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Vocês sabem como se produz vinho? – 3ª parte

– Recapitulando
Nas colunas anteriores, aprendemos a preparação e fermentação do mosto, que ao ser retirado dos tanques recebe a denominação de “Vinho Jovem”. Tecnicamente falando, já é um vinho, mas que ainda não pode ser consumido. Está em estado bruto. Como toda joia, deve ser lapidado.
Antes de abordarmos a longa fase seguinte, façamos um pequeno parêntesis para tratar dos resíduos da vinificação. A foto, a seguir, ilustra a parte final da descuba, quando os sólidos são removidos do fundo dos tanques.
Operação de descuba
Para aqueles preocupados com meio ambiente, é interessante saber que todo este subproduto pode ser usado para a fabricação de vinhos de prensa (baixa qualidade); destilado, obtendo-se os “Brandys” como Grappa, Bagaceira, Conhaques, etc.; usado como adubo ou vendido para a indústria farmacêutica (Sal de Frutas ENO não é um nome gratuito).
– Maturação
Terminada a fase de fermentação e maceração, a parte líquida é transferida para novos tanques, numa operação conhecida como trasfega, onde se iniciará um longo período de repouso. O objetivo desta etapa é preparar o vinho para que possa ser consumido.
Por uma questão de clareza, vamos estender, por duas colunas, esta parte final. Múltiplos caminhos podem ser seguidos, exigindo decisões importantes dos produtores. Um texto muito resumido seria confuso para os leitores.
Para transformar o vinho recém-fermentado em um produto digno de consumo, ele deverá passar por alguns estágios. O primeiro deles é a Estabilização, que consiste em deixa-lo decantar para que resíduos finos, em suspensão, sejam depositados e removidos. Este período é necessário, também, para terminar qualquer outro processo químico decorrente da fermentação principal.
Periodicamente, são feitas novas trasfegas, sempre para tanques esterilizados, obtendo-se um produto cada vez mais limpo. Mesmo sendo uma bebida com teor alcoólico em torno de 13%, o vinho, neste momento, está sujeito a contaminações diversas. Nas grandes produtoras, este ciclo é fechado, sem contato com o meio externo. Todo o cuidado é pouco ou a perda é total.
Os vasos de decantação são muito semelhantes aos da fermentação, embora menos sofisticados. Além dos materiais já citados, podem ser usados tanques de materiais plásticos, reforçados.
Esta etapa dura cerca de seis meses, sendo feitas, pelo menos, três trasfegas, eliminando-se os resíduos, as borras, que podem ser fonte de contaminação. Este subproduto é rico em sais de Tártaro e são de interesse para a indústria farmacêutica. Há ainda uma considerável parte líquida que é usada na produção de vinhos de baixa qualidade ou destilados.
 Tanques de Estabilização/Decantação

– Corte
Obtido o grau de estabilização desejado, confirmado por análise laboratorial de acompanhamento, poderão ocorrer novos processos. O vinho, estabilizado, já poderia ser destinado ao consumo. Neste caso, ele seria armazenado em tanques de aço inox, inertes, sem contato com o ar, aguardando a fase de engarrafamento. O objetivo é preservar, ao máximo, os aromas, sabores e sensações táteis de um vinho jovem.
Outra opção, a critério da vinícola, é fazer o “corte”: mistura-lo com outros vinhos em estoque, para obter um produto diferente, único. Esta operação, a cargo do Enólogo chefe é decisiva para o sucesso comercial. Cabe unicamente a ele decidir o que fazer. O corte pode ser realizado em outra fase, mas este é o momento adequado.
– Envelhecimento
Envelhecer o vinho, cortado ou não, é outra decisão estratégica de cada empresa. Usualmente, uma parcela é reservada para a produção dos vinhos de alta qualidade (na primeira coluna desta série, mencionamos que as uvas destinadas a este tipo de produção recebiam um tratamento especial). Neste caso, o líquido será trasfegado para os tanques (metodologia tradicional) ou barricas (tecnologia atual) de envelhecimento. Entra em cena o Carvalho, madeira nobre, que pode ser Europeu ou Americano. Cada um vai conferir distintas características ao produto final. Mas este será o tema da próxima coluna. 

Dica da Semana:

 
La Flor de Pulenta – Cabernet Sauvignon 2008 – $
Produtor: Bodegas y Viñedos Hugo Y Eduardo Pulenta S.A
Origem: Argentina – Medonza – – Luján de Cuyo
Características: Vermelho profundo. Seus aromas lembram pimentão e especiarias, com notas de baunilha e tabaco provenientes do carvalho. Na boca apresenta boa concentração e taninos suaves que lhe conferem uma estrutura volumosa. 


Glossário:

Maturação: embora sejam sinônimos, no mundo do vinho é feita uma distinção entre este termo e “envelhecimento”. Maturar seria, então, preparar o vinho para ser envelhecido. Como explicado no texto, o vinho jovem é só estabilizado.
Descuba: retirar da cuba, do tanque, do recipiente, ou do vaso onde foi fermentado.
Trasfega: operação de retirar a parte líquida com o auxílio de bombas especialmente projetadas para tal.
Borra: resíduo de finas partículas que são consequência do processo de fermentação e que permanecem em suspensão no vinho. O processo de decantação elimina quase 100%. Uma pequena parcela pode ser deixada ou removida através de processos de clarificação.
Corte: ou assemblage, mistura de diferentes vinhos varietais obtendo-se um produto único. Os vinhos de Bordeaux são todos elaborados com um corte de Cabernet Sauvignon e Merlot, pelo menos.
Vinho de Prensa: vinho, de qualidade inferior, obtido pela prensagem dos resíduos da vinificação – cascas + borras. Tradicionalmente é feito para consumo próprio, não é posto à venda.

Compreendendo o Vinho – Final


Um termo muito usado no mundo do vinho é “terroir”, palavra francesa que significa terreno, mas que esconde todo um significado enológico que é considerado primordial: entender a relação do local onde as uvas foram plantadas, e o vinho produzido, com suas características organolépticas. Um conceito complexo e nada fácil de compreender. Estão envolvidos: tipo do solo, condições climáticas, orientação do parreiral, etc..

Podemos perceber melhor esta ideia através de degustações que envolvam vinhos de diferentes regiões ou países produtores. Uma experiência interessante e esclarecedora seria compararmos um Cabernet, produzido na Califórnia, com seus irmãos Australianos, Chilenos, Argentinos e Brasileiros. As cepas internacionais como, Merlot, Syrah e Pinot Noir, são outras boas opções. Entre os brancos, Chardonnay e Sauvignon Blanc. Podemos usar vinhos de um único país desde que haja diferentes regiões produtoras, e que trabalhem as mesmas uvas.
Depois de adquirimos alguma experiência, nestes tipos de provas apresentadas, passamos para uma fase mais séria, mas não menos divertida. São as degustações clássicas: Horizontal e Vertical.
A primeira tem por objetivo compreender a influência de um determinado ano no vinho, comparando caldos de diversos produtores dentro de uma única safra. Mas temos que fixar uma diretriz, estabelecendo alguns parâmetros como a cepa, ou a região ou mesmo um determinado produtor. Para tirarmos algum proveito deste interessante exercício, devemos planejar bem a degustação, pois são tênues as nuances que farão a diferença entre um e outro produto.
Não podemos pensar em “tintos portugueses de 2009”, não teríamos meios de comparar o que vai ser apresentado. Mas “vinhos portugueses de Touriga Nacional, safra 2010”, seria uma prova interessante. A “horizontal” também é boa para compararmos vinhos de corte: diferentes produtores, mesma safra, mesmas cepas. Há uma enorme gama de possibilidades. Uma de suas variações é usada na apresentação dos vinhos de um produtor e pode incluir espumantes, brancos e tintos, num mesmo “flight”.
Na vertical, vamos comparar um mesmo vinho em diferentes anos. Muito importante, pois nos permite conhecer como a bebida evolui ao longo do tempo. Novamente, as varietais tradicionais sobressaem. Mas podemos usar e abusar dos vinhos de corte. Este tipo de prova se torna difícil em dois aspectos: obter garrafas das diferentes safras de um vinho; consegui-las sem pagar um preço absurdo.
Quase sempre organizadas por produtores ou grandes colecionadores, este tipo de degustação é muito valorizado. Em ambos os casos, é praticamente impossível conseguirmos um convite. Só para os “amigos do Rei”. Mas nada impede de realizarmos uma, guardando diferentes safras do nosso caldo predileto.
Se formos capazes de perceber e compreender todos estes detalhes, através das formas de degustação apresentadas, estaremos prontos para outra interessante aventura: uma degustação às cegas, onde os vinhos servidos só terão sua identidade revelada ao fim do evento. O objetivo é identificar o que estamos bebendo, uva, safra, origem, tipo (varietal ou corte), enfim, todas aquelas características que foram citadas anteriormente, sem nenhuma informação a priori, muitas vezes, nem a cor.
Algumas limitações se impõem. Não tem sentido fazer este tipo de comparação com vinhos escolhidos aleatoriamente. A melhor maneira é trabalharmos com temas, por exemplo, uma determinada uva, ou vinhos de uma região ou safra. Podemos “abrir” o tema ou apenas induzi-lo, seja com uma frase “são todos vinhos de uma única cepa”, seja usando o ambiente para passar esta informação, através de um jantar temático.
Este tipo de prova é a única que consegue desmascarar vinhos e degustadores: que tal experimentarmos com um vinho caro e outro barato…
O preparo de uma “às cegas” é importante. Nesta primeira imagem, temos as garrafas colocadas em embalagens numeradas. As fichas de degustação, importantíssimas neste caso, são identificadas por estes números.
Outra forma, um pouco mais restrita, é servirmos os vinhos em taças numeradas, eliminando-se o fator “garrafa”: tamanho, forma e peso podem ser pistas importantes.
Para radicalizarmos totalmente, a segunda imagem diz tudo: uma taça negra, totalmente opaca. Não saberemos nem a cor do vinho a ser provado.
Alguns conselhos finais:
1 – este último tipo de degustação pode ser feito até com um único vinho;
2 – mesmo entre degustadores experientes, o nível de acertos é baixo;
3 – em qualquer tipo de prova, começamos pelos vinhos mais jovens ou leves, subindo na escala;
4 – se houver diferentes tipos de vinhos, começamos pelo espumante, seguindo pelos brancos, rosés e tintos.
Quem vai encarar?
Dica da Semana I – Um vinho espanhol de excelente custo x benefício.
Sabor Real Joven 2008
Produtor: Bodegas Campinã, Castilla Leon, Espanha
Uva: Tempranillo (Tinta del Toro)
Sabor Real Joven foi produzido com videiras de mais de 70 anos de idade”. Cor Rubi escuro, oferece um maravilhoso bouquet de rochas moídas, especiarias, tabaco, lavanda, cereja e amoras. Na boca é um vinho encorpado, com boa fruta, apimentado e concentrado. Final longo e de caráter. Tem um potencial de guarda de 6 anos.
Robert Parker 90 pontos
Dica da Semana II – Jogo do Vinho
Um jogo de tabuleiro vem testar os conhecimentos dos enófilos e ensinar, de maneira descontraída, os iniciantes no universo do vinho. Idealizado por Celio Alzer, sommelier e professor da ABS (Associação Brasileira de Sommeliers) do Rio de Janeiro. Com sua experiência de mais de 20 anos na sala de aula, coletou durante todo esse tempo as mil perguntas que compõem o livro do jogo. “Entre os assuntos destacados estão curiosidades, dicas de harmonização, notas sobre personalidades do mundo do vinho e sugestões de drinques”. O jogo tem tiragem limitada. O jogo vem com um tabuleiro, um livro com mil perguntas e respostas, 30 cartas e quatro peões. O kit traz ainda quatro meias garrafas de tintos selecionadas: o italiano Chianti DOCG Fattoria di Basciano, o chileno Terranoble Cabernet Sauvignon e dois portugueses – Terras de Xisto e Convento da Vila.
Para saber onde encontrar o Jogo do Vinho ligue para (21) 2286-8838 ou (21) 2535-0070.

Compreendendo o Vinho – 1ª parte


A grande diferença entre os profissionais do vinho e os enófilos de fim de semana, está no fato de que, os primeiros, fazem degustações didáticas, periodicamente, como uma rotina de seu trabalho. Neste grupo, incluo os vinhateiros, enólogos, comerciantes, Sommeliers, críticos e jornalistas especializados.

Com algum empenho, seremos capazes de treinar o nosso paladar, usando as mesmas técnicas de degustação dos profissionais. Assim, poderemos apreciar todas as nuances que a mais nobre das bebidas pode nos oferecer.
São situações diferentes, beber um vinho num almoço de família ou de negócios ou bebê-lo com intuito educativo: as degustações são sempre comparativas, só assim se aprende as diferenças entre um e outro produto, sejam elas virtudes ou defeitos.
Uma das primeiras degustações a serem experimentadas, por uma confraria ou grupo de amigos, é a que envolve vinhos de diferentes cepas de uva. Devemos manter uma coerência na escolha dos vinhos. Nada de degustar tintos, brancos e espumantes ao mesmo tempo. Selecionamos os produtos de uma região. Se possível, todos de uma mesma safra. Exemplo: tintos do Chile, o que incluiria Carménère, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Pinot Noir, pelo menos. Vamos apenas provar estes vinhos e compará-los. A ideia é poder diferenciar cores, aromas e sabores, etc.. Neste tipo de prova, uma garrafa atende até 12 pessoas. Começamos com 2 ou 3 vinhos de cada vez.
FICHA DE DEGUSTAÇÃO
Devemos registrar as nossas experiências, seja através de notas num caderno ou utilizando uma Ficha de Degustação padronizada. Desta forma, teremos uma maneira de lembrar o que aconteceu e usar esta informação a nosso favor, seja na compra de nossa próxima garrafa ou em outra prova de vinhos.
Na figura que acompanha este texto há um modelo que segue a metodologia criada pelo Engenheiro Químico italiano, Giancarlo Bossi.
É bem simples e didática, contemplando os seguintes aspectos: Aparência, Olfato, Paladar, Evolução e Avaliação Final.
Seu preenchimento é intuitivo.
Há os que preferem usar valores numéricos, neste caso, é possível atribuir um determinado número de pontos para cada item (máximo):
Visual – 16 pontos;
Aromas – 24 pontos;
Paladar – 60 pontos,
Totalizando 100.
A tabela a seguir nos dá uma perspectiva de resultado:
Para a turma do ‘difícil’, ‘muito técnico’ e ‘complicado’, lembramos que nada disto é obrigatório. Uma boa anotação num caderno resolve o problema ou, se houver interesse, podemos criar a nossa própria ficha, simplificando este modelo.
O próximo passo é tentar uma degustação de vinhos que passaram ou não por madeira. Talvez a tarefa mais árdua seja a de descobrir como os vinhos foram produzidos, para incluí-los no teste. A melhor forma é consultar a descrição do produto (ficha técnica), disponível nos catálogos ou sites das vinícolas. Um bom produtor costuma colocar estas informações no contra rótulo. Nas lojas especializadas, qualquer vendedor saberá nos informar. O exercício tem por objetivo treinar a identificação da presença, ou não, de madeira e as nuances adquiridas pela bebida.
Novamente, não devemos misturar brancos e tintos. A situação ideal é aquela com vinhos de um mesmo produtor. Com tempo, poderemos sofisticar este tipo de prova, acrescentando um maior grau de dificuldade, por exemplo, identificar a origem da madeira usada e o tempo de contato. Uma boa sugestão, para começar, é fazer este tipo de prova com diferentes Malbec argentinos.
Na coluna da próxima semana, vamos propor provas mais objetivas ainda. Até lá, que tal começarmos a treinar o nosso paladar, com estes conselhos aqui:
• Coma com calma, não seja apressado.
• Use os olhos quando comer, aprecie, repare no que está comendo.
• Sinta os aromas da comida, habitue-se a usar o nariz quando está comendo.
• Adote o Slow Food, dedique algum tempo às refeições.
• Beba vinho durante a refeição.
• Nunca encha a taça. Fique no 1/3 do volume (menos da metade) e tome pequenos goles.
• Deixe o Vinho passear pela sua boca, aprecie seu sabor.
• Com Fast Food, não tome vinho.
• Beba água regularmente.
• Comece com vinhos mais baratos e simples.
• Introduza novos vinhos, mais caros, aos poucos.
• Compre vinhos no máximo com o dobro do preço do que você consome regularmente.

Dica da Semana I – um bom tinto brasileiro: 

Innominabile Lote III – $

 Produtor: Villaggio Grando – Campos de Herciliópolis – SC
Uva: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec, Pinot Noir e Petit Verdot
Sua coloração rubi com reflexos violáceos é intensa e brilhante. Seus aromas são amplos e intensos, passando por fumo em rama, baunilha, coco e amoras silvestres. Em boca há um grande equilíbrio entre o teor alcoólico e acidez quase imperceptível. Mas são seus taninos macios que o definem como um vinho estruturado, redondo e aveludado. É um vinho complexo, de guarda, o qual, acreditamos estará na sua plenitude no decorrer de alguns anos, mesmo já sendo possível degustá-lo.
Dica da Semana II – para aqueles que realmente querem se aprofundar neste tema:

“Nez du Vin” – o nariz do vinho (produto francês)
A caixa ajuda-nos a treinar o olfato a reconhecer e identificar os 54 principais aromas presentes no vinho. É muito utilizada pelos grandes Enólogos e Sommeliers de todo o mundo para treinar o olfato na identificação dos aromas do vinho.
Para aqueles que quiserem um kit menor é possível encontrar versões de 24, 12 e 6 aromas. Para os kits menores existem temas variados como “Defeitos”, “Carvalho Novo”, “Vinhos Tintos” e “Vinhos Brancos”.
O preço é salgado, mas vale a pena.
Real Imports e Mistral, entre outros, tem à venda. Este é o mais famoso, mas existem kits de outros produtores, bem mais em conta. Procurem por ‘Caixa de Aromas’.

O vinho na Melhor Idade

A coluna desta semana não é sobre de bebedores de vinho idosos. Vamos falar de vinhos envelhecidos e por que um dia vocês vão querer experimentar um.
E o que há de tão especial nisto? Porque esta paixão por vinhos antigos? Como alguém pagou US$ 156,000.00 (cento e cinquenta e seis mil dólares) por uma garrafa de Chateau Lafite que teria pertencido a Thomas Jefferson? (mais tarde descobriu-se que era uma fraude…).
Pagar este preço por um vinho sem saber qual o real estado dele, só com muito dinheiro para gastar. Puro status ou esnobismo. Segundo fontes seguras, este comprador, anônimo, seria um grande colecionador e não um apreciador.
Para os demais mortais, enófilos de verdade, esta grande paixão se esconde atrás de um mistério. Vinhos envelhecem quase como seres humanos. Alguns ficam muito melhores enquanto outros se tornam ácidos e amargos. Como saber?
Alguns grandes vinhos levam muito tempo para serem postos no mercado. Um bom Pinot da Borgonha só vem ao mundo 15 anos após sua produção. Mesmo assim, não está pronto para o consumo. Há que se esperar mais alguns anos para atingir seu ponto de maturação exato, com taninos e acidez domados, aromas complexos e, de acordo com quem já passou por esta experiência, sabores inebriantes. Este momento talvez seja a grande coroação da vida de um amante do vinho, encontrar a tal garrafa, cuidar dela como se fosse um filho, e um dia desfrutar do seu conteúdo. Um sonho acalentado por muitos.
Vinhos longevos são caros, por definição. São produzidos como joias, em poucas quantidades, nem sempre são fáceis de encontrar. Se o leitor dispõe de recursos, poderá comprar uma destas preciosidades a partir de um leilão de vinhos. Por favor, nos convide para apreciar.
O outro caminho é investirmos num vinho novo e guardá-lo por 10, 15 ou 20 anos antes de desarrolhá-lo. Não é uma tarefa simples. O primeiro desafio é escolher o vinho. Algumas características são importantes: maior teor alcoólico; taninos adequados; acidez elevada e níveis de açúcares apropriados. Também são importantes a qualidade da rolha e a adega aonde será armazenado.
Algumas castas se prestam perfeitamente para esta função, notadamente a Nebbiolo, grande uva italiana que produz o não menos famoso Barolo. Outra italiana, que segue o mesmo caminho é a Sangiovese e seus clones, como a Grosso, a vinífera usada no Brunello de Montalcino. A já citada Pinot Noir e o trio Bordalês (Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc) são apostas certas – um bom Château é algo acima dos 10 anos.
O mesmo ainda não pode ser dito das tintas cultivadas no novo mundo, notadamente as do hemisfério sul: Malbec, Carménère, Tannat e Pinotage. Há uma barreira, teórica, que gira em torno de 10 anos. Estes vinhos são produzidos para o mercado imediato, não havendo uma preocupação em prepará-los para serem consumidos após uma hibernação. Há exceções, ótimas por sinal. Uma delas, de boa relação custo x benefício é o icônico Almaviva do Chile, tem uma estimativa de guarda de 12 anos.
A tabela (anos/tipos de vinhos) abaixo ajuda a decidir até onde podemos ir.
Anos
Vinho
1
Beaujolais Noveau
2
Brancos genéricos sul-americanos, vinho verde
3
Tintos e brancos genéricos europeus, tintos comuns sul-americanos,
espumantes brasileiros, rosados
5
brancos europeus e tintos 1ª linha sul-americanos
7
bons tintos europeus, champanhes não safrados,
alguns tintos sul-americanos excepcionais
10
grandes brancos europeus, champanhes milesimés (datados)
15
tintos europeus de alta qualidade – Bordeaux, Rioja, etc
25
Grandes tintos europeus (Bordeaux, Bourgone, Barolo, Brunelo, etc),
vinhos doces tipo Tokay, Sauternes
50 +
Fortificados, alguns poucos tintos e brancos europeus excepcionais
O que esperar com relação a aromas e sabores? Esqueçam tudo que vocês estão habituados: frutas maduras e potência. Os vinhos envelhecidos cheiram a couro, tabaco, amadeirados, especiarias, etc. São pouco tânicos, equilibrados. A madeira surge de forma mais integrada deixando a bebida rica em novos aromas, mais complexa. Mas apreciar estas sensações exige treino e paciência.
Uma proposta: compre 3 ou 4 garrafas de um bom caldo e deixe-as envelhecer por diversos períodos: 2, 5, 8 e 10 anos. Abra uma de cada vez e compare com o que bebeu antes. Só assim se aprende.

Dica da semana:algo bem diferente, um vinho Grego:

Kretikos Vin de Pays 2008 – Boutári
País: Grécia – Creta
Castas: 60% Kotsifali e 40% Mandilaria
Kretikos é a nova linha de vinhos de Boutári elaborados com uva de vinhedos plantados na ilha de Creta, produtora de vinhos há mais de 3.000 anos. Este tinto é um original corte das castas Kotsifali e Mandilaria. Leve e saboroso, deve ser servido levemente refrescado, como um Beaujolais, sendo uma ótima pedida para acompanhar massas, fritos e pratos mais picantes. 
Saúde!

A propósito


Na última 6ª feira, na revista Rio Show, encartada no jornal O Globo, do Rio de Janeiro, a craque Deise Novakoski publicou uma interessante matéria em sua coluna ‘Três Doses Acima’. Sommelier respeitada e uma das primeiras bar woman, fala com muita propriedade sobre os efeitos do marketing nos rótulos da nossa bebida predileta.

“A grande maioria dos rótulos de vinhos parece feita para enlouquecer o consumidor. O que deveria ser um canal de comunicação entre nós e os produtores muitas vezes mais parece um recado mal anotado, uma sopa de letrinhas que nos induz a acreditar naquilo que não existe”.

Um dos exemplos clássicos citados por Deise é a confusão, propositadamente criada, quando se empregam, de forma indiscriminada, os termos Reserva e Reservado. Para o comprador leigo e desavisado, este seria um vinho de melhor qualidade e os termos se equivalem.
Ledo engano!
O vinho virou um produto de marketing, muito bem trabalhado. O negócio é vender, de preferência com preços altos, algumas vezes, exorbitantes. Já que a legislação é omissa ou inexistente, vamos aproveitar…
Só que não podemos generalizar. Volto a citar a matéria em tela:

“Inspirados pelas mesma fonte que, um dia, por questões culturais e de colonização, os fizeram usar tais classificações, produtores argentinos e chilenos estão solicitando uma legislação para o uso de tais palavras nos rótulos, baseada nos moldes da lei que classifica os vinhos em regiões como Rioja e Ribeira del Duero, na Espanha”.

O que tem de tão especial nesta legislação? É aqui que a coisa fica interessante. Estes vinhos são classificados segundo a qualidade das uvas e pelo tempo de amadurecimento em barris de madeira. Existem 3 categorias, que são alinhavadas a seguir:
Crianza – um vinho que passa pelo menos 2 anos nos barris. Deve ser um vinho leve, fácil de beber;
Reserva – mínimo de 3 anos barricado, mais encorpado, concentrado, ‘jugoso’ como eles gostam de falar;
Gran Reserva – no mínimo 5 anos de envelhecimento em barricas e, mesmo assim, só recebe a denominação caso a safra toda daquele ano tenha sido considerada excepcional. Tem que ser um produto de excelente qualidade, requintado.
Simples e direto, com o propósito de esclarecer o consumidor e não confundi-lo. Muito diferente dos rótulos que encontramos por aqui, que além das expressões já citados, são acompanhadas por denominações como, Premium, Reserva Varietal, Gran Cuvèe e quejandos. No máximo indicam (com muita boa vontade) um maior teor alcóolico. Mas o precinho…
Então não caiam neste novo conto do vinho ao montar sua adega. Invistam em produtos que sabidamente são de boa qualidade, optem por denominações tipo DOC ou IGT. 
Caso tenham encontrado um vinho do qual gostem e tem boa relação custo x benefício, mesmo que receba uma destas denominações duvidosas, contem para a gente.
Em tempo: a denominação Reserva é a habitual para vinhos superiores aos não denominados. Reservado é jogada de marketing… 

Dica da semana:

Infinitus Cabernet Sauvignon /Tempranillo 2007

Produtor: Martínez Bujanda, Espanha
Região: Castilla y León
Uva: Cabernet Sauvignon, Tempranillo
Graduação Alcoólica:14%
Saboroso tinto produzido por Cosecheros y Criadores, dos mesmos proprietários das Bodegas Martínez Bujanda. O Infinitus é afinado em barricas de carvalho americano, resultando em um vinho macio e envolvente, de ótima relação qualidade/preço, perfeito para o dia a dia.
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