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O inacreditável preço do vinho no Brasil

Batemos muito nesta tecla, mas nem todos os nossos leitores entendem a importância deste fato. Viajantes, dependendo de seu destino e conhecimento deste mercado, muitas vezes são surpreendidos ao encomendar um vinho na carta de um bom restaurante ou mesmo numa loja especializada: são ridiculamente baratos se comparados aos nossos preços, vinho por vinho. Um amigo e companheiro de excelentes jornadas enológicas, MSB, fez a sugestão que acatei com entusiasmo: por que não fazer uma coluna comparando preços daqui e do exterior.
 
Vamos a ela!
 
Para entender tudo, aqui estão as regras deste jogo:- São 3 grupos de vinhos, cada um com um espumante um branco e um tinto;
 
– Cada grupo representa, hipoteticamente, uma faixa de preço e de qualidade dos vinhos;
– Procuramos por vinhos consagrados no nosso mercado.
– Taxa de conversão usada – 1 USD = R$ 4,00. Todos os preços estão em dólares.
– Os preços apresentados representam a média do que foi anunciado em lojas virtuais e sites de pesquisas.
– O cálculo da variação foi feito entre os preços do país de origem e do Brasil.
 
1 – Vinhos Básicos
 
– Prosecco Dedicato Extra Dry (ITA)
– Santa Rita 120 Sauvignon Blanc (CHI)
– Finca La Linda Malbec (ARG)

 

Tipo   Brasil   EUA   P. Origem   Variação
Esp.
 
11.25
 
14.85
 
5.39
 
209%
Bco.
 
10.40
 
5.00
 
4.20
 
248%
Tto.
 
16.25
 
9.00
 
8.12
 
200%
 

 

1 – Vinhos Médios
 
– Alma Negra Brut Nature (ARG)
– Louis Latour Chablis (FRA)
– Quinta do Crasto Vinhas Velhas (POR)

 

Tipo   Brasil   EUA   P. Origem   Variação
Esp.
 
32.15
 
17.00
 
16.00
 
200%
Bco.
 
41.00
 
24.00
 
19.06
 
215%
Tto.
 
70.00
 
34.00
 
30.00
 
233%

 

 
3 – Vinhos Top
 
– Champagne Veuve Clicquot (FRA)
– Cervaro Della Sala (ITA)
– Caymus Cabrnet Sauvignon 40th anniversary (USA)

 

Tipo   Brasil   EUA   P. Origem   Variação
Esp.
 
87.50
 
24.00
 
43.00
 
203%
Bco.
 
126.00
 
45.00
 
37.00
 
341%
Tto.
 
178.00
 
95.00
 
95.00
 
187%
Comentários finais
 
Está é uma pequena amostra deste universo.
 
Alguns vinhos pesquisados chegaram a ter sobre preços da ordem de 500%, o que consideramos uma distorção.
 
Não incluímos preços de frete, no Brasil.
 
Estas diferenças se devem principalmente a uma abusiva taxação e também à margens gananciosas de alguns importadores.
 
O resultado prático é uma retração deste mercado o que vai prejudicar comerciantes e consumidores.
 
Não pensem que os vinhos nacionais vão se beneficiar disto, acabaram ficando ainda mais caros que os importados, sem falar que não são comparáveis em qualidade (há exceções).
 
Uma pequena amostra: (vinhos de básicos a médios, padrão Brasil)
 
– Tinto – Dal Pizzol Merlot – USD 15.00
– Espumante – Cave Geisse Brut Nature – USD 20.00
– Branco – Salton Virtude Chardonnay – USD 22.50
 
Sem comentários… 

Vinho da Semana: para alegrar um pouco a vida.

 

Diamandes Perlita Chardonnay 2013 – COMPRE AQUI Oferece um delicioso sabor frutado com notas de pêssegos, peras brancas e manga. Bom nível de acidez e frescor. Harmonização: é um vinho bem equilibrado, muito agradável que pode ser servido como aperitivo ou como acompanhamento de entradas e pratos de peixe.

Vinhos “On the rocks”

O mundo do vinho tem aspectos muito curiosos, por exemplo, enquanto existe um lado totalmente conservador e quase engessado, como as eternas referências de Bordeaux e Bourgogne, o resto do mundo usa estratégias moderníssimas de marketing para atrair os mais variados tipos de consumidores para seus multivariados tipos de vinhos.
 
Dentro desta linha, existem vinhos para o público feminino, para os jovens, para fumantes de charutos e uma infinidade de outras faixas que nos fazem crer que deve existir, em alguma vinícola do mundo, um vinho elaborado especialmente para você.
 
A última novidade mercadológica são os vinhos produzidos para serem consumidos com pedras de gelo na taça. São vinificações especiais, em que se levou em conta a diluição por conta da água adicional do degelo. Dois produtos deste tipo estão disponíveis no nosso país, ambos vindos da França: um espumante e um rosé tranquilo.
 
Inveja do “whisky on the rocks” ou uma tentativa de conquistar clientes neste segmento?
 
Möet & Chandon Ice Imperial
 
 
 
Quando uma respeitada vinícola, do calibre desta, resolve colocar um novo e “revolucionário” produto no mercado, muita coisa está em jogo, a mais importante delas: o nome Möet & Chandon.
 
Para começar, “Ice” é uma nova classificação que se soma às tradicionais “Brut” e “Demi-Sec”. Para quem não sabe, Ice quer dizer gelo, em inglês. Pelo simples fato de usarem um anglicismo, coisa que os franceses simplesmente odeiam, indica claramente que é um Champagne para ser exportado. Não acredito que os nativos vão consumir isto.
 
A título de curiosidade, se em lugar do termo inglês usassem o francês, ficaria assim: “Glace Imperial”…
 
Aproxima-se de um espumante meio-doce. Elaborado com um corte de Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay, com uma dosagem final de 45g/l de açúcar. É muito frutado apresentando aromas de manga e goiaba, além de notas de nectarina e framboesa. No palato é amplo destacando-se um carnudo e voluptuoso sabor de salada de frutas. Doçura próxima de um caramelo ou marmelada (suspeito…). Acidez refrescante com notas de gengibre.
 
A foto que ilustra serve para explicar que deve ser consumido em taças próprias para Cabernet Sauvignon, com 3 pedras de gelo. Pode-se acrescentar folhas de hortelã, sementes da cardamomo, raspas de frutas cítricas, casca de pepino, gengibre ou frutas vermelhas.
 
O problema é seu preço nas prateleiras nacionais: quase R$ 400,00…
 
Rosé Piscine
 
Esta proposta, na mesma linha da anterior, é bem mais palatável, tanto no custo quanto no capítulo de aromas e sabores.
 
 
 
A cor é muito bonita e nos convida para experimentá-lo rapidamente. Óbvio que a primeira ideia é fazer a comparação com e sem gelo. Recomendamos que façam como na foto, em copos “ Old Fashioned” com duas ou 3 pedras de gelo.
 
Elaborado com a casta Negrete pelo Grupo Vinovalie, criado em 2006, que reúne quatro cooperativas de vinhos do país e alguns châteaux, na região sudoeste da França.
 
Bonita coloração rosé-salmão pálido, quase transparente, com reflexos azulados. Seu nariz é refinado, com notas de limão e morango. Paladar harmonioso, que harmoniza bem com Camarão, terrine de peixe, peixes em molhos cítricos, queijo fresco com ervas.
 
Numa de nossas recentes reuniões foi muito apreciado. A garrafa esvaziou em poucos minutos.
 
Dica da Semana: não poderia ser outro.
 
 Rosé Piscine
 
Apenas siga as recomendações:
 
Servir entre 8° – 11°C
 
BEBER ABSOLUTAMENTE COM GELO

Um Champagne com 270 anos de tradição

A Moët & Chandon, uma das mais importantes vinícolas do mundo, decidiu romper com as rígidas tradições vigentes e produzir um espumante totalmente diferente de tudo o que já foi feito até hoje, preservando apenas o que é exigido para ser um Champagne.
 
O talentoso Chef de Cave, Benoît Gouez, criou um corte que classificou como estratificado em tripla camada, cada uma representando um aspecto. Uma trilogia que contempla harmonia, complementaridade e equilíbrio.
 
 
 
Para Benoît, este novo produto batizado como MCIII Brut 001.14, representa um ponto de virada na linha Moët.
 
O MCIII é um champanhe “não safrado”, assim como o famoso Brut Impérial, mas, ao mesmo tempo, é também uma composição de várias safras que englobam os 270 anos de experiência desta casa.
 
Um corte original e inovador.
 
Para a primeira camada, denominada Aço (37,5% do volume), foi utilizada a safra de 2003 (50% Chardonnay e 50% Pinot Noir) que estava estocada em tanques de aço inoxidável.
 
A segunda camada, Madeira (37,5% do volume), foi composta por um corte das safras 1998, 2000 e 2002, que estagiaram entre 5 a 7 meses em grandes tonéis de carvalho (foudres) de 5000 litros.
 
Os 25% restantes que compõem a terceira camada, Vidro, foram obtidos a partir de um corte das safras 1993,1998 e 1999, da Moët Grand Vintage Collection, guardadas em garrafas, cujo primeiro lote teria sido “degolado” em 2014 (degorgement), o que é indicado pelo numeral “001.14”.
 
Foram 15 anos de estudos e experimentos para obter um produto único, inovador e, segundo os críticos que já o degustaram, a Cuvée (vinificação) de maior complexidade e prestígio desta Maison.
 
Uma nova garrafa foi especialmente projetada, com um fechamento diferenciado.
 
As fotos falam por si:
 
 
 
 Um último e importante detalhe que demonstra toda a preocupação da Moët & Chandon com o caráter inovador deste produto: as taças recomendadas são as mesmas utilizadas para vinhos de Bordeaux, do fabricante dinamarquês Zalto (http://www.zaltoglas.at/en_sort_bord.php).
 
 
O preço sugerido na Europa é de 450 Euros e, no momento, só pode ser adquirida diretamente da M&C.
 
Por sua característica muito exclusiva o número de garrafas disponíveis é limitado.
 
Dica da Semana: antes que os preços dos vinhos enlouqueçam de vez, já podemos pensar em espumantes para as festas de fim de ano.
 
Campos de Cima Extra Brut
Predominam aromas cítricos, mesclados a néctar e tâmaras, com leve fundo de ervas de quintal (alecrim, sálvia).
Em boca é agradável e persistente.
Premiações:Medalha de Ouro – Concurso Mundial de Bruxelas – Brasil 2013
Medalha de Prata – GP Vinhos do Brasil – 2015
Comenda – International Wine Challenge – London 2015
 
 
 
 

Vinhateiro doméstico – um experimento

Algumas semanas atrás li uma matéria no site “Wine Pair” (*) sugerindo que todos nós, enófilos de carteirinha, poderíamos realizar o sonho de nos tornarmos vinhateiros, em casa, produzindo o nosso próprio corte Bordalês a partir de varietais comprados no mercado.
 
Confesso que fui seduzido pela ideia. Com se isto não bastasse, recebi esta mensagem da leitora Luiza Samara, de Curitiba, que reproduzo abaixo:
 
“Tuty,
 
Li quase todas as suas colunas e gostei da maioria. Não por defeito delas, mas por interesse meu.
 
Vi que às vezes o enólogo, por uma razão ou outra, mistura uma ou duas uvas para obter um vinho de melhor qualidade, isso seria um corte, não?
 
Bem, considerando isso, lá vai minha pergunta:
 
Se eu misturar dois vinhos o que acontecerá, além de estragar os dois? rs.
 
Explico minha pergunta: hoje no almoço em casa de amigos, bebi um vinho argentino que era um corte de Merlot, Cabernet Sauvignon e Malbec e estava muito bom. Acompanhou um cozido e desceu muito bem.
 
Dá pra entender que misturar uvas é uma coisa e misturar vinhos é outra, mas com certeza estragaria a taça de vinho, mesmo em qualquer percentual?
 
A propósito, adoro vinhos verdes.
 
Abraços”.
 
(A resposta completa a este e-mail está depois da Dica da Semana. Leiam, também, esta coluna sobre os cortes, publicada em Fevereiro/2015:
 
O que serviu de estopim para o experimento que passo a descrever em seguida foi esta frase de Luiza:
 
“Se eu misturar dois vinhos o que acontecerá, além de estragar os dois”?
 
Decidi que era hora fazer algumas misturas, com vinhos comprados no mercado,demonstrando que isto pode ser feito sem sustos. Basta seguir algumas recomendações. Diversão e aprendizado garantidos!
 
Convidei José Paulo e Valter para participarem do experimento. Seriam três opiniões sobre os diversos resultados.
 
Um equipamento mínimo se faz necessário: um pequeno decanter, para receber e homogeneizar as misturas e um copo graduado para dosar. Pode ser este de cozinha mesmo, mas escolham um que tenha graduações de 50ml pelo menos.
No nosso caso dispúnhamos de um Becker com marcações de 20 ml, mas foi um luxo. Medidas padrões de cozinha, xícaras ou copos também podem ser usados. Basta ter imaginação.
 
 
O segundo passo foi selecionar os vinhos. Não pretendíamos nada muito exótico nem elaborar grandes volumes. Decidimos por usar três garrafas de 375 ml, compradas no supermercado perto de casa:
 
– Dal Pizzol Merlot 2012 (Brasil);
 
– Finca Negra Reserva Cabernet Sauvignon 2012 (Miguel Torres – Chile);
 
– Dona Dominga Reserva de Família Carménère 2013 (Casa Silva – Chile).

A regra foi uma só: vinho varietal, ½ garrafa. O que estivesse à venda.
 
Alguns acepipes, torradas e água serviram de coadjuvantes numa tarde muito agradável.
 
 
O primeiro passo foi provar individualmente os 3 vinhos e anotar todas as características, assim poderíamos comparar objetivamente as mudanças.
 
Merlot: coloração rubi claro, muito aromático com notas de ameixa preta e cassis. Percebe-se que não passou por madeira. Taninos educados e presentes. Corpo médio, muito redondo. Bom vinho.
 
Cabernet Sauvignon: coloração rubi escuro com reflexos violáceos. Aromas herbáceos e “sous bois” (chão do bosque) típicos da casta. Corpo médio, redondo, taninos presentes e agradáveis. Boa boca, com notas de alcaçuz. Muito bom.
 
Carménère: coloração rubi intensa com reflexos violáceos. Aroma agradável de frutas escuras e herbáceo, “Sous Bois”, discreto. No palato era persistente e intenso. Taninos marcantes e quase aveludados. Notas de banana ou baunilha e um final de boca que remetia à cinza ou fumaça. O melhor dos três. Surpreendeu.
 
Neste ponto, como não havia nos vinhos degustados nenhuma característica que merecesse uma tentativa de correção, optamos por fazer as nossas misturas apenas com o intuito educativo: primeiro aos pares e depois em trios. 
 
Conforme o resultado, optaríamos, ou não, por alterar proporções.
 
1º corte: 50% Cabernet e 50% Merlot – clássico bordalês.
 
Resultado: a cor ficou mais intensa, com predominância dos aromas herbáceos do Cabernet.
 
Todos concordaram que o vinho ficou melhor, com mais sabor do que em cada um, individualmente. Valter mencionou que compraria um vinho como este. O resultado foi tão positivo que decidimos variar as proporções para a próxima tentativa.
 
2º corte: 40% de Cabernet e 60% de Merlot
 
Esta foi a mistura mais difícil de fazer e o copo graduado ajudou muito. Foram 50 ml de Merlot e 30 ml de Cabernet, aproximadamente.
 
A coloração ficou inalterada em relação à anterior, mas surgiu um inesperado aroma floral que encantou e intrigou a todos. Afinal, não estava presente em nenhum dos vinhos na prova de controle. José Paulo logo classificou como Rosas.
 
Sensacional!
 
Nítida predominância do Merlot, como esperado. O resultado ficou muito melhor que o imaginado.
 
3º corte: 60% de Cabernet e 40% de Merlot
 
Escolha quase óbvia, invertemos a proporção da mescla anterior.
 
A coloração se tornou um pouco mais clara. Novamente se percebia o aroma de rosas, ainda predominante. Os taninos ficaram mais intensos e mais ásperos. 
 
Concordamos que era menos interessante que o anterior.
 
Após algumas considerações, concluímos que o corte 50/50 seria a melhor escolha.
 
4º corte: 50% Carménère e 50% Merlot
 
Houve um predomínio do Carménère tanto na cor quanto na parte aromática: cor violácea, aromas de ameixa preta e alcaçuz, mas todos discretos. Um pouco do “sous bois” foi percebido também. Boa complexidade.
 
Na boca o vinho se mostrou muito bom, agradável, boa acidez. Presença de cerejas maduras. Outra surpresa – este não é um corte usual nas vinícolas.
 
5º corte: 50% Cabernet e 50% Carménère
 
Resultou numa bonita cor rubi escura e intensa. Na parte aromática predominaram as características do Carménère: ameixa preta; herbáceos como feno cortado. No palato ficou extremamente agradável, bem gastronômico, com taninos domados e notas de baunilha (madeira). Ótima acidez.
 
O melhor vinho que obtivemos!
 
Para encerrar o experimento, elaboramos mais três cortes, com todos os vinhos em diferentes proporções. Ficaram desinteressantes, nenhum se destacou. Eis um resumo desta última parte:
 
6º corte: partes iguais dos 3 vinhos
 
A coloração final ficou mais clara. Nítida presença de aromas tostados ou defumados indicando a presença de madeira. Deixado na taça aerando, apresentou aromas herbáceos. Paladar indefinido, embora com boa acidez. 
 
Tânico e sem graça.
 
7º corte: 50% Merlot, 25% Cabernet e 25% Carménère
 
Bonita coloração rubi escura, intensa com reflexos violáceos. Muito brilho indicando acidez alta o que se confirmaria no palato. Pouco aromático com predominância de notas herbáceas.
 
No paladar se mostrou muito ácido, quase cítrico ou azedo. Desagradável.
 
8º corte: 50% Cabernet, 25% Merlot e 25%Carménère
 
Uma tentativa de reverter o insucesso anterior. A coloração ficou mais escura, rubi vermelho. Mais aromático que os anteriores, apresentou intensas notas herbáceas, ameixa preta e cassis (doces ou compotas). O paladar era desinteressante, não disse a que veio.
 
Conclusão
 
Em função do resultado pouco animador das misturas em trio, decidimos que não teria sentido experimentar um último corte com predominância do Carménère. Já havíamos percebido que este era um vinho de qualidade superior aos demais, impondo sua presença nas mesclas onde participou. No guia Descorchados de 2015 este vinho recebeu 89 pontos. Os outros dois nem foram mencionados…
 
Este experimento foi totalmente empírico, sem nenhum caráter científico ou exato. Apenas um exercício didático que nos encantou e que certamente será repetido.
 
Uma última recomendação: não esperem que estes resultados se repitam com outros vinhos das mesmas cepas. Cada experimento será único.
 
Este é a graça desta prova. Junte os amigos e faça uma reunião diferente, divertida e cheia de surpresas.
 
Dica da Semana: como o “nosso” melhor vinho ainda não está à venda, a indicação fica com este protagonista:
 
Dal Pizzol Merlot 2012
 
Cor intensa, potente, vermelha rubi com tons violáceos.
 
Aroma pronunciado com notas de ameixa e cassis. Sabor persistente, com bom “volume de boca”, encorpado, harmônico com taninos aveludados.

Harmonização: Vitela, rosbife, bacalhau, massas com molhos de carne, aves bem condimentadas, pato ou ganso, carne de porco, cordeiro, patê de Foie Gras, suflês, queijos tipo gorgonzola, brie, roquefort, port salut.
 
 
 
Resposta ao e-mail: 
 
Luiza,
Boas questões estas que você coloca, este é um dos assuntos mais interessantes para escrever na minha coluna de vinhos. Tenho umas ideias em andamento sobre este tema, uma delas vai tocar exatamente neste ponto.
Alguns esclarecimentos são necessários, vou fazê-los usando o seu próprio texto.
1 – você menciona: “Vi que às vezes o enólogo por uma razão ou outra, mistura uma ou duas uvas para obter um vinho de melhor qualidade, isso seria um corte, não?”
Sim isto é um corte, também chamado de assemblage, blend ou mescla.
O ponto importante são as razões pelas quais o enólogo ou um winemaker decide fazê-lo.
A principal é que os vinhos cortados são produtos superiores aos vinhos varietais (obtidos por vinificação de uma única casta).
Basta olhar para as listas de melhores vinhos que você perceberá que raramente encontramos um vinho monocasta nestas relações (Pinot Noir é a exceção).
Mesmo se aparecer, aposto que é um corte disfarçado: na maioria dos países produtores, um vinho para ser classificado como varietal precisa ter um % mínimo da casta, podendo receber adição de outras vinificações. Por exemplo, os famosos Cabernet da Califórnia recebem até 10% de Merlot ou outra uva. Na Argentina, os seus deliciosos Malbec só precisam ter 70% desta casta.
Esta prática é tão comum que quando um vinho é realmente elaborado com uma única uva, recebe a indicação 100% XXX num dos rótulos.
Para seguir na explicação, fixe esta ideia: o enólogo ao decidir por um corte busca um vinho melhor.
Óbvio que outros fatores podem provocar esta decisão: safras ruins, produções pequenas que não justificam um engarrafamento, etc. Afinal, por mais artistas que sejam os vinhateiros, isto ainda é um negócio que precisa ser bem gerido e dar lucro…
2 – duas frases suas:
“Se eu misturar dois vinhos o que acontecerá, além de estragar os dois?”
“Dá pra entender que misturar uvas é uma coisa e misturar vinhos é outra, mas com certeza estragaria a taça de vinho, mesmo em qualquer percentual?”
Não é bem assim: Quem disse que ao misturar dois vinhos vamos estragá-los?
Deixando os possíveis erros de fora desta história, esta é a principal técnica de elaborar um corte: misturam-se duas (ou mais) vinificações.
Um enólogo passa algum tempo num laboratório dosando e experimentando diferentes misturas até chegar a seu objetivo que pode ser um vinho com menos tanino, ou mais ácido, com fruta, com madeira, enfim, inúmeras possibilidades.
Resolvida a equação, as diferentes partidas de vinhos serão misturadas na proporção indicada e passarão por processos adicionais de estabilização, filtragem, clarificação, amadurecimento e, um dia, engarrafadas.
Só para não deixar você sem uma resposta completa, está não é a única técnica de se fazer uma mescla.
Pode se obter bons resultados com a co-fermentação: as uvas são fermentadas juntas obtendo-se uma vinificação já na proporção desejada.
É muito mais complicada pois não há como controlar tudo o que vai acontecer na cuba de fermentação. Até para equilibrar a quantidade de cada uva é uma operação mais difícil.
Mas uma vez dominada a técnica os vinhos ficam espetaculares.
Outra técnica, muita usada em Portugal, é o “field blend” (mistura de campo): as diferentes uvas são todas plantadas numa mesma área, colhidas e fermentadas juntas, mesmo que algumas variedades ainda não estejam no ponto certo.
Os tintos portugueses, principalmente do Douro, são elaborados desta forma (há exceções). Na minha recente visita a Portugal aprendi que num vinhedo destes podem ser encontradas mais de 20 diferentes uvas, algumas desconhecidas até hoje. Mas que vinhos!
Se quiser lembrar disto é só acessar estas colunas:
http://www.colunadotuty.com.br/2014/11/viagem-enogastronomica-espanha-e_29.html (leia a descrição do vinho Quinta do Crasto Vinhas Velhas)
http://www.colunadotuty.com.br/2014/12/viagem-enogastronomica-espanha-e.html (leia a descrição do vinho Carvalhas Vinhas Velhas)
A chave para nada dar errado é escolher corretamente o que será misturado. Não adianta selecionar dois vinhos parecidos e nem vinhos com estruturas opostas.
Por exemplo: Cabernet com Sangiovese, ambos reis dos taninos, ou Pinot Noir com qualquer outra casta tinta (no Chile já conseguiram…).
Existe uma razão para os vinhos de Bordeaux serem famosos: o corte bordalês é um exemplo de harmonia entre castas diferentes: Cabernet Sauvingnon, Merlot, Cabernet Franc, Petit Verdot, Malbec e Carménère, estas duas últimas em desuso por lá atualmente. Importante: cada uma é vinificada separadamente e as dosagens variam consideravelmente por safra e por área de Bordeaux.
3 – para encerrar: vinhos brancos também podem ser elaborados por corte e o Champagne, apesar de ser produzido na versão varietal, os clássicos são o famoso corte de Chardonnay e Pinot Noir, uma uva branca e uma uva tinta!
-x-

Um concurso italiano, uma cidade de Portugal, um vinho brasileiro premiado

La Selecione del Sindaco, que poderia ser traduzido com A Seleção do Prefeito, é um concurso enológico internacional que tem por objetivo promover empresas e regiões que produzem vinhos de qualidade com denominações DOC, DOCG e IGT, em pequenas quantidades, entre 1000 e 50.000 garrafas. Uma interessante característica é que participam, conjuntamente, as municipalidades e as vinícolas de cada região.
 
 
Patrocinado pela Associazione Nazionale Città del Vino, e pela Recevin (Rede Europeia da Città del Vino), conta com supervisão científica da OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho) e a chancela do Ministero per le politiche agricole (Ministério da Agricultura da Itália). A primeira edição foi em 2002 na cidade de Siena e já percorreu a Itália de norte a sul passando por Conegliano (2003), Alba (2004), Roma (2005), Ortona (2006), Monreale (2007), Cividale del Friuli (2008), San Michele all’Adige (2009), Brindisi (2010), Torrecuso (2011), Lamezia Terme (2012), Castelfranco Veneto e Asolo (2013) e Bolzano (2014).
 
Em 2015 foi escolhida a cidade de Oeiras, Portugal como a sede da 14ª edição do evento. O Brasil foi o convidado de honra devido à sua identidade cultural com o povo português e aos fortes laços que nos ligam à Itália, origem de um grande número de imigrantes que ajudaram a moldar o nosso país, principalmente na região sul. Sem eles não teríamos vinhos, com certeza!
 
Para sediar as seções de degustação foi escolhido o Palácio Marquês de Pombal, construído pelo arquiteto húngaro Carlos Mardel, na segunda metade do século XVIII, e que serviu de residência do histórico Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal e Conde de Oeiras, “pai” do vinho do Porto, por ter demarcado e protegido a região do Douro.
 
Construção de rara beleza, o edifício é conhecido por seus mosaicos e cerâmicas contidos e está rodeado por jardins maravilhosos.
 
 
Foram três participantes brasileiros:
 
– Vinicola Fazenda Santa Rita de Vacaria, RS, (www.vinicolafazendasantarita.com.br) com dois vinhos, o Chardonnay Família Lemos De Almeida e o espumante, Casa Portuguesa Brut Rosé, produzido com um corte de Chardonnay 60% e Pinot Noir 40%.
 
– Vinicola Armando Peterlongo, de Garibaldi, RS (http://www.peterlongo.com.br/pt/introducao/), que trouxe quatro vinhos, dois espumantes, método tradicional, à base de Chardonnay e Pinot Noir e outros dois obtidos pelo método Charmat, um rosé 100% Merlot e outro 100% Pinot Noir.
 
– Cooperativa Vinicola Garibaldi,RS, (http://www.vinicolagaribaldi.com.br/pt/) com três espumantes, um 100% Chardonnay, método clássico, um Moscato (corte de amarelo e branco) e um Prosecco.
 
 
A premiação distribuiu 27 Grandes Medalhas de Ouro, 141 Medalhas de Ouro e 129 Medalhas de Prata, sendo a primeira vez que o número de medalhas de ouro foi maior que as de prata, um resultado que deixou os organizadores extremamente satisfeitos, afinal a busca pela qualidade é o objetivo final.
 
O melhor vinho desta avaliação foi um Ice Wine da Moldávia, mostrando a força dos vinhos doces que ficaram com quatorze Grandes Medalhas. Os tintos receberam onze, os brancos e os rosados receberam uma, cada.
 
A relação completa dos premiados está aqui, para download: (em italiano)
 
O espumante brasileiro, Privillege Peterlongo Brut Rosé – método Charmat, recebeu 87,8 pontos e uma importante Medalha de Ouro, para esta tradicionalíssima vinícola da Serra Gaúcha, uma das poucas no mundo que ainda pode utilizar a denominação Champagne nos seus produtos. Uma pioneira neste segmento que durante muitos anos abasteceu as adegas do Palácio de Buckingham.
 
Este espumante foi elaborado para comemorar os 100 anos da empresa, em 2013: produziu o 1º Champagne brasileiro em 1913 pelas mãos de Manoel Peterlongo.
 
Dica da Semana: não poderia ser outro!
 
Privillege Brut Rosé Peterlongo
 
Elaborado com a variedade Merlot, possui um estilo muito especial, complexo, evidenciando frutas vermelhas.
Harmoniza com carnes brancas no geral, pato, salmão, pratos à base de frango e queijos leves.
Sua produção ficou limitada em 5.700 garrafas o que o torna um vinho difícil de encontrar.
Neste link, há uma relação dos representantes nos estados brasileiros.
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