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Mudando o Foco: Derivados do Vinho – 1ª parte

Nas últimas semanas mencionamos as aguardentes vínicas que compõem os fortificados. Hoje, vamos conhecê-las detalhadamente. Surgiram como subproduto do vinho, mas algumas se tornaram tão importantes que passaram a ser produzidas a partir de uma vinificação própria, dedicada. Assim, na Itália, a Grappa; em Portugal, a famosa Bagaceira e a Aguardente Vínica; na França, o Marc, o Cognac e o Armagnac; na Espanha, o sofisticado Sherry Brandy, ou Aguardente de Jerez, e o popular Orujo. No Peru e no Chile, nossos vizinhos, o Pisco. A lista é grande, mas essas são as mais conhecidas. 

O destilador

Para quem nunca visitou um alambique, ou não se lembra mais das aulas de química na época do curso científico, a foto acima dará uma boa ideia sobre esta indústria. Uma vez fermentado, o mosto é colocado nestes curiosos caldeirões, e aquecido fortemente. O vapor é coletado na tubulação superior e conduzido para um sistema de resfriamento. O resultado é um álcool de uva. Só para refrescar a memória, existe álcool de cana de açúcar, de cereais, de legumes e de quase qualquer fruta.

Coleção de aguardentes de diferentes frutas 

Comecemos pelas bebidas obtidas a partir da destilação dos bagaços: Grappa, Bagaceira, Marc e Orujo. Tecnicamente trata-se do mesmo produto. O que os diferencia são as uvas e pequenos detalhes do processo produtivo, alguns obrigatórios por lei. O Pisco sul-americano tem origem semelhante, mas é produzido de outra maneira. 
Grappa 
Existe uma lenda em torno desta bebida, que teria sido obtida, pela primeira vez, por meio de um destilador roubado do Egito, durante o reinado de Cleópatra, e levado para a cidade de Bassano del Grappa, na região do Veneto, nordeste da Itália. Estudos recentes, porém, mostram que somente depois de 1600 é que a tecnologia de destilação sofisticou-se a ponto de permitir a produção. 

Bassano del Grappa 

A União Europeia estabeleceu normas para o seu reconhecimento: 
1 – dever ser originária da Itália, da parte italiana da Suíça ou de San Marino; 
2 – deve ser destilada dos bagaços, isto é, cascas, sementes, polpa e caules das uvas prensadas para a produção vinícola; 
3 – não pode sofrer adições (água, alcool etílico, etc.). 
A destilação exige extremo cuidado, pois a presença das sementes e caules implica na obtenção de metanol, que é tóxico. A legislação italiana é muito severa a este respeito. 

Coleção de Grappas 

A Grappa é uma bebida clara. Alguns produtores, no intuito de sofisticá-la, a envelhecem nos barris usados na vinificação, do que resulta uma bebida de cor escura. No Brasil, além da produção de vinhos, os colonos italianos destilaram uma aguardente conhecida por Graspa, denominação de origem veneziana e conforme o processo do seu país de origem. Alguns adotam a denominação mais comum, Grappa. São servidas como digestivos, após uma lauta refeição, geladas ou na temperatura ambiente. Outra opção deliciosa é adicionar ao café expresso ou fazer como em Veneza: ao terminar o café, lave a xícara com uma dose e beba num só gole. 

Bagaceira 
Para os brasileiros, apreciadores de uma boa cachacinha, a Bagaceira desempenhou papel fundamental. Explica-se: foi a partir do know how português que, nos séculos XVI e XVII, aqui se instalaram as primeiras casas de cozer méis, ou destilarias de cachaça. A técnica original, aprendida com os mouros, era utilizada para produzir a Bagaceira, em Portugal. No Brasil de então, à falta de uvas, destilava-se o fermentado de cana de açúcar 

A lei portuguesa define como Bagaceira a aguardente de vinho com teor alcoólico de 35% a 54% em volume, obtida a partir de destilados alcoólicos simples de bagaço de uva, com ou sem borras de vinhos, podendo ser retificada parcial ou seletivamente. Admite-se o corte com álcool etílico potável, da mesma origem, para regular o conteúdo de congêneres. É justamente esta adição que a torna diferente da Grapa. Assim como sua irmã italiana, a Bagaceira é servida como digestivo, colocada no café ou utilizada na culinária. 

Marc e Orujo 
França e Espanha produzem versões do destilado de bagaços. Embora não tenham conquistado o mundo, são conhecidas e apreciadas regionalmente. O Marc ainda é utilizado na produção do Macvin, vinho fortificado da região montanhosa do Jura. 

O Pisco Peruano e o Chileno 
Nossos vizinhos produzem este delicioso destilado que se tornou famoso por causa de um drinque, o Pisco Sour, quase tão popular quanto a caipirinha. A curiosidade fica por conta da disputa travada entre os dois países pela origem da bebida. 
São duas bebidas na verdade, com o mesmo nome, mas diferentes matérias primas e técnicas de produção. Do ponto de vista histórico, o Pisco se originou no Peru. Os colonizadores espanhóis foram os primeiros a fabricá-lo a partir de vinhas transplantadas das ilhas Canárias. O Pisco chileno é produzido a partir de um vinho; o Peruano, a partir de um suco de uva. Ambos são deliciosos. 

Para quem gosta de se aventurar como Bar Tender, eis uma das muitas receitas do coquetel nacional do Chile e Peru: 
Pisco Sour 
Pisco – 100 ml 
Suco de limão – 100 ml 
Açúcar – 1 colher de chá (ou a gosto) 
Clara de ovo – 1/4 
Essência de rosas – 2 gotas (opcional) 
Gelo picado 
Bata tudo num liquidificador e sirva numa taça, ou copo de boca larga. Salpique canela em pó sobre a espuma. 

Dica da Semana: escolha uma! 

Grappa de Cabernet Sauvignon da Casa Valduga 
Elaborada através da destilação natural de uma das mais finas castas, a Cabernet Sauvignon, pelo processo lento e artesanal em alambiques de cobre. O efeito do solo, a ação do clima, a paciência e a atenção resultaram neste produto exclusivo e de alta qualidade. Produzido no Vale dos Vinhedos Bento Gonçalves, RS. Graduação alcoólica 40,8% vol. 

Aguardente Bagaceira Caves Aliança 
Produzido pela tradicional vinícola Aliança, a partir de uvas selecionadas. Graduação alcoólica 46% vol. 

Pisco Capel (Chile) 
O Pisco mais vendido no mundo. De sabor adocicado, trata-se de um destilado de uvas Moscatel, utilizado na confecção de inúmeros drinques, desde o mais famoso, o Pisco Sour, até a versão chilena do Manhattan, e a caipirinha. O Pisco Capel é produzido na zona pisquera do Valle de Elqui, ao norte do país. Graduação alcoólica 40% vol.

Saúde!

Para onde vamos?

Alguns leitores nos escreveram, curiosos, para saber qual o destino da coluna a partir do final da epopeia de produzir um vinho. Uma indagação natural, afinal, parece que fechamos um ciclo. 
Para os apaixonados por vinho, curiosidade, mesmo, é conhecer onde é produzida a nossa bebida predileta. O tema da semana é sobre como conhecer uma vinícola, ou se preferirem enoturismo. 
Este segmento vem crescendo em todo o mundo produtor. Não só ajuda a divulgar os produtos de uma empresa e é uma ótima ferramenta de marketing, como também pode contribuir para o bom rendimento, inclusive financeiro, do empreendimento. Muitos produtores brasileiros já estão preparados para receber visitantes em grande estilo, inclusive com opções de hospedagem. Nossos vizinhos, Chile e Argentina, há mais tempo nesta atividade, se esmeram a cada ano, buscando inovar e cativar mais turistas. Na Europa, a Itália se destaca com as opções de Agriturismo. Espanha, Portugal e França e até mesmo a Grécia, já oferecem programas de visitação e degustação atraentes.
A primeira regra para se decidir sobre um destes destinos é pesar bem o custo x benefício destas viagens. Curiosamente, o nosso turismo interno perde feio para os vizinhos: é mais barato ir a Mendoza do que a Bento Gonçalves, para um morador do Rio ou São Paulo.
Já para visitar uma vinícola europeia, o custo da passagem aérea e hospedagem é alto, o que só seria justificável em caso de um programa mais ambicioso, onde o enoturismo apareceria como uma das atividades.
Como visitar? 
As visitas são sempre agendadas e com horário determinado. Por este motivo, sempre recomendamos que um agente turístico, da cidade que será visitada, seja contratado para organizar o passeio. As opções são múltiplas, além da visita e da degustação básica, pode-se agendar um curso de culinária ou de vinhos, um almoço harmonizado, passeios de bicicleta ou a cavalo pelos vinhedos, participar da colheita, quando for época e, até mesmo, elaborar seu próprio vinho, com rótulo personalizado e tudo.
Cada atividade tem seu custo. Poucas vinícolas oferecem uma visitação gratuita. Mas não é um preço abusivo: eles querem ser visitados e esperam que todos fiquem satisfeitos e comprem seus produtos.
Para deixar os leitores com água na boca, vamos detalhar a visita, realizada recentemente, na Finca La Celia, em Mendoza, Argentina, e o posterior almoço harmonizado feito na vinícola Andeluna.
La Celia
Ao chegar, somos recebidos por um guia da vinícola, neste caso era Federico Colombo, formado em enologia. Ele optou por cuidar da parte turística desta interessante bodega, que está reinaugurando sua pousada e promete, em breve, cursos de fabricação de pães, num antigo curral de criação de cavalos que foi recuperado e convertido para este fim. 

Após as apresentações de praxe, ele nos conta um pouco da história da La Celia, nome da única filha do fundador, Eugenio Bustos, criador de cavalos, que construiu a vinícola em 1890, aproveitando-se de um curioso meio de pagamento vigente, na época, mudas de videira. É a mais antiga da Argentina, hoje, em mãos de capitais chilenos. O logotipo homenageia as duas paixões do Sr. Eugenio: sua filha e os cavalos.
Somos convidados para uma curta caminhada entre os vinhedos, até um pequeno mirante, de onde se descortina toda sua extensão, que chega aos pés da Cordilheira dos Andes.

Todos muito bem cuidados. Infelizmente, nesta época do ano, as videiras dormem e são podadas para entrarem em floração na próxima estação. De volta à sede, vamos conhecer o processo da La Celia. Aqui um fato interessante e importante: o prédio principal, muito danificado num antigo terremoto, foi inteiramente restaurado, ampliado e modernizado. Mantiveram-se as instalações originais, tanques de concreto, mas acrescentando moderna tecnologia. Assim pode-se observar as diferenças entre antigo e novo. Há mesmo uma área não restaurada para que possamos ver como era produzido o vinho antigamente.

Após um percurso pelos meandros do prédio principal, retornamos ao ponto de partida e vamos visitar a futura pousada, que era a casa de D. Celia. Lá também será realizada a degustação contratada. A foto a seguir dá uma ideia do cuidado e carinho com que futuros Hóspedes serão recebidos. O detalhe do chapéu é sensacional!

Já com muita vontade de largar tudo e mudarmos, imediatamente, para lá, passamos à sala de degustação, onde nos aguarda um delicioso espumante, rosé, não só para brindar nossa presença, como preparar nosso palato para os deliciosos vinhos que serão servidos.

Experimentamos 1 branco e 3 tintos. Com as ótimas explicações de Federico, foi possível comparar e entender as sutis diferenças entre os produtos apresentados: Chardonnay, Malbec, Merlot e Cabernet Franc (o melhor). A visita foi finalizada com um belo passeio, de automóvel, pelos vinhedos até chegarmos ao curral, recém-convertido em cozinha de campo.
Despedimo-nos de nosso simpático guia, e rumamos para a Bodega Andeluna, onde contratamos um almoço harmonizado com os vinhos desta importante produtora. Mas esta parte fica para semana que vem… 
Conselhos finais
O ideal é visitar, no máximo, 3 vinícolas num dia – elas são todas muito parecidas e as diferenças estão em pequenos detalhes, muitas vezes técnicos, o que pode não ser do interesse de todos. Há sempre a possibilidade de comprar vinhos e acessórios, a bom preço. Opte pelos produtos diferenciados.
A nossa viagem foi organizada por:
Rojos Divinos – www.divinosrojos.com.ar
Sua dona, María José Machado, é filha de brasileiro e fala muito bem o português. Já está operando no Chile também.
Outras boas operadoras de enoturismo:
Chile
Enotour – www.enotour.cl
Wine travel – http://winetravelchile.com/
Santiago Adventures – http://www.santiagoadventures.com/
Outros destinos
Designer Tours – www.designerstours.com.br (França, Chile, África do Sul e Brasil)
Episode Travel – www.episode-travel.com (Portugal)
Latitudes Viagens – www.latitudes.com.br (grupos capitaneados por enólogos para vários destinos)
Degustadores sem Fronteiras – http://www.degustadoresemfronteiras.com.br/ (idem)

Dica da Semana: 

Finca La Celia Cabernet Franc
Produtor: Finca La Celia
País: Argentina – Mendoza
Uva: Cabernet Franc
Cor: Vermelho profundo e intenso com traços negros. Aroma: Forte presença de madeira, café, tabaco e aromas minerais. Paladar: Taninos fortes e vigorosos. Final de boca longo e intenso.

Compreendendo o Vinho – Final


Um termo muito usado no mundo do vinho é “terroir”, palavra francesa que significa terreno, mas que esconde todo um significado enológico que é considerado primordial: entender a relação do local onde as uvas foram plantadas, e o vinho produzido, com suas características organolépticas. Um conceito complexo e nada fácil de compreender. Estão envolvidos: tipo do solo, condições climáticas, orientação do parreiral, etc..

Podemos perceber melhor esta ideia através de degustações que envolvam vinhos de diferentes regiões ou países produtores. Uma experiência interessante e esclarecedora seria compararmos um Cabernet, produzido na Califórnia, com seus irmãos Australianos, Chilenos, Argentinos e Brasileiros. As cepas internacionais como, Merlot, Syrah e Pinot Noir, são outras boas opções. Entre os brancos, Chardonnay e Sauvignon Blanc. Podemos usar vinhos de um único país desde que haja diferentes regiões produtoras, e que trabalhem as mesmas uvas.
Depois de adquirimos alguma experiência, nestes tipos de provas apresentadas, passamos para uma fase mais séria, mas não menos divertida. São as degustações clássicas: Horizontal e Vertical.
A primeira tem por objetivo compreender a influência de um determinado ano no vinho, comparando caldos de diversos produtores dentro de uma única safra. Mas temos que fixar uma diretriz, estabelecendo alguns parâmetros como a cepa, ou a região ou mesmo um determinado produtor. Para tirarmos algum proveito deste interessante exercício, devemos planejar bem a degustação, pois são tênues as nuances que farão a diferença entre um e outro produto.
Não podemos pensar em “tintos portugueses de 2009”, não teríamos meios de comparar o que vai ser apresentado. Mas “vinhos portugueses de Touriga Nacional, safra 2010”, seria uma prova interessante. A “horizontal” também é boa para compararmos vinhos de corte: diferentes produtores, mesma safra, mesmas cepas. Há uma enorme gama de possibilidades. Uma de suas variações é usada na apresentação dos vinhos de um produtor e pode incluir espumantes, brancos e tintos, num mesmo “flight”.
Na vertical, vamos comparar um mesmo vinho em diferentes anos. Muito importante, pois nos permite conhecer como a bebida evolui ao longo do tempo. Novamente, as varietais tradicionais sobressaem. Mas podemos usar e abusar dos vinhos de corte. Este tipo de prova se torna difícil em dois aspectos: obter garrafas das diferentes safras de um vinho; consegui-las sem pagar um preço absurdo.
Quase sempre organizadas por produtores ou grandes colecionadores, este tipo de degustação é muito valorizado. Em ambos os casos, é praticamente impossível conseguirmos um convite. Só para os “amigos do Rei”. Mas nada impede de realizarmos uma, guardando diferentes safras do nosso caldo predileto.
Se formos capazes de perceber e compreender todos estes detalhes, através das formas de degustação apresentadas, estaremos prontos para outra interessante aventura: uma degustação às cegas, onde os vinhos servidos só terão sua identidade revelada ao fim do evento. O objetivo é identificar o que estamos bebendo, uva, safra, origem, tipo (varietal ou corte), enfim, todas aquelas características que foram citadas anteriormente, sem nenhuma informação a priori, muitas vezes, nem a cor.
Algumas limitações se impõem. Não tem sentido fazer este tipo de comparação com vinhos escolhidos aleatoriamente. A melhor maneira é trabalharmos com temas, por exemplo, uma determinada uva, ou vinhos de uma região ou safra. Podemos “abrir” o tema ou apenas induzi-lo, seja com uma frase “são todos vinhos de uma única cepa”, seja usando o ambiente para passar esta informação, através de um jantar temático.
Este tipo de prova é a única que consegue desmascarar vinhos e degustadores: que tal experimentarmos com um vinho caro e outro barato…
O preparo de uma “às cegas” é importante. Nesta primeira imagem, temos as garrafas colocadas em embalagens numeradas. As fichas de degustação, importantíssimas neste caso, são identificadas por estes números.
Outra forma, um pouco mais restrita, é servirmos os vinhos em taças numeradas, eliminando-se o fator “garrafa”: tamanho, forma e peso podem ser pistas importantes.
Para radicalizarmos totalmente, a segunda imagem diz tudo: uma taça negra, totalmente opaca. Não saberemos nem a cor do vinho a ser provado.
Alguns conselhos finais:
1 – este último tipo de degustação pode ser feito até com um único vinho;
2 – mesmo entre degustadores experientes, o nível de acertos é baixo;
3 – em qualquer tipo de prova, começamos pelos vinhos mais jovens ou leves, subindo na escala;
4 – se houver diferentes tipos de vinhos, começamos pelo espumante, seguindo pelos brancos, rosés e tintos.
Quem vai encarar?
Dica da Semana I – Um vinho espanhol de excelente custo x benefício.
Sabor Real Joven 2008
Produtor: Bodegas Campinã, Castilla Leon, Espanha
Uva: Tempranillo (Tinta del Toro)
Sabor Real Joven foi produzido com videiras de mais de 70 anos de idade”. Cor Rubi escuro, oferece um maravilhoso bouquet de rochas moídas, especiarias, tabaco, lavanda, cereja e amoras. Na boca é um vinho encorpado, com boa fruta, apimentado e concentrado. Final longo e de caráter. Tem um potencial de guarda de 6 anos.
Robert Parker 90 pontos
Dica da Semana II – Jogo do Vinho
Um jogo de tabuleiro vem testar os conhecimentos dos enófilos e ensinar, de maneira descontraída, os iniciantes no universo do vinho. Idealizado por Celio Alzer, sommelier e professor da ABS (Associação Brasileira de Sommeliers) do Rio de Janeiro. Com sua experiência de mais de 20 anos na sala de aula, coletou durante todo esse tempo as mil perguntas que compõem o livro do jogo. “Entre os assuntos destacados estão curiosidades, dicas de harmonização, notas sobre personalidades do mundo do vinho e sugestões de drinques”. O jogo tem tiragem limitada. O jogo vem com um tabuleiro, um livro com mil perguntas e respostas, 30 cartas e quatro peões. O kit traz ainda quatro meias garrafas de tintos selecionadas: o italiano Chianti DOCG Fattoria di Basciano, o chileno Terranoble Cabernet Sauvignon e dois portugueses – Terras de Xisto e Convento da Vila.
Para saber onde encontrar o Jogo do Vinho ligue para (21) 2286-8838 ou (21) 2535-0070.

Compreendendo o Vinho – 1ª parte


A grande diferença entre os profissionais do vinho e os enófilos de fim de semana, está no fato de que, os primeiros, fazem degustações didáticas, periodicamente, como uma rotina de seu trabalho. Neste grupo, incluo os vinhateiros, enólogos, comerciantes, Sommeliers, críticos e jornalistas especializados.

Com algum empenho, seremos capazes de treinar o nosso paladar, usando as mesmas técnicas de degustação dos profissionais. Assim, poderemos apreciar todas as nuances que a mais nobre das bebidas pode nos oferecer.
São situações diferentes, beber um vinho num almoço de família ou de negócios ou bebê-lo com intuito educativo: as degustações são sempre comparativas, só assim se aprende as diferenças entre um e outro produto, sejam elas virtudes ou defeitos.
Uma das primeiras degustações a serem experimentadas, por uma confraria ou grupo de amigos, é a que envolve vinhos de diferentes cepas de uva. Devemos manter uma coerência na escolha dos vinhos. Nada de degustar tintos, brancos e espumantes ao mesmo tempo. Selecionamos os produtos de uma região. Se possível, todos de uma mesma safra. Exemplo: tintos do Chile, o que incluiria Carménère, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Pinot Noir, pelo menos. Vamos apenas provar estes vinhos e compará-los. A ideia é poder diferenciar cores, aromas e sabores, etc.. Neste tipo de prova, uma garrafa atende até 12 pessoas. Começamos com 2 ou 3 vinhos de cada vez.
FICHA DE DEGUSTAÇÃO
Devemos registrar as nossas experiências, seja através de notas num caderno ou utilizando uma Ficha de Degustação padronizada. Desta forma, teremos uma maneira de lembrar o que aconteceu e usar esta informação a nosso favor, seja na compra de nossa próxima garrafa ou em outra prova de vinhos.
Na figura que acompanha este texto há um modelo que segue a metodologia criada pelo Engenheiro Químico italiano, Giancarlo Bossi.
É bem simples e didática, contemplando os seguintes aspectos: Aparência, Olfato, Paladar, Evolução e Avaliação Final.
Seu preenchimento é intuitivo.
Há os que preferem usar valores numéricos, neste caso, é possível atribuir um determinado número de pontos para cada item (máximo):
Visual – 16 pontos;
Aromas – 24 pontos;
Paladar – 60 pontos,
Totalizando 100.
A tabela a seguir nos dá uma perspectiva de resultado:
Para a turma do ‘difícil’, ‘muito técnico’ e ‘complicado’, lembramos que nada disto é obrigatório. Uma boa anotação num caderno resolve o problema ou, se houver interesse, podemos criar a nossa própria ficha, simplificando este modelo.
O próximo passo é tentar uma degustação de vinhos que passaram ou não por madeira. Talvez a tarefa mais árdua seja a de descobrir como os vinhos foram produzidos, para incluí-los no teste. A melhor forma é consultar a descrição do produto (ficha técnica), disponível nos catálogos ou sites das vinícolas. Um bom produtor costuma colocar estas informações no contra rótulo. Nas lojas especializadas, qualquer vendedor saberá nos informar. O exercício tem por objetivo treinar a identificação da presença, ou não, de madeira e as nuances adquiridas pela bebida.
Novamente, não devemos misturar brancos e tintos. A situação ideal é aquela com vinhos de um mesmo produtor. Com tempo, poderemos sofisticar este tipo de prova, acrescentando um maior grau de dificuldade, por exemplo, identificar a origem da madeira usada e o tempo de contato. Uma boa sugestão, para começar, é fazer este tipo de prova com diferentes Malbec argentinos.
Na coluna da próxima semana, vamos propor provas mais objetivas ainda. Até lá, que tal começarmos a treinar o nosso paladar, com estes conselhos aqui:
• Coma com calma, não seja apressado.
• Use os olhos quando comer, aprecie, repare no que está comendo.
• Sinta os aromas da comida, habitue-se a usar o nariz quando está comendo.
• Adote o Slow Food, dedique algum tempo às refeições.
• Beba vinho durante a refeição.
• Nunca encha a taça. Fique no 1/3 do volume (menos da metade) e tome pequenos goles.
• Deixe o Vinho passear pela sua boca, aprecie seu sabor.
• Com Fast Food, não tome vinho.
• Beba água regularmente.
• Comece com vinhos mais baratos e simples.
• Introduza novos vinhos, mais caros, aos poucos.
• Compre vinhos no máximo com o dobro do preço do que você consome regularmente.

Dica da Semana I – um bom tinto brasileiro: 

Innominabile Lote III – $

 Produtor: Villaggio Grando – Campos de Herciliópolis – SC
Uva: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec, Pinot Noir e Petit Verdot
Sua coloração rubi com reflexos violáceos é intensa e brilhante. Seus aromas são amplos e intensos, passando por fumo em rama, baunilha, coco e amoras silvestres. Em boca há um grande equilíbrio entre o teor alcoólico e acidez quase imperceptível. Mas são seus taninos macios que o definem como um vinho estruturado, redondo e aveludado. É um vinho complexo, de guarda, o qual, acreditamos estará na sua plenitude no decorrer de alguns anos, mesmo já sendo possível degustá-lo.
Dica da Semana II – para aqueles que realmente querem se aprofundar neste tema:

“Nez du Vin” – o nariz do vinho (produto francês)
A caixa ajuda-nos a treinar o olfato a reconhecer e identificar os 54 principais aromas presentes no vinho. É muito utilizada pelos grandes Enólogos e Sommeliers de todo o mundo para treinar o olfato na identificação dos aromas do vinho.
Para aqueles que quiserem um kit menor é possível encontrar versões de 24, 12 e 6 aromas. Para os kits menores existem temas variados como “Defeitos”, “Carvalho Novo”, “Vinhos Tintos” e “Vinhos Brancos”.
O preço é salgado, mas vale a pena.
Real Imports e Mistral, entre outros, tem à venda. Este é o mais famoso, mas existem kits de outros produtores, bem mais em conta. Procurem por ‘Caixa de Aromas’.

O vinho na Melhor Idade

A coluna desta semana não é sobre de bebedores de vinho idosos. Vamos falar de vinhos envelhecidos e por que um dia vocês vão querer experimentar um.
E o que há de tão especial nisto? Porque esta paixão por vinhos antigos? Como alguém pagou US$ 156,000.00 (cento e cinquenta e seis mil dólares) por uma garrafa de Chateau Lafite que teria pertencido a Thomas Jefferson? (mais tarde descobriu-se que era uma fraude…).
Pagar este preço por um vinho sem saber qual o real estado dele, só com muito dinheiro para gastar. Puro status ou esnobismo. Segundo fontes seguras, este comprador, anônimo, seria um grande colecionador e não um apreciador.
Para os demais mortais, enófilos de verdade, esta grande paixão se esconde atrás de um mistério. Vinhos envelhecem quase como seres humanos. Alguns ficam muito melhores enquanto outros se tornam ácidos e amargos. Como saber?
Alguns grandes vinhos levam muito tempo para serem postos no mercado. Um bom Pinot da Borgonha só vem ao mundo 15 anos após sua produção. Mesmo assim, não está pronto para o consumo. Há que se esperar mais alguns anos para atingir seu ponto de maturação exato, com taninos e acidez domados, aromas complexos e, de acordo com quem já passou por esta experiência, sabores inebriantes. Este momento talvez seja a grande coroação da vida de um amante do vinho, encontrar a tal garrafa, cuidar dela como se fosse um filho, e um dia desfrutar do seu conteúdo. Um sonho acalentado por muitos.
Vinhos longevos são caros, por definição. São produzidos como joias, em poucas quantidades, nem sempre são fáceis de encontrar. Se o leitor dispõe de recursos, poderá comprar uma destas preciosidades a partir de um leilão de vinhos. Por favor, nos convide para apreciar.
O outro caminho é investirmos num vinho novo e guardá-lo por 10, 15 ou 20 anos antes de desarrolhá-lo. Não é uma tarefa simples. O primeiro desafio é escolher o vinho. Algumas características são importantes: maior teor alcoólico; taninos adequados; acidez elevada e níveis de açúcares apropriados. Também são importantes a qualidade da rolha e a adega aonde será armazenado.
Algumas castas se prestam perfeitamente para esta função, notadamente a Nebbiolo, grande uva italiana que produz o não menos famoso Barolo. Outra italiana, que segue o mesmo caminho é a Sangiovese e seus clones, como a Grosso, a vinífera usada no Brunello de Montalcino. A já citada Pinot Noir e o trio Bordalês (Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc) são apostas certas – um bom Château é algo acima dos 10 anos.
O mesmo ainda não pode ser dito das tintas cultivadas no novo mundo, notadamente as do hemisfério sul: Malbec, Carménère, Tannat e Pinotage. Há uma barreira, teórica, que gira em torno de 10 anos. Estes vinhos são produzidos para o mercado imediato, não havendo uma preocupação em prepará-los para serem consumidos após uma hibernação. Há exceções, ótimas por sinal. Uma delas, de boa relação custo x benefício é o icônico Almaviva do Chile, tem uma estimativa de guarda de 12 anos.
A tabela (anos/tipos de vinhos) abaixo ajuda a decidir até onde podemos ir.
Anos
Vinho
1
Beaujolais Noveau
2
Brancos genéricos sul-americanos, vinho verde
3
Tintos e brancos genéricos europeus, tintos comuns sul-americanos,
espumantes brasileiros, rosados
5
brancos europeus e tintos 1ª linha sul-americanos
7
bons tintos europeus, champanhes não safrados,
alguns tintos sul-americanos excepcionais
10
grandes brancos europeus, champanhes milesimés (datados)
15
tintos europeus de alta qualidade – Bordeaux, Rioja, etc
25
Grandes tintos europeus (Bordeaux, Bourgone, Barolo, Brunelo, etc),
vinhos doces tipo Tokay, Sauternes
50 +
Fortificados, alguns poucos tintos e brancos europeus excepcionais
O que esperar com relação a aromas e sabores? Esqueçam tudo que vocês estão habituados: frutas maduras e potência. Os vinhos envelhecidos cheiram a couro, tabaco, amadeirados, especiarias, etc. São pouco tânicos, equilibrados. A madeira surge de forma mais integrada deixando a bebida rica em novos aromas, mais complexa. Mas apreciar estas sensações exige treino e paciência.
Uma proposta: compre 3 ou 4 garrafas de um bom caldo e deixe-as envelhecer por diversos períodos: 2, 5, 8 e 10 anos. Abra uma de cada vez e compare com o que bebeu antes. Só assim se aprende.

Dica da semana:algo bem diferente, um vinho Grego:

Kretikos Vin de Pays 2008 – Boutári
País: Grécia – Creta
Castas: 60% Kotsifali e 40% Mandilaria
Kretikos é a nova linha de vinhos de Boutári elaborados com uva de vinhedos plantados na ilha de Creta, produtora de vinhos há mais de 3.000 anos. Este tinto é um original corte das castas Kotsifali e Mandilaria. Leve e saboroso, deve ser servido levemente refrescado, como um Beaujolais, sendo uma ótima pedida para acompanhar massas, fritos e pratos mais picantes. 
Saúde!
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