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8 Argumentos questionáveis

Quando comecei a escrever sobre vinhos para O Boletim decidi seguir alguns cânones, por exemplo, usar o jargão típico dos enófilos, mesmo sabendo que nem sempre isto faria muito sentindo para os leitores. Alguns e-mails até sugeriram a elaboração de um glossário.
 
Parece que esta linguagem muito específica começou a incomodar alguns pesquisadores que decidiram medir, no mercado inglês que é considerado o maior do mundo, o que realmente valia a pena ou era interessante saber para o consumidor final. O resultado é surpreendente, mostrando do que a força do marketing é capaz: termos restritos à profissão do enólogo acabam na boca do povo que não tem a menor ideia do que estão falando. Mas fica bonito… Eis alguns exemplos.
 
1 – As Notas de Degustação – honestamente, algum leitor já comprou um vinho por que se sentiu atraído por este tipo de informação? Saber que o que está na garrafa tem “Cor púrpura com reflexos violáceos” é fundamental na hora de comprar um vinho?
 
O estudo inglês mostrou que não, mais de 55% das respostas foram negativas, muitas apontando que esta descrição nem sempre era clara. Apenas 9% dos entrevistados afirmou que escolheu um rótulo baseado numa descrição do produto.
 
O resultado desta pesquisa pode ser usado em qualquer mercado sem grandes alterações.
 
2 – A Madeira dos Barris de Carvalho – saber de qual bosque veio a madeira usada numa barrica se tornou ponto de honra. Se vier de Alliers ou Tronçais tanto melhor, algo como ‘está é “a” barrica’…
 
Bobagem!
 
Só os muito ingênuos acham que vão notar alguma diferença se usarem esta ou aquela madeira. Um ponto é fundamental: o carvalho americano e o francês são diferentes acrescentando aromas e sabores distintos ao vinho que neles permaneceu. Mas quem decide o resultado final é o enólogo, que vai dosar o produto até atingir sua meta. Honestamente, é quase impossível saber ao degustar um vinho qual a origem das barricas.
 
Mais um ponto para pensar: o “carvalho francês” também existe em florestas que por muitos anos ficaram inacessíveis por trás da Cortina de Ferro. Hoje em dia já é possível falar em carvalho esloveno ou romeno. Do ponto de vista científico são exatamente iguais ao francês. Quem se arrisca a identificar um ou outro? Mais uma informação pouco relevante. Mas quanto prestígio…
 
3 – Vinhedo ou Parcela Únicos – esta frase está na moda e aumenta significativamente o preço dos vinhos que a trazem em seus rótulos. Se for realmente verdade que uma determinada vinícola faz regularmente vinhos somente com frutos obtidos de uma região específica de seu vinhedo, vamos ter que acreditar que o clima, naquela região, é imutável.
 
Não é bem assim. Ninguém dúvida que as melhores uvas vão para os melhores vinhos. Também é seguro afirmar que esta ou aquela micro região produz frutos de melhor qualidade. A dúvida fica por conta de o volume de uvas ser suficiente para elaborar uma quantidade de vinho que possa ser comercializada.
 
Este tipo de informação deveria ficar restrita aos Agrônomos e Enólogos, só a eles interessa. Mas vende o produto. O próximo passo vai ser algo como “Parreiras Selecionadas Individualmente”…
 
Vocês acreditam? Papai Noel existe?
 
4 – O Melhor Sistema de Fechar a Garrafa – Rolhas de cortiça versus o resto do mundo, uma batalha num ringue internacional: neste corner… e o juiz será o consumidor final.
 
Há muito para ser dito neste tema. O mais importante é: tampa de rosca vai ser o padrão em pouco tempo. A cortiça está cada vez mais cara, é produzida por um cartel, e para determinadas regiões do mundo é quase inacessível, por exemplo, a Nova Zelândia: mesmo seus vinhos top usam tampas de rosca.
 
Óbvio que vinhos icônicos e famosos vão continuar com o mesmo sistema que usam há séculos. Sempre funcionou e vai continuar funcionando. Trocar o sistema de fechamento de um vinho destes pode causar estranheza e desconfiança. A chave neste caso é que o preço da rolha não vai alterar em nada o custo final.
 
Mas o que dizer de um vinho do dia a dia? Para uma garrafa que custe 50 reais num supermercado não importa como ela foi fechada: quanto menor o custo melhor, desde que o sistema empregado cumpra sua função de vedação protegendo a bebida, melhor.
 
Deixem esta preocupação para os enólogos e aceitem sua decisão. Sempre será a melhor escolha para aquele produto.
 
5 – Dia e Hora da Colheita – este dado é de um preciosismo e de uma inutilidade assombrosos. Levante a mão o consumidor que for capaz de perceber esta nuance ao consumir um vinho. Nem o famoso Parker, aposto!
 
Pode parecer inverídico, mas já encontrei, num contra rótulo, um minucioso texto informando que as uvas teriam sido colhidas num dia do mês de Abril, à tarde. Em outro vinho, as uvas foram colhidas numa amena noite de março. Para quem isto é relevante afinal? Acho que a turma do Marketing pegou pesado aqui.
 
6 – Proporções de um Corte – apesar de ser uma informação relevante, estão levando isto ao extremo. É óbvio que fica frustrante ler um rótulo para descobrir que é um vinho obtido a partir de “uvas viníferas europeias”. Mas também não me adianta nada saber que um corte foi obtido a partir de 11,5% Cabernet, 15,7% de Carmenére, 13,87% de Malbec, 2,34% de Syrah e mais uma infinidade de uvas. Não precisamos nem desta, nem da outra informação; não ajudam em nada, confundem.
 
A grande maioria dos vinhos ditos varietais, ao contrário do que imaginamos, pode receber uma quantidade pequena de outras uvas que permitem um melhor acabamento do produto: pode melhorar a cor, aroma, tanino etc. Esta adição é legal, não precisa ser declarada e não muda a característica principal da casta, ou seja, um Cabernet com 10% de Merlot continua sendo um Cabernet.
 
Por outro lado, se um vinho for um corte em que as diferentes castas tiverem pesos semelhantes, está é uma informação válida que deve ser divulgada claramente. Fora disto, deixe para os ‘enochatos’.
 
7 – Teor Alcoólico – o que se discute aqui é se a quantidade de álcool num vinho tem realmente a importância que se atribui a este dado, que consta dos rótulos por obrigação legal. Países produtores que têm seus vinhedos em regiões de muito sol produzem vinhos mais alcoólicos, os frutos terão maior teor de açúcar para ser convertido. Mas este fator sozinho não torna um vinho melhor ou pior para ser consumido. Se realmente isto for um ponto de discussão válido é melhor esquecer o vinho e beber suco de uva: teor zero!
 
8 – A Cuba de Fermentação – a mais recente invencionice dos marqueteiros que resolveram distinguir os vinhos pelos recipientes em que são fermentados. Desta forma seriam sensivelmente diferentes vinhos que foram elaborados em tanques de inox, em barricas de madeira, piscinas de concreto (com ou sem epóxi) e até na última novidade um recipiente de forma oval construído em concreto.
 
Isto faz diferença? Creio que só para o enólogo ou algum especialista do assunto. Em todos os casos o resultado é vinho. Só de curiosidade, acho que seria mais útil saber qual a levedura utilizada, assim poderia esperar pela presença, ou não, de determinados aromas e sabores. O resto é subjetivo e fica a critério do leitor.

Dica da Semana: um excelente Syrah do Chile com uma característica que serve de exemplo para tudo que foi dito acima.
 
Polkura Syrah 2008
 
Composição: 94% Syrah, 2% Malbec, 1,5% Tempranillo, 5% Grenache Noir, 1% Viognier
Colheita: 22 de abril – 2 de maio 2007
Álcool: 14,6%; Açúcar: 2,6 g/l; Acidez: 5,9 g/l; PH: 3,62
Cor violáceo profundo. Aromas de pimenta branca e negra, acompanhado de frutas negras, ervas e aniz. Vinho de grande corpo, elegante, com taninos muito intensos, porém suaves. Acidez natural e doçura de álcool bem equilibradas. O vinho é muito complexo, integrando os diversos sabores que emergem no paladar. Final longo.
 
Precisa disto tudo ou bastaria dizer: Ótimo vinho!
 

Em Petit Comité

Era pequeno mesmo e bem que o título de hoje poderia ser substituído por “A Dois”. Éramos eu e minha esposa, só. Temos esta cumplicidade e o gosto por bons vinhos e boa gastronomia. Sempre que viajamos ficamos atentos às novidades em ambos os campos.
 
Uma das viagens de maior expectativa e que resultou num programa totalmente diferente do que pretendíamos foi uma viagem ao Chile. Havíamos comprado as passagens com alguma antecedência, só não podíamos prever o grande terremoto de 2010. Pegou-nos de surpresa!
 
Viajamos no limite de validade de nossos bilhetes, alguns meses depois da catástrofe. Infelizmente as vinícolas estavam todas fechadas para reformas, algumas foram muito danificadas. Houve uma única exceção, a Vinícola Santa Rita próxima à capital Santiago. Fomos muito bem recebidos e degustamos um bom almoço no restaurante improvisado numa tenda, regado com o excelente Medalla Real.
 
Com a falta do principal objetivo de visitar as principais produtoras de vinhos, optamos por fazer um programa bem turístico, compras, excursões, city tour, museus, como qualquer outro viajante comum.
 
Descobrimos coisas bem interessantes e outras bem frustrantes, por exemplo: o chileno não tem o hábito de beber vinhos. Por esta razão, as maiorias das lojas de vinhos de Santiago são para turistas, com um catálogo de produtos mais que convencional e conservador. Chegava a ser decepcionante. Lindas lojas que ofereciam do manjadíssimo Casillero del Diablo ao caro Don Melchor, tudo muito convencional, zero de novidades.
 
Como bom ‘Aquariano’, não era isto que queria. Naquela época começou a surgir o movimento dos vinhos de garagem, MOVI (Movimiento de Viñateros Independientes), com alguns rótulos já lançados no mercado. Mas não estávamos seguros do que comprar…
 
A busca continuou por alguns supermercados, shoppings e lojas de rua, mas o quadro se repetia. Não me recordo da razão, acho que foi um pouco pela distância, deixamos para visitar o Shopping Alto las Condes já na véspera de retornamos.
 
Situado no mais elegante bairro da capital, é conhecido como um local para pessoas de maior poder aquisitivo, ao contrário do Parque Arauco que é mais popular. Havia uma loja de vinhos a omnipresente ‘El Mundo del Vino’ e um clube, La CAV ou ‘Club de Amantes del Vino’. Esta era novidade, entramos e fomos recebidos em português por uma simpática brasileira que ali trabalhava. Ponto positivo, mas ficamos intrigados com a rapidez da identificação, será que estávamos tão óbvios assim? A explicação veio em seguida, ela havia nos escutado ao decidirmos visitar a loja.
 
 
Muito interessante, começando pela organização das prateleiras, arrumadas pela qualidade seguindo um ranking próprio a partir das preferências dos clientes em degustações promovidas regularmente. Havia vinhos de diversos países, inclusive do Chile. Esta democracia enológica nos encantou. Fomos convidados para uma degustação. Não era vinho comum, só top de linha!
 
Perfeito, finalmente encontramos o que queríamos!
 
Uma das compras foi o melhor vinho provado, o Coyam, produzido com uvas de cultivo orgânico e considerado um ícone internacional. Ficamos com um 2007 que foi degustado ‘a dois’ nesta semana que passou. Os 6 anos de repouso lhe fizeram bem, o vinho estava delicioso. Um daqueles que ao ser consumido não deixa dúvida que é um grande vinho, até mesmo para um leigo.
 
 
O corte, naquela safra, foi elaborado com 38% Syrah, 21% Cabernet Sauvignon, 21% Carménère, 17% Merlot, 2% Petit Verdot e 1% Mourvedre. Uma verdadeira alquimia. Uma vinificação cheia de cuidados como a tripla seleção manual dos grãos, fermentação com leveduras naturais, longo de tempo de maturação com as casacas e 13 meses de amadurecimento em barris de carvalho de 1º uso, 80% franceses e 20% americanos.
 
Esta delícia tinha uma cor violeta bem marcante e aromas de frutas negras maduras, frutas vermelhas, groselha e frutos do bosque, em sintonia com as notas de baunilha da madeira, furtivas notas minerais, caramelo e chocolate. Excelente equilíbrio no palato, ótimo corpo, arredondado, taninos presentes e suaves. Um final interminável. Um vinho que pode ser guardado por 14 ou 15 anos. Tem estrutura para tal.
 
Na gastronomia é um vinho complexo que pede pratos bem elaborados como carnes de 1ª linha grelhadas, gado Wagyu, Angus ou carneiro, acompanhado de batatas gratinadas, arroz e molhos condimentados.
 
Não é para qualquer um, mas não tem preço exorbitante, por isto mesmo é a nossa…

Dica da Semana: um belo vinho do chileno, ótimo companheiro para estes dias mais frios.
 
Coyam 2010
Castas: 34% Syrah, 31% Merlot, 17% Carmenére,12% Cabernet Sauvignon, 3% Malbec e 2% Mourvedre
Um excelente investimento para o futuro
90 Pontos – Robert Parker (Safra 2009), 90 Pontos – WineSpectator (Safra 2009)
 
 

Expovinis 2013 – Final

 Devidamente treinados pelo 1º dia, voltamos à exposição para experimentar, desta vez, somente tintos. Nossa intenção era boa, mas não poderíamos imaginar os desvios de rota que nos aguardavam.
 
Partimos direto para o stand coletivo da Itália onde havíamos mapeado, na véspera, alguns interessantes Primitivos e Amarones, vinhos que estão na faixa superior de nossas expectativas. Estávamos nos deliciando com um belo Amarone quando encontramos um amigo recente, o simpático Maurício Gouveia, que tem uma interessante trajetória.
 
Brasileiro com formação numa das áreas de saúde, herdou de seu pai terras na região de Trás-os-Montes, em Portugal. Por ter dupla cidadania, para lá se mudou e se envolveu no mundo dos vinhos. Recentemente montou sua importadora de vinhos aqui no Brasil, a Empório Gouveia. Maurício é muito bem conectado e conhecia todo mundo que era importante naquela exposição. Não precisa dizer que nossa visita, dali em diante, mudou completamente.
 
A primeira grande diferença se dava quando ele informava ao expositor que era um possível importador: uma degustação que seria boa dentro dos padrões normais passava a excelente! O ponto alto foi visitar um expositor de Portugal, Quinta do Romeu, da região do Douro.
 
Estávamos “passando ao largo” do stand de Portugal. Na segunda-feira daquela mesma semana havíamos participado de uma boa degustação de vinhos portugueses, aqui no Rio de Janeiro. A maioria destes produtores viera para a Expovinis. Mas este era novidade. Que vinhos e que azeite!
 
A apresentação deste produtor oferecida no catálogo da feira é surpreendente:
 
“Provavelmente os melhores vinhos do mundo são produzidos por uma família num terroir específico, ao longo de gerações. Desde 1874 que a família Menéres produz vinhos do Porto e DOC Douro em 25ha de terras de Xisto… São vinhos gastronômicos, com caráter, secos, muito aromáticos, frutados e equilibrados.”
O proprietário, João Menerés conduziu as duas degustações, vinhos e azeites. Foi espetacular! Prometi a ele que irei visitá-lo, promessa que vou cumprir em breve. A acolhida a esta ideia foi a mais simpática possível, estão totalmente preparados para receber visitas, a propriedade possui um museu, uma loja e um excelente restaurante o Maria Rita (foto).
 

 
Outras tendências observadas 
 
Alguns detalhes desta exibição chamavam muito a nossa atenção, a maioria eram apenas ‘efeitos especiais’ para atrair um visitante mais distraido. Outros se revelaram uma boa surpresa num mundo em que mudanças radicais nem sempre são bem vindas: as garrafas e rótulos e acessórios estão mudando! Vejam estas fotos:
 
 
Na direita, novos formatos para espumantes, na esquerda, sobre o balcão um elegante e diferente decantador. Infelizmente nosso fotógrafo não obteve boas imagens das novidades em formatos de taças, rótulos elaborados e até uma linha de vinhos para a nova geração com o rótulo cobrindo toda a garrafa, como uma luva ou envelope.
 
Na próxima semana, mais uma exibição. Desta vez visitamos a “Essência do Vinho“ no Rio de Janeiro.

Dica da Semana: um corte bordalês de Santa Catarina!
 

Santa Augusta Cabernet Sauvignon + Merlot 2008

 
Origem: Vale do Contestado Videira/SC
Elaborado a partir de uvas cuidadosamente selecionadas, provenientes de vinhedos próprios localizados a uma altitude de 1000 m.s.n.m. Cor vermelho rubi, com reflexos violáceos, límpido. Aroma frutado e franco com notas de amora, ameixa seca e uma nota discreta de vegetal e de tostado. Paladar frutado, com uma boa acidez, taninos presentes, harmônico e persistente. Harmoniza com carnes vermelhas, aves de caça, massas condimentadas com molhos de carne.

 

Existe Vinho Bom e Barato?

Nas últimas colunas foram mencionados alguns ícones do mundo do vinho. Todos muito bons e muito caros. Se olharmos para este mercado de alta gama ficaremos chocados com os valores pagos por determinados rótulos famosos. Recentemente uma garrafa de Romanée–Conti foi arrematada por mais de 13 mil dólares!

Há alguma coisa que justifique estes valores?

 

 
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São vários aspectos que devem ser levados em conta, desde a legislação de um país, volume de produção, técnicas de marketing e até a má administração de empresas que buscam cobrir seus prejuízos.

No caso do renomado vinho da Borgonha o preço se justifica por duas razões:

1 – a legislação francesa, sempre muito rigorosa, só classifica naquela região como vinhedo de excelência uma pequena parcela;

2 – em função disto a produção é minúscula. Logo, são poucas garrafas à venda deste fabuloso vinho.

A segunda pergunta que devemos nos fazer antes de embarcar numa compra ousada é: vale a pena?

Nem sempre. Muitos destes vinhos têm uma fama que, hoje em dia, não é mais devida – foram grandes vinhos. A concorrência é feroz e com a chegada dos vinhos do Novo Mundo a guerra de marketing se tornou a parte mais importante do negócio.

Reparem na divisão entre Novo e Velho mundo – há lugar para grandes vinhos nos dois segmentos. Não há dúvida que os rótulos mais tradicionais vão se agarrar ao seu passado e extrair tudo o que puderem disto. Do outro lado do Atlântico, onde não há tanta tradição, o caminho será o de se equiparar, inclusive no preço…

 

 
 

Mas é possível comprar um excelente vinho por um preço palatável. Basta seguir alguns conselhos.

A menção ao Romanée-Conti não foi gratuita. Sua principal característica é ser elaborado com uvas de um único vinhedo. Esta é a primeira dica: procurem nos rótulos a expressão ‘Vinhedo único’ ou as traduções ‘Single vineyard’, ‘viñedo único’, ‘U.V.’ (unique vigneron) ou a versão mais moderna que prefere citar ‘Block #’ e ‘Parcela #’. Isto é uma garantia de um produto de melhor qualidade, com elaboração cuidadosa. Podemos encontrar excelentes produtos, que equivalem a um Borgonha Prémier Cru por 1/3 do preço.

Uma segunda dica são os chamados ‘segundos vinhos’ das grandes vinícolas. Esta opção surge quase naturalmente quando uma determinada safra não atinge o padrão para o grande vinho ou, mais comum atualmente, para enfrentar a concorrência do mercado sem alienar a marca mais famosa da vinícola.

 

 
 

Este vinho é ruim?

De maneira nenhuma. Não se pode esquecer que vinho é um negócio. Nenhum produtor vinifica só por amor à arte, precisam de retorno para o investimento. Outra trilha muito usada é a venda do vinho por atacado para engarrafadores independentes. Estes lançam excelentes produtos com seus próprios rótulos e a preços bem mais competitivos. Alguns exemplos:

Pavillion Rouge é produzido pelo Château Margaux;

Les Forts de Latour, pelo Château Latour;

Liberty School, produzido pela afamada Caymus da Califórnia;

Hawk Crest, elaborado pela premiada vinícola Stag’s Leap.

Os ‘Negociantes’, muitas vezes vinhateiros também, são comuns na França, por exemplo: Bouchard Père et Fils, Louis Jadot, Joseph Drouhin e Vincent Girardin na Borgonha; Georges Duboeuf em Beaujolais; Guigal, Jean-Luc Colombo e Mirabeau na Provence; Jaboulet no Vale do Rhône.

Basta olhar nos rótulos ou contra-rótulos para comprar excelentes vinhos por uma fração do preço dos ‘famosos’. Isto vale para os produtores sul-americanos também: Bramare e Felino são segundas marcas da Viña Cobos; Tomero é elaborada pela premiada Vistalba; Alamos é a linha básica da Catena Zapata, e assim por diante.
Um truque que gosto muito é experimentar as varietais pouco conhecidas, tintas ou brancas. Em vez de um Sauvignon Blanc prove um Torrontés, no lugar do trio Cabernet, Merlot e Syrah, parta para um Tannat ou Ancelotta. Já fiz ótimas descobertas assim, com um custo muito baixo.

Por último, tentem os produtos nacionais ou pelo menos do cone sul em lugar de europeus ou americanos. Tudo bem que nem sempre o nosso vinho tem preço competitivo, mas com uma boa dose de perseverança podemos encontrar bons caldos. Os espumantes não me deixam mentir, não devem nada aos demais.

Dica da Semana: uma destas descobertas, numa prova oferecida em uma delicatessen.

 
El Ciprés Torrontés
Produtor: Luis Segundo Correas
País: Argentina/Mendoza – Medrano
Com uma bela coloração amarelo ouro com reflexos esverdeados, seu intenso aroma lembra flores brancas, ervas e frutas brancas. No palato tem acidez equilibrada e final de boca muito longo, atípico para esta casta. Elaboração primorosa. Bom companheiro para um final de tarde ou borda de piscina.
 

Serra Gaucha – Final

 Como naquele velho ditado, o melhor fica para o final, a última visita desta jornada, na Vinícola Salton, foi cheia de ótimas surpresas. Vamos conhecer um pouco desta história.
 
Foi constituída formalmente em 1910 por três irmãos que decidiram dar um cunho empresarial aos negócios de seu pai, Antonio Domenico Salton, um vinhateiro informal. A primeira sede era no centro de Bento Gonçalves e assim como a Cooperativa Aurora, viram a cidade crescer ao seu redor.
 
Desde o início das operações a Salton sempre teve um foco bem definido: produzir com qualidade. Sua extensa linha de produtos inclui suco de uva, vinhos, espumantes, vermutes e o conhecido Conhaque Presidente, um dos carros chefes da empresa, que é produzido exclusivamente na unidade de S. Paulo.
 
Hoje, mais de 100 anos depois, é reconhecida como uma das principais vinícolas deste país. Com as 3ª e 4ª gerações à frente dos negócios, continua sendo familiar e 100% brasileira. Em 2004 inauguraram a atual sede, no distrito de Tuiuty, encerrando as atividades na cidade de Bento Gonçalves.
 
A nova geração que dirige esta empresa trabalha para manter sua liderança no segmento dos espumantes além de se tornar a principal fornecedora de vinhos para restaurantes e similares. Pretende, até 2020, ser reconhecida como a melhor e mais respeitada indústria vinícola brasileira.
Posso assegurar que está preparada para isto.
 
 
A estrutura de turismo é a mais completa que conhecemos, com guias muito bem preparados. Por ser um Domingo, poucas atividades eram desenvolvidas na empresa. Mas o tour foi completo permitindo conhecer os equipamentos de ponta. Foram os primeiros tanques de fermentação horizontais que tive a oportunidade de observar.
 
Poucas vinícolas, no mundo, utilizam esta tecnologia. Moderníssimo.
 
 
O aspecto visual de toda a fábrica, 100% aço inoxidável, é impressionante. Passarelas preparadas para a visitação nos levam a todos os pontos, com estratégicas paradas onde o guia conta com suporte de áudio para suas explicações.
 
 
A visitação termina na sala das barricas, um espetáculo à parte.
 
 
Levados para a simpática sala de degustação, demos início aos ‘trabalhos’, 6 vinhos: 2 brancos, 2 tintos e 2 espumantes.
 
 
O primeiro vinho foi o Salton Intenso 2012, antiga linha Volpi, um corte de Sauvignon Blanc e Viognier. Seguiu o que consideramos o melhor branco provado nesta viagem, o Salton Virtude 2011, um Chardonnay muito classudo que passou brevemente por madeira.
 
Muito versátil e de paladar extremamente agradável.
 
 
O primeiro tinto era um produto exclusivo para o mercado externo o Intenso Export 2012, um varietal da uva Marsellan. O segundo, um vinho que homenageia os fundadores, foi o Paulo Salton Gerações, um bem elaborado corte Bordalês com 50% Cabernet Sauvignon, 40% Merlot e 10% Cabernet Franc.
 
Tem lugar seguro na minha adega embora ainda não esteja sendo comercializado, nem o rótulo foi definido ainda.
 
 
Na sequência foram servidos o Prosecco 2012 e o espumante Gerações Antonio Domenico Salton, um excelente brut nature com 50/50 de Chardonnay e Pinot Noir elaborado pelo método Champenoise.
 
A Chandon que se cuide…
 
 
Depois desta deliciosa prova só nos restou o bom almoço típico oferecido, acompanhado pelos honestos vinhos da linha Volpi e pelo espumante Salton Brut Reserva Ouro.
 
Despedimo-nos de Bento Gonçalves com uma certeza: voltaremos!
 
 
Dica da Semana: O melhor de todos!
 
 

st 0Salton Virtude Chardonnay 
Vinho com tonalidade amarelo claro. Possui aromas que lembram abacaxi , manteiga, maçã verde, melão e pronunciado aroma de mel, baunilha, coco, nozes e pão torrado, além de notas minerais. Seu sabor é equilibrado e estruturado, com acidez firme, deixando agradáveis sensações de frutas e especiarias na boca. Harmoniza com aves de caça, como perdiz, ema, avestruz, faisão e pato. Massas com molhos de base branca (béchamel) ou à base de ervas (pesto). Acompanha risotos e queijos como brie e camembert. Excelente opção para bacalhoada e cassoulet.

 
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