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Os Grandes Vinhos do Mundo – Lendas norte-americanas – Final

O Branco 
A escolha do Chateu Montelena, safra 1973, como vencedor da degustação parisiense de 1976 foi mais impactante do que o resultado dos tintos. Este colosso norte-americano, apesar do nome francês, derrubou o mito sobre os brancos da Borgonha e mostrou que bons Chardonnays podem existir em outros lugares do mundo. 

Chateau Montelena 

Os derrotados foram os respeitadíssimos Meursault Charmes Roulot, Beaune Clos des Mouches Joseph Drouhin, Batard-Montrachet Ramonet-Prudhon e Puligny-Montrachet Les Pucelles Domaine Leflaive. Um dos jurados, a toda poderosa de então, Odette Khan, ensaiou uma revolta exigindo que suas fichas de votação lhe fossem devolvidas e insinuando que o resultado fora manipulado. Um escândalo! 
Este fabuloso Chardonnay foi fruto de uma obsessão. O que restava da vinícola original, desmantelada após a lei seca, foi adquirido por um grupo de investidores, entre eles, James (Jim) Barrett que se encarregou restaurá-la, plantando novos vinhedos e reequipando o velho prédio com modernos equipamentos para vinificação. Contratou o temperamental, mas muito competente enólogo, Mike Grgich, de origem Croata, para conduzir a vinificação. A primeira safra seria produzida em 1972. Tudo o que desejavam era fazer um vinho tecnicamente perfeito. 
Conseguiram! 

De modo análogo ao Cabernet da Stag´s Leap, este Chardonnay é vinificado num padrão diferente. Quase não passa por madeira e não é submetido à fermentação malolática. Deixa em segundo plano a madeira e o sabor amanteigado para privilegiar uma vivacidade e mineralidade que o faz um vinho muito elegante e discreto. 
Curiosidades: 
– Jim Barret e Mike Grgich acabaram se separando devido a diferenças irreconciliáveis. Jamais retomaram a parceria. Mike fundou sua própria vinícola, competindo diretamente com a Montelena; 
– Em 2004, foi detectada uma contaminação por 2,4,6-trichloroanisole, o TCA, nos seus vinhos. Caras medidas foram tomadas para promover a descontaminação dos barris de envelhecimento, origem do problema; 
– Hoje, outro vinho emblemático do Chateau Montelena é um especialíssimo Cabernet Sauvignon que está no mesmo nível do Cask 23 da Stag´s Leap. 

Uma triste conclusão 
A evolução dos vinhos do Chateu Montelena passa por altos e baixos. O filho de Jim, Bo Barrett, assumiu a vinícola em 1981 e a dirige até hoje. É considerado um dos melhores enólogos da América. Mas alguns de seus vinhos receberam críticas negativas, o que aponta para a existência de problemas nos vinhedos ou na vinificação. Em 2008 foi anunciada a venda da vinícola para a francesa Chateau Cos d’Estournel, de Bordeaux, num mega-negócio que incluía pesados investimentos no replantio de vinhedos e modernização de equipamentos. Nunca foi concluído. 
Talvez seja esta a grande diferença entre os vinhos do velho e novo mundo: faltam-lhes as tradições.

Dica da Semana: um Chardonnay da Califórnia bem acessível! 

Hayes Ranch Chardonnay 2008 
Vinícola: Hayes 
Pais: Estados Unidos / Califórnia 
Fundada há 125 anos, uma das vinícolas mais antigas do país. Hoje é líder na Califórnia. Misturando técnicas tradicionais e inovando sempre. 
Coloração amarela esverdeada, límpido e cristalino, aroma floral e frutado (frutas brancas), fresco e algo mineral, notas cítricas e de maçã verde com persistência média, guarneceu bem um salmão na grelha. 

Os Grandes Vinhos do Mundo – Lendas norte-americanas – 1ª parte

Dois vinhos importantíssimos. Foram os grandes campeões da famosa degustação às cegas organizada em Paris, no ano de 1976. Derrotaram marcas famosas e causaram, de forma indiscutível, uma grande alteração no mapa mundi do vinho. 
A Califórnia entrou em cena! (em grande estilo). 
O Tinto 
Imaginem uma vinícola, com apenas 6 anos de fundada, enviar um de seus vinhos para ser julgado, na França, sendo comparado com os fabulosos Château Haut-Brion, Château Mouton-Rothschild, Château Leoville Las Cases, Château Montrose e ser considerado o melhor da prova? 
Os julgadores? Nomes do maior respeito na época: 
Pierre Brejoux (França) – Instituto das Denominações de Origem 
Claude Dubois-Millot (França) – Guia Gault e Millau 
Michel Dovaz (França) – Instituto dos Vinhos da França 
Patricia Gallagher (Americana) – Academia do Vinho 
Odette Kahn (França) Editora da La Revue du Vin de France 
Raymond Oliver (França) – Restaurante Le Grand Véfour 
Steven Spurrier (Inglês) – crítico de vinhos e organizador do evento 
Pierre Tari (Frença) – Chateau Giscours 
Christian Vanneque (França) – Sommelier do Tour D’Argent 
Aubert de Villaine (França) – proprietário do Domaine de la Romanée-Conti 
Jean-Claude Vrinat (França) – Restaurante Taillevent 
O vinho apresentado foi o Stag’s Leap Wine Cellars Cabernet Sauvignon, safra de 1973. Vinificado por Winiarsky e seu enólogo, na época, Tchelistcheff, utilizou uvas colhidas de videiras extremamente jovens da área denominada S.L.V. O processo de vinificação ainda estava sendo ajustado. Um produto que tinha tudo para dar errado, um azarão. No entanto, tornou-se o vinho mais comentado da época e elevou a vinícola ao status de grande estrela.

O vinho, embora tenha uma denominação varietal, é um corte de 93% Cabernet e 7% de Merlot, respeitando a legislação americana. Por seguir uma receita de vinificação considerada clássica, os produtos da Stag’s Leap são muito diferentes daqueles dos produtores vizinhos, embora todos compartilhem um mesmo terroir. Os vinhos de Winiarsky são considerados dinâmicos, harmoniosos, equilibrados e transcendentes. Após a compra do vinhedo Fay, em 1986, houve um replantio das videiras o que forçou a mudança do nome, deste vinho, para Cask 23. Atualmente é considerado o melhor Cabernet dos EUA. Caríssimo!

Curiosidades: 
– existe uma outra vinícola com um nome semelhante, a Stags’ Leap Winery. Reparem que a diferença entre os nomes é, basicamente, a posição do apóstrofo – Stag’s e Stags’ – fruto de uma decisão judicial de 1986 que aproximou os dois vinhateiros, Winiarsky e Doumani. Para selar a nova amizade, produziram um vinho com uvas das duas propriedades, denominado Accord (Acordo);
– uma das poucas garrafas existentes faz parte da coleção do Smithsonian National Museum of American History;
– há uma garrafa desta mitológica safra para vender, em Hong Kong, por R$ 1.400,00; (pesquisa realizada em 2012).

Em 2007 a vinícola foi vendida para um consórcio formado pelo Chateau Ste. Michelle, uma vinícola do estado de Washington e pela italiana Marchesi Antinori Srl. O valor foi 185 milhões de dólares. 

Dica da Semana: A Stag’s Leap produz uma linha de vinhos mais acessíveis, a Hawk Crest, que se encontra à venda no Brasil. São um pouco mais caros que produtos chilenos ou argentinos, mas vale o investimento. 

Hawk Crest Cabernet Sauvignon 2006 
Produtor: Stag’s Leap Wine Cellars / 
Estados Unidos Elaborado pela aclamada vinícola Stag’s Leap Wine Cellars, produtora do mítico Cask 23, o Hawk Crest mostra concentração e profundidade de fruta e excelente relação qualidade/preço. 

Na próxima semana, vamos conhecer o Chardonnay que abalou a França.

Alemanha, Líbano e Grécia

Antes de cruzarmos o Atlântico e iniciarmos a jornada pelos vinhos famosos do Novo Mundo, vamos conhecer um pouco destes três países e seus surpreendentes vinhos. 
Alemanha e seus brancos maravilhosos 
Os Romanos introduziram a vinicultura na Alemanha. Na idade média, a Igreja Católica adquiriu e expandiu os vinhedos. Coube ao Imperador Carlos Magno, no século XVIII, posicionar vinhedos na região de Rheingau. A vinicultura alemã também fez história. 
Não tendo mais a importância de antigamente, atualmente a área plantada é aproximadamente um décimo de França ou Itália. Muito respeitada por ser o berço da uva Riesling, uma das grandes damas do vinho branco, ao lado da Chardonnay, produz uma vasta gama de vinhos, desde os secos Kabinet aos raros e caros Trackenbeerenauslese (TBA) e bons tintos à base de Pinot Noir ou Spätburgunder. Os alemães são grandes consumidores de seus vinhos, não sobrando muito para exportar. O pouco que vai para o exterior não é a parcela mais significativa, principalmente no item qualidade. 
Alguns rótulos alemães foram falsificados sem nenhum escrúpulo como o famoso Liebfraumilch, muito popular há alguns anos atrás. Houve ainda a invasão dos vinhos conhecidos como garrafa azul, de pouca qualidade, que ajudariam a destruir a reputação dos germânicos aqui no Brasil. Mas há exceções. 

Uma das histórias mais interessantes é a do vinhedo Bernkasteler Doktor localizado na mais valorizada área rural do rio Mosela. Ocupa uma pequena área e poucos produtores o exploram. Há uma lenda sobre este nome: teria sido dado pelo arcebispo Boemund de Trier, século XIV, proprietário de um castelo sobre a cidade de Bernkastel. Um dia adoeceu e nenhum dos remédios conhecidos o faria melhorar. Mas uma taça do vinho ali produzido fez a cura milagrosa. Em gratidão, atribuiu o título de Doutor (Doktor) àquele local. Anos mais tarde, em 1921, sairia destas vinhas o primeiro TBA do Mosela. O principal vinhateiro da região é Dr. H. Thanish, seus vinhos estão entre os melhores e mais caros do país. 
A Mosela não é o único terroir da Alemanha: Reno, Palatinato, Nahe, Francônia, etc. produzem excelentes vinhos. São nomes famosos: Dr. Loosen (Mosela), Dr. Burkiln Wolf (Palatinato), Robert Weil (Reno) e Hans Wirsching (Francônia). 

Líbano e o Chateau Musar 

Este é uma das glórias entre os vinhos tintos, uma das poucas bebidas com uma enorme personalidade que traduz, perfeitamente, o carinho e a dedicação da família Hochar, que o vinifica desde 1930. Tendo superado todo o tipo de adversidade, inclusive uma devastadora guerra civil nos anos 80, conseguiram manter vinhedos e vinícola intactos, transportando as uvas, muitas vezes, pelas linhas de frente. 

Um delicioso corte de Cabernet Sauvignon, Cinsault e Carrignam, em proporções que variam a cada safra. Dependendo do ano, pode parecer um Côtes du Rhône ou um Medoc. Surpreendente e respeitado por críticos de todo o mundo. São produzidas versões em branco e rosé, além de um varietal de vinhedo único, o Hochar Pére et Fils. 

Serge Hochar atual proprietário 

Outros produtores libaneses conhecidos são Chateau Kefraya e Chateau Ksara. 
Os vinhos Gregos 
Grécia foi um dos berços dos vinhos. Sua história de vinicultura tem mais de 4.000 anos. Em 1000 AC, eram os grandes exportadores utilizando, como recipiente, as famosas ânforas que já naquela época mostravam sinais de uma legislação vinícola: havia diferentes formatos para cada área produtora, era obrigatória a indicação do ano de produção e cada vaso recebia um selo de autenticidade emitido pelo governo local. 

Os gregos difundiram o plantio de uvas em várias partes do Mediterrâneo, marco inicial da vitivinícola europeia. No sul da Itália ainda se encontram cepas com os nomes usados na Grécia. 

No mundo moderno a parcela de produção atual é mínima se comparada com a antiguidade. A partir dos anos 80, surge uma nova geração de enólogos, formados nos principais centros vinícolas do mundo e diversas marcas multinacionais investiram na produção de vinhos modernos, aproveitando a excelente diversidade de uvas autóctones. Cepas como Aghiorghitiko, Assyrtiko e Moschofilero e os produtores como Boutari, Gerovassiliou e Gaia já estão no repertório de bons enófilos. 

Existe uma classe de vinhos muito particular e simpática aos gregos, o Retsina. Para impedir a oxidação dos produtos que eram exportados nas ânforas, estas eram seladas com uma resina de pinheiro. Mais tarde, a resina passou a cobrir o líquido alterando o seu sabor e criando uma nova categoria: vinho com sabor de resina. Pouco a pouco, por exigência do mercado, esta característica foi se tornando mais sutil, com sabor menos intenso, fresco e fácil de beber. Embora renegado, existem exemplares de excelente qualidade e que harmonizam perfeitamente com a culinária local mais condimentada. 

Dica da Semana: um delicioso tinto da Grécia. 

Náoussa OPAP 2006 
Produtor: Boutári 
País: Grécia egião: Macedônia 
O mais emblemático vinho grego de qualidade, colecionando prêmios há mais de 50 anos, o ótimo Naoussa, elaborado com a uva Xynomavro, é rico e concentrado, bastante saboroso. Tem cor vermelha vívida e seu complexo buquê denota frutas vermelhas maduras, canela e carvalho. Tem grande potencial de envelhecimento. Foi o primeiro vinho a ser engarrafado na Grécia, continuando até hoje a ser um dos tintos de referência do país. 
RP 88 (06) – WS 87 (06)

Um ícone espanhol

Continuamos na Península Ibérica. Pelas águas do Rio Douro, atravessamos a fronteira e chegamos à região espanhola de Ribeira del Duero, terra de um dos mais fantásticos vinhos do mundo. Tudo começou quando mercadores fenícios vinificaram, na região da Andaluzia, a mesma do Jerez, entre 1100 a 500 AC. Os gregos vieram depois, com seus animais e suas vinhas. Os romanos, em 200 AC, transformaram a agricultura familiar em indústria, para suprir suas legiões e a própria Roma. Com a chegada dos Mouros, em 711 a produção seria interrompida. Somente a partir do século XIV a vinificação ganharia novo impulso. Atualmente, a Espanha ocupa uma insofismável posição de destaque no cenário vinícola. 

A região de Ribeira del Duero incorpora-se a este mercado em 1850, época em que os métodos bordaleses são introduzidos. Em 1864, Don Eloy Lecanda funda sua bodega com o objetivo de produzir vinhos que se equiparassem aos de Bordeaux. Plantou 18.000 mudas de videiras dos tipos Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec e Pinot Noir, castas até então desconhecidas no território espanhol. 

O reconhecimento viria em 1915, graças a Domingo Garramiola, o Txomin, que se encarregou de produzir a primeira safra do fantástico

Vega Sicilia Unico, um dos 10 melhores vinhos do mundo. 

A bodega de Lecanda fora adquirida pela família Herrea que, por sua vez, a alugou a Cosme Palacio, que contratou Txomin. Trabalhando duro, sua primeira providência foi limpar a área e adotar técnicas higiênicas. Ele trocou todos os barris, ou dornas de envelhecimento, por madeiras de carvalho francês. Adotando, estritamente, as técnicas de Bordeaux, nasceria um vinho lendário. Os proprietários não o vendiam, distribuindo as garrafas entre membros da alta sociedade e pessoas amigas, forjando o mito que tal vinho não poderia ser pago com dinheiro, somente com estima. Um vinho único, exclusivo. 
A Evolução do Vega Sicilia 
No início de sua produção, o Único ficava guardado em tonel carvalho por 10 anos, sendo engarrafado a pedidos. Isto dava ao vinho uma madeira exagerada, mas com muita fruta e perfume. Em 1966, o enólogo Mariano Garcia introduz técnicas mais recentes, reduzindo a madeira sem perda de outras qualidades. A Vega Sicilia foi comprada por David Alvarez, em 1982, que promove uma grande modernização, aos moldes do que fez Txomin, no início do século XX. O Veja Sicilia Único não é mais um vinho pesado e amadeirado, embora mantenha uma bela estrutura, harmonioso, com muita fruta escura, grande potência e capacidade de guarda. A tradição se mantém, a ponto de não se fazer sequer a colheita quando a safra não é boa. 

Notas de Degustação – safra de 1999 
Um corte de 80% Tempranillo e 20% Cabernet Sauvignon, envelhecido por 2 anos, em grandes dornas de carvalho, seguido de 16 meses em barris menores, novos, de carvalhos franceses e americanos. Depois, mais 3 anos em uma mistura de diferentes tonéis e, por fim, mais duas rodadas de 3 anos, em barris usados e de volta às grandes dornas. 
É um vinho homogêneo e escuro. Aromas muito complexos e perceptíveis notas de couro, adstringência como a das frutas vermelhas, carnes de caça e a doçura de chocolate e cerejas negras. Na boca é muito elegante, com alguma fruta, inicialmente, complementado por excelentes taninos e corpo que crescem no paladar. Perfeitamente balanceado e integrado. 
Desde sua primeira safra o Único é acompanhado por irmãos menores. Por exemplo, o Valbuena, quase tão famoso e, muitas vezes, confundido; o Vega Sicilia Gran Reserva, produzido somente em anos especiais, e o Reserva, que não é safrado. 

Dica da Semana: um espanhol da região de La Mancha que, como D. Quixote, luta por seus ideais. 

Manon Roble Tempranillo 2008 
Produtor: Bodegas Mano a Mano 
País: Espanha / Região: La Mancha 
Casta: Tempranillo 
Apontado por Robert Parker como uma das melhores compras do mundo do vinho, este cativante tempranillo é maturado 7 meses em barricas de carvalho. Macio e cheio de fruto, dotado de certa elegância, é uma magnífica escolha para ter sempre em casa.

Mudando o Foco: Derivados do Vinho – 1ª parte

Nas últimas semanas mencionamos as aguardentes vínicas que compõem os fortificados. Hoje, vamos conhecê-las detalhadamente. Surgiram como subproduto do vinho, mas algumas se tornaram tão importantes que passaram a ser produzidas a partir de uma vinificação própria, dedicada. Assim, na Itália, a Grappa; em Portugal, a famosa Bagaceira e a Aguardente Vínica; na França, o Marc, o Cognac e o Armagnac; na Espanha, o sofisticado Sherry Brandy, ou Aguardente de Jerez, e o popular Orujo. No Peru e no Chile, nossos vizinhos, o Pisco. A lista é grande, mas essas são as mais conhecidas. 

O destilador

Para quem nunca visitou um alambique, ou não se lembra mais das aulas de química na época do curso científico, a foto acima dará uma boa ideia sobre esta indústria. Uma vez fermentado, o mosto é colocado nestes curiosos caldeirões, e aquecido fortemente. O vapor é coletado na tubulação superior e conduzido para um sistema de resfriamento. O resultado é um álcool de uva. Só para refrescar a memória, existe álcool de cana de açúcar, de cereais, de legumes e de quase qualquer fruta.

Coleção de aguardentes de diferentes frutas 

Comecemos pelas bebidas obtidas a partir da destilação dos bagaços: Grappa, Bagaceira, Marc e Orujo. Tecnicamente trata-se do mesmo produto. O que os diferencia são as uvas e pequenos detalhes do processo produtivo, alguns obrigatórios por lei. O Pisco sul-americano tem origem semelhante, mas é produzido de outra maneira. 
Grappa 
Existe uma lenda em torno desta bebida, que teria sido obtida, pela primeira vez, por meio de um destilador roubado do Egito, durante o reinado de Cleópatra, e levado para a cidade de Bassano del Grappa, na região do Veneto, nordeste da Itália. Estudos recentes, porém, mostram que somente depois de 1600 é que a tecnologia de destilação sofisticou-se a ponto de permitir a produção. 

Bassano del Grappa 

A União Europeia estabeleceu normas para o seu reconhecimento: 
1 – dever ser originária da Itália, da parte italiana da Suíça ou de San Marino; 
2 – deve ser destilada dos bagaços, isto é, cascas, sementes, polpa e caules das uvas prensadas para a produção vinícola; 
3 – não pode sofrer adições (água, alcool etílico, etc.). 
A destilação exige extremo cuidado, pois a presença das sementes e caules implica na obtenção de metanol, que é tóxico. A legislação italiana é muito severa a este respeito. 

Coleção de Grappas 

A Grappa é uma bebida clara. Alguns produtores, no intuito de sofisticá-la, a envelhecem nos barris usados na vinificação, do que resulta uma bebida de cor escura. No Brasil, além da produção de vinhos, os colonos italianos destilaram uma aguardente conhecida por Graspa, denominação de origem veneziana e conforme o processo do seu país de origem. Alguns adotam a denominação mais comum, Grappa. São servidas como digestivos, após uma lauta refeição, geladas ou na temperatura ambiente. Outra opção deliciosa é adicionar ao café expresso ou fazer como em Veneza: ao terminar o café, lave a xícara com uma dose e beba num só gole. 

Bagaceira 
Para os brasileiros, apreciadores de uma boa cachacinha, a Bagaceira desempenhou papel fundamental. Explica-se: foi a partir do know how português que, nos séculos XVI e XVII, aqui se instalaram as primeiras casas de cozer méis, ou destilarias de cachaça. A técnica original, aprendida com os mouros, era utilizada para produzir a Bagaceira, em Portugal. No Brasil de então, à falta de uvas, destilava-se o fermentado de cana de açúcar 

A lei portuguesa define como Bagaceira a aguardente de vinho com teor alcoólico de 35% a 54% em volume, obtida a partir de destilados alcoólicos simples de bagaço de uva, com ou sem borras de vinhos, podendo ser retificada parcial ou seletivamente. Admite-se o corte com álcool etílico potável, da mesma origem, para regular o conteúdo de congêneres. É justamente esta adição que a torna diferente da Grapa. Assim como sua irmã italiana, a Bagaceira é servida como digestivo, colocada no café ou utilizada na culinária. 

Marc e Orujo 
França e Espanha produzem versões do destilado de bagaços. Embora não tenham conquistado o mundo, são conhecidas e apreciadas regionalmente. O Marc ainda é utilizado na produção do Macvin, vinho fortificado da região montanhosa do Jura. 

O Pisco Peruano e o Chileno 
Nossos vizinhos produzem este delicioso destilado que se tornou famoso por causa de um drinque, o Pisco Sour, quase tão popular quanto a caipirinha. A curiosidade fica por conta da disputa travada entre os dois países pela origem da bebida. 
São duas bebidas na verdade, com o mesmo nome, mas diferentes matérias primas e técnicas de produção. Do ponto de vista histórico, o Pisco se originou no Peru. Os colonizadores espanhóis foram os primeiros a fabricá-lo a partir de vinhas transplantadas das ilhas Canárias. O Pisco chileno é produzido a partir de um vinho; o Peruano, a partir de um suco de uva. Ambos são deliciosos. 

Para quem gosta de se aventurar como Bar Tender, eis uma das muitas receitas do coquetel nacional do Chile e Peru: 
Pisco Sour 
Pisco – 100 ml 
Suco de limão – 100 ml 
Açúcar – 1 colher de chá (ou a gosto) 
Clara de ovo – 1/4 
Essência de rosas – 2 gotas (opcional) 
Gelo picado 
Bata tudo num liquidificador e sirva numa taça, ou copo de boca larga. Salpique canela em pó sobre a espuma. 

Dica da Semana: escolha uma! 

Grappa de Cabernet Sauvignon da Casa Valduga 
Elaborada através da destilação natural de uma das mais finas castas, a Cabernet Sauvignon, pelo processo lento e artesanal em alambiques de cobre. O efeito do solo, a ação do clima, a paciência e a atenção resultaram neste produto exclusivo e de alta qualidade. Produzido no Vale dos Vinhedos Bento Gonçalves, RS. Graduação alcoólica 40,8% vol. 

Aguardente Bagaceira Caves Aliança 
Produzido pela tradicional vinícola Aliança, a partir de uvas selecionadas. Graduação alcoólica 46% vol. 

Pisco Capel (Chile) 
O Pisco mais vendido no mundo. De sabor adocicado, trata-se de um destilado de uvas Moscatel, utilizado na confecção de inúmeros drinques, desde o mais famoso, o Pisco Sour, até a versão chilena do Manhattan, e a caipirinha. O Pisco Capel é produzido na zona pisquera do Valle de Elqui, ao norte do país. Graduação alcoólica 40% vol.

Saúde!

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