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Limpando as taças e outros acessórios

Esta coluna foi sugerida pela Leitora Rosineide Saraiva, de São Luís, do Maranhão, que também pediu que comentássemos sobre como arrumar as taças numa mesa de jantar.
Nada pior que uma taça de vinho com manchas de batom, marcas de dedos, aromas estranhos e resíduos não identificados. Estes defeitos podem se estender aos decantadores e outros acessórios.

 
Limpar tudo isto corretamente envolve ciência e arte. Tão importante, que todo enófilo que se preze, deveria dominar pelo menos uma técnica e lavar seus próprios cristais.


1 – Material necessário

– detergente neutro inodoro – muito difícil de achar por aqui. Quase todos que se declaram “neutros” possuem algum tipo de aroma.

No Rio de Janeiro existe um sabão pastoso bastante popular, o Neutral. Se preferir use o tradicional Limpol Neutro.

Uma alternativa é buscar detergentes usados na área médica, vendidos apenas em embalagens de 5 litros. Monte um grupo e divida isto entre todos.

– esponja de limpeza macia – procure as que não tenham um lado abrasivo. Se for inevitável, escolha as que são indicadas para panelas antiaderentes.

A turma da Velha-guarda ainda acha que o instrumento mais perfeito para lavar uma taça é a nossa mão…

Se for possível, reserve uma esponja só para este fim, evitando contaminações cruzadas.

– toalhas de microfibra ou flanelas macias para a secagem;

– álcool, água sanitária e água quente.

2 – Taças e acessórios de cristal ou vidro

O primeiro passo é remover marcas de batom ou de gordura.

Geralmente com água quente e detergente se consegue um bom resultado.

As manchas mais persistentes não resistirão a um tratamento com papel toalha, com um pouco de álcool ou mesmo aquelas pequenas esponjas para remover maquiagem.

A próxima etapa é uma boa ensaboada com especial atenção para a borda e fundo da taça, seguida de um extenso enxague em água aquecida.

Taças de cristal são mais porosas que as de vidro comum e, por esta razão, a quantidade de detergente usada deve ser a mínima possível: 1 gota por peça no máximo.

Taças de vidro podem ser lavadas em máquina lava-louça sem problemas.

As fotos a seguir mostram uma série de acessórios que podem facilitar muito este trabalho.
Não são muito fáceis de encontrar por aqui:



Diferentes esponjas de limpeza, a mais comprida serve para limpar um decantador;

 

Estas bolinhas de aço são próprias para os decantadores e garrafas de cristal. Use-as com água e detergente e recolha-as com auxílio de uma peneira;


3 – Finalização

Esta é a parte mais importante deste processo. Envolve escorrer as taças e acessórios, seguida de uma etapa de checagem e polimento.

Opcionalmente, pode-se fazer uma esterilização, passando cada peça por uma solução de 1 colher de sopa de água sanitária em 4 litros de água (não pode ter cheiro forte de cloro), antes de colocar para escorrer.

Taças e decantadores devem secar com a boca para baixo, seja pendurados em racks próprios, nos tradicionais escorredores ou sobre tapetes que absorvam a água (dish drying mat).

Veja as ilustrações:


Uma vez secas, deve-se fazer uma boa checagem visual em busca de resíduos que não foram removidos e odores estranhos. Neste caso, lave novamente.

Se tudo estiver certo, antes de guardar se deve passar um pano macio para polir. Use qualquer tecido que não solte fiapos. O ideal são os panos de microfibra, mas os profissionais ainda preferem uma flanela de ótima qualidade embebida em um pouco de álcool.

Guarde tudo com a boca para cima e com espaço entre a peças. Se não for possível e as taças ficarem muito próximas, envolva-as em papel de seda.

Arrumando a mesa

Não é nenhum mistério a colocação das taças numa mesa formal ou informal. Poucos princípios devem ser observados.

Vamos a eles:

– todas as taças serão colocadas no lado direito do prato, seja formando um triângulo, uma linha diagonal ou em semicírculo;

– sempre haverá uma taça para água, que deve ser colocada em alinhamento com a faca principal;

– o número total de taças, por pessoa, vai corresponder ao número de vinhos que serão servidos;

– serão dispostas à direita da taça para água, em ordem que corresponda do último vinho para o primeiro;

Exemplo no caso de 2 vinhos:
(da esquerda para direita) – água – tinto – branco.

Existe uma razão para isto, os vinhos são servidos pelo lado direito do convidado. Ao final de cada etapa da refeição, as taças utilizadas são removidas.

Se for servido um espumante ao final da refeição, a taça pode ficar por fora do alinhamento tradicional ou ser a mais próxima da taça para água.

O mesmo raciocínio vale para o caso de um Porto ou vinho de sobremesa.

Atualmente, principalmente em reuniões informais, adota-se uma única taça para todos os tipos de vinho, a denominada ISO, inclusive para os espumantes.

Não se preocupem com a troca de taças entre vinhos diferentes. Há um velho chavão que diz:

“Nada melhor para lavar uma taça que o próximo vinho”.

Dica da Semana: Ainda é tempo para degustar um bom tinto

Aliwen Reserva Cabernet Sauvignon Carménère


Coloração violeta profundo.

Aromas de frutas maduras, especiarias e madeira.
Bom corpo, taninos maduros e final persistente.
Harmonização: Costelinha de porco com molho agridoce

Descomplicando

O mundo do vinho anda em franca expansão. Atualmente existe uma infinidade de estilos, uvas, produtores (todo dia surge um nome novo) o que torna o simples ato de comprar uma garrafa uma tarefa que já está exigindo um doutorado.
 
Não deveria ser assim.
 
Para simplificar esta complexa operação, vamos explicar uns poucos fatos sobre a nossa bebida predileta que vão ajudar na hora de fazer escolhas.
 
1 – Diminuindo o número de opções
 
Quem nunca visitou uma loja especializada em vinhos é capaz de se perder lá dentro. Há um pouco de tudo numa confusão visual (para quem não é do ramo) atordoante.
 
Os vinhos podem estar organizados por país produtor, dentro deste por região e finalmente, dependendo das normas locais, por variedade ou estilo.
 
Aqui vai o 1º conselho: simplicidade.
 
Se o leitor já tiver um paladar definido, procure por suas castas prediletas ou cortes elaborados a partir delas.
 
Se ainda não definiu o seu vinho de cabeceira, este é um bom momento para começar a apurar o seu gosto pessoal.
 
Comece pelas principais castas, algumas chamadas de “nobres”, o que não é por acaso: Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir entre as tintas e Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling entre as brancas.
 
No nosso país podemos acrescentar a esta relação mais algumas castas que são famosas no continente: Malbec, Carménère, Syrah e Tannat, além das brancas Torrontés e Albarinho.
 
Com o tempo, expanda para castas mais regionais como as italianas Sangiovese e Nebbiolo, a espanhola Tempranillo ou as diversas uvas de Portugal (Touriga Nacional, Baga, etc.).
 
2 – Entendendo os rótulos
 
Dependendo das normas de produção de um país e de algumas tradições, os vinhos podem ser rotulados de várias formas, o que pode ser muito confuso:
 
– por casta (varietal);
– por região;
– por nome ou marca.
 
O primeiro tipo é o mais fácil e direto: Cabernet, Merlot, Zinfandel, etc. Não pode haver dúvida, mas é interessante pesquisar um pouco mais, ler o contrarrótulo, em busca de detalhes: nem sempre o conteúdo de uma garrafa deste tipo contem 100% da varietal declarada.
 
Os rótulos por região, muito comum nos vinhos franceses, podem complicar a vida de um comprador leigo.
 
Exemplos clássicos são os rótulos com a expressão Bourgogne: os tintos são Pinot Noir e os brancos, Chardonnay.
 
Vinhos com a indicação Bordeaux são cortes onde predominam Cabernet Sauvignon ou Merlot.
 
Outros países que adotam este tipo de rótulo são Itália (Chianti), Espanha (Rioja) e Portugal (Douro, Dão, etc.).
 
Os rótulos mais enigmáticos são dos vinhos que recebem apenas um nome ou marca, onde o produtor quer prestar uma homenagem ou contar a história de uma vinificação através de uma única palavra ou frase.
 
São, quase sempre, vinhos que de alguma forma fogem à regulamentação do país produtor.
Um exemplo conhecido são os chamados Supertoscanos, elegantes cortes da casta Sangiovese com uvas nobres como Cabernet ou Merlot. Como não poderiam ser vendidos como os vinhos tradicionais, receberam “marcas” que acabaram por se tornar icônicas: Tiganello, Ornelaia, Sassicaia, etc..
 
Outros países que adotam este estilo: Estados Unidos, Austrália, Chile, África do Sul e Argentina.
 
3 – Terminologia
 
Experimentem responder a este desafio: descreva o seu vinho predileto.
 
Parece fácil, mas não é.
 
Não existe uma “linguagem comum” no mundo do vinho. Excetuando-se alguns descritores mais conhecidos, o número de adjetivos que podem ser usados nesta resposta é bastante alto, outro fator que causa confusão, principalmente se o seu interlocutor for alguém encarregado de lhe oferecer um vinho, seja ele um Sommelier, o vendedor de uma loja ou o seu anfitrião numa reunião social.
 
Para sair deste dilema só aprendendo a usar corretamente alguns destes termos o que pode ser feito em cursos de degustação ou com leituras especializadas.
 
Mas muito cuidado na hora de usar: fácil ficar monocórdico e receber a temida pecha de “Enochato”…
 
4 – Safras
 
Saber quais as safras que foram as melhores é para os que realmente são especialistas e profissionais.
O enófilo do dia a dia, por outro lado, deve usar a indicação do ano de vinificação de outra forma, muito mais simples:
 
– saber se é um vinho jovem ou não e degustá-lo de acordo;
– entender que o seu vinho predileto hoje, não vai ser mais o mesmo na próxima safra.
 
Um conselho final com linguajar bem atual: desgourmetize!
Dica da Semana: um bom exemplo para entender rótulos varietais…
 
PALO ALTO RESERVA MERLOT 2012
(60% Merlot, 33% Shiraz, 5% Tempranillo e 2% Viognier)
 
Aroma fresco e complexo.
Notas de frutas vermelhas provenientes da Merlot, notas de especiarias da Tempranillo e notas de damasco da Viognier.
No paladar é suave, fresco e mineral. O carvalho aporta complexidade e doçura.
Harmonização: Bastante versátil, acompanha carnes brancas, risotos, massas e queijos maduros.
 

A Confraria do Padreco

Padreco é o carinhoso apelido de um dos mais tradicionais colégios do Rio de Janeiro, o Padre Antônio Vieira. Fundado em 1940, formou muita gente boa nestes 75 anos de existência. Incialmente só para meninos tornou-se misto a partir de 1992. Continua sendo referência no ensino carioca.
 
Esta confraria foi organizada por um grupo de amigos que estudaram juntos desde o antigo primário. Haviam se dispersado quando cada um seguiu seu caminho profissional e, com o auxílio das modernas redes sociais, conseguiram se reunir novamente após um longo tempo.
 
 
Há três anos começaram a organizar os primeiros encontros, ainda um pouco tímidos e sem data certa para acontecer. Desde o ano passado as reuniões passaram a ser mensais. A Confraria do Padreco surgiu logo depois com o objetivo de experimentarem alguns bons vinhos.
 
Tive a honra de ser convidado para a reunião organizada por Mario Henrique Bretas (Lico): um jantar temático com estupendos vinhos argentinos. Seguindo a tradição vigente na época do colégio, “só para os meninos”, o que deixou algumas esposas muito aborrecidas.
 
A única dama presente. D. Lia, mãe de Mario Henrique, garantia o sucesso do jantar com uma organização impecável e cardápio “dos deuses” onde não faltaram nem mesmo as famosas empanadas, além de carnes diversas, massa e salada.
 
 
O capítulo dos vinhos foi um show à parte.
 
Quase todos levaram uma garrafa, mesmo os que não são apreciadores da nossa bebida predileta. Para estes, cervejas e destilados.
 
O clima de amizade e informalidade era reconfortante e até mesmo este escriba, um verdadeiro “peixe fora d’água” naquele grupo, se sentiu em casa.
 
 
As garrafas eram logo abertas e decantadas, se fosse o caso. Cada um podia fazer suas escolhas e comparar os diversos caldos, alguns muito famosos. Tudo sem frescuras ou formalidades.
 
 
Eis a lista dos vinhos degustados, acompanhada de alguns comentários:
 
Achaval Ferrer Finca Mirador safra 2010 – eleita a Vinícola do Ano de 2009 pela revista Wine & Spirits, elabora este verdadeiro tesouro a partir de um vinhedo de 5 hectares, em pé franco. A menor nota conferida por Robert Parker para este vinho foi 94 pontos.
 
Para muitos o melhor vinho da noite.
 
Angelica Zapata Malbec Alta 2009 – outro monstro de vinho da emblemática Catena Zapata. Um corte de diferentes vinhedos, de pequena produção e muito disputado no mercado argentino. Quase uma raridade. Perfeito com os pratos de carne.
 
Cheval des Andes 2002 – um vinho icônico que consta das eternas relações de vinhos que devem ser degustados (1001 vinhos para beber antes de morrer). A safra de 2002 foi descrita como “fora de série”.
 
O nome Cheval é uma referência ao seu irmão bordalês, o Cheval Blanc, um dos mais famosos do mundo.
 
Este vinho foi elaborado a quatro mãos: Pierre Lurton, representado a vinícola bordalesa e Roberto de La Motta, enólogo da Terraza de Los Andes. Um autêntico Bordeaux “made in Argentina”.
 
Espetacular, apesar de ser um veterano de 13 anos.
 
Terrazas de Los Andes Reserva Cabernet Sauvignon 2009 – outro magnífico vinho, da mesma vinícola, que pertence ao grupo LVMH. Muito elegante e de estilo clássico, sempre recebeu ótimas avaliações dos principais críticos. Perfeito com o cardápio que incluía carnes e massa.
 
Rutini Cabernet/Malbec 2009 – esta vinícola, tradicionalíssima na Argentina, foi recentemente adquirida por dois importantes vinhateiros, Nicolas Catena e José Benegas Lynch. Mantêm vivo o sonho de Don Felipe Rutini que fundou esta empresa em 1885. Sempre grandes vinhos e este é um deles.
 
Penedo Borges Gran Reserva Malbec 2009 – produzido por brasileiros, em Mendoza, ficou à altura dos outros grandes vinhos degustados neste evento. Boa opção.
 
Hedone Gran Reserva Syrah 2009 – quase um estranho no ninho no meio dos Cabernet e Malbec, este Syrah foi uma ótima surpresa. Sem pretender ser um vinho reverenciado por todos, acabou agradando por suas marcantes características e ótima relação custo benefício.
 
Perfeito na harmonização.
 
Participaram do evento: Luiz Henrique Leão Teixeira (Lula), Jose Graça Aranha, Manuel Muller (Maneco), Gilberto Martins (Gil), Flavio Berredo, Luís Octavio de Oliveira Castro, Fernando Maximiliano, Sergio Botafogo, João Mauricio Barros Barreto (Joca), Idel Halfen, Plínio de Barros Barreto.
 
Dica da Semana: direto desta formidável degustação.
 
Hedone Gran Reserva Syrah
 
Aromas marcantes e complexos devido à sua longa passagem em barricas de carvalho.
Na boca apresenta um final longo, equilibrado de taninos suaves.
Harmoniza com carnes grelhadas, massas com molhos fortes, ossobuco com polenta, risoto de cogumelos frescos e tábua de frios.
 
 
 
 

Descritores do vinho 2 – Estrutura

Este é um descritor quase enigmático, mas constantemente utilizado pelos enófilos:
 
– “vinho bem estruturado”;
 
– “este vinho tem estrutura”.
 
Esta expressão, traduzida de outros idiomas, sempre induz uma ideia mais ligada à engenharia ou arquitetura, algo como estrutura de concreto ou metálica. Raramente empregamos este substantivo para qualificar um livro ou uma decoração, mas poderíamos usá-lo sem problemas.
 
Vinhos têm uma estrutura, basicamente composta por elementos como a acidez e os taninos, já comentados, além do teor alcoólico, doçura e algumas características com definições bastante complexas, como o conceito de mineralidade.
 
O relacionamento entre todas estas características vai definir o comportamento de nossa bebida favorita tanto no olfato quanto no paladar.
 
Embora a estrutura não seja usada como um descritor para sabores, sem ela o vinho seria insosso, insípido. Segundo os especialistas, a melhor maneira de se perceber a estrutura seria abstendo aromas e sabores.
 
Para um melhor entendimento deste descritor, resumimos a influência dos principais elementos que compõem a estrutura de um vinho:
 
Álcool – com sua textura levemente viscosa, contribui para compor o corpo do vinho. Altos teores significam vinhos mais encorpados e estruturados. A tabelinha abaixo ajuda a explicar esta classificação:
 
Baixo teor – 10 a 12%
Médio teor – 12,5 a 13,5%
Alto teor – 14 a 15,5%
 
Nas condições normais a fermentação não passa de 16% o que significa que um vinho com teor maior que este recebeu a adição de álcool. 
 
Exemplo: Vinho do Porto.
 
Taninos – são mais perceptíveis por trazer a sensação de adstringência e um pouco de amargor. Alguns tipos de taninos são pigmentos, o que vai influenciar na coloração. Vinhos tânicos são longevos, outro fator determinante para a compreensão da estrutura. Por todas estas características o Tanino é considerado a espinha dorsal do vinho. Os excessos são contrabalançados pelo teor alcoólico, que introduz viscosidade e pela acidez.
 
Acidez – este é o segundo elemento em importância. Sem ele não teríamos a sensação de frescor que ajuda a tornar o vinho uma bebida agradável. Fundamental para equilibrar os taninos, é responsável por “limpar” os sabores, deixando uma sensação de clareza.
 
Doçura – um elemento que depende diretamente do teor alcoólico. Pode parecer fácil detectar o açúcar num vinho, mas na prática pode ser muito complexo. Mesmo os tintos mais secos contêm uma boa quantidade de doçura residual que é mascarada pelo trinômio Tanino – Acidez – Álcool. Da mesma forma que o teor alcoólico, aumenta a viscosidade do vinho o tornando “macio” ao nosso paladar.
 
Analisar a estrutura de um vinho não é tarefa fácil exigindo uma série de etapas:
 
Cor e transparência – na maioria das vezes, quanto mais escuro e opaco, mais encorpado o vinho, mas existem castas que são exceções importantes, como a Nebbiolo. Seus principais vinhos (Barolo, Barbaresco e Nebbiolo) são de coloração mais clara e transparente, porém extremamente estruturados.
 
Lágrimas – ao girar suavemente a taça, percebe-se um depósito claro e viscoso no corpo do envase. São as “Lágrimas”, uma indicação da presença do Glicerol, um tipo de álcool.
 
O tempo de permanência destes depósitos é a chave para a estrutura: quanto mais tempo permanecerem visíveis, mais encorpado e estruturado o vinho.
 
Paladar – vinhos muito estruturados são pesados e difíceis de beber. Vinificados para envelhecer, precisam de tempo para “amaciar”. Por esta razão sempre passam por madeira, outro indicativo para se perceber a estrutura.
 
Para estes vinhos o melhor é sempre acompanhá-los com boa comida: carne vermelha, de caça ou queijos maturados.
 
Estruturas determinam no final se gostamos ou não de um vinho. Este é o segredo por trás de “gosto de Merlot” e “não gosto de Cabernet”.
 
Compreender esta característica, em toda sua dimensão, é considerado como o principal ponto para quem deseja ir um passo além de, apenas, degustar um bom vinho.
 
Dica da Semana: um vinho argentino bem estruturado.
 
Zuccardi Série A Cabernet Sauvignon 2013
 
A linha Serie A é uma homenagem à Argentina.
Malbec é a uva símbolo do país.
O resultado é um vinho que expressa todo potencial do terroir.
Um Cabernet típico com aroma intenso de cassis e groselha e um toque de pimentão verde.
Um vinho estruturado e com taninos integrado.
Ótima companhia para massas com molhos condimentados, para acompanhar carnes vermelhas e queijos de massa maturada.
 

Compreendendo os Taninos

Assim como a acidez, que é uma marcante característica dos vinhos brancos, os taninos são a estrutura dos tintos.
 
De forma análoga a acidez, que provoca uma intensa salivação, aquela sensação de boca seca, que muitos acham desagradável, é a marca da presença dos taninos.
 
Para prosseguirmos nesta discussão precisamos, novamente, concordar com alguns pontos comuns:
 
1 – todo vinho que foi elaborado com a presença das cascas, sementes e engaços das uvas contém tanino. Isto inclui os tintos, os rosados e alguns brancos;
 
2 – taninos estão presentes em várias bebidas que consumimos, como os sucos de maçã, uva, amora, mirtilo, framboesa, cereja, morango (frutas vermelhas), ou qualquer outro que teve seu sabor modificado para se obter alguma sensação de adstringência (adição de tanino em pó).
Cervejas, principalmente as do tipo Lager. Normalmente parte destes taninos é removida para deixar o gosto mais suave.
Chá é outra bebida rica deste composto.
 
3 – Caqui, frutas vermelhas, romã, avelã e nozes contêm altos teores de taninos. Quase todas as frutas que escurecem com o tempo contem taninos em suas cascas. A mais conhecida entre os brasileiros é a banana – a bananada ou o doce em calda são escuros por esta razão;
 
4 – especiarias como estragão, cravo, canela, cominho, tomilho e até baunilha são fontes de tanino;
 
5 – a maioria dos legumes é tânica, sendo o feijão vermelho o que contém o maior teor. Na outra ponta desta escala estão o feijão branco, o grão de bico e o amendoim sem casca;
 
6 – alimentos defumados, devido à madeira usada no processo;
 
7 – produtos à base de chocolate amargo principalmente. Licores, por exemplo.
 
8 – para encerrar esta longa lista que não pretende ser completa, o tanino está presente em todo reino vegetal: caules, sementes, madeira, folhas, etc.
 
Do ponto de vista químico, os Taninos são compostos polifenólicos. Seu nome deriva de Tanna que no alemão arcaico significava carvalho ou pinheiro (tannembaum). A expressão também é usada para definir o tingimento do couro e, por analogia, o bronzeado por luz do sol (tanning, tan).
 
Durante as etapas de fermentação e maceração do vinho, o tempo de contato do mosto com as cascas, sementes e caules permite a dissolução do tanino no líquido (álcool e água). Na etapa de maturação nos barris de carvalho o tanino é transferido por contato. O mesmo efeito é obtido quando se utiliza cavacos, gravetos ou tanino em pó.
 
 
Algumas castas são mais tânicas que outras, mas isto não significa que seus vinhos também o sejam. Tudo vai depender da forma como serão vinificados. Eis uma relação comparativa:
 
 
Muito tanino   Pouco Tanino
Nebbiolo   Barbera
Cabernet Sauvignon   Zinfandel
Tempranillo   Pinot Noir
Montepulciano   Primitivo
Petit Verdot   Grenache
Petite Sirah   Merlot
 
Uma campeã indiscutível é a Tannat, hoje a casta emblemática do Uruguai, que nas mãos de competentes enólogos entregam vinhos maravilhosos.
 
Isto nos leva a discutir a importância dos taninos na vinificação. Para não nos estendermos por intrincados caminhos químicos, a arte de bem vinificar pode ser resumida numa única expressão:
 
“Gerenciar os taninos!”
 
Sem eles os vinhos ficam sem graça. Não nos conquistam.
 
Em excesso nos incomodam tirando todo o prazer em degustar.
 
Até a cor dos vinhos tintos é influenciada por este composto.
 
Alguns conselhos finais:
 
– quem não gosta da sensação de adstringência dos vinhos tintos opte por consumir vinhos brancos que não passam por madeira e nem são vinificados com suas cascas e engaços;
 
– vinhos jovens tendem a ser mais tânicos que os maduros. Muitas vezes deixar um vinho novo guardado por um tempo melhora a qualidade de seus taninos;
 
– se na primeira prova o vinho estiver muito agressivo, deixe-o respirar por mais tempo, use um decantador e o esqueça por um par de horas;
 
– se este procedimento não ajudar é hora de riscar este rótulo do caderninho de compras – foi mal vinificado e ponto final. Nem para cozinhar vai servir;
 
Para refletirmos: Apesar de ser chamada de Rainha das uvas tintas, a Cabernet Sauvignon entra em qualquer relação de castas tânicas. Entretanto seus vinhos são considerados, em todo o mundo, como os melhores, sejam eles de Bordeaux, da Califórnia, do Chile ou de outros países produtores.
 
Qualquer enólogo gostaria de fazer um belo Cabernet e ser reconhecido por isto.
 
Por que será?
 
Dica da Semana: um aveludado Tannat do vizinho Uruguai.
 
Pisano RPF Tannat 2011
 
 
Ótimo tinto da casta Tannat, a melhor e mais plantada do Uruguai, onde ela se mostra menos dura e tânica que na sua região de origem, Madiran, mas continua cheia de corpo e cor.
O bouquet é concentrado e o palato macio, rico e bastante saboroso.
O RPF foi recomendado pela revista do Guia Peñin, o mais respeitado guia espanhol de vinhos.
 
 
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