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Os aromas mais comuns em tintos ou brancos não se resumem aos de frutas. Há muitos outros que podem ser identificados por olfatos bem treinados. Fizemos a sugestão do “dever de casa”, mas isto não era obrigatório e nem necessário para apreciar um bom vinho. Era, apenas, desejável.
É sabido que os aromas de nossos alimentos e bebidas influenciam o nosso paladar: o cheiro que sentimos definirá o gosto em nosso palato. Isto vale para o vinho embora muito do que se sente no nariz não se repete com a mesma intensidade na boca.
Para completar a nossa escala aromática, vamos passear pelas notas que tem origem nas flores, especiarias, ervas, madeira e alguns outros mais raros e curiosos. (apresentaremos os mais comuns apenas)
Começamos pelos Tintos:
Eucalipto, Hibisco, Lavanda e Rosa.
Aromas Herbáceos e de Especiarias:
Alecrim, Anis, Baunilha, Canela, Hortelã/Menta Orégano, Pimenta do Reino e Sálvia.
Aromas Madeirados e Outros:
Café, Chá Preto, Chocolate, Cogumelos (terra), Couro, Cravo da Índia, Defumado (fumaça), Endro (Dill), Folhas Secas, Grafite, Noz Moscada, Sândalo, Tabaco e Toucinho (bacon). Pode-se acrescentar, novamente, Baunilha, que surge durante o contato com o Carvalho, notadamente o de origem Americana.
“Grafite” parece fora de lugar, mas ele existe é já foi um aroma peculiar em alguma fase de nossas vidas, afinal, apontamos muitos lápis…
Vinhos Brancos:
Flores Brancas, Flor de Laranjeira, Madressilva e Rosa.
Aromas Herbáceos e de Especiarias:
Açafrão, Aipo, Baunilha, Capim, Erva Cidreira, Gengibre, Tomilho e Pimenta Dedo de Moça.
Aromas Madeirados e Outros:
Açúcar Queimado, Amêndoa, Caramelo, Cera de Abelha, Coco, Cogumelos, Creme de Leite, Derivados de Petróleo (Querosene), Manteiga, Mel, Noz Moscada, Pedra de Isqueiro, Pó de Giz, Solução Salina e também Baunilha como no caso do vinho tinto.
“Pedra de Isqueiro” é aquele aroma que sentimos quando acionamos este acessório e sai uma faísca sem a chama.
Querosene, embora seja um aroma quase desagradável, é muito comum nos Riesling alemães ou alsacianos, sendo um indicativo de boa qualidade.
Giz ou Pó de Giz é nosso velho conhecido dos tempos de bancos escolares. Um dos aromas minerais mais fáceis de identificar. Outros seriam o de cascalho e terra molhada.
Algumas castas têm características mais marcantes e fáceis de perceber. Eis algumas delas:
– Cabernet Sauvignon, Malbec, Tempranillo e Syrah tem predominância das Frutas Negras;
– Pinot Noir, Grenache, Sangiovese, Merlot e Nebbiolo tem predominância das Frutas Vermelhas;
– Viognier, Chenin Blanc, Moscato, Sauvignon Blanc e Gewurtztraminer apresentam com mais facilidade os aromas de frutas de árvores;
– Semillon, Chardonnay, Riesling e Pinot Grigio apresentam, quase sempre, aromas cítricos.
Dependendo do binômio vinho/casta os aromas podem denunciar alguma coisa a mais sobre o que vamos beber. Os especialistas nas degustações às cegas usam muito estas técnicas. Por exemplo:
– num bom Chardonnay o principal aroma de fruta pode variar do limão até o abacaxi, indicando um vinho mais jovem ou mais maduro;
– Se um Chardonnay (principalmente) apresentar aromas e sabores “amanteigados” significa que passou por uma fermentação malolática e/ou por madeira;
– tintos com aromas de Pimenta do Reino e minerais (cascalho), dependendo da intensidade dos taninos, podem indicar vinhos de Bordeaux (tânicos), Rhône (redondos) ou mesmo alguns italianos se houver algum aroma de fruta por trás;
Enfim, há uma série interminável de combinações possíveis e só com muitas “horas de taça” nos tornaremos “experts” neste delicioso assunto.
Dica da Semana: uma das minhas castas brancas preferidas.
Produtor:Cantine Monfort
Região: Alto Ádige, Trentino, Itália
Delicado, aromático, com sabores encorpados no palato, e um final elegante e bem equilibrado. Excelente como aperitivo, com peixes e carnes brancas.
Participar de uma ou mais confrarias de enófilos é sempre bom, divertido e uma oportunidade de se degustar ótimos vinhos. Mas ser considerado o “especialista” da turma pode ser complicado…
Na Confraria da Lagoa, um dos confrades tem a (justa) fama de ser um excelente cozinheiro, um verdadeiro ‘Chef’, como gostamos de brincar. Ele já havia sido intimado, diversas vezes, a produzir o seu prato de referência, uma (con)fusão entre as culinárias Indiana, Baiana e Grega que leva o artístico nome de “Arroz de Afrodite e Iemanjá”, elaborada cocção com camarões, curry e uma infinidade de outros temperos e acompanhamentos cuja combinação ele, sabidamente, guarda a sete chaves.
Como seria necessária uma cozinha completa para o nosso mestre cuca desenvolver a sua arte, encontrar um local para este almoço ou jantar era de importância capital, com várias exigências impostas pelos demais confrades: fácil acesso, opções de estacionamento e temperatura amena ou ar refrigerado. Para dificultar um pouco mais esta sonhada reunião, um último complicador: coordenar agendas…
Para resolver o problema só mesmo o Papai Noel! Pensando nisto, decidimos fazer o último encontro do ano e trocar os presentes de amigo oculto ao sabor dos quitutes do nosso “piloto de fogão”. Para apimentar ainda mais a reunião, eu e o meu comparsa da coluna, José Paulo, que gentilmente ofereceu a sua mansão para sediar o almoço, fomos desafiados a harmonizar o prato principal. Desafio aceito, sem mais delongas.
As dificuldades de conciliar os sabores deste prato, particularmente picante, com uma bebida, de modo a não prejudicar nem um nem outro começam com o ingrediente predominante, o “curry”, de origem indiana, que é um condimento composto por diversas especiarias e pimentas. Escolher um vinho para enfrentar esta avalanche de sabores exigiu uma pesquisa detalhada.
Primeiro olhamos o ponto de vista cultural. Na gastronomia da Índia o vinho não aparece como um aliado. Boa parte da população, por motivos religiosos, não consome álcool. Ampliamos o campo de buscas. Outras culturas produzem misturas de condimentos semelhantes, com variações nos ingredientes, obtendo currys mais ou menos picantes, intensos ou saborosos. Conseguimos elaborar uma tabela:
Curry amarelo – Sauvignon Blanc da Nova Zelândia, bem cítrico, é o preferido. Há a opção do Cabernet Franc para acompanhar camarões ou frango. Para carnes vermelhas a aposta seria um Rioja espanhol.
Curry tipo Massamam (leva tamarindo) – Viognier, Vouvray ou até mesmo um Chardonnay nos estilos Chileno ou Australiano.
Curry verde (em geral muito forte) – espumante Demi-Sec, Gewurtztraminer ou vinho Rosé.
Curry vermelho – Riesling Kabinett, Vinho Verde ou Beaujolais Cru de Broully.
Pad Thay (culinária tailandesa) – Prosecco ou Pinot Noir do Oregon.
Caso a preparação usasse leite de coco, uma boa aposta seria o Chardonnay madeirado ao estilo californiano.
A base do Arroz de Afrodite era o Curry Amarelo, mas o Chef insinuou que usaria outros condimentos picantes o que me fez arriscar e apostar num Gewurtztraminer Alsaciano. José Paulo optou pela linha mais tradicional e indicou um Chablis, excelente Chardonnay francês. Haveria um prato opcional, Penne ao Gorgonzola, para os de paladar sensível ou para os que não apreciam frutos do mar. Para este, a nossa indicação era um tinto de corpo médio. A sorte estava lançada!
Marcado para às 13:00, abrimos os trabalhos com uma rodada de espumantes para “fazer a boca”. Para exercitar o maxilar, pastinhas temperadas, pães diversos, torradas e um belo pedaço de gorgonzola. O problema foi que ninguém fixou um horário para que o almoço fosse servido, deixando a cargo do Chef que decidiu pelas 15:00. Até lá…
Sucederam-se as garrafas de espumantes!
Servidos os pratos e abertos os vinhos a surpresa foi total. O Arroz de Afrodite era tudo que fora prometido, estava simplesmente delicioso. O 1º vinho a ser degustado foi o Alsaciano.
Perfeito!
Podíamos sentir todos os sabores do curry, dos camarões e os do vinho. Excelente equilíbrio. Harmonização tão completa que surpreendeu inclusive ao Mestre Cuca que não estava muito convencido que daria certo. O caráter muito frutado deste vinho faz com ele se apresente quase adocicado, balanceando corretamente o sabor intenso dos condimentos.
O segundo branco, o Chablis, também cumpriu muito bem sua função, mas com outra perspectiva. Com uma presença cítrica muito intensa, amenizava o lado picante enquanto realçava os sabores dos frutos do mar. Experiência muito interessante. Desafio vencido!
Para o prato de massa foi selecionado um Montepulciano D’Abruzzo que caiu como uma luva. Como alternativa havia um Merlot que acabou sendo aberto mais tarde.
Para completar o banquete era chegada a hora das sobremesas que, obviamente, seriam acompanhadas por uma plêiade de vinhos de colheita tardia, entre eles um Vin Santo branco além de um Brandy de Jerez e um Cointreau: uma maravilhosa torta de goiabada e Mascarpone, e outra especialidade do Chef, morangos flambados ao Cognac Remy Martin.
Um luxo!
Literalmente a “farra foi completa”, a troca de presentes hilária e a vontade de repetir a experiência o mais breve possível.
Esta coluna entre em recesso até o ano que vem desejando a todos um ótimo Natal e um feliz 2014.
Dica da Semana: já pensando no inclemente verão que vem por aí, uma opção diferente e gostosa, um vinho rosé argentino.
Este vinho nasce da primeira sangra dos vinhos de guarda da vinícola.
Com atraente cor rubi, tem aromas de flores (violetas) e perfume de frutas.
No paladar é intenso e refrescante. Os sabores são combinados entre frutas vermelhas. É o que provoca sua grande duração na boca.
Um corte de 50% Cabernet Franc e 50% Petit Verdot
#6: Os críticos de vinhos sempre dão as melhores dicas…
Para finalizar esta primeira série sobre a mitologia do enófilo, vamos tocar num assunto muito delicado. Pode até ofender alguns profissionais, mas o nosso objetivo é explicar os fatos.
Começamos usando o próprio exemplo desta coluna. Pelas nossas contas, esta seria a de nº 140 e excetuando uma única vez que não fizemos uma indicação, foram 139 dicas semanais. Em algumas ocasiões houve mais de uma dica, com outras sugestões embutidas no texto.
Será que acertamos em todas?
Provavelmente não. Nem sempre agradamos a Gregos e Troianos e a ideia por trás da dica da semana era estimular o consumo de vinho.
Por isto mesmo, com poucas exceções, eram vinhos agradáveis, fáceis de beber e numa faixa se preços convidativa. Escolhê-los não é uma tarefa simples e há muitas pessoas envolvidas que nos passam, direta ou indiretamente, algumas destas informações.
Eis a principal razão porque os críticos de vinhos, as listas de melhores vinhos, as revistas e congêneres, não são infalíveis: gosto é um assunto pessoal. Cada um deles têm suas preferências como qualquer outro enófilo. Honestamente, é muito difícil ser isento numa análise que é bastante subjetiva, por mais que nos atenhamos à fichas de degustação e critérios previamente definidos. Nem o famoso Robert Parker escapa: sua preferência por vinhos do Vale do Ródano é abertamente declarada e conhecida.
Como proceder?
O primeiro ponto para aproveitar uma dica de um especialista é conhecer o nosso paladar. O segundo ponto é saber um pouco sobre vinhos ou pelo menos sobre a recomendação, de maneira que possamos avaliá-la corretamente em vez de sairmos desesperados em busca da “garrafa mágica”, que nem sempre pode estar à venda em nosso mercado.
Novamente, tarefa nada simples. Só com o tempo vamos moldando o nosso paladar e refinando nossas escolhas vínicas. Para apreciarmos um vinho ou qualquer outra bebida, a boa gastronomia, etc, é necessário que tenhamos sensações específicas de aromas e sabores previamente registradas em nossa memória gustativa/olfativa. Só assim seremos capazes de rapidamente identificar o que nos é agradável, fazer combinações de diversos ingredientes e realmente apreciar o que nos é servido. Cada um de nós vai ter um “mapa” diferente destas impressões e vai reagir de forma diversa em cada oportunidade. Insisto: isto vale para os críticos também. Eles não são deuses e nem senhores de todas as coisas.
Resumindo: gosto é pessoal.
O segundo ponto é ajustar o nosso paladar ao de um crítico de referência. Há alguns fatores que devem ser observados, o principal deles é de ordem cultural: qual o “background” e a origem do nosso autor preferido. Isto pode dizer muito, mas nem sempre estas informações estão claras.
Vamos organizar um pouco as ideias.
Imaginemos um crítico francês, povo que vivencia vinhos diariamente. Esta bebida faz parte da dieta básica, é considerada como um alimento e tem preços compatíveis com o dia a dia de um cidadão. Para um especialista como este, sua escala de valores é bem definida e tem por ponto de partida o que é consumido em sua casa, diariamente.
Um jornalista especializado inglês ou norte-americano, embora consumam vinho em suas dietas normais, levam em conta outros fatores regionais que afetam diretamente suas indicações. Os ingleses são os maiores importadores de vinhos do mundo enquanto os americanos olham muito para sua própria produção da qual são extremamente orgulhosos. São dois vetores importantes.
Nós teremos melhores chances com os críticos brasileiros e sul-americanos: conhecem o nosso mercado, o gosto predominante e estão atentos aos preços extorsivos praticados, mesmo para produtores nacionais. Aqui o negócio é faturar e não aumentar o consumo: se puderem lucrar tudo numa única garrafa, melhor!
Vamos refletir sobre a lista anual de melhores vinhos da revista Wine Spectator. Apresento os 10 melhores a seguir:
1 – Cune Rioja Imperial Gran Reserva – 2004 – 95 pts
2 – Château Canon-La Gaffelière St.-Emilion – 2010 – 96 pts
3 – Domaine Serene Pinot Noir Willamette Valley Evenstad Reserve – 2010 – 95 pts
4 – Hewitt Cabernet Sauvignon Rutherford – 2010 – 95 pts
5 – Kongsgaard Chardonnay Napa Valley – 2010 – 95 pts
6 – Giuseppe Mascarello & Figlio Barolo Monprivato – 2008- 95 pts
7 – Domaine du Pégaü Châteauneuf-du-Pape Cuvée Réservée – 2010 – 97 pts
8 – Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape – 2010 – 96 pts
9 – Lewis Cabernet Sauvignon Napa Valley Reserve – 2010 – 96 pts
10 – Quilceda Creek Cabernet Sauvignon Columbia Valley – 2010 – 95 pts
Dos vinhos apresentados, encontrei 4 (quatro) à venda no Brasil, vejam as diferenças:
– Cune Rioja Imperial, safra 2005 custa R$ 247,47 na Vinci Vinhos. Lá fora podemos comprar por US$ 63.00;
– Château Canon-La Gaffelière, safra 2006, por R$ 699,00 na Grand Cru (mais caro por ser uma safra mais antiga). No exterior custa US$ 110.00 (safra 2010);
– Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape, safra 2009 por R$ 632,00 na Via Vini. Fora do nosso país custa US$ 120.00;
– Giuseppe Mascarello & Figlio Barolo Monprivato. Safra 2006, por R$ 584,90 na Decanter. Voltando de um passeio à Europa, compramos por US$ 110.00.
Excetuando o vinho espanhol, nenhum deles é um vinho “barato”, nos padrões europeus ou norte–americanos, mas acessíveis. Aqui são abusivos…
Só para completar, não havia nenhum vinho nacional.
Dos nossos vizinhos, 3 argentinos (nos 36, 42 e 73) e 3 chilenos (nos 44, 47 e 62).
Fica fácil perceber que devemos encarar estas relações de vinhos com uma certa reserva: representam, na maioria das vezes, apenas desejos, metas para termos em nossa adega. O ideal é confiarmos em nós mesmos aprendendo com o tempo e com os erros. Os “especialistas” vão mostrar o caminho a seguir, apenas.
Dica da Semana: sem, medo de errar. O da safra 2011 esta na lista citada. Mas ainda não estão vendendo por aqui. Até lá, fique com esta outra safra.
Elaborado com uvas Malbec provenientes de vinhedos com mais de 30 anos, este é um dos Malbecs mais emblemáticos da Bodega Norton. Um vinho encorpado e elegante ao mesmo tempo, com boa presença de fruta e taninos macios.
Na boca é harmonioso, amplo e persistente. Indicado para pratos de carnes vermelhas, queijos de massa mole.
#5 – Somente vinhos tintos devem ser adegados
Este mito altamente improvável começa com um sonho: uma adega climatizada. Dez entre dez enófilos desejam ter uma para chamar de sua e não importa o tamanho, pode ser de 6 ou de 600 garrafas.
O problema começa quando temos que decidir o que vai ser adegado, em geral, opta-se pelos tintos, para ser mais realista, qualquer tinto…
Neste momento, do ponto de vista técnico, acabamos por dar um destino nada nobre à nossa adega, que pode ter custado um bom dinheirinho: ficou mais parecida com um “frigobar”. Antes de mergulhar em maiores profundidades, respondam sinceramente a algumas questões:
1 – Vocês sabem o que é um “vinho evoluído”?
2 – Se responderam “sim”, gostam de um vinho destes?
3 – Qualquer vinho (tinto, branco, rose, espumante) pode ser amadurecido na garrafa sem prejuízo?
Não existem respostas únicas para estas perguntas. Veja como se coloca Jancis Robinson, uma celebrada especialista em vinhos:
“Na sua maioria, os vinhos de hoje devem ser consumidos tão jovens quanto possível, quando ainda se pode apreciar seu caráter frutado. Mas enquanto persiste o mito de que todos os vinhos vão melhorar com o tempo, a realidade mostra que eles estão sendo bebidos muito mais tarde do que muito mais cedo”.
Excepcional poder de síntese de Robinson, quase tudo que precisamos saber está neste pequeno parágrafo. Não caberia nele comentar sobre aromas e sabores do vinho, características que podem mudar sensivelmente após alguns anos de guarda. Começam a surgir os “terciários” e seus sabores associados, típicos de um vinho evoluído.
Para quem não lembra mais destas explicações, estamos falando de couro, tabaco, flores e frutas secas, café, pão torrado, alcatrão, carne de caça, verniz, fungos, etc. Não estranhem, não são predominantes (há exceções), mas eles estão lá e vamos sentir um gostinho. Há que aprecie e vibre com isto, mas a maioria não. No final das contas, é isto que se busca quando adegamos um vinho, qualquer vinho.
Muito cuidado e atenção serão necessários, não é uma operação do tipo “esquece este vinho na adega que um dia ele fica bom”. Há muitas regras que devem ser seguidas que vão desde a escolha do vinho certo, passando pelo tempo de guarda e a CNTP (para quem não estudou química, isto significa Condições Normais de Temperatura e Pressão).
Para os leitores que já se decidiram por fazer uma experiência nesta linha, seja por curiosidade ou por preferirem vinhos evoluídos e para aqueles que ainda duvidam sobre este tema apresentamos, a seguir, um roteiro desmistificador.
I – As castas que costumam envelhecer com dignidade
Tintas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Nebbiolo, Pinot Noir, Syrah;
Brancas: Riesling, Chardonnay.
Isto não significa que qualquer vinho destas uvas possa ser envelhecido e nem que somente estas varietais devam passar por este processo.
II – Vinhos de sobremesa como os de colheita tardia ou os fortificados, podem ser adegados sem problemas.
Usando estes como exemplos podemos compreender as razões e aplicar em outros casos:
– alto teor alcoólico – com o tempo de guarda este teor cai tornando a bebida mais agradável;
– acidez marcante – outra característica que diminui com a idade melhorando o resultado final;
– taninos intensos (para os tintos) – definitivamente ficam “domados” com o passar dos anos;
– passagem por madeira – este é o ponto crítico uma vez que esta característica não se dilui com o tempo. Ao contrário, pela queda das demais pode sobressair exageradamente desequilibrando o vinho. Portanto é de fundamental importância na escolha de uma garrafa para ser amadurecida.
III – Como decidir o que vale a pena adegar
Aqui está toda a graça desta experiência, que pode produzir excelentes ensinamentos. Simples conselhos podem ajudar muito:
– estabeleçam uma faixa de preços a partir da qual se pode confiar que o investimento valerá a pena;
– comprem pelo menos 2 garrafas, 3 seria o ideal. Degustem uma logo (anotem o resultado ou façam um ficha técnica), abram a outra com 2 ou 3 anos de guarda e comparem o resultado com a 1ª. Se valer a pena, guarde a terceira mais um pouco.
IV – Seguindo a nossa “Guru” de hoje, Jancis Robinson, eis uma interessante lista por ela compilada.
a) Vinhos que devem ser consumidos logo:
os europeus classificados como “de mesa”;
os de garrafão ou caixa tipo Tetra Pack;
os conhecidos como “vin de pays”, relativamente baratos;
os do tipo Beaujolais Noveau, ou “en primeur” ou “novelo”;
produtos comerciais com preços até 50 ou 60 reais (a grande maioria deles)
os rosés;
os espumantes mais em conta.
b) Vinhos que ganham com o tempo:
Tintos – (tempo de guarda nas condições ideais)
Agiorgitiko da Grécia (4–10)
Aglianico da Campania (4–15)
Baga da Barraida (4–12)
Cabernet Sauvignon (4–20)
Grenache/Garnacha (3–12)
Melnik da Bulgária (3–7) (este vinho está sendo revivido)
Merlot (2–10)
Nebbiolo (4–20)
Pinot Noir (2–8)
Raboso do Piave (4–8) (DOC italiana)
Sangiovese (2–8)
Saperavi da Georgia (3–10) (outra casta sendo reabilitada)
Syrah/Shiraz (4–16)
Tannat de Madiran (4–12)
Tempranillo da Espanha (2–8)
Porto Vintage (15-50)
Zinfandel (2–6).
Brancos – (tempo de guarda nas condições ideais)
Vinhos Botritizados (5–25)
Chardonnay (2–6)
Furmint da Hungria (3–25) (Tokay)
Chardonnay (2–6)
Furmint da Hungria (3–25) (Tokay)
Semillon australiano do Hunter Valley (6–15)
Chenin Blanc do Loire (4–30)
Petit Manseng de Jurançon (3–10)
Riesling (2–30).
Para terminar, a lista não é definitiva e nem pretendia ser. Não foram contemplados os Champagnes e outros espumantes de 1ª linha, que podem ser guardados por alguns anos como foi relatado nesta coluna, recentemente, como os Franciacorta. Nem se falou, tampouco, dos vinhos do Cone Sul das Américas. Já tive ótimas
experiências com Malbecs argentinos, Tannats uruguaios e Carmenéres e Cabernets chilenos.
Animem-se, arrisquem, experimentem. Nem sempre dá certo, mas sempre vale a pena.
Dica da Semana: para guardar. O tempo vocês decidem….
Coloração vermelha intensa e aroma complexo com notas de frutas negras, amora, cassis e notas de tabaco, café e baunilha. Ao paladar, revela-se equilibrado, encorpado e elegante, com taninos bem maduros e final de boca persistente. Ideal para acompanhar carnes vermelhas assadas e queijos maduros.
#3 – Para as Damas o vinho deve ser leve, rosado e doce ou “Mulheres não bebem vinho tinto”…
Este mito é o oposto do anterior, publicado na coluna da semana passada. Outra mentira deslavada. Há vários caminhos para desmontar esta inverdade, o mais simples deles é nos lembrarmos do delicioso Vinho do Porto, um favorito de ambos os sexos. Embora existam versões em branco e em rosado, o tradicional é tinto e doce existindo, também, os estilos Dry (seco) e Semi-Sweet (meio doce).
Mas a melhor maneira de demonstrar como é falso este conceito é falar de enólogos, ou melhor, de enólogas, fantásticas mulheres que conseguiram se sobressair num mundo que, até bem pouco tempo, era 100% masculino. E não são poucas: perceberam, finalmente, que elas têm mais sensibilidade para criar vinhos!
Portugal é um dos produtores que apostam nas mãos femininas há algum tempo. Poderia citar um punhado de nomes, mas fico com uma das mais famosas para os brasileiros, Filipa Pato, filha de Luís Pato, um dos mais importantes enólogos portugueses.
Na terra dos vinhos tintos generosos e fortes, Filipa é uma apaixonada pelo que faz e incansável “workaholic”: além de trabalhar na empresa de seu pai, tem sua própria marca “FP” e ainda encontra tempo para se dedicar a uma empresa de exportação, a “Vinhos Doidos”.
Na Argentina vamos encontrar outro grupo feminino muito importante. Já mencionei aqui o vinho Vida e Alma Malbec, “filho único” de três enólogas, Marcela Casteller, e as irmãs Graciana e Eloisa Moneret. Outra enóloga de ponta é Andrea Marchiori sócia da cultuada Viña Cobos, profissional respeitadíssima. Seus vinhos da categoria Ultra Premium são distinguidos com as mais altas notas em todo o mundo.
Mas o grande exemplo é Suzana Balbo, enóloga e proprietária da “Domínio del Plata”, considerada como a Grande Dama do Vinho Argentino e que nos brinda com vinhos das linhas que levam seu nome (Suzana Balbo); Crios; Benmarco; Virtuoso; Nosotros e Anubis.
Consultora internacional de vinhos, por mais de 20 anos, decidiu em 1999 realizar o sonho de ter sua própria vinícola, escolhendo Lujan de Cuyo como seu terroir. O sucesso chegou rapidamente e se mantém até hoje. Desde 2009, conta com a ajuda de seu filho, José, enólogo formado na Universidade de Davis, Califórnia, e de sua filha Ana, graduada em Administração. Outro sonho realizado.
Embora não sejam formadas em enologia, duas outras “winemakers” promovem grandes revoluções no vinho argentino: Adriana Catena, filha do lendário Nicolas Catena Zapata, com sua inovadora vinícola “El Enemigo” e Alícia Mateu Arizu, proprietária da Viña Alicia e esposa de Alberto Arizu da Luigi Bosca.
O Chile também é pródigo em mulheres comandando a enologia de grandes vinícolas. Podemos citar, entre muitas, Cecilia Guzmán que está à frente da excelente Haras de Pirque (já recomendamos o Equus) e Paula Muñoz que conduz a inigualável Casa Lapostolle (Clos Apalta) pelos caminhos da excelência.
Na França as mulheres estão dando as cartas nas principais áreas produtoras, sejam enólogas ou eficientes dirigentes do negócio, uma tradição que remonta a 1805 quando Nicole-Barbe Ponsardin ficou viúva de François Clicquot e assumiu os negócios da família. Com mão de ferro eternizou a Marca Veuve Cliquot conhecida em todo o mundo.
Catherine Péré Vergé, recentemente falecida, é outro grande exemplo. Totalmente dedicada ao seu negócio que envolve as vinícolas Chateau La Violette, Chateau Le Gay e Chateau Montviel em Pomerol, La Graviere em Lalande-de-Pomerol, e a Bodega Monteviejo na Argentina. Supervisionava pessoalmente desde a poda até a venda de seus vinhos.
Poderia citar, tranquilamente, mais uma dezena delas.
Talvez o exemplo mais impressionante venha da Itália, dentro da família Antinori, produtores de joias como Tiganello, Solaia, Guado al Tasso e Cervaro della Sala. A empresa, que por 26 gerações foi comandada exclusivamente por varões, agora passa o bastão para 3 mulheres, filhas de Piero Antinori, atual comandante, que não teve filhos homens.
Albiera, Allegra, e Alessia estão promovendo uma fantástica modernização desta importante empresa, em todos os sentidos, para que ela dure, no mínimo, outras 26 gerações mantendo tradição e qualidade.
A nova sede da empresa, localizada numa colina próxima a Florença, no coração da Toscana, tem um projeto futurista e espetacular que representa fielmente a linha de trabalho atual. A um custo de 67 milhões de Euros, construíram o que poderia ser chamado de um castelo moderno, com total respeito ao meio ambiente: a vinícola fica “enterrada”. A imagem, fala por si.
Mais fotos neste link (role a tela): http://www.archea.it/pt-br/vinicola-antinori/
Agora, queridos leitores, imaginem se “elas” não bebessem vinhos tintos…
Dicas da Semana 1: para saber mais sobre a história da família Antinori, não deixem de ler este livro. Pode ser um belo presente para seu “amigo oculto”
É o relato, em primeira pessoa, do atual patriarca Piero Antinori. O livro é uma biografia de sua família e, também, de suas sete criações – os vinhos Montenisa Rosé, Villa Antinori, Solaia, Tignanello, Cervaro Della Sala, Antica Napa Valley Cabernet Sauvignon e Mezzo Braccio Monteloro.
Dica da Semana 2: Como ninguém é de ferro, vamos ao vinho, uma homenagem à Dama do vinho Argentino.
Com bela e intensa coloração violeta tem marcantes aromas de mirtilo, cerejas negras e violetas, amparado por notas de madeira e menta. Mesmo perfil de aromas se repete no paladar, com presença de ameixas maduras, baunilha e chocolate amargo. Seu paladar é redondo e de grande persistência.
Harmonização: carnes vermelhas grelhadas, queijos variados.