

Basta olhar nos rótulos ou contra-rótulos para comprar excelentes vinhos por uma fração do preço dos ‘famosos’. Isto vale para os produtores sul-americanos também: Bramare e Felino são segundas marcas da Viña Cobos; Tomero é elaborada pela premiada Vistalba; Alamos é a linha básica da Catena Zapata, e assim por diante.
Um truque que gosto muito é experimentar as varietais pouco conhecidas, tintas ou brancas. Em vez de um Sauvignon Blanc prove um Torrontés, no lugar do trio Cabernet, Merlot e Syrah, parta para um Tannat ou Ancelotta. Já fiz ótimas descobertas assim, com um custo muito baixo.

Por último, tentem os produtos nacionais ou pelo menos do cone sul em lugar de europeus ou americanos. Tudo bem que nem sempre o nosso vinho tem preço competitivo, mas com uma boa dose de perseverança podemos encontrar bons caldos. Os espumantes não me deixam mentir, não devem nada aos demais.

Dica da Semana: uma destas descobertas, numa prova oferecida em uma delicatessen.

 
El Ciprés Torrontés
Produtor: Luis Segundo Correas
País: Argentina/Mendoza – Medrano
Com uma bela coloração amarelo ouro com reflexos esverdeados, seu intenso aroma lembra flores brancas, ervas e frutas brancas. No palato tem acidez equilibrada e final de boca muito longo, atípico para esta casta. Elaboração primorosa. Bom companheiro para um final de tarde ou borda de piscina.
 

Serra Gaucha III

 2º dia, manhã
 
Que tal espumante no café da manhã?
 
Pois foi isto que aconteceu. Por volta das 9:30h já estávamos na porta da vinícola Chandon, filial brasileira da importante Maison Moët & Chandon que hoje pertence ao poderoso grupo LVMH (Moët Hennessy Louis Vuitton).
 

 
Fomos recebidos pelo ‘Big Boss’, o respeitado enólogo Philippe Mével, que está radicado em Garibaldi há 20 anos, sendo um quase brasileiro, em suas próprias palavras.
Philippe preparou uma apresentação espetacular, na verdade um seminário sobre espumantes em geral e particularmente sobre o Brasil. Para começar, lembrou-nos que a Maison Chandon tem um nome a zelar.

Imaginem a responsabilidade da filial brasileira que faz parte de um dos mais importantes conglomerados de artigos de luxo. Estão neste mesmo barco, marcas como Christian Dior, DKNY, Fendi, Kenzo e TAG Heuer, entre outras. Entre os espumantes encontramos peso-pesados como Dom Perignon, Krug, Veuve Cliqcot e Moët & Chandon. Dirigir a vinícola brasileira é uma enorme responsabilidade.
 
A Chandon veio para Garibaldi após um estudo que mostrou o bom potencial para uvas de qualidade para elaboração de vinhos espumantes. Além da subsidiária brasileira, existem outras na Argentina, Austrália e Califórnia.
 
Dois pontos são muito importantes na operação daqui:
 
1 – as uvas têm que ser colhidas ligeiramente verdes para proporcionar o grau de acidez desejado no vinho-base.
 
2 – ao contrário da casa matriz, que Philippe faz questão de frisar que se chama Moët e Chandon (nos temos o hábito de falar ‘moëtchandon’), só utilizamos o método Charmat.
 
Existem dois métodos de produção deste tipo de vinho. O tradicional, denominado Champenoise, é quase artesanal e obrigatório na região de Champagne. Todo espumante deve passar por duas fermentações em estágios diferentes de sua elaboração.
 
Esta 2ª fase é que introduz o gás carbônico que acaba por produzir o perlage, as famosas bolinhas. No tradicional, isto se dá dentro das garrafas, numa operação que é intensamente manual, em caves subterrâneas que mantêm a temperatura ideal o ano todo.
 
No Charmat, está fase é feita em sofisticados tanques de aço inoxidável, denominados Autoclaves, com todo o tipo de controles que possamos imaginar. Alta tecnologia.
 
Ao contrário do que seria lógico, o nosso enólogo franco-brasileiro é completamente apaixonado por este segundo método e para provar o ponto de que é possível fazer espumantes de alta qualidade, deu início à degustação técnica dos seis produtos de sua linha. Antes, para esticar as pernas, nos convidou para provar o ‘choppinho da Chandon’, o vinho ainda em fase de fermentação tirado diretamente da autoclave. O espetáculo é visual, uma curiosidade de todos, mas valeu a pena.

 
Para a degustação foram servidos pela ordem:
 
Chandon Reserve Brut – assemblage de Riesiling Itálico, Chardonnay e Pinot Noir, 10g/l de açúcar;
Chandon Brut Rosé – mesmas castas e 14g/l de açúcar;
Excellence Cuvée Prestige – elaborado com Chardonnay e Pinot Noir apenas e 7g/l de açúcar;
Excellence Rosé Cuvée Prestige – idem, 9g/l de açúcar;
Chandon Riche Demi-Sec – mesma composição do Reserve com 35g/l de açúcar;
Chandon Passion – um corte de Pinot Noir, Malvasia de Cândia e Moscato Canelli, também com 35g/l de açúcar.
 
Esta degustação foi muito didática, cada produto foi exaustivamente discutido. Foram elaboradas as fichas técnicas para cada um. Excelente.
 

 
Já passava do meio dia quando fomos convidados para o almoço. Imaginando que iríamos encarar mais uma rodada de Capeletti in Brodo e Galeto, fomos surpreendidos pelo lado gastronômico de Phlippe que preparou uma deliciosa surpresa no Restaurante Valle Rústico, um simpático lugar a poucos quilômetros da vinícola, dirigido pelo competente Chef Rodrigo Bellora. A proposta era uma harmonização total com os 6 espumantes. Vejam o cardápio:
 

 
A pegadinha ficou por conta da questão proposta pelo enólogo: a harmonização estaria correta ou não? Animados debates resultaram.
 

 
Espetacular! Nada mais a comentar.
 
Mais algumas fotos:
 

 

Dica da Semana: um espumante realmente diferente e próprio para terminar um banquete. 

Chandon Passion 
Espumante meio-doce elaborado a partir de um “assemblage” original e ousado das variedades Malvasia Bianca, Malvasia de Cândia, Moscato Canelli e Pinot Noir. Apresenta uma cor levemente salmão, uma espuma abundante com formação de um colarinho bem definido e borbulhas finas, ativas e numerosas.
Os aromas frutados lembram o maracujá, o pêssego, a lichia e o jambo com toques florais de rosas. No paladar, após um ataque de acidez, a maciez do vinho-base e do licor revelam a harmonia e a complexidade deste sutil equilíbrio, com um final intenso de frutas tropicais. Harmoniza com o salmão, as sobremesas e as saladas de frutas tropicais.

 

Outra incrível experiência

Desta vez foi um jantar, mas em outras terras. Como o período de Carnaval, no Rio de Janeiro, transforma a cidade num local quase impossível de se locomover e ter serviços de qualidade optei por uma viajem com o objetivo de descansar e ser bem atendido. Formou-se um grupo, de 14 pessoas, entre elas sete membros de outra confraria a qual pertenço. As perspectivas estavam ficando ótimas.
O destino principal era Buenos Aires, seguido de Punta Del Este. Nove dias de passeio ao todo. Na primeira parada, após várias confabulações e descobrir que nossa primeira opção estava fechada para obras, reservamos mesa para os 14 no restaurante Hernán Gipponi, localizado dentro do Hotel Fierro em Palermo.

Chegamos pontualmente e nos foi apresentado o cardápio: uma proposta de degustação com opções de 5, 7 ou 9 pratos, harmonizados ou não. Optamos pelo menu de 7 passos com a harmonização clássica de 5 vinhos.

Talvez não fosse a melhor opção em termos de custo, mas nos poupou tempo já que não tínhamos que decidir que vinho harmonizava com que. Havia, além disto, outro compromisso agendado para as 23h00min o que nos levou a economizar os ‘debates’, caso contrário, não sobraria tempo para o próximo evento, Tango para variar…

Para começar, foi servido um bom espumante da Patagônia, o Agrestis Rosé. Um pequeno couvert de pães feitos na casa e manteigas aromatizadas distraiam os comensais até a chegada da 1ª entrada: Lagostins.

Estavam deliciosos e na medida certa para o próximo vinho, um classudo Viognier da Escorihuela Gascon. Este mesmo vinho seria o acompanhante para o fabuloso prato seguinte, um ovo cozido a exatos 62º C servido com lulas pequenas, cebolas macias e cinzas de cebola, flutuando num saboroso caldo. Silêncio geral, nosso paladar foi surpreendido de forma inesperada.

Aguardávamos ansiosos os próximos movimentos da cozinha, uma especialidade da Argentina, as Mollejas, ou a glândula Timo. Acompanhava Quinoa, amendoim e mini abobrinhas. Comentários divididos: compararam com o clássico francês ‘Ris-de-Veau’ ou com a receita de outro bom restaurante de Buenos Aires. Prevaleceu a máxima ‘gosto não se discute’. Quem optou por um prato sem carne não reclamou de nada – culinária impecável e serviço a altura. O vinho que acompanhava ainda era um branco, desta vez um bom Chardonnay, o Ruca Malén.

Entra em cena o peixe do dia com purê de batas defumado, erva doce e espinafre. Perfeito, inclusive na harmonização.

Recolhidos os pratos, serviram a ‘pièce de résistance’, um cordeiro acompanhado de queijo provolone, morcela (linguiça com sangue de boi), lentilhas e pimentões, numa apresentação espetacular. O vinho era um delicioso Terrazas Malbec.

Os pimentões, verde e vermelho, foram transformados em delicados cremes, o provolone foi triturado e frito assim como o pequeno pedaço da morcela que foi empanada. A lentilha era apenas cozida e bem temperada. A maior emoção foi com o cordeiro. Apesar da aparência de bem passado, a crosta superior estava bem escura, ele simplesmente se desmanchou ao primeiro contato como garfo. Aplausos efusivos e insistentes pedidos de ‘bis’!

A esta altura do campeonato já não queríamos mais ir embora. Chegou a hora das duas sobremesas, uma à base de melancia, para limpar e refrescar o paladar seguida de outra, um verdadeiro festival de sabores que incluía pistachos, pêssegos, sorvete de framboesa, cacau e chocolate branco, harmonizada com um late harvest de Viognier, o Las Perdices. Sem dúvida nenhuma um Grand Finale!

O melhor fica por último, a conta: com uma polpuda gorjeta, ficou por menos de 500 pesos por pessoa, ou US$ 60.00 que convertidos ao câmbio de hoje resulta em R$ 120,00, com direito a visita do simpático e competente Chef que autografou os cardápios.

Dica da Semana: um vinho que foi dos mais aplaudidos neste jantar e fácil de encontrar por aqui.

Ruca Malen Chardonnay – $

Mendoza – Argentina.
100% Chardonnay.
Cor amarela esverdeada com reflexos dourados. Delicados aromas florais e cítricos, além de um suave toque de caramelo e baunilha.  Em boca tem entrada suave e sedosa. Um vinho fresco e frutado, com ótima acidez. Seu final é elegante e persistente, com toques de frutas secas. Excelente para acompanhar carnes brancas e peixes com molhos cremosos. Também vegetais, massas na manteiga e cremes aromáticos.

Analisando Listas de Melhores Vinhos

A maioria das publicações especializadas faz, ao fim de ano, um resumo de suas diversas degustações elegendo os ‘melhores do ano’. Algumas, como a “100 Best da Wine Spectator”, tornaram-se icônicas e muito respeitadas.
Aqui no Brasil as recomendações do Jorge Lucki, talvez o melhor crítico de vinhos do nosso país, são sempre compras seguras. Para Chile e Argentina o guia Descorchados é considerado a autoridade máxima.
Houve ainda, no país ‘hermano’, uma grata surpresa: a volta do tradicional guia Austral, que deixara de ser publicado.

A coluna desta semana tentará mostrar como lidar com este mar de informações, algumas vezes conflitantes.

Vamos comparar alguns resultados de diversas listas tendo como foco a seguinte indagação: existe um vinho comum em todas estas listas?
Começamos com as listas de duas importantes publicações estrangeiras a Wine Spectator e a Wine Enthusiast. Para dar uma ideia sobre esta quase insanidade, para a elaboração de uma destas relações foram degustados nada menos que 15.500 vinhos!

Para nossa surpresa, apenas um vinho apareceu em ambas as listas:

Hamilton Russell 2010 Chardonnay, da Nova Zelândia (WS 93 e WE 92).
Um segundo vinho aparece nas duas relações, mas são de safras diferentes:
Quilceda Creek Cabernet Sauvignon 2008 (WS 96)
Quilceda Creek Cabernet Sauvignon 2009 (WE 99). 

Não há dúvida que é um excelente Cabernet Norte Americano.
Apenas como curiosidade, dois produtores conseguiram entrar nestas listas com dois vinhos diferentes: Evening Land, com um branco e um tinto e Williams Selyem com dois Pinot de vinhedos distintos.

O que acontece?

Mais uma vez temos que enfatizar que o vinho está na boca de cada degustador. Este é um experimento fácil de fazer: convidem seu companheiro ou companheira para uma taça de vinho e avaliem as características. Dificilmente vão ter as mesmas opiniões.

Por outro lado, estas listas podem ter foco muito diverso, por exemplo, podem estar provando apenas vinhos de uma determinada faixa de preços. Poucas publicações ou críticos têm capital para bancar o custo de uma prova destas, restando ‘convidar’ os produtores para enviar os vinhos a serem degustados, o que limita o universo.

A respeitada Wine Spectator trabalha um pouco diferente: prefere usar o material publicado durante todo o ano por seus diversos editores. Fazem uma reunião e discutem a relação final. Com isto, nem todos os críticos provaram todos os vinhos.

Vamos ampliar esta análise observando o que acontece com vinhos mais acessíveis para o nosso mercado: chilenos e argentinos.
Na Wine Spectator encontramos os seguintes produtos: (na ordem em que aparecem na listagem – alguns destes vinhos podem ser exclusivos do mercado norte americano)
Achával-Ferrer Malbec Mendoza Finca Bella Vista 2010 (Arg. 95 pt)
Bodega Norton Malbec Mendoza Reserva 2010 (Arg. 90 pt)
Viña Ninquén Syrah Colchagua Valley Antu 2009 (Chi. 96 pt)
Casa Lapostolle Cabernet Sauvignon Colchagua Valley Cuvée Alexandre Apalta Vineyard 2010 (Chi. 92 pt)
Concha y Toro Chardonnay Limarí Valley Marqués de Casa Concha 2010 (Chi. 90 pt)
Veramonte Primus The Blend Colchagua Valley 2009 (Chi 90 pt)

Na Wine Enthusiast encontramos: (na ordem em que aparecem na listagem – alguns destes vinhos podem ser exclusivos do mercado norte americano)
Riglos 2009 Gran Corte Las Divas Vineyard (Arg. 96 pt)
Finca Flichman 2009 Paisaje de Barrancas (Arg. 93 pt)
Trapiche 2009 Finca Jorge Miralles SingleVineyard Malbec (Arg. 95 pt)
Lagar de Bezana 2008 Single Vineyard Limited Edition Syrah (Chi. 93 pt)

Fácil perceber que não há nada em comum entre estes resultados. Um fato importante: o Riglos, que ficou em 1º lugar, simplesmente sumiu do mercado!

Confrontando a lista de melhores tintos do Guia Descorchados Argentina deste ano, encontramos em comum apenas o Achával Ferrer com 94 pt. O reeditado Guia Austral não testou nenhum destes vinhos. O mesmo aconteceu com a Relação do Descorchados chileno, não houve coincidências.
Resumo: todos são bons vinhos. Alguns produtores se valem destes resultados para majorar seus preços o que acaba sendo o famoso ‘tiro no pé’: em vez de vender mais, vende menos.

Examinar as listas é sempre divertido e instrutivo, principalmente se um destes premiados já passou por nossa adega. Mas não podemos confiar integralmente.
Dica da Semana: mais um substituto para a ‘loura suada’ do dia de sol…

Animal Chardonnay 2010

Produtor: Tikal (Ernesto Catena)
País: Argentina/Mendoza
Excelente Chardonnay elaborado por Ernesto Catena, demonstra-se aromático, potente, agradável com muita exuberância e elegância ao mesmo tempo. Na boca é explosivo com longo e prazeroso retro gosto.

Vinho não tem bula (nem contra-indicações)

O tema da semana passada gerou um dilema para uma de nossas mais assíduas leitoras, Marly Chaves, de São Paulo. No seu e-mail ela fez a seguinte colocação:
“Mas aí, como conhecer (um bom vinho) sem sermos um Tuty ou um José Paulo?”

Não pretendíamos continuar neste tema, mas a dúvida é comum a todos que se iniciam na arte de beber um bom vinho. Eu e José Paulo passamos por isto e resolvemos dissertar um pouco mais sobre a questão.
Aprender sempre!
Este é o caminho, a cada gole uma nova experiência, mesmo que ela seja ruim: nos erros se aprende mais. Mas para podermos apreciar um vinho, qualquer vinho, é preciso alguma base. Desde o início desta coluna, há quase 2 anos, temos proposto uma série de textos bem didáticos com a declarada intenção de estabelecer um conhecimento comum entre autores e leitores. Quase como uma analogia ao dever de casa dos tempos de escola, a Dica da Semana deveria funcionar como treino para o olfato e paladar, material de estudo. Não foram escolhas aleatórias e nem obrigatórias, mas direcionadas para o propósito descrito.
Outro bom conselho oferecido e que muitos leitores, na época, afirmaram que adotariam, é anotar tudo que for experimentado. Pode ser num caderno destinado para isto ou nos modelos de Ficha de Degustação sugeridos. O importante é termos uma informação valiosa que possa ser recuperada naquele momento de indecisão: Qual era aquele vinho que gostei?
Se nossas anotações forem consistentes, vamos obter o tipo de vinho (varietal ou corte), quais as uvas, safra, país, região, produtor e até mesmo em que situação foi adquirido e consumido. Isto vale ouro!

José Paulo Gils, nosso experiente consultor, lembra: “Qualquer que seja o produto, você pode comprar um de boa qualidade sem ser conhecedor do assunto. Isto vale para os vinhos”.

Sugere, ainda, simples regrinhas que são brilhantes:
1 – Procurem vinhos em lojas especializadas, pois sempre haverá um funcionário preparado para nos dar informações corretas; (evitem supermercados)
2 – O preço é um indicativo de qualidade, mas nem sempre o mais caro é o melhor;
3 – Observem a cor do líquido na garrafa, contra a luz, se estiver âmbar pode estar oxidado, não comprem. Esta recomendação é para vinhos tintos e brancos;
4 – Comprem vinhos com menos de 4 anos, principalmente para vinhos brancos;
5 – Procurem matérias sobre vinhos em revistas, jornais e sites. Livros são boas opções também. Leiam muito;
6 – Na dúvida sobre a compra do vinho, levem só uma garrafa para conhecer.
Expandindo o nosso universo
Em outras palavras, só vamos crescer no mundo do vinho usando positivamente as anotações colhidas em nossas experiências enológicas. Este é o tal ‘universo’ do título.
Para deixar as coisas claras, vamos imaginar um cenário para um fictício 1º vinho, a partir do qual vamos expandir horizontes: o compramos, por impulso, atraídos por uma boa apresentação e preço acessível. (Caso não tenha sido assim, por favor, façam as adaptações necessárias).

Também não precisamos nos preocupar se o vinho era ruim. Neste caso ele sempre será um bom vinho e aqui começa a nossa aventura. Poderíamos, simplesmente, comprar outra garrafa idêntica. Estaremos absolutamente seguros que vamos repetir uma boa experiência, mas o que aprendemos? Nada!

Examinando rótulo e contra rótulo, descobrimos a origem do vinho, a uva ou uvas no caso de um corte, região produtora, safra, produtor e até mesmo o nome do importador caso não seja um vinho nacional. A questão a ser respondida, neste momento, é: será que existem outros vinhos com estas mesmas características?
Múltiplos caminhos podem ser seguidos na busca desta resposta, e devemos trilhar todos, mas um de cada vez. Um bom começo é o produtor: que outros vinhos ele elabora? Se preferir, podemos buscar outros produtores da mesma região. Talvez apareçam novas combinações de uvas que podem ou não nos agradar. Devemos respeitar o ‘um passo de cada vez’: se algo não deu certo, voltamos para a última coisa boa e mudamos o rumo.
Mais sugestões: outros vinhos do mesmo país; mesmo tipo de vinho feito em outros países e outros desdobramentos possíveis. Mais um caminho plausível: que outros vinhos são trazidos por este importador. Fácil perceber que há muita coisa para testar…
Com isto vamos provando, comparando e ganhando mais bagagem. Passaremos pelas uvas clássicas, Cabernet, Merlot, Sirah e Pinot, pelos cortes bordaleses e pelos inusitados, pelas uvas que brilham nos terroirs do Novo Mundo, Malbec, Carmenere e Tannat. Uma delas vai nos conquistar, sem dúvida, e se tornará o nosso ‘vinho de cabeceira’, o porto seguro, a referência.
Recorrendo ao nosso consultor: “O vinho está na boca de cada pessoa”.

Encontrar este vinho tão especial é quase um rito de passagem. Agora estamos seguros para tentar entender o que é ter paixão por vinhos, discutir sobre Chateau Petrús, Vega-Sicilia e Romanée Conti e, quem sabe, investir numa garrafa icônica.

Não pensamos mais em vinhos de prateleira e nossa literatura predileta são os ricos catálogos dos importadores. Uma viagem de sonho? Para uma grande vinícola, é claro! Começamos a colecionar rolhas, rótulos, taças, decantadores, saca-rolhas, etc.; cada um vai nos trazer boas lembranças, para sempre.
Dica da Semana: outro bom vinho de verão

Colomé Torrontés 2011 
Argentina/Salta
Palha vibrante. Intensamente aromático, com impressões de cítricos confitados, lichias, rosas e madressilva, além de especiarias exóticas. Viscoso em boca, mas com excelente sapidez mineral dando equilíbrio ao conjunto.

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