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Merlot, eterna consorte ou rival?

Recentemente prestei uma consultoria para um evento gastronômico sugerindo alguns vinhos para serem degustados. A harmonização mais importante deveria contemplar o prato principal, escalopes de filet ao molho de shitake fresco e champignon, com um tinto adequado. A empresa encarregada de fornecer os vinhos ofereceu uma relação com vinhos portugueses do Douro e do Alentejo, Cabernet Sauvignon do Chile e da Argentina, além de duas opções de Malbec.

Eram bons vinhos, mas muito “pesados” para um prato que, apesar da carne, é leve. Qualquer um deles sobressairia, escondendo os delicados sabores do molho. Sugeri como alternativa, um vinho baseado na casta Merlot, o que provocou uma reação de surpresa por parte dos interessados, deixando a sensação que esta nobre casta anda meio esquecida. Mas não deveria ser assim, seus vinhos, invariavelmente, são muito fáceis de beber e agradam aos mais ecléticos paladares.

Preferências à parte, a Merlot é uma das principais varietais dos vinhos de Bordeaux. Na margem esquerda do Rio Gironde, é vista como uma consorte: por ser uma uva mais suave e menos tânica, é usada para domar as características mais agressivas da Cabernet Sauvignon. Na margem direita, principalmente em St. Emilion, o quadro se inverte: ícones como Petrus ou Cheval Blanc são elaborados a partir dela.

Então, de onde vem este ostracismo ou desprezo, embora continue firme em Bordeaux?

Vários fatores contribuíram para isto. Nascida e criada na França, a versátil Merlot foi transportada para diversos países com ótimos resultados quando vinificada, gerando deliciosos varietais ou cortes. Vinhos tão saborosos e agradáveis que se tornaram mania em alguns países das Américas, como nos Estados Unidos, onde houve uma verdadeira avalanche de garrafas de bons vinhos elaorados com ela. No nosso país houve uma tentativa para torná-la a nossa uva emblemática, nos mesmos moldes da Carménère, da Malbec, do Tannat ou da Touriga Nacional. Nossos melhores caldos são elaborados com esta variedade de uva.

Infelizmente esta superexposição ou massificação acabou por gerar efeitos colaterais indesejados como, qualidade duvidosa, excesso de oferta e preços ridiculamente baixos, descaracterizando a nobreza desta casta. Para complicar um pouco mais, um dos primeiros filmes sobre o universo do vinho, que obteve sucesso em todo o mundo, o “Sideways – Entre umas e Outras”, tentou liquidá-la: Miles, um dos protagonistas, afirmava que Merlot não era vinho.

O impacto foi sentido na vinicultura americana, houve uma notada queda na venda destes vinhos, muito embora houvesse uma pegadinha quase no final da narrativa: para Miles, o melhor vinho de sua adega era o mítico Cheval Blanc, um belíssimo corte de Merlot com um quase nada de Cabernet Franc. Esta preciosa garrafa acaba sendo usado para curar um momento de depressão, num copo de isopor e acompanhado de um hambúrguer de lanchonete…

No Chile, um dos grandes produtores desta casta atualmente, os vinicultores acreditavam na existência de uma mutação da Merlot que amadurecia mais tarde. Coube ao ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot desfazer o engano ao descobrir que eram parreiras da extinta Carménère.

O nome Merlot seria o diminutivo, em francês, de Melre (Melro, em português), talvez por causa de sua cor escura. Carinhosamente chamada de “pequeno pássaro”, produz vinhos exuberantes, apetitosos e aveludados, em contraste com sua rival, Cabernet Sauvignon, com seus firmes e poderosos taninos. Em Bordeaux, uma não vive sem a outra,

Dica da Semana:  Que tal um excelente Merlot?
 
Casa Lapostolle Merlot 2012
A uva Merlot é uma das grandes especialidades da Casa Lapostolle, mostrando grande caráter varietal e profundidade.Uma das escolhas mais “sólidas” para a Wine Spectator, este saboroso tinto é elegante, macio e bem equilibrado.Robert Parker elogiou o corpo “concentrado e harmonioso, com taninos soberbamente maduros”.
Premiações: Wine Spectator: 87 pontos (safra 07); Robert Parker: 88 pontos (safra 02).
 

Tudo que vocês precisam saber sobre vinhos doces

Um interessante comentário do leitor Antônio Daniel, de Salvador BA, foi o ponto de partida da coluna desta semana. Reproduzo a seguir:
 
“Existem vinhos tintos doces de qualidade ou são todos ruins tal qual os que encontramos em supermercados”?
 
O que chamou a atenção foi o “são todos ruins”, uma quase verdade para o consumidor brasileiro que tem uma razão muito particular: a nossa legislação não faz uma distinção entre um vinho obtido a partir de uvas viníferas e os denominados “vinhos de mesa” que são produzidos com uvas comuns, iguais às que compramos no mercado. Isto ocorre por pressão dos produtores dos vinhos de garrafão que dominam as entidades de classe que têm poder de lobby no congresso. A única distinção, do ponto de vista legal, é “Vinho Fino” e “Vinho de Mesa”.
 
Mesmo sabendo que vamos receber uma quantidade de críticas, volto a afirmar que uma bebida obtida através da fermentação de um suco de uvas comuns NÃO É VINHO! Que arranjem outro nome, por exemplo, “bebida fermentada de uva”, “cerveja de uva”, etc.
 
Vinho, de verdade, tem que ser elaborado com uvas do tipo “vitis vinífera”. Para demonstrar isto de forma cabal só precisamos de um bom dicionário:
 
Vitis: Videira, vite, vinha, vinhal, vinhedo ou parreira (do latim Vitis, L.)
 
Vinífera: que produz vinho.
 
Provavelmente algum leitor mais atento já deve estar curioso sobre as diferenças entre a Vinífera e a comum, conhecida como Labrusca ou uva americana. Existem algumas, mas a que nos interessa é a facilidade em se obter a fermentação de um mosto. As viníferas, se colhidas no ponto certo, fermentam sozinhas. As outras precisam de uma ajuda para iniciar este processo.
 
Como fazem para fermentar a uva comum então?
 
O mais simples é acrescentar açúcar, muita quantidade se o produto final for do tipo suave. Se não conseguirem a cor ou o sabor desejado, seguem acrescentando melado, molho de soja, pipi de gato, vinho velho, tinta de sapato e o que mais tiver à mão. Entenderam porque dá dor de cabeça no dia seguinte?
 
Vinho “suave” é intragável, “rascante” não serve nem para lavar o cachorro.
 
Vamos falar de vinhos doces verdadeiros cuja elaboração é muito mais complexa do que a do vinho seco. Apresentaremos, a seguir, os diferentes métodos utilizados que podem ser focados na concentração da uva para que fique muito doce ou em processos de elaboração na cantina. Uma destas técnicas, a Fortificação, foi abordada na coluna da semana passada. Em todos os casos o produto final é de alta qualidade, a quintessência do vinho.
 
As técnicas, abaixo, enfocam na concentração dos açúcares na uva:
 
1 – Deixar as videiras serem atacadas pela Botrytis Cinerea, a podridão nobre. Isto só é possível quando a temperatura e a umidade estão adequadas. Este fungo extrai líquido das uvas deixando-as extremamente doces, mantendo a acidez que é desejável. O controle deste processo é dificílimo e muito delicado. Alguns dos mais famosos doces são elaborados desta forma;
 
Exemplos: Sauternes, Barsac, Tokaji, Ausbruch, Bonnezeaux, Quarts de Chaume, Coteaux de Layon, Sélection des Grains Nobles, Beerenauslese, Trockenbeerenauslese.
 
2 – Empregar um processo denominado Passerillage, uma espécie de passificação obtida com a uva ainda na videira. Muitos agricultores torcem o caule do cacho, sem rompê-lo. A uva deixa de receber os nutrientes e acaba secando, com alto teor de açúcar;
 
Exemplos: Jurançon, Riesling Australiano do tipo “Cordon Cut”.
 
3 – Colheita Tardia. As uvas são colhidas tardiamente, quando já estão muito maduras. Dependendo da região pode ocorrer a podridão nobre ou a passerillage. Esta técnica é muito empregada nos vinhos da América do Sul.
 
Exemplos: Spätlese, Auslese, Vendange Tardive, Late Harvest, Cosecha Tardia.
 
4 – Passificação. As uvas colhidas são colocadas para secar em esteiras de palha ou caixas de madeira, da mesma forma como se obtém a uva passa que estamos habituados a consumir.
 
Exemplos: Amarone, Vin Santo, Recioto, Pedro Ximénez, Passito.
 
5 – Congelamento. Só é possível em regiões com clima muito frio. As uvas são deixadas nas parreiras durante o inverno. Como o açúcar não congela, ficam extremamente doces. Em regiões de clima mais tropical é possível obter-se este efeito através de criogenia.
 
Exemplos: Eiswein, Icewine.
 
As técnicas seguintes são aplicadas durante ou após a vinificação.
 
6 – Resfriamento e filtragem. Consiste em baixar a temperatura do mosto em fermentação de tal maneira que ela estanca. Em seguida filtra-se o líquido para remover os resíduos da levedura, deixando o açúcar concentrado.
 
Exemplos: Kabinett, Moscato d’Asti, California Blush, Prosecco.
 
7 – Embora seja um tabu, muitas vezes não permitido por lei, a adição de açúcar é comum na elaboração de espumantes. A técnica é chamada de “dosagem” (licor de expedição), sempre aplicada depois da segunda fermentação, com o objetivo de corrigir o açúcar residual ou elaborar um produto final mais doce. Quando um espumante não recebe nenhum açúcar adicional é vendido como “Brut Nature” ou “Zero Dosage”.
 
Não precisamos ser experts para perceber que vinhos doces exigem muito mais trabalho e dedicação para serem elaborados. Por esta razão são muito caros e, quase sempre, vendidos em meia garrafa para terem preços competitivos.
 
Em Setembro de 2011, publicamos uma série de 3 partes sobre os vinhos doces. Bem diferente do texto de hoje, contamos as histórias por trás destas delícias que, definitivamente, adoçam a vida. Para quem ainda não leu, eis os links:
 
 
 
 
Dica da Semana:  um Ice Wine bem brasileiro, o Vinho do Gelo!
 
ICEWINE Pericó (Cabernet Sauvignon)
 
Vinho licoroso elaborado com uvas colhidas maduras e congeladas naturalmente nos vinhedos temperatura de -7,5º C.
 Aroma intenso e muito complexo, com forte presença de frutas como uva passa, figo seco, tâmaras secas, ameixa seca e um discreto aroma de goiaba. No palato é doce, com ótima acidez e persistência. Deve ser consumido entre 9º C a 11ºC.
 Harmonização: sobremesas à base de pêra e frutas secas, queijos azuis Roquefort e Gorgonzola, queijos de fungo branco Brie e Camembert, Foie gras. É um vinho de meditação e portanto pode ser degustado e apreciado sem nenhum outro tipo de alimento.
 Garrafa de 200ml.

Recapitulando sobre os tipos de vinhos

Chamou a nossa atenção uma dúvida comum de alguns leitores sobre a diferença entre Vinho do Porto e Vinho do Douro.
 
Embora este blog sobre vinhos nunca tenha pretendido ser um curso, foi necessário nas primeiras publicações estabelecer uma linguagem comum entre autor e leitores, razão pela qual alguns textos foram considerados como didáticos. Em várias oportunidades mencionamos os diferentes tipos de vinhos que existem no mercado, inclusive os dois que motivaram a dúvida.
 
Faço um convite a todos os leitores que releiam alguns dos meus textos sobre este tema, que foram publicados em 2001. Para ajudar, aqui estão alguns links:
– Espumantes, Brancos, Rosés, Tintos, Doces e Fortificados;
 
 
– Vinhos Fortificados – 1ª parte (a continuação desta série fala do Jerez e do Madeira);
 
Mais recentemente, nas colunas sobre a viagem por Espanha e Portugal, novos conhecimentos podem ser adquiridos.
 
Para a turma que prefere as respostas diretas:
 
Vinhos do Porto são elaborados adicionando-se, durante a fase de fermentação, uma quantidade de aguardente neutra para interromper o processo. Como nem todo o açúcar é convertido em álcool, o produto final tem sabor adocicado e muito agradável, apesar ao alto teor alcoólico. Este processo é a “fortificação”;
 
Vinhos do Douro são os vinhos, não fortificados, produzidos nesta região vinhateira com as castas típicas de Portugal. Todo Vinho do Porto é, em tese, um “Vinho do Douro”, pois somente lá podem ser elaborados. Mas, dentro desta lógica, nem todo Vinho do Douro seria um Porto.
 
No intuito de não deixar mais nenhuma dúvida sobre este tema, apresento, a seguir, uma extensa relação de tipos de vinhos que são produzidos atualmente. Não pretende ser completa, serão citados, apenas, os produtos mais conhecidos.
 
TIPOS DE VINHOS
 
A primeira grande divisão é quase intuitiva: Espumantes; Brancos; Rosés; Tintos e Vinhos de Sobremesa (doces, fortificados, etc.).
 
1 – ESPUMANTES
 
Podem ser vinificados em Branco, Rosé ou Tinto.
 
Denominações habituais:
 
Champagne – tradicional corte de Chardonnay e Pinot Noir, produzido unicamente nesta região demarcada, utilizando o método Tradicional. Somente estes vinhos podem usar a denominação Champagne.
 
Vin Mousseux – literalmente significa “vinho efervescente”. Logo, o Champagne é um vin mousseux, mas nem todo vin mousseux é um Champagne. Existem outros espumantes franceses que são comercializados com denominações diferentes:
 
    Cremant – produzido no Loire, na Borgonha e na Alsácia;
    Blanquet – elaborado na região de Limoux.  

Cava – típico da Espanha, vinificado com uvas locais como Macabeu, Parellada e Xarel-lo.

 
Prosecco – espumante italiano com denominação protegida. Obrigatoriamente elaborado com a casta Glera, antiga Prosecco, proveniente da região do Veneto (Conegliano, Valdobbiadene).
 
Asti – espumante italiano produzido com a casta Moscato. O mais famoso é o Moscato D’Asti, da região de Monferrato.
 
Lambrusco – vinho frisante italiano produzido a partir das seis variedades da casta Lambrusco, conhecidas como Grasparossa, Maestri, Marani, Montericco, Salamino, e Sorbara. Os mais famosos são os da região da Lombardia (Emilia Romana).
 
Brachetto d’Acqui – espumante tinto e adocicado elaborado na região do Piemonte. Similar ao Lambrusco.
 
Sekt – nome alemão para vinho espumante. Geralmente produzido com Riesling, Pinot blanc, Pinot gris e Pinot noir.
 
Quanto ao teor de açúcar variam de Brut (seco) até Doux (doce)
 
2 – VINHOS BRANCOS
 
As castas mais conhecidas são:
 
Albariño ou Alvarinho
Moscato ou Muscat (*)
Antão Vaz
Pinot Blanc
Assyrtiko
Pinot Gris ou Pinot Grigio
Chardonnay
Riesling
Chenin Blanc
Sauvignon Blanc
Fiano
Semillon
Furmint
Sylvaner
Greco di Tufo
Torrontés
Grüner Veltliner
Verdejo
Malvasia
Viognier

(*) mais de 200 variedades 

Muitas vezes vamos encontrar vinhos brancos que recebem a denominação das regiões onde são produzidos.

Exemplos:
 
Sancerre e Pouilly-Fumé, produzidos com Sauvignon Blanc;
Chablis e Montrachet, obtidos com a casta Chardonnay;
Vouvray, elaborado com Chenin Blanc.
 
VINHOS BRANCOS DOCES: praticamente as mesmas castas produzem algum vinho adocicado.
 
As denominações mais conhecidas são:
 
Sauternes (Semillon, Sauvignon Blanc, e Muscadelle);
Tokaji (Furmint, Hárslevelu);
Gewurztraminer;
Riesling com predicados (Kabinet, Spatlese, Auslese, etc.);
Orvieto Abboccato;
Ice Wines (Eiswein);
Muller-Thurgau;
“Late Harvest” ou “Colheita Tardia”.
 
3 – VINHOS ROSÉS 

As mesmas castas usadas para produzir vinhos tintos podem produzir vinhos rosados. Os mais apreciados são:

 
Cabernet Sauvignon Rosé
Cabernet Franc Rosé
Grenache Rosé (Garnacha)
Pinot Noir Rosé
Syrah Rose
Sangiovese Rose
As denominações mais comuns são:
 
Provence Rosé
Loire Rosé
Bandol Rosé
Rose D’Anjou
Exceções:
 
White Zinfandel, White Merlot, Vin Gris e Blush Wine – são rosados.
 
4 – VINHOS TINTOS
 
As castas mais conhecidas são:
 
Aglianico
Mourvédre
Barbera
Nebbiolo
Cabernet Franc
Nero d’Avola
Cabernet Sauvignon
Petit Syrah
Carménère
Petit Verdot
Dolcetto
Pinot Noir
Gamay
Pinotage
Grenache ou Garnacha
Sangiovese
Cannonau
Syrah ou Shiraz
Malbec
Tannat
Mencia
Tempranillo
Merlot
Touriga Nacional
Montepulciano d’Abruzzo
Zinfandel ou Primitivo
Muitas vezes vamos encontrar vinhos tintos que recebem a denominação das regiões onde são produzidos.
 
Exemplos:
 
Bordeaux – corte com as varietais clássicas de lá: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, entre outras;
Borgonha – sempre Pinot Noir;
Beaujolais – sempre Gamay;
Chianti, Brunello di Montalcino, Vino Nobile di Montepulciano – diferentes vinhos elaborados a partir da casta Sangiovese ou seus clones;
Barolo, Barbaresco – diferentes vinhos elaborados com a casta Nebbiolo;
Châteauneuf du Pape – corte de até 13 varietais típicas do Vale do Ródano, podendo incluir uvas brancas;
Amarone – corte elaborado com base nas seguintes castas: Corvina, Rondinella e Molinara (pode haver outras), previamente passificadas;
Super Toscanos – vinhos elaborados com a uva Sangiovese cortada com uma casta europeia: Cabernet Sauvignon, Merlot, etc..
 
Alguns raros vinhos tintos doces:
 
Ochio di Pernice; Recioto della Valpolicella; Freisa
 
5 – VINHOS DE SOBREMESA (fortificados)
 
A) FORTIFICADOS TINTOS – vinhos que receberam em algum momento do seu processo de elaboração uma quantidade de aguardente neutra.
 
Porto – é uma denominação protegida. Só pode ser elaborado na região vinícola do Rio Douro com castas específicas.
Banyuls – denominação protegida francesa da região de Roussilon
Maury – denominação específica da cidade homônima
Rasteau – denominação protegida do vale do rio Ródano
 
B) FORTIFICADOS BRANCOS
 
Porto Branco – é seco se comparado ao Tinto
Muscat – os mais famosos são os de Frontignan, Beaumes de Venise e Rivesaltes
 
C) FORTIFICADOS E OXIDADOS – além da adição de aguardente são submetidos a processos como altas temperaturas ou Solera para que fiquem com sabor especial.
 
Jerez ou Sherry
Madeira
Marsala
Moscatel de Setúbal
Vin Santo (este não é fortificado)
Dúvidas ainda?
 
Dica da Semana:  nesta época de altos impostos, nada melhor que uma boa relação custo x benefício.

Guatambu Luar Do Pampa Chardonnay
Coloração esverdeada palha com tons platinados.
Aromas de chá verde, notas frutadas, como abacaxi e melão maduros, sobre um final de flores brancas.
Ao paladar, apresenta-se macio, untuoso, frutado e elegante, com acidez pronunciada, que nos brinda um vinho com intensa fruta, como melão e pera, aliado a um grande frescor.
Perfeito para acompanhar frutos do mar, saladas, bruschettas, queijos de pasta branda e frangos.

Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – I

Mais uma grande aventura, desta vez em terras do Velho Mundo. O principal objetivo era conhecer a região do Douro, Portugal, onde é produzido o famoso vinho do Porto e também alguns dos melhores vinhos de alta gama deste tradicional país produtor. Aproveitamos a oportunidade para experimentar a sempre sofisticada gastronomia espanhola e alguns de seus vinhos icônicos.
 
Nosso roteiro começou por Madrid onde ficamos um par de dias. Depois, a bordo de um confortável automóvel, passeamos por Ávila, Salamanca, Pinhão, Vila Real, Peso da Régua, Porto, Óbidos, Sintra e Lisboa. Foram 10 dias e muito chão. Visitamos algumas Quintas no Alto Douro onde conhecemos pessoas encantadoras, restaurantes deliciosos e vinhos espetaculares.
 
Ao contrário de outros relatos das nossas viagens, este será mais focado no aspecto enogastronômico. Começamos pela nossa estadia em Madrid.
 
O Restaurante Estay
 
 
Com um estilo que se intitula “Pinchos & Vinos” procura unir a ideia das Tapas, pequenos bocados, com alta gastronomia. Um ambiente muito acolhedor e confortável com um cardápio para se pedir todas as opções e passar longas horas desfrutando boa comida e bons vinhos.
 
 
Para acompanhar a diversidade de pequenas porções escolhidas (Queso puro de Oveja, Jamón Bellota, Crepe de Txangurro, etc.) selecionamos uma ótima Cava, a Juve y Camps Rose Brut de Pinot Noir, que harmonizou corretamente.
 
Este produtor já recebeu diversos prêmios por suas Cavas, talvez as melhores do país. A ilustração a seguir mostra as medalhas ou notas deste espumante.
 
 
Na nossa segunda e última noite na capital espanhola fomos nos divertir na tradicional Bodega de La Ardosa, uma casa fundada em 1892. Um ambiente que nos leva de volta no tempo. Oferece um cardápio das mais tradicionais tapas e uma seleção de bebidas que passeiam desde a boa cerveja até um vermute tirado diretamente do barril, como se fosse o nosso Chopp.
 
 
Na manhã seguinte partimos para Salamanca.
 
Bar Tapas 2.0, Salamanca
 
Este foi o local escolhido para o almoço na chegada a esta cidade universitária, cheia de história. Muito interessante ser chamado de “Gastrotasca”, praticamente um bar de rua, sem nenhuma pretensão. Mas tudo que nos foi servido estava delicioso. Para acompanhar um grande vinho: Predicador!
 
 
Elaborado por Benjamin Romeo, autor do consagrado Contador (100 pts Parker), este vinho, embora jovem (2012) já mostrava excelentes qualidades. Um corte de 94% de Tempranillo e 6% de Garnacha, que estagiou por 15 meses em barricas de carvalho francês de 1º uso.
 
O nome é uma homenagem ao eterno personagem de Clint Eastwood, “The Preacher”, reparem no chapéu do rótulo. Excelente vinho.
 
Restaurante El Monje, Salamanca
 
Para a despedida, jantamos num dos melhores da cidade. Ambiente elegantíssimo, comida refinada e uma carta de vinhos que nos deixou cheio de dúvidas sobre qual escolher. Decidimos pelo Abadia Retuerta Selecion Especial 2009, um clássico da região de Castilla e Leon (Sardon del Duero). A safra de 2001 foi considerada a melhor do mundo no International Wine Challenge de 2005. Um delicioso e complexo corte de 75% Tempranillo, 15% Cabernet Sauvignon e 10% Syrah que estagiou por 16 meses em barricas de carvalho francês e americano.
 
 
Plagiando o lema da vinícola: “um trabalho bem feito”. Ficou perfeito com os pratos pedidos, inclusive com o meu polvo, acreditem.
 
 
Próxima parada: Pinhão, no coração do Douro, Portugal.
 
Dica da Semana:  o irmão menor do melhor vinho degustado na Espanha.
 
Abadia Retuerta Rívola 2009
60% Tempranillo, 40% Cabernet Sauvignon
Cor cereja intenso, lágrima densa e transparente.
No nariz, se mostra apurado, com aromas complexos: morango, café, alcaçuz, pimenta negra, cacau.
Na boca, é redondo, frutado muita fruta roxa, barrica, caramelo e toque mineral.
Robert Parker: 88 pontos
 
 
 

Rótulos diferentes, estranhos e engraçados

Não há como negar: alguma vez compramos uma garrafa de vinho apenas porque gostamos do seu rótulo ou nome.
A função desta etiqueta colada na garrafa é esta mesmo, atrair o olhar do comprador, além de cumprir exigências legais de cada país produtor. Existem dezenas de escritórios de design especializados nesta tarefa. Não é uma escolha simples, muitas vezes o rótulo ou o que está nele define o caráter do vinho ou o do produtor que o elaborou. Mas alguns produtos transcendem estas regras básicas e elaboram verdadeiras joias, algumas com histórias fascinantes.

Uma delas é bem conhecida nossa, o famoso vinho da Concha y Toro “Casillero del Diablo”. Reza a lenda que o fundador desta importante vinícola, Don Melchor Concha y Toro se deu conta que estava sendo roubado por seus próprios empregados: à noite, entravam na cave e levavam os melhores vinhos que ali estavam repousando, justamente aqueles reservados para o patrão.

Em vez de colocar alarmes ou soltar cães ferozes, decidiu espalhar um boato que a adega subterrânea era a “câmara do diabo” (tradução de Casillero de Diablo), a morada de Belzebu, e quem acessasse aquele covil estaria condenado ao inferno. Funcionou.

Hoje em dia uma imagem de um diabinho saúda os visitantes que vão conhecer este local.

Outro rótulo curioso que já foi mencionado numa coluna anterior foi o “Le Cigarre Volant” ou “O Disco Voador”. O bem humorado produtor norte americano Randall Graham, um especialista nas castas típicas do Vale do Ródano, decidiu fazer uma fina gozação com uma lei francesa que proíbe o pouso de discos voadores nos vinhedos daquela região. Apesar da brincadeira, o vinho é delicioso.

Este outro rótulo diferente vem da França. Um produtor indignado com a falta de respeito dos legisladores com a casta Jurançon Noir, da região de Cahors, que não acataram um pedido de Denominação de Origem, se vingou colocando no rótulo do seu bom vinho toda a sua indignação, raiva e decepção:

A tradução literal seria “Vocês F*** Meu vinho” (este blog é familiar…). O prejuízo para o produtor com a falta da AOC (denominação de origem) é ter que vender seu produto como “de mesa”. Na França são os vinhos de qualidade inferior. Mas a piada é boa!

Um dos rótulos mais estranhos da Austrália é o “Dead Arm Shiraz” do famoso produtor D’Aremberg.

A tradução literal seria “Braço Morto”, uma referência a uma forte contusão no ombro que tem como consequência deixar o braço sem ação. Mas há uma interessante pegadinha: esta mesma expressão é usada para designar uma doença da videira. Parte dela fica morta e toda a energia da planta acaba sendo concentrada na parte que sobrevive. Este vinho é produzido com os cachos obtidos unicamente nas parreiras atacadas por esta doença. Um vinho único. Deste mesmo produtor vamos encontrar outros nomes estranhos como “Money Spider” (aranha do dinheiro) e “Twenty-Eight Road” (Rodovia 28).

A Nova Zelândia também tem seu rótulo esquisito: “Cat’s Pee on a Gooseberry Bush” ou “Xixi de Gato num Pé de Groselha”, um ótimo Sauvignon Blanc da região de Marlborough, reconhecida como o melhor terroir para esta casta. Por trás da história deste rótulo, muita ironia.

Surpreendidos pela qualidade e pelos diferentes aromas e sabores destes clássicos neozelandeses, os críticos adotaram algumas expressões bem deselegantes para defini-los em comparação com vinhos do Loire: “sweaty armpits” (axílas suadas); “freshly cut grass” (grama recém-cortada), entre outras.

A vinícola Coopers Creek percebeu uma oportunidade e capitalizou em cima destas expressões: apoderou-se de um bordão da respeitada crítica inglesa Jancis Robinson (cat’s pee) e batizou o seu vinho. Um dos presentes favoritos em festinhas de escritório…

Para terminar uma história que vem da Hungria e tem um curioso final brasileiro.

Durante a invasão conduzida pelo Sultão Suleimão o Magnífico, em 1552, os soldados que defendiam o Castelo de Eger eram motivados com uma deliciosa comida e grandes quantidades de um vinho tinto que bebiam constantemente. Durante os ataques do exército turco, os húngaros defendiam suas posições com bravura e ferocidade incomuns.

Para explicar tal disposição, corria um rumor entre os soldados turcos que os húngaros misturavam o vinho com sangue de touro. Esta seria a única explicação possível para tanta disposição em defender o Castelo. Cansados, os turcos desistiram do ataque e se retiraram. Vitória para os Húngaros!
O vinho foi batizado como “Egri Bikaver” (Sangue do Touro de Egri) numa bela homenagem.

Aqui no Brasil, embora não exista a lenda, temos uma bebida homônima, vendida como vinho embora seja produzido a partir de uvas comuns. Um campeão de vendas…

Homenagem, referência ou apenas uma coincidência?

Dica da Semana: já pensando nas festas de fim de ano um bom espumante para começar o estoque.

Cave Pericó Espumante Brut

Para a elaboração deste espumante Brut foram utilizadas as cepas Cabernet Sauvignon (60%) e Merlot(40%).
Apresenta uma coloração amarelo palha. Seu aroma é fino e delicado com notas de frutas brancas, pêra e maçã verde.
Em boca tem ótima acidez e equilíbrio, com boa cremosidade, muito persistente e com retro-olfato agradável e frutado.

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