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Degustação da Ventisquero no La Mole

Com o fim do verão, começa, aqui no Rio de Janeiro, a temporada de eventos para a divulgação dos vinhos de diversos produtores. Fomos convidados para participar de um jantar harmonizado com os vinhos desta boa vinícola chilena. José Paulo Gils (*) representou a coluna.

A Viña Vetisquero é liderada por uma equipe jovem e criativa. Um grupo de enólogos e produtores que decidiram fazer vinhos de qualidade, modernos e fiéis à sua origem. Vinhos que revelam a sua vocação para ir “um passo adiante”.
 
Sob o olhar de Felipe Tosso, enólogo chefe, a vinícola nasceu no Vale do Maipo e três anos mais tarde, expandiu seus horizontes para os Vales de Casablanca e Apalta, sendo que neste último são elaborados seus vinhos premium.
 
A partir de vinhedos próprios e a preocupação constante com o terroir, a Viña Ventisquero se propôs a fazer uma linha de vinhos consistentes e de alta qualidade, tendo como uma das principais preocupações o respeito com o meio ambiente, minimizando os impactos decorrentes dos diversos processos de vinificação.
 
O objetivo do evento era apresentar a linha de vinhos Grey que forma com as companheiras Enclave, Pangea, Vertice, Heru, Queulat, Reserva e Yelcho, seu portfolio principal.
 
A linha Grey foi concebida como a expressão máxima do terroir, um lugar onde o clima, o solo e a variedade se reúnem sob o olhar atento dos enólogos. São vinhos equilibrados e elegantes que homenageiam cada “Single Block” (parcela única) de suas origens nos vales de Apalta, Casablanca e Maipo.
 
A apresentação foi dirigida pelo Enólogo Hugo Salvestrini, da Ventisquero. Na organização do evento estava a Enóloga Josi Cardoso da Importadora Cantu. A equipe do La Mole era composta por Antônio Militão, responsável pela filial de Ipanema e pelo Sommelier Ezequias Almeida que se esmerou em todos os detalhes da mesa e do serviço de vinhos, impecável!
 
 
Jantar harmonizado
 
A proposta do Chef Lucas Mendes contemplava opções de entradas e pratos principais, todos harmonizados por Ezequias.
 
 
O “Couvert de Queijos” foi harmonizado com o correto Grey Single Block Chardonnay, safra 2011. Obtido a partir de uvas do Vale de Casablanca, estagia em barricas de carvalho francês o que lhe transmite elegância e frescor. Muito equilibrado e com boa acidez, cumpriu sua função corretamente.
 
 
Para a “Salada Tropical” foi escolhido o Grey Single Block Merlot. Elaborado com uvas de Maipo, passa 18 meses em barris de carvalho francês. Tem boa tipicidade, intensos aromas frutados de cereja madura e ameixas, taninos na medida certa e um elegante final. Boa escolha.
 
 
O Grey Single Block Pinot Noir foi a diferente aposta para acompanhar o “Camarão com Botarga” (ova de tainha) regado ao molho do Chef. Combinação mais ousada e que deu certo. Este vinho, da região do Vale de Leyda, passa 6 meses em barris de carvalho. Mantendo as características desta casta é leve e fresco com aromas de frutas vermelhas. Muito bom.
 
 
O “Peito de Pato ao Vinho” e o “Aligot” foram combinados com o clássico Grey Single Block Carménère que amadureceu por 18 meses em carvalho. Bem equilibrado, encorpado, com taninos no ponto certo e acidez correta. Outro acerto.
 
 
Destacamos a presença de Maria Helena Dias Gomes Tauhata – Vice-Presidente da ABS Rio; Fábio Soares – Enoteca DOC; Fernando Fama – ABS Rio.
 
 
Agradecemos o convite e parabenizamos os organizadores do evento pelo sucesso deste Jantar Harmonizado, no Restaurante La Mole – Ipanema.
 
Um sucesso!
 
Dica da Semana:  porque não?
 
 
Ventisquero Grey Single Block Cabernet Sauvignon
Cor rubi intensa e profunda com aromas de cassis, frutos vermelhos e toques de baunilha.Excelente estrutura de taninos firmes e maduros.Ideal para carnes com molhos sofisticados, queijos muito maduros, escalope de filet mignon, espaguete ao ragu de cordeiro, legumes cozidos, costeleta de javali com batatas amanteigadas.

(*) José Paulo Gils é Diretor da ABS Rio e nosso “comparsa” nas colunas publicadas no site O Boletim.

A Degustação de Berlim

Na coluna anterior a esta, comentamos que os vinhos chilenos produzidos com a Cabernet Sauvignon seriam escolhas melhores do que os vinhos produzidos a partir da casta emblemática chilena, a Carménère. Para demonstrar a força da Cabernet, lembramo-nos de um interessante evento que tinha por objetivo comprovar esta tese, e outras qualidades dos vinhos deste país sul-americano.
 
Há 10 anos, precisamente em 23 de janeiro de 2004, foi organizada em Berlim uma degustação comparativa entre vinhos chilenos, franceses e italianos, nos moldes do famoso “Julgamento de Paris” que mostrou as qualidades dos vinhos californianos. O evento foi promovido por Eduardo Chadwick, proprietário da Viña Errázuriz, 4º maior exportador do país, que forneceu seus vinhos para serem comparados: Viñedo Chadwick; Seña e Don Maximiano.
 
 
Ao todo foram 16 vinhos, contemplando três terroirs diferentes: Bordeaux, Toscana e Chile. As safras escolhidas foram 2000 e 2001, cabendo a 36 julgadores a difícil tarefa de escolher os melhores.
 
Entre eles estava Steven Spurrier, responsável pela notável Degustação de Paris que mudou o mundo do vinho. Os demais degustadores foram selecionados entres os mais renomados Jornalistas, Críticos, Sommeliers e personalidades do mundo dos vinhos. Um show muito bem montado.
 
 
A degustação às cegas foi realizada no Ritz Carlton Hotel. Os vinhos foram divididos em grupos segundo suas safras: 3 franceses e 3 chilenos da safra 2001; 4 italianos da safra 2000; 3 chilenos e 3 franceses da safra 2000.
 
Um ponto importante a ser destacado aqui é a idade do que foi servido. Os vinhos mais velhos tinham apenas 4 anos, o que é muito pouco para um Bordeaux. O mesmo não pode ser dito em relação aos chilenos. Vinhos do Novo Mundo são elaborados tendo em mente um consumo mais imediato, o que não impede que sejam guardados por cerca de 10 anos. Para alguns analistas, esta “juventude” teria influenciado não só o resultado desta degustação como também daquela realizada em Paris. Vamos aos resultados:
 
1 – Viñedo Chadwick 2000
2 – Seña 2001
3 – Château Lafite-Rothschild 2000
4 – Château Margaux 2001 e Seña 2000 (empate)
6 – Viñedo Chadwick 2001; Château Margaux 2000 e Château Latour 2000 (empate)
9 – Don Maximiano 2001
10 – Château Latour 2001 e Solaia 2000 (empate)
 
O 1º lugar coube a um vinho produzido com 100% de Cabernet Sauvignon provenientes do vinhedo homônimo plantado em 1992. A primeira safra deste vinho foi em 1999.
 
O Seña, 2º lugar, é um corte de 75% Cabernet Sauvignon, 15% Merlot, 6% Cabernet Franc e 4% de Carménère.
 
O primeiro vinho francês aparece em 3º lugar, o icônico Château Lafite-Rothschild 2000, safra considerada como uma das melhores. A Safra de 2001 também teve seus méritos. Foi chamada de “a esquecida”: só após um longo período de envelhecimento, característica típica dos bordaleses, mostrou seu valor. Deste lote aparecem outros dois monstros: o Chatêau Margaux em 4º lugar e o Chatêau Latour em 10º.
 
Somente um italiano aparece entre os 10 primeiros, o excelente Supertoscano Solaia, um corte de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Sangiovese.
 
Esta prova tem o seu valor, embora tenha sido dirigida para valorizar os vinhos de Chadwick (Viña Errázuriz). O curioso é que este show rodou o mundo repetindo a degustação em diversos países, inclusive aqui no Brasil em 2005 e 2013.
 
 
Os resultados mostraram certa consistência. Nos dois eventos brasileiros houve uma inversão:
2005
 
1 – Chatêau Margaux 2001
2 – Viñedo Chadwick 2000
3 – Seña 2001
 
2013
 
1 – Chatêau Margaux 2001
2 – Seña 2007
3 – Don Maximiano 2009
 
Foi um feito expressivo que se tornou um marco na vinicultura chilena. Para comemorar os 10 anos estão sendo organizados diversos jantares comemorativos com a apresentação não só dos vinhos campeões como toda a linha da Errázuriz. As opiniões têm sido as mais favoráveis.
 
Alguém ainda duvida dos Cabernet chilenos? 

Dica da Semana:  um vinho desta simpática vinícola.

 

Errazuriz Max Reserva Cabernet Sauvignon 2010

Frequentemente classificado como um “Smart Buy” pela Wine Spectator e “Altamente Recomendado” pela revista Decanter, o Cabernet Sauvignon Max Reserva é o “irmão menor” do Don Maximiano.Denso, complexo e concentrado, com elegância e finesse surpreendentes.
Stephen Tanzer: 90 (2009)
WE 90 (2006)
RP 88 (2010)

“Eno Copa do Mundo” no feriadão

Sempre que possível fugimos deste inferno que se tornou o Rio de Janeiro, “ex” Cidade Maravilhosa, título que dificilmente será recuperado graças aos empreendedores esforços de Sergio “171” Cabral e de seu fiel escudeiro (?) o Prefeito, mais conhecido por “Duda” e seus oligofrênicos de plantão.
 
Fomos para Pouso Alto, MG, nos hospedando no famoso Hotel Serraverde, local que frequentamos há 20 anos, pelo menos. Éramos 2 casais, eu e meu compadre, além dos filhos e namorada. Sempre levamos vinhos e os desafios verbais começam cedo, já na borda da piscina. A disputa gira em torno de quem leva a melhor garrafa para ser degustada no jantar. Ninguém declara o rótulo antes da hora e a conversa gira em torno de chilenos, italianos, argentinos, etc.
 
Estávamos nesta deliciosa provocação quando surgiu a ideia de fazer uma Copa do Mundo. Cada vinho representaria uma seleção e o “gramado” seria o restaurante do hotel, onde a comida é deliciosa. Os técnicos seriam meu compadre e eu. Perfeito.
 
Na chave “A” estavam as seleções do Chile, Espanha e Argentina.
 
Pela minha chave “B” entrariam em campo Brasil, Itália I e Itália II.
 
Isto produziu um efeito contagiante, quase todos queriam participar da brincadeira, uma disputa muito fácil de resolver: cada degustador apontava seu vinho preferido, o que valeria 1 gol.
 
1º jogo – Brasil x Chile
 
Escolhi um belo corte de Cabernet com Merlot, produzido em Santa Catarina pela Vinícola Santo Emílio, o Leopoldo 2007, cujas características são:
 
“Coloração vermelho intenso e profundo. Buquê frutado, especiarias, baunilha, ameixa seca e geleias de frutas vermelhas. Bom corpo, taninos marcantes, mas agradáveis e maduros, final de boca amplo”.
 
Seu oponente foi um representativo Carménère, o MAPU Gran Reserva 2012, produzido pela Vinícola Baron Philipe de Rothschild, uma associação desta famosa família com um Barão do vinho na Califórnia, Robert Mondavi.
 
Segundo seu produtor:
 
“Coloração vermelho intenso com reflexos rubis. No nariz, possui aromas de framboesa e groselha negra com ligeiro toque de pimenta. No palato final harmonioso e equilibrado”.
 
Para harmonizar havia uma bela mesa de deliciosos queijos produzidos na região, saladas diversas e algumas alternativas de pratos quentes. Não seria difícil encontrar a combinação ideal para cada um, em qualquer das noites. Neste primeiro jogo estavam a postos 6 degustadores.
 
O resultado foi 3 x 3, um empate muito sem graça.
 
Ninguém tinha dúvida sobre o “peso” do vinho chileno, mas esta história de “uva emblemática” acaba atrapalhando mais que ajudando. Os grandes vinhos tintos do Chile são os produzidos com a Cabernet Sauvignon. Disputam o título de melhores do mundo com os famosos californianos. Esta teria sido a minha escolha ou como alternativa, um corte entre estas duas uvas.
 
Do lado brasileiro o Leopoldo enfrentou com galhardia o ataque e mostrou qualidades. Um vinho muito redondo e saboroso. Pode evoluir muito. Após muitos debates o resultado foi considerado justo.
 

 
2º jogo – Espanha x Itália I ou…
 
Na segunda noite começaram as inesperadas confusões. Este seria um jogo que prometia ser espetacular. Meu compadre levaria um vinho da Miguel Torres, excelente vinícola de origem espanhola considerada no ano de 2013 como a melhor da Europa.
 
Mas quem “adentrou o gramado” foi um Miguel Torres chileno, outro Carménère, produzido pela filial local: O Finca Negra Gran Reserva.
 
Segundo o produtor:
 
“Coloração vermelho rubi. Aromas finos de amora e cassis, com notas de eucalipto e tangerina. Longo e picante. Corpo médio”.
 
Pensando num jogo contra a forte Espanha, escalei um ótimo representante italiano o Fratelli Dogliani Langhe DOC Nebbiolo 2011, com as seguintes características:
 
“Coloração vermelho atijolado, pouco profundo. Aromas de frutas vermelhas maduras, com notas de rosas, violetas e especiarias. Paladar frutado, delicado, com taninos macios e boa persistência de sabores”.
 
Este vinho foi o primeiro a ser aberto e estava realmente delicioso. A uva Nebbiolo é tão difícil de vinificar quanto uma Pinot Noir francesa e, em boas mãos, entregam caldos preciosos. Desta uva é feito o seu irmão mais velho, o Barolo, considerado o “Rei dos Vinhos”.
 
Eu estava convencido que ganharia de goleada. Mas vários fatores extracampo interferiram no resultado:
 
havia somente 4 degustadores;
 
ao abrirmos a segunda garrafa meu querido compadre deu um pequeno gole e abandonou o campo alegando cansaço.
 
O Carménère estava bom também e era nitidamente superior ao do dia anterior. Mas havia uma nota de mentol (eucalipto) que me incomodava. Acho os varietais desta casta com excessivas características vegetais, definitivamente não são os meus preferidos.
 
Ficamos sem resultado. O jogo foi para a prorrogação, no dia seguinte…
 

 
3º jogo – Argentina x Itália
 
Para este último embate, reservamos os melhores vinhos na expectativa de ser um jogão.
 
Devido à forçada prorrogação da noite anterior, as provocações durante a manhã foram intensas a ponto de ser revelada a escalação argentina: nada mais nada, menos que uma “Dica da Semana”, o Flor de Pulenta Cabernet Suvignon.
 
Suas características são:
 
“Coloração vermelho profundo. Aromas que lembram pimentão e especiarias, com notas de baunilha e tabaco provenientes do carvalho. Na boca apresenta boa concentração e taninos suaves que lhe conferem uma estrutura volumosa. Final elegante e longo”.
 
A minha escalação era um dos meus vinhos prediletos, um Primitivo, casta típica da Puglia que tem uma irmã californiana, a Zinfandel. O produtor escolhido foi Lucarelli.
 
Suas características são:
 
“Coloração púrpura intensa. Aromas frutados marcantes, com notas de ameixa e cereja, temperada com alecrim e baunilha. Seco, macio e equilibrado”.
 
Seguindo na guerrilha de borda de piscina, no mínimo me aconselharam a não entrar em campo e perder logo por WO. Era muita provocação! Não levei a sério…
 
No jantar, novamente, tudo mudou.
 
Alegando que ainda havia o vinho da prorrogação o time argentino não entrou em campo (parecia com a guerra de liminares do campeonato brasileiro).
 
Apliquei um humilhante WO, afinal a seleção Itália II entrou em campo!
 
Iniciamos os trabalhos com o chileno já aberto e para surpresa geral ele deu uma bela melhorada. Nada como um longo período respirando.
 
Em seguida abrimos o Primitivo que estava impecável.
 
O Carménère não era páreo. Para evitar o vexame, valeu a máxima do folclore futebolístico:
 
“Arrecua os arfes para evitar a catasfe”.
 
Dois dos quatro degustadores restantes abandonaram o jogo provocando um novo “sem resultado”…
 
Que falta de esportividade!
 

 
Epílogo
 
Findo o jantar (ou seria o jogo?) restava pouco menos de ½ garrafa do Primitivo.
 
Como voltaria para o Rio na manhã seguinte eu resolvi consumir o que restava. Para minha alegria, a minha comadre resolveu me ajudar. Dividimos o conteúdo em duas taças e ela, confortavelmente, carregou sua tacinha para o salão do hotel onde se apresentava um versátil cantor.
 
Curtiu o fim de noite como ninguém…
 
Caberá aos leitores decidir quem ganhou esta Copa.
 
Dica da Semana:  para dirimir qualquer dúvida sobre vinhos chilenos.
 
Miguel Torres Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2009
Cor: Rubi.
Aromas: Groselha, amoras, pimenta negra, pimentão, notas de tostado e cedro.
Paladar: Denso, potente e com sabores intensos.
Harmonização: Empanadas de carne, contra filé à parmegiana, arroz carreteiro, picanha na brasa, queijos maduros.

Machupicchu e os vinhos que não bebi – Final

 5º e 6º dias Cusco novamente
 
Depois de uma modorrenta manhã e uma divertida viagem de trem até a estação de Ollanta, seguido de 1:30h de van, retornamos ao nosso simpático hotel em Cusco, já bem aclimatados com o ar rarefeito de lá. Nosso principal objetivo tinha sido plenamente alcançado e estávamos com um dia e meio livres para desfrutar da gastronomia “cusqueña” e nos prepararmos para a celebração do ano novo.
 
Após um breve descanso partimos para jantar num dos mais badalados restaurantes, o Limo, que serve uma culinária peruana com forte sotaque japonês. Interessantíssimo. Nas fotos a seguir uma montagem dos pratos e sobremesas. É para deixar com água na boca mesmo!
 
Para começar os aperitivos: algumas variantes do Pisco Sauer, cervejinha e uma prosaica limonada com especiarias locais. O “amuse bouche” era composto de algumas pastinhas moderadamente picantes e batatinhas assadas no lugar do pão, para mergulhar.
 
 
Os pratos:
 
 
O forte são os pescados, seguido das aves. Carne vermelha, embora boa, é escassa. Assim como no México, o abacate é presença constante nas saladas ou como acompanhamento. A grande novidade ficou por conta do prato mostrado na primeira foto à esquerda: Cuy.
 
Trata-se do nosso “Porquinho da Índia”, uma fonte de proteínas desde os tempos dos Incas. Há, inclusive, pequenos quiosques no Vale Sagrado que os vendem como os nossos espetinhos de carne, “Cuy al Palo”. São muito apreciados e quem provou achou saboroso. É uma carne de porco!
 
Para harmonizar, um belo Finca Las Moras Sauvignon Blanc que estava delicioso. Até que enfim um bom vinho!
 
Um curioso detalhe na hora de servir o vinho foi a pergunta: “local o helado?” Os peruanos não têm o hábito de beber nada com gelo ou muito gelado, tudo é na temperatura ambiente. Nesta noite fazia cerca de 10º na rua e um pouco mais quente no restaurante. Pedimos que gelassem o vinho, só então o balde com gelo e água foi trazido. Voltamos para o hotel em alegre caminhada pela principal via de Cusco, a Avenida del Sol.
 
No dia seguinte, último do ano, após uma manhã de museus, passeio em ônibus aberto e comprinhas, fomos almoçar em outro restaurante badalado, o Cicciolina, com um cardápio de influências italianas. De interessante um diferente presunto cru de pato, servido em delgadas lâminas sobre cubos de polenta. Pensando na ceia de ano novo optamos por pratos mais leves e deixamos os vinhos para mais tarde.
 
 
Bela refeição, embora a nossa preferida tenha sido a da noite anterior. Um vinho perfeito para acompanhar seria o Orvieto DOCG da Piccini, leve e aromático.
 
 
A ceia de Réveillon foi outro capítulo formidável. Compramos, com a devida antecedência, um pacote no Inka Grill, prestigiado restaurante bem localizado na Praça de Armas, epicentro das comemorações. A ilustração a seguir mostra o cardápio oferecido.
 
 
Começamos com uma rodada do onipresente Pisco Sauer. Eu tive que derrubar mais um, que seria do Rubens, o mais novo apreciador da Inca Cola. O problema é que os efeitos do álcool são mais intensos por aqui. Se não moderar a festa acaba mais cedo. Estávamos com uma grande expectativa para saber qual vinho nos serviriam. Podíamos optar por tinto ou branco, apenas.
 
Vieram as entradas e logo depois os pratos principais (fotos).
 
 
Ofereceram-nos um tinto chileno, o Santa Helena Varietal Carmenére. Confesso que tenho certa reserva com vinhos que trazem nomes de Santas ou Santos em seus rótulos, nunca me acertei com eles. Para não bancar o enochato aceitei. Não me arrependi, estava correto e foi boa opção de harmonização. Após as sobremesas foi servido um cava Freixenet Cordon Negro, que é uma aposta certeira apesar de produzido em larga escala.
 
 
Um pouco antes da meia-noite deixamos o restaurante e fomos assistir e participar da comemoração na Praça de Armas, bem diferente do espetáculo pirotécnico do Rio e de outras capitais do mundo. A grande farra em Cusco é correr em volta da praça. Os jovens gastam energia nisto e são muito animados. Contagiante!
 
Fogos de artifício não são bem vistos por lá: colocam em risco o importante patrimônio cultural da cidade (mas tem sempre alguém que solta um rojão…).
 
 
Alegres e satisfeitos voltamos para o hotel. Nosso avião para Lima partiria no final da manhã do dia 1º.
 
6º e 7º dias Lima
 
O primeiro dia do ano na capital peruana é meio morto. Chegamos ao hotel por volta das 15h e logo saímos para passear. Fomos conhecer o Shopping Larcomar, construído sobre uma das muitas falésias locais. Ficamos passando o tempo e fotografando a linda vista para o Pacífico até a hora de jantar.
 
O grupo se dividiu.
 
Cecília e Rubens foram para o turístico restaurante Rosa Náutica (foto), um complexo situado sobre o mar e acessado por um longo píer cheio de lojinhas. Claudia e eu fomos procurar algo mais autêntico, mas não havia muitas opções, tudo estava fechado por conta do feriado. Repetimos o Alfresco e, novamente, foi uma boa pedida.
 
 
Nosso último dia no Peru foi movimentado. O avião que nos traria de volta decolaria às 21:45h, hora local, nos deixando com o dia livre para conhecer melhor a capital do país. Depois de umas compras num supermercado próximo, partimos para conhecer o Centro Histórico e o Museu Larco de arte pré-colombiana, muito recomendado.
 
Este museu é imperdível. Uma instituição particular fundada em 1926, por Rafael Larco Hoyle, aos 26 anos de idade, com ajuda de seu pai. Conta com cerca de 45.000 peças e é um espetáculo à parte.
 
No início de sua coleção se deu conta da falta informações arqueológicas que permitissem classificar adequadamente o material que adquiria. Enveredou-se pelos caminhos da arqueologia, fazendo inúmeras pesquisas e suas próprias escavações. Criou-se o sistema de ordenação cronológica, adotado até hoje, além de ter revelado diversas culturas até então desconhecidas, como a Moche.
 
 
Almoçamos, sem vinho, no simpático restaurante do museu e nos despedimos deste impressionante país, esperando voltar um dia para conhecer outras atrações como as Linhas de Nasca e o Lago Titicaca.
 
O outro lado da moeda
 
A propósito dos comentários feitos na coluna da semana passada, recebi este interessante e-mail do leitor Maurcio Steinberg, que residiu em Lima. Acho importante conhecer os aspectos que não são mostrados aos turistas:
 
“Tuty.
 
Morei e trabalhei em Lima por 1 ano e meio. Lecionei matemática na Federal de Lima como parte de meu doutorado em matemática. No início eu pensei como você que os nativos eram educados e nos tratavam bem, mas conforme a convivência ia aumentando víamos que a educação não é o mais forte deles. Apenas aquelas profissões ou funções que têm integração com o turismo são vigiadas de perto e se houver qualquer tipo de reclamação, o funcionário está fora. O governo trata com mão de ferro quem cuida e atende aos turistas, mas não cuida daqueles que dão educação a seu povo, tal como o daqui, não interessa ter um povo aculturado.
 
Todos os serviços que têm por finalidade o atendimento ao turista são duramente treinados e se não servirem são descartados.
 
Durante os 18 meses que fiquei por lá, bebi alguns bons vinhos, caros, mas bons.
 
Não é comum você ir a jantares em casas de nativos porque eles não recebem bem os estrangeiros que trabalham por lá. Eles acham que você está tirando uma vaga deles e o desemprego por lá é grande.
 
O Peru que você viu, não é o Peru real, o do dia a dia. O que você viu é o Peru para turista.
 
Não estou criticando sua coluna, por favor não me entenda mal, apenas estou colocando minha experiência sobre viver em Lima. Acredite, foi gratificante, mas pesada.
 
Abraços
 
Maurcio-Natal”
 Dica da Semana:  para encerrar esta viagem, uma verdadeira volta ao passado, um clássico.
 
Albert Bichot Petit Chablis 2011
Cor amarela claro com reflexos esverdeados. Apresenta notas de maçã, limão e um belo toque de mineralidade. Na boca é redondo e com boa persistência.
 
Este vinho é muito adequado para servir como aperitivo ou com pratos acompanhados com frutos do mar.
 

Quebrando alguns mitos – V

 #5 – Somente vinhos tintos devem ser adegados
 
Este mito altamente improvável começa com um sonho: uma adega climatizada. Dez entre dez enófilos desejam ter uma para chamar de sua e não importa o tamanho, pode ser de 6 ou de 600 garrafas.
 
O problema começa quando temos que decidir o que vai ser adegado, em geral, opta-se pelos tintos, para ser mais realista, qualquer tinto…
 
Neste momento, do ponto de vista técnico, acabamos por dar um destino nada nobre à nossa adega, que pode ter custado um bom dinheirinho: ficou mais parecida com um “frigobar”. Antes de mergulhar em maiores profundidades, respondam sinceramente a algumas questões:
 
1 – Vocês sabem o que é um “vinho evoluído”?
 
2 – Se responderam “sim”, gostam de um vinho destes?
 
3 – Qualquer vinho (tinto, branco, rose, espumante) pode ser amadurecido na garrafa sem prejuízo?
 
Não existem respostas únicas para estas perguntas. Veja como se coloca Jancis Robinson, uma celebrada especialista em vinhos:

“Na sua maioria, os vinhos de hoje devem ser consumidos tão jovens quanto possível, quando ainda se pode apreciar seu caráter frutado. Mas enquanto persiste o mito de que todos os vinhos vão melhorar com o tempo, a realidade mostra que eles estão sendo bebidos muito mais tarde do que muito mais cedo”. 

 
Excepcional poder de síntese de Robinson, quase tudo que precisamos saber está neste pequeno parágrafo. Não caberia nele comentar sobre aromas e sabores do vinho, características que podem mudar sensivelmente após alguns anos de guarda. Começam a surgir os “terciários” e seus sabores associados, típicos de um vinho evoluído.
 
Para quem não lembra mais destas explicações, estamos falando de couro, tabaco, flores e frutas secas, café, pão torrado, alcatrão, carne de caça, verniz, fungos, etc. Não estranhem, não são predominantes (há exceções), mas eles estão lá e vamos sentir um gostinho. Há que aprecie e vibre com isto, mas a maioria não. No final das contas, é isto que se busca quando adegamos um vinho, qualquer vinho.
 
Muito cuidado e atenção serão necessários, não é uma operação do tipo “esquece este vinho na adega que um dia ele fica bom”. Há muitas regras que devem ser seguidas que vão desde a escolha do vinho certo, passando pelo tempo de guarda e a CNTP (para quem não estudou química, isto significa Condições Normais de Temperatura e Pressão).
 
Para os leitores que já se decidiram por fazer uma experiência nesta linha, seja por curiosidade ou por preferirem vinhos evoluídos e para aqueles que ainda duvidam sobre este tema apresentamos, a seguir, um roteiro desmistificador.
 
I – As castas que costumam envelhecer com dignidade
 
Tintas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Nebbiolo, Pinot Noir, Syrah;
 
Brancas: Riesling, Chardonnay.
 
Isto não significa que qualquer vinho destas uvas possa ser envelhecido e nem que somente estas varietais devam passar por este processo.
 
II – Vinhos de sobremesa como os de colheita tardia ou os fortificados, podem ser adegados sem problemas.
 
Usando estes como exemplos podemos compreender as razões e aplicar em outros casos:
 
– alto teor alcoólico – com o tempo de guarda este teor cai tornando a bebida mais agradável;
 
– acidez marcante – outra característica que diminui com a idade melhorando o resultado final;
 
– taninos intensos (para os tintos) – definitivamente ficam “domados” com o passar dos anos;
 
– passagem por madeira – este é o ponto crítico uma vez que esta característica não se dilui com o tempo. Ao contrário, pela queda das demais pode sobressair exageradamente desequilibrando o vinho. Portanto é de fundamental importância na escolha de uma garrafa para ser amadurecida.
 
III – Como decidir o que vale a pena adegar
 
Aqui está toda a graça desta experiência, que pode produzir excelentes ensinamentos. Simples conselhos podem ajudar muito:
 
– estabeleçam uma faixa de preços a partir da qual se pode confiar que o investimento valerá a pena;
 
– comprem pelo menos 2 garrafas, 3 seria o ideal. Degustem uma logo (anotem o resultado ou façam um ficha técnica), abram a outra com 2 ou 3 anos de guarda e comparem o resultado com a 1ª. Se valer a pena, guarde a terceira mais um pouco.
 
IV – Seguindo a nossa “Guru” de hoje, Jancis Robinson, eis uma interessante lista por ela compilada.
 
a) Vinhos que devem ser consumidos logo:
 
os europeus classificados como “de mesa”;
 
os de garrafão ou caixa tipo Tetra Pack;
 
os conhecidos como “vin de pays”, relativamente baratos;
 
os do tipo Beaujolais Noveau, ou “en primeur” ou “novelo”;
 
produtos comerciais com preços até 50 ou 60 reais (a grande maioria deles)
 
os rosés;
 
os espumantes mais em conta. 
 
b) Vinhos que ganham com o tempo:
 
Tintos – (tempo de guarda nas condições ideais)
 
Agiorgitiko da Grécia (4–10)
Aglianico da Campania (4–15)
Baga da Barraida (4–12)
Cabernet Sauvignon (4–20)
Grenache/Garnacha (3–12)
Melnik da Bulgária (3–7) (este vinho está sendo revivido)
Merlot (2–10)
Nebbiolo (4–20)
Pinot Noir (2–8)
Raboso do Piave (4–8) (DOC italiana)
Sangiovese (2–8)
Saperavi da Georgia (3–10) (outra casta sendo reabilitada)
Syrah/Shiraz (4–16)
Tannat de Madiran (4–12)
Tempranillo da Espanha (2–8)
Porto Vintage (15-50)
Zinfandel (2–6).
 
Brancos – (tempo de guarda nas condições ideais)
 
Vinhos Botritizados (5–25)
Chardonnay (2–6)
Furmint da Hungria (3–25) (Tokay)
Semillon australiano do Hunter Valley (6–15)
Chenin Blanc do Loire (4–30)
Petit Manseng de Jurançon (3–10)
Riesling (2–30).
 
Para terminar, a lista não é definitiva e nem pretendia ser. Não foram contemplados os Champagnes e outros espumantes de 1ª linha, que podem ser guardados por alguns anos como foi relatado nesta coluna, recentemente, como os Franciacorta. Nem se falou, tampouco, dos vinhos do Cone Sul das Américas. Já tive ótimas
experiências com Malbecs argentinos, Tannats uruguaios e Carmenéres e Cabernets chilenos.
 
Animem-se, arrisquem, experimentem. Nem sempre dá certo, mas sempre vale a pena.
 
Dica da Semana:  para guardar. O tempo vocês decidem….
 
Vinho Chocalán Cabernet Sauvignon Selección
Coloração vermelha intensa e aroma complexo com notas de frutas negras, amora, cassis e notas de tabaco, café e baunilha. Ao paladar, revela-se equilibrado, encorpado e elegante, com taninos bem maduros e final de boca persistente. Ideal para acompanhar carnes vermelhas assadas e queijos maduros.
 
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