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Um desvio de rota para celebrar vinhos perfeitos

Pelo menos na opinião do celebrado Robert Parker, o Imperador do Vinho. Para surpresa geral, até mesmo de experimentados enófilos, a safra de Bordeaux de 2009 foi distinguida com 19 (dezenove) notas 100, 18 tintos e 1 branco. Um fato inédito e digno de grandes comemorações. 
Ainda não havíamos falado sobre este país vinícola encravado na França. Citamos a Borgonha e deixamos, conscientemente, a região de Bordeaux para uma segunda visita. Aqui nasceram os grandes vinhos do mundo, desenvolveram-se as mais sofisticadas técnicas de viticultura e vinificação e criou-se um modelo copiado por todos: não há um enólogo na face da terra que não sonhe em incluir um corte bordalês no seu portfólio. Quase uma reverência aos deuses da enocultura. 

Um pouco de história 
A produção de vinhos nesta região data de 48 DC, durante a ocupação romana de St. Emilion, quando foram implantados os primeiros vinhedos com a finalidade de produzir bebida para as tropas de Roma. No ano 71 DC já havia diversos vinhedos produtivos em Bordeaux, embora estudos tenham encontrado, na região do Languedoc a presença da uva desde 122 AC. 
O vinho ali produzido era de agrado dos franceses e raramente exportado. A partir do século XII estes vinhos ganham o mundo, através do casamento de Henry Plantagenet, que se tornaria o Rei Henrique II da Inglaterra e Eleanor d’Aquitaine, incorporando a província da Aquitânia ao território inglês e absorvendo a produção vinícola. Este quadro só seria alterado ao final da guerra dos 100 anos quando a província foi reincorporada à França. 

Apesar de guerras e pragas, os vinhedos foram se expandido obrigando à introdução de regiões demarcadas a partir de 1725, para que os consumidores pudessem identificar as diversas origens dos vinhos. O Instituto das Denominações Controladas, foi criado para coibir falsificações, determinando que só os vinhos de Bordeaux ostentassem esta indicação em seus rótulos. 
A classificação de 1855 
Não é possível compreender estes vinhos sem conhecer a legislação sugerida pelo Imperador Napoleão III. Ele exigiu uma forma de classificação para os grandes vinhos que seriam expostos e negociados na Exposição Universal de Paris. A seleção levou em conta a reputação do Château e o preço de venda, o que era diretamente relacionado à qualidade. 
Basicamente os tintos são enquadrados como Premier Crus até Cinquièmes Crus, com ligeiras variações entre as regiões do Medoc, St. Emilion e Graves. 
Os brancos foram divididos em Premier Cru Superieur, Premier Cru e Deuxième Cru. 
Houve apenas duas alterações nesta classificação até hoje, a mais significativa foi a reclassificação do Château Mouton Rothschild, em 1973, de segundo para Primeiro Cru. 
Os 20 vinhos de 100 pontos: (nome seguido da região produtora) 
Tintos: (todos Château) 
– Beausejour Duffau Lagarrosse – St. Emilion 
– Bellevue Mondotte – St. Emilion 
– Clinet – Pomerol 

– Clos Fourtet – St. Emilion 
– Cos D’Estournel – Saint Estephe 
– Ducru Beaucaillou – Saint Julien 
– L’Evangile – Pomerol 
– Haut Brion- Pessac – Léognan 
– Latour – Medoc 
– Leoville Poyferre – Saint Julien 
– La Mission Haut Brion – Pessac – Léognan 
– Mondotte – St. Emilion 
– Montrose – Saint Estéphe 
– Pavie – St. Emilion 
– Petrus – Pomerol 

– Le Pin – Pomerol 
– Pontet Canet – Pauillac 
– Smith Haut Lafitte – Pessac – Léognan 
Branco: 
– Pape Clément – Pessac – Léognan 
Todos ótimos vinhos, entre eles grandes ícones que confirmam suas lendas. Mas… Caríssimos! Os 1er Crus são considerados os mais caros vinhos do mundo. Depois dos 100 pontos, o céu é o limite. 
Curiosidade: 
– após 30 anos criticando vinhos, Parker deu poucas notas 100. Foram 224 rótulos, muitos distinguidos em várias safras. O interessante é a divisão destas notas por região produtora: 30% vinhos do Rhone, 24% de Bordeaux (não computadas as atuais notas), 20% da Califórnia e 1,3 % da Itália. Os restantes 24,7% estão distribuídos entre outros países. 
Na semana que vem, um pouco mais sobre Bordeaux. 

Dica da Semana: um Bordeaux bom, bonito e barato (será que existe?)  

CHÂTEAU SAINTE MARIE ROUGE 2006 
Produtor: Château Sainte Marie 
País: França / Bordeaux 
Uva: 64% Merlot, 28% Cabernet Sauvignon e 8% Cabernet Franc 
Utilizando práticas raríssimas na região de Entre Deux Mers, como cultivo orgânico e colheitas totalmente manuais, conseguem elaborar um vinho bastante superior aos normalmente encontrados nesta denominação. Os vinhedos antigos, com mais de 35 anos, e a maturação de 12 meses em barricas de carvalho, contribuem para deixar o vinho ainda mais complexo e atraente. Uma bela surpresa! Harmoniza com carnes grelhada, confit de pato, magret e carnes assadas.

Os Grandes Vinhos do Mundo: Argentina – 1ª parte

A tradição faz a diferença 
A história do vinho neste país começa em 1556 quando o padre Jesuíta Juan Cedrón trouxe mudas das espécies País e Moscatel (Missiones), do vale central do Chile, plantando-as nas regiões que, mais tarde, seriam conhecidas como Mendoza e San Juan. Através de cruzamentos naturais, surgiria um clone conhecido por Criolla Chica, varietal utilizada nos vinhos argentinos por muitos anos e que promove um sabor típico que agrada ao argentino. A primeira vinícola, estabelecida pelos Jesuítas em 1557, ficava em Santiago del Estero. A expansão foi rápida principalmente devido à construção de diversos canais de irrigação para enfrentar o problema de escassez da água. Coube ao Governador da Província, Domingo Sarmiento, contratar o agrônomo francês Miguel Aimé Pouget e incumbi-lo de trazer mudas de castas europeias nobres para a região, entre elas, a hoje emblemática Malbec. 

A construção de uma ferrovia ligando a Buenos Aires e a mão de obra dos emigrantes europeus que fugiam da Filoxera são outros fatores que potencializaram esta indústria. Com um clima semelhante ao do vizinho Chile e protegida das pragas conhecidas, tornou-se outro porto seguro para uvas e vinhos, mas com uma importante diferença: 90% de sua produção eram comercializados no mercado interno – vinhos simples de castas não europeias. 
Esta filosofia de privilegiar a quantidade em lugar da qualidade perdurou até os anos 90. A Argentina sempre foi o maior produtor de vinhos fora da Europa, com um consumo per capita de 46 litros por ano. Mas era um exportador medíocre, seus vinhos não eram respeitados internacionalmente. 
Impressionado com a indústria californiana de vinhos, Nicolás Catena Zapata, professor visitante de economia, na Universidade de Berkeley, decidiu melhorar os produtos da velha Bodega Esmeralda, de sua família. Na sua volta a Mendoza, introduziu diversas modificações no sistema produtivo vigente: queria produzir vinhos finos de qualidade. Com a consultoria do experiente enólogo californiano Paul Hobbs, provocou uma revolução incrível que está transformando a Argentina: será, em breve, o maior produtor de vinhos de qualidade de todo o planeta (se a instabilidade política do país não atrapalhar…). Catena foi chamado de “Loco” por todos, mas como já sabemos, estava certo. 

A primeira observação de Hobbs foi que o sistema de condução das parreiras do tipo pérgola não era irrigado de forma adequada. Pediu que usassem menos água para que os frutos concentrassem mais açúcar, adotando o sistema de gotejamento. Novos parreirais são plantados acima de 1000 metros de altitude, em busca de um amadurecimento perfeito. 
Apesar de ter como missão produzir um Chardonnay de estilo californiano, surpreendeu-se com uma uva para ele desconhecida, a Malbec. Catena deu-lhe total liberdade para experimentar. Recebe 10 barris novos de carvalho francês da tanoaria Taraunsaud e começa a vinificar com técnicas nunca usadas naquela região. Um sucesso espetacular! A Malbec deixava de ser uma uva secundária. 
O Mito e seu vinho icônico 
Nicolas Catena tornou-se um dos personagens mais importantes do mundo do vinho. Um revolucionário, corajoso e inovador. Um Mito. Para vinificar suas joias, construiu uma vinícola em forma de pirâmide Asteca, orientada no terreno de tal forma que, em determinada hora do dia, sua superfície brilha como ouro. Seus vinhos sempre foram de qualidade indiscutível e seus métodos acabaram sendo adotados por todos que o chamavam de louco. 

O resultado mais significatvo e importante foi o estabelecimento de um novo padrão de vinhos: o Malbec Argentino, que não é uma tentativa de ser um vinho do Velho Mundo. Um produto de tipicidade única e que chamou a atenção para este país. Catena havia criado algo novo, uma fusão de estilos que incorporava, inclusive, o antigo padrão argentino. 
Somente em 1997, num excepcional ano e depois de vários enólogos e consultores, consentiu em dar seu nome a um de seus vinhos, como um coroamento de sua ousada aventura: 

Nicolás Catena Zapata 1997 

Um corte de Cabernet Sauvignon e Malbec, fora de série, elaborado unicamente em anos selecionados. A primeira vinificação foi testada exaustivamente, na Europa e nos EUA, em provas às cegas, sendo comparado com os famosos Chateau Latour, Haut Brion, Solaia, Caymus e Opus One. Classificou-se 4 vezes em primeiro lugar e 1 vez em segundo. O melhor vinho da América do Sul e, sem dúvida, um dos melhores do mundo. 
Robert Parker: 98 pontos (safra 07) 
Robert Parker: 97 pontos (06) 
Wine Spectator: 93 pontos (06) 
Robert Parker: 98 pontos (05) 
Robert Parker: 98+ pontos (04) / Wine Spectator: 95 pontos (04) 
Decanter: 5 Estrelas (04)
A safra de 2007 é composta por Cabernet Sauvignon (65%) e Malbec (35%). Utilizaram frutos dos vinhedos La Pirámide, a 940m, Domingo, a 1.130m, Adrianna, a 1.400m e Altamira, a 1.160m de altitude. As uvas, de cada vinhedo e variedade, foram vinificadas separadamente, com controle de temperatura e maturadas por 26 meses em barricas novas de carvalho francês. 
Com uma coloração violeta escura e intensa, oferece aromas de cerejas negras, chocolate escuro e alcaçuz, com notas de minerais, violetas, pimentas e ervas. No palato mostra um vinho muito estruturado e equilibrado, com marcantes sabores de frutas vermelhas e alguma mineralidade. Um final de boca vibrante, intenso e longo. Pode ser guardado por mais de 10 anos. Harmoniza com carnes e alta gastronomia. 
O Futuro 
Mendoza não é a única região que produz vinhos na Argentina, embora seja a mais importante. Salta e a Patagônia, entre outras, vêm se destacando e atraindo investimentos estrangeiros importantes. Na família Catena Zapata, a segunda geração já se destaca: a filha Laura Catena, tem sua própria vinícola a Luca enquanto seu irmão, Ernesto Catena, dirige a vinícola Tikal. Ambos produzem vinhos espetaculares e de muita personalidade. 
Na próxima coluna, vamos conhecer um vinho que faz frente a este. Seu produtor? Paul Hobbs… 

Dica da Semana: A uva Torrontés deve ser a nova sensação entre os brancos. Tipicamente argentina, cai muito bem neste verão brasileiro. 

Tahuantinsuyu Torrontés 2009 
Produtor: Tikal (Ernesto Catena) 
País: Argentina / Mendoza 
Esta esperada novidade de Ernesto Catena promete conquistar quem ainda tinha dúvidas do potencial da uva Torrontés. Elaborado em um estilo mais denso e menos alcóolico que a maioria dos vinhos da casta, mostra o perfil aromático típico da uva, com exuberantes notas exóticas e de frutas maduras. No palato é saboroso e fresco, com uma boa pegada. 
Combinações: Frutos de mar. Peixes brancos. Saladas.

Os Grandes Vinhos do Mundo – Chile – Final

O preferido dos especialistas 
Embora a expressão agradar a Gregos e Troianos seja bem conhecida, não é tarefa fácil. Deveria ser precedida de “não se pode”…. Transportando esta mitologia para o real mundo dos vinhos, a nossa tarefa se torna hercúlea. Selecionar este terceiro vinho icônico chileno foi muito difícil. São tantos produtos de 1ª grandeza por lá que é fácil fazer uma grande injustiça, isto sem levar em conta o número de especialistas que foram consultados. Afinal, gosto é pessoal. 
Conheçam a Lapostole 
Esta é uma vinícola jovem, inaugurada em 1994 pelo casal francês, Alexandra Marnier Lapostolle e Cyril de Bournet. O sobrenome Marnier tem enorme tradição no ramo de bebidas, o famoso licor Grand Marnier é seu o carro chefe. Mas atuam na vinicultura dirigindo o Chateau de Sancerre no Vale do Loire.

Começaram com uma arquitetura espetacular, 370 hectares de vinhedos em 3 áreas, o que há de melhor em tecnologia e a consultoria de Michel Rolland. O objetivo era um só: produzir um vinho de caráter europeu nos excelentes terroirs do Chile. Está localizada na área de Apalta, Vale de Colchagua, próximo à cidade de Cunaco, a região mais valorizada para vinhos no país. 

Dentre os diversos rótulos produzidos, destaca-se o Clos Apalta, um inacreditável corte de 78% Carménère, 19% Cabernet Sauvignon e 3% Petit Verdot (safra 2009), que tem recebido altas pontuações dos grandes críticos. Sua produção é artesanal. Para preservar todo o potencial da fruta, as uvas são colhidas à noite e colocadas em caixas de 14 Kg no máximo. Na vinícola, são selecionadas e desengaçadas manualmente, mantendo o alto padrão de qualidade. Os pequenos tanques de fermentação, de carvalho francês, são preenchidos por gravidade. Não há pressa. Pacientemente se espera que os agentes naturais façam o seu trabalho transformando o mosto em vinho. Nada de químicas alienígenas aqui. A temperatura é mantida em 28° e a maceração dura entre 4 a 5 semanas, com remontas manuais para se extrair o máximo das cascas e sementes obtendo estrutura e concentração no produto final. O amadurecimento é feito por 24 meses em barris novos e não há filtragem antes de engarrafar. 

Um colosso de vinho, apaixonante! Sua produção é minúscula e somente é vinificado em anos excepcionais. 

Mas não é um vinho fácil. Para apreciá-lo corretamente é preciso entendê-lo e ter um paladar bem apurado. Com um potencial de guarda em torno de 10 anos, temos que esperar que ele fique pronto, não deve ser consumido jovem. Como na foto, decantá-lo é fundamental. 
Notas de degustação (safra 2009) 
Coloração escura entre o roxo e o vermelho. No olfato, apesar de jovem, já demonstra muita fruta vermelha madura, ameixas e cerejas, além de notas de figo seco e moca. Percebe-se facilmente, aromas de baunilha e cravo da índia no final. 
No palato, é um vinho muito estruturado, com um ataque de boca compacto e sedoso. Taninos domados e um surpreendente e longo retrogosto (não falei que era um vinho para os especialistas?). 
Harmonização: carnes do tipo contra-filé, ovinos e carne de caça. Ótima combinação com sobremesas ricas em chocolate amargo. 
Um único fator contra: é um vinho muito caro! (e muito falsificado…). 
Críticas recentes: 
Wine Spectator: 93 pontos (safra 08) 
Wine Enthusiast: 95 pontos (safra 08) 
Wine Spectator: 94 pontos (safra 06) 
Wine Spectator: 96 pontos (safra 05) 
Cometemos alguma injustiça? 
São tantos vinhos maravilhosos no Chile que fica difícil dizer que não. Esta escolha foi baseada em análises de vários profissionais da área. Mas o universo de vinhos deste país é imenso, sem falar nas diversas vinícolas-boutique que produzem vinhos fora de série em pequenas quantidades e, portanto, desconhecidos. Dois outros grandes produtores merecem ser citados: 
– Emiliana Vinhedos Orgânicos – outra associação da poderosa Concha y Toro, que produz o fabuloso Coyan; 
– Viña Montes – do internacionalmente respeitado vinhateiro Aurélio Montes que, entre várias delícias, produz o Purple Angel, um dos vinhos mais celebrados da atualidade. 
Sem dúvida o Chile merece uma nova visita.  

Dica da Semana: mais um bom chileno da mesma região do Clos Apalta. 

Montes Selección Limitada Cabernet/Carmenère 2010 
País: Chile / Apalta 
Produtor: Viña Montes 
Uva: Cabernet Sauvignon e Carménère 
Um sucesso constante. Envelhecido em barricas de carvalho americano, que conferem ao vinho um delicioso toque de baunilha. Segundo a revista Wine Spectator, é difícil não gostar deste vinho. Harmoniza com carnes grelhadas, cortes de ovinos e de caça. 
Robert Parker: 90 pontos (safra 09) 

Na próxima semana cruzaremos os Andes!

Os Grandes Vinhos do Mundo – Chile – 2ª parte

O Mais conhecido! 
O Chile é um país privilegiado para vinhedos e vinhos. Um solo muito fértil, um clima perfeito para o desenvolvimento das uvas, obtendo-se resultados inigualáveis. Devido à sua curiosa localização geográfica, uma estreita faixa de terra espremida entre os Andes e o Pacífico, ficou imune à maioria das pragas, principalmente a temida Filoxera. Não foi por acaso que se tornou uma espécie de santuário das parreiras, preservando espécies, muitas vezes em pé franco, que já não existem mais em qualquer outra parte do mundo. Talvez nem se saiba, até hoje, a real dimensão deste repositório. A qualquer momento podem surgir novas espécies dadas como extintas. 
O exemplo mais conhecido é o da Carménère, hoje a uva emblemática do país, que só foi identificada corretamente em 1994 graças a um meticuloso trabalho do ampelógrafo francês Professor Jean-Michel Boursiquot. Esta uva, hoje raríssima na Europa, é uma das 6 uvas originais de Bordeaux (Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec e Petit Verdot), que foram enviadas para a América do Sul para evitar a temida praga. Mesmo depois de descoberto o sistema de enxertia, ela nunca foi replantada, provavelmente por ser suscetível à outra doença, a Coulure, moléstia que ataca os bagos das uvas logo que começam a florescer. Resultou num belo trunfo para os chilenos, provocando a chegada de importantes vinícolas europeias para ali vinificarem e recuperarem algumas destas verdadeiras joias. 

Uva Carménère 

Em 1997 a Concha y Toro se associou com a bordalesa Baron Philippe de Rothschild SA, para produzirem um vinho excepcional, o Almaviva, talvez o vinho chileno de alta gama mais conhecido internacionalmente. 

Para produzi-lo, construíram uma espetacular vinícola, na região de Puente Alto, próximo a Santiago. 

O Almaviva é um corte de Cabernet Sauvignon vinificado com as mesmas uvas e métodos utilizados na produção do Don Melchor, com vinificações independentes de Carménère, Cabernet Franc e Merlot em proporções que variam a cada safra. A de 2007, que está no mercado, declara: 64% Cabernet Sauvignon; 28% Carménère; 7% Cabernet Franc e 1% Merlot. A decisão final desta mistura é feita por um colegiado de enólogos, chilenos e franceses. Um verdadeiro e respeitado Corte Bordalês produzido fora da França. Talvez o único no gênero. 
De cor vermelha rubi profunda e intensa, revela aromas puros e delicados de groselha maduras, amoras e morangos silvestres, combinados com notas minerais e toques de baunilha, café, alcaçuz, e especiarias. No palato, mostra-se muito equilibrado, taninos firmes e excepcionalmente longos, maduros, refinados e concentrados, contribuindo para densidade e textura elegante. Harmoniosamente perfeito. Excelente! ($$$$) 
Ótimo para acompanhar carnes vermelhas, cordeiro, carne de porco, queijos duros e pratos condimentados. 

Dica da Semana: um chileno delicioso e bem mais palatável no bolso. 

Chocalan Reserva Cabernet Sauvignon 2010 
País: Chile / Valle del Maipo 
Produtor: Viña Chocalan 
Uvas: 85 % Cabernet Sauvignon, 8% Syrah, 5% Carménère e 2% Petit Verdot 
Vinho de cor rubi com tons violáceos. Aromas de frutas vermelhas frescas e um pouco de mentol. No palato amora, cassis, ameixas, cerejas pretas. Saboroso e bem equilibrado, com madeira bem integrada. Grata acidez, bom volume e um final longo. Ideal para acompanhar queijo emmental e brie, carne de boi, carneiro, porco, veados e javalis, ou simplesmente com empanadas. 

Na próxima semana, o chileno predileto dos especialistas.

Os Grandes Vinhos do Mundo – Chile – 1ª parte

Uma Pequena Introdução 
Antes que alguns leitores estranhem, fizemos um salto consciente sobre a América Central, saindo da Califórnia e chegando ao sul do continente. Há uma razão, só um país tem um futuro promissor neste subcontinente: o México. O Vale de Guadalupe, quase uma extensão dos vales californianos, já tem nomes importantes produzindo bons vinhos. Destacam-se as vinícolas Monte Xenic, uma associação de 5 amigos e Casa de Piedra, do enólogo Hugo D’Acosta, a grande figura por trás do desenvolvimento desta região. Entre suas diversas atividades, fundou e administra uma boa escola de enologia, formando a mão de obra necessária para o sucesso destes empreendimentos. Com certeza em alguns anos teremos importantes caldos vindos de lá. Enquanto isto não ocorre, vamos conhecer um pouco de deste nosso vizinho com o qual não temos fronteiras. 
Vinicultura no Chile 
O desenvolvimento da indústria vinícola, neste país, passa por duas fases bem caracterizadas. A primeira ocorre na chegada dos conquistadores espanhóis, em 1548, que trazem na sua comitiva o padre Francisco de Carabantes. Como era comum, este plantou as primeiras videiras para produzir o vinho de missa. Dois fatos interessantes: existiam uvas nativas e o povo local dominava, perfeitamente, o processo de fermentação, embora não produzissem nenhum vinho. Havia uma bebida alcoólica obtida a partir de grãos. 

Carabantes 

A segunda fase surge por volta de 1850, com o Chile consolidado como país e independente da Espanha. A mineração, principalmente de nitrato (fertilizante), forma uma geração abastada que tem a França como modelo de riqueza. Esta influência abrange várias áreas da cultura chilena: arquitetura, moda, comida, etc. Grandes áreas começam a ser plantadas com varietais nobres da Europa, fato inédito até então. Criam-se as primeiras vinícolas, contratam agrônomos e enólogos de Bordeaux. O Chile se torna o primeiro país americano a produzir vinhos de qualidade. 
Para escapar da filoxera, diversas espécies de videiras são enviadas para serem replantadas neste exuberante terroir situado entre o pacífico e a cordilheira dos Andes, com resultados magníficos, a tal ponto que diversas empresas francesas investem neste país. O Chile se torna uma nova fronteira do vinho. Todos os aspectos eram favoráveis: o terreno, o clima e não haver um ataque da praga.

Sendo um dos maiores exportadores de vinhos de qualidade, atraiu as grandes vinícolas europeias que montaram operações no Chile. Quase toda a produção é exportada – o chileno não é um consumidor do seu excelente vinho. 
Os vinhos icônicos 
Não é possível fazer uma comparação direta com vinhos do velho mundo. A matéria prima daqui é muito superior, em todos os aspectos, à da Europa. Mas ainda falta um pouco de tempo para atingir a excelência dos Bordaleses, por exemplo. Mas já há alguns vinhos muito importantes. 

Um dos pioneiros na vinificação, Don Melchor de Concha y Toro, funda a vinícola homônima em 1883, a partir de um vinhedo de uvas nobres de Bordeaux que pertencia à sua esposa, D. Emiliana. Esta empresa, hoje a maior do Chile, produz diversos vinhos e está associada a grupos estrangeiros em operações independentes. Mas, se perguntarmos a qualquer chileno qual o melhor vinho do Chile, a resposta será unânime: o Don Melchor. Um vinho que começou a ser elaborado em 1987, em homenagem ao fundador da empresa. 

Este espetacular Cabernet é produzido com uvas do vale de Maipo, plantadas numa área de 114 hectares, composta de diferentes parcelas. Cada lote fornece material para uma vinificação com características próprias que serão provadas, inclusive na França, para compor este verdadeiro quebra-cabeças que vai definir a melhor proporção para esta assemblage. O envelhecimento passa por 12 a 14 meses em barris de carvalho francês, novos ou com 1 ano de uso. Após ser engarrafado, descansará por um par de anos, no mínimo, antes de ser colocado no mercado. Muitos afirmam que é um mito engarrafado. 
O Don Melchor é um vinho caro mas muito respeitado nos principais polos consumidores. O famoso Robert Parker o classifica com 95 pontos (safra 2006), sendo acompanhado pela respeitada Wine Spectator com 94 pontos. 
Um vinho de cor púrpura opaca que tende a colorir a taça. Predominam aromas tostados, tabaco, cedro, couro, moca e cereja negra. Na boca é equilibrado, frutado sem ser explosivo, suave e complexo, com diferentes camadas de sabor. Pode ser guardado por 30 anos com segurança. 
Mas não reina sozinho! Há pelo menos mais dois vinhos de mesmo teor que vamos conhecer nas próximas semanas. Este é o preferido dos chilenos. Apresentaremos o mais famoso e aquele que é o preferido dos especialistas. Aguardem!

Dica da Semana: um bom chileno que não vai fazer feio. 

Perez Cruz Cabernet Sauvignon 2008 
País: Chile / Valle del Maipo 
Uvas: Cabernet Sauvignon(90%), Merlot e Syrah(9%). 
Tinto com excelente aroma frutado, com notas de pimenta e violetas. Bem estruturado, de taninos maduros, final longo e suave. Harmoniza com carnes assadas, massa com molho cremoso, aves de caça e queijos de cura média.

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