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Uvas autóctones da Itália – Algumas uvas brancas

Não esgotamos o tema Sangiovese, pelo menos mais duas denominações se destacam neste extenso cenário: Carmignano e Morellino di Scansano.
A primeira, produzida nos arredores da cidade homônima é um interessante corte da Sangiovese e Cabernet Sauvignon (podem também entrar outras castas). Portanto, um precurssor dos afamados Super-Toscanos. Curiosamente são DOCG.
A segunda, outra DOCG, fica na região de Marema. Produz um vinho com base na popular Sangiovese, 85% no mínimo, cortada com qualquer outra casta “não aromática”, desde que obtida segundo uma extensa lista de exigências emitida pela autoridade da DOCG. Resumindo: qualquer outra uva plantada dentro dos limites da região. Há, sem dúvidas, ótimos vinhos nestas denominações, mas vamos deixá-los para outra oportunidade.
Verdicchio e Vernaccia
São duas castas, pouco divulgadas, que produzem vinhos brancos deliciosos num país que prima pelos tintos. A Verdicchio, ilustração a seguir, tem seu principal terroir na região do Marche (Itália Central), sendo conhecida desde o século XIV. Apesar de ser uma variedade temperamental. Dados do censo de 1980 mostravam uma área plantada de 65.000 hectares tornando-se a 15ª uva mais cultivada no mundo, superando a Chardonnay, Pinot Noir, Sauvignon Blanc e a própria Sangiovese. Surpreendente!

Seu nome significa “Verde”, provavelmente devida à coloração amarela esverdeada dos vinhos obtidos. São de alta acidez e com aromas e sabores que remetem aos frutos cítricos. Além do vinho tranquilo, são obtidos bons espumantes também e um vinho de sobremesa tipo “passito”. Existem diversas DOC para esta varietal. A mais importante é Verdicchio dei Castelli di Jesi, localizada na cidade de Jesi na província de Ancona.

O principal produtor é Bucci. Seu vinho é considerado como um dos vinhos brancos “premium” do país sendo o único a receber os “Tre Bicchiere” do Guia Gambero Rosso ano após ano. Infelizmente, sem importador para o Brasil até o momento.
Semana que vem vamos falar da uva Vernaccia e da bela cidade de San Gimigniano.

Dica da Semana: Uma boa alternativa é o vinho produzido por Garofoli.

Garofoli Anfora Verdicchio dei Castelli di Jesi DOC Classico
A vínicola Garofoli foi criada no final do século 19 no ano de 1871, por Antonio Garafoli. Essa vinícola familiar que já está na quinta geração. É uma vinícola tradicional, sempre respeitando os métodos de vinificação por gerações, porém segue constantemente as evoluções e técnicas de produção.
Degustação: Aromas de frutas brancas, leve floral e um toque de grama no final. Na boca tem um bom corpo, acidez correta e um final marcante.
Harmonização: perfeito com frutos do mar preparados de diversas maneiras, inclusive crus. Carnes brancas leves como coelho.

Riesiling, Pinot Gris e Gewurtztraminer – Final

Alsácia
Para finalizar, vamos conhecer um pouco desta curiosa região francesa de forte influência germânica. Localizada entre as montanhas Vosges a oeste e o Rio Reno e a Alemanha a leste, este pequeno paraíso, que já mudou de nacionalidade pelo menos 4 vezes, foi declarado território francês após a Grande Guerra.
Verdadeiro caldeirão cultural absorveu o que havia de melhor do cenário vinícola dos dois países o que poderia ser definido como um modo alemão de fazer vinhos franceses: o formato das garrafas tem enorme significado. Uma legislação rigorosa impõe limites que asseguram esta excepcional qualidade de seus vinhos.
Apenas 9 varietais são oficialmente permitidas: Riesiling, Pinot Gris, Gewüztraminer, Muscat, Pinot Noir, Pinot Blanc, Auxerrois Blanc, Sylvaner e Chasselas.
Existem outras castas plantadas, mas não são significativas. As seis primeiras são as mais importantes. A Muscat desempenha o papel de 4º Mosqueteiro no trio apresentado enquanto a Pinot Noir é a que produz o único tinto da região, muito diferente daqueles da Borgonha. Além deste são elaborados vinhos brancos, rosados e um excelente espumante o Cremant d’Alsace.

Unicamente as 4 uvas principais podem ser classificadas com a mais importante denominação, “Grand Cru”, dependo da área de plantio. Cerca de 50 vinhedos estão assim classificados e são conhecidos mais pelo nome de seus produtores do que pela região ou vila em que estão geograficamente localizados. Curiosamente, nem todos os produtores endossam este sistema vendendo seus vinhos livremente e independentes da burocracia vigente. Quase sempre estão entre os melhores…

O vinho alsaciano é tipicamente gastronômico, perfeito para acompanhar saborosas refeições. A grande surpresa fica por conta da pouca popularidade destes brancos. Alguns especialistas apontam a garrafa longa com um fator que trás grande confusão com os vinhos alemães, nem sempre bons e muito falsificados. Por outro lado o marketing da dupla Chardonnay e Sauvignon Blanc é tão forte que vale a pena perguntar: “Quem conhece Gewürztraminer, Muscat ou Pinot Gris?” Uma pena, pois são grandes vinhos em todos os sentidos, infelizmente, muito caros no nosso país.
Os vinhos mais simples, ainda assim muito saborosos, são um corte denominado Edelzwicker. As classificações seguintes são AOC Alsace e AOC Alsace Grand Cru (AOC = Denominação de Origem Controlada). Importante notar que nos rótulos é obrigatória a presença do nome da varietal. Esta é a única região francesa com esta exigência. Duas outras classificações são a “Vendange Tardive” (colheita tardia) e “Sélection de Grains Nobles” (colheita de grãos Botritizados) que são os vinhos de sobremesa.
Para os leitores aventureiros, fazer a Rota dos Vinhos Alsacianos é um dos melhores passeios que conhecemos. O centro de tudo é a cidade de Colmar. Pode-se partir dali ou optar por começar em Thann acompanhado o Rio Reno até Marlenheim, próximo a Strasbourg.
Esta rota existe a 60 anos e todo visitante é bem vindo em qualquer época do ano. Os alsacianos se esmeram para mostrar os seus vinhos e uma fantástica culinária. Somos recebidos de braços abertos até mesmo durante as pesadas fainas da colheita e vinificação.
As localidades de Colmar, Kaysersberg, Riquewihr e Illhaeusern são pontos obrigatórios. Lá estão alguns dos melhores Chefs de cozinha, com pratos perfeitos para harmonizar com os vinhos de produtores como Kuentz-Bas, Trimbach, Marcel Deiss, Zind Humbrecht, Beyer, Rolly Gassmann, Weinbach, Bruno Sorg, Marc Kreydenweiss, Hugel, Domaine Ostertag, Albert Boxler, Schlumberger entre outros.  
A seguir, alguns produtores e seus vinhos icônicos.
Maison Trimbach
Produzindo desde 1626, está na 12ª geração de vinhateiros dando continuidade a uma impecável reputação. Um dos seus Riesilngs o Clos Sainte Hune é considerado como o melhor do mundo por críticos do calibre de Jancis Robinson e Hugh Johnson.
Segundo o produtor, “para se regalar com um Clos de Sainte Hune, é necessário esperar pelo menos 10 anos para que ele mostre seu verdadeiro potencial, 15 anos, em geral, ele está perfeito ao início de seus 20 anos, ou até mais”…
Proveniente de um verdadeiro Clos, plantado em anexo à igreja da família em Hunawihr, o Sainte Hune não é produzido em volume maior que 10.000 garrafas, devido à baixíssima produção das videiras de 50 anos em um restrito terroir.
Opinião dos Especialistas:
Wine Spectator: 94 pontos (2001) 96 pontos (1996)
Robert Parker: 94 pontos (2000) 95 pontos (1998)
Wine Enthusiast: 93 pontos (1998)

Domaine Zind-Humbrecht
Porduzindo vinhos desde 1620, esta vinícola é considerada como o melhor produtor de vinhos brancos do mundo. Uma unanimidade tão grande que é mesmo surpredente: Bettane & Dessauve (entre os mais respeitáveis críticos na França) o considera “como um produtor excepcional, representante da qualidade mais absoluta.”
Robert Parker diz: “Não sei o que é o mais extraordinário, a qualidade dos vinhos ou a dedicação completa de seu proprietário Olivier Humbrecht. Esse grande homem, forte e intelectual é provavelmente o melhor produtor do mundo”.
Jancis Robinson: ” Sou admiradora de sua incessante procura pela a melhor qualidade”.
Seu vinho mais conceituado é o Sélection de Grains Nobles Pinot Gris Clos Jebsal

O vinho precisa de alguns minutos para revelar sua extraordinária textura. O nariz é muito sutil, com notas confitadas, aeradas. A boca, untuosa, é duma pureza e densidade impressionantes. Nesse nível de concentração qualquer desvio seria perceptível. Mas aqui o açúcar e a acidez são concentrados num equilíbrio perfeito. O material é denso, aveludado. Tem uma riqueza extrema, um acidez excitante. É a pureza de equilíbrio e persistência quase infinitos. Provavelmente um dos melhores licorosos já produzidos, que recebeu os elogios de todos os grandes críticos (Parker: 97/100, Bettane & Dessauve 19/20 etc…). 
Se tornou um vinho ícone.
Domaine Schlumberger
É o maior produtor da Alsácia. Em atividade desde 1810. O vinhedo já existia na Idade Média e algumas das adegas, ainda em uso, datam daquela época. Há um perfeito casamento entre tecnologia e tradição – carroças puxadas por cavalos e helicópteros se unem no mesmo esforço de qualidade. A coerência e a harmonia do processo de produção são obras de várias gerações dedicadas a esses “terroirs” privilegiados e orgulhosos de uma fama internacional. Dentre sua inacreditável linha de vinhos destacamos o Gewurztraminer Grand Cru Kitterlé.

Produzido num espigão rochoso, com inclinação de 30 a 60% e excelente exposição sul-oeste a sudeste. O solo leve e arenoso é segurado por muros de pedras secas. Rendimento de 25 hectolitros por hectare. Colheita manual e prensagem das uvas inteiras. Criação sobre borra durante oito meses em tonéis de carvalho, com controle de temperatura.
Sua coloração é amarelo ouro claro, com reflexos verdes. No nariz é intenso porem delicado, com notas tropicais (lichia, manga) e especiarias (gengibre). Com a evolução percebem-se notas florais (rosa) e cítricas (grapefruit). Na boca é Um vinho amplo, vivo e bem equilibrado. A complexidade dos aromas se desenvolve fiel aos apresentados ao nariz. Bom equilíbrio, persistência surpreendente.

Dica da Semana:para celebrar tudo isto, mais um vinho de lá!
Crémant d´Alsace – $
René Muré, pequeno produtor da Alsácia, explora o domaine familiar situado em Rouffach. O solo de calcário argiloso confere a este espumante Brut seus aromas cítricos e de frutas amarelas (damasco, mirabela) e sua estrutura elegante. As parreiras tem idade media de 20 anos.
Uvas: Pinot Blanc; Pinot Auxerrois; Riesling; Pinot Gris; Pinot Noir.
Cor amarela pálida, com reflexos verdes. Perlage fina, numerosa e regular. No nariz trás aromas delicados florais (tília) e de frutas (maçã); notas de canela e baunilha. Na boca é bem equilibrado e redondo. Seco e aromático, com final vivo. Persistente.

 

Riesiling, Pinot Gris e Gewurtztraminer – 1ª parte


Três uvas importantes que produzem fenomenais vinhos brancos. A primeira já passou por estas páginas quando visitamos os vinhos alemães, mas ela brilha em outros terrenos a ponto de fazer uma dura concorrência e gerar milhões de apaixonados pela sua versão francesa, produzida na Alsácia. 

Vamos conhecer um pouco mais sobre esta curiosa região franco-alemã, sua uvas, e seus vinhos. 
Riesling 
Originária da região do Reno, esta uva é considerada como a verdadeira rainha dos brancos em franca oposição à Chardonnay. Produz vinhos muito aromáticos, perfumados, com claras notas florais e alta acidez. Dados estatísticos de 2004 mostram que esta varietal é a 20ª mais plantada no mundo e seus vinhos estão sempre entre os melhores brancos do planeta. 
Isto se deve a uma característica muito particular: é a uva que melhor expressa o terroir em que está plantada. Um Riesling do Reno é diferente do Alsaciano que é diferente do Australiano e assim por diante. Para os apreciadores, a disputa pelo melhor fica restrita entre França e Alemanha. Podem ser produzidos desde vinhos secos até os doces, de colheita tardia bem como espumantes. Raramente são envelhecidos em madeira o que sugere que devem ser consumidos jovens, mas devido sua acidez característica, suportam muito bem um longo período de guarda. Os secos duram de 5 a 15 anos, os meio-doces de 10 a 20 anos e os late harvest duram 30 ou mais anos. Há registros de Riesling alemães com mais de 100 anos. 
Chegaram à Alsácia em 1477 adaptando-se ao tipo de solo mais calcário desta região. Tecnicamente o Riesling alsaciano é considerado uma variação de sua irmã germânica. Seus vinhos são mais alcoólicos e mais redondos devido às técnicas francesas de vinificação. 

Rieslings maduros tem uma tendência a apresentar aromas e sabores de derivados de petróleo, querosene principalmente. Existe uma discussão interminável se esta característica é uma qualidade ou um defeito. Podemos ter certeza, apenas, que é um autêntico. Esta uva é encontrada nos principais países produtores, entre eles Austrália e Nova Zelândia, Áustria, Estados Unidos e Canadá, Chile, Argentina e Brasil. 
Seus vinhos são de fácil harmonização sendo muito versáteis: do peixe à carne de porco, passando sem problemas pelos sabores condimentados das culinárias Thai e Chinesa. 

Resposta ao Desafio da semana passada 
Como ninguém se deu ao trabalho de pesquisar, eis a resposta. Quando se trata de proteger seus domínios, os franceses são imbatíveis. Em 1954, após o relato de numerosos casos de OVNIs, o Prefeito da comuna de Châteauneuf-du-Pape, Lucien Jeune, editou um decreto municipal: 

“Art. premier. Le survol, l’atterrissage et le décollage d’aéronefs dits soucoupes volantes ou cigares volants de quelque nationalité que ce soit, sont interdits sur le territoire de la commune. 
Art 2. Tout aéronef, dit soucoupe volante ou cigare volant, qui atterrira sur le territoire de la commune, sera immédiatement mis en fourrière. 
Art 3. Le garde champêtre et le garde particulier sont chargés, chacun en ce qui le concerne, de l’exécution du présent arrêté”. 

Tradução: 
1º – Ficam proibidos no território desta comuna, o sobrevoo, a aterrissagem ou a decolagem das aeronaves conhecidas com discos voadores ou charutos voadores, de qualquer nacionalidade que seja. 
2º – Toda aeronave denominada disco voador ou charuto voador que aterrissar neste território será imediatamente arrestada. 
3º – A Guarda Campestre e a Guarda Particular estão incumbidas, cada uma em sua área, da execução do presente decreto. 
O curioso é que esta postura está válida até hoje, ninguém se deu ao trabalho de revogá-la! 
Do outro lado do mundo, na Califórnia, um moderno e atrevido produtor, Bonny Doon, lançou em 1984 uma família de vinhos elaborados nos moldes dos Châteauneufs. Bem ao seu estilo informal e quase debochado, o nome escolhido não poderia ser outro Le Cigarre Volant, ou Disco Voador… 

Cantinho do Gils: Nosso sempre atento comparsa nos traz uma preciosa informação sobre o 6º Concurso Internacional de Vinhos do Brasil, ocorrido em Bento Gonçalves entre os dias 03 e 06 deste mês de Julho. Reuniu 503 amostras de 17 países que foram avaliadas por um júri formado por 45 degustadores de 11 nacionalidades. Foram premiados 148 vinhos de 12 países. A relação completa está neste link: (download formato PDF) www.enologia.org.br/pt/component/kd2/item/download/3 

Dica da Semana: vinhos da Alsácia são maravilhosos, mas muito caros. Depois de uma boa pesquisa encontramos esta joia: 

Riesling 2009 
Produtor: P.E. Dopff & Fils 
País: França/Alsácia 
Uvas obtidas em vinhedos próprios, rendimento limitado e colheita manual. A vinificação é tradicional em tanque de aço inoxidável com controle de temperatura. Não sofre fermentação malolática e nem passa em barrica. Um Riesling, seco e marcante, bem típico da Alsácia. Mostra notas floras e minerais e uma ótima acidez. Pode ser guardado por até 10 anos. 
Harmonização: Frutos do mar e pratos orientais.

Lidando com os Enochatos

Este é um fato quase inevitável: à medida que vamos aprofundando no mundo do vinho, esbarramos com um determinado tipo que se acha superior aos demais. Eles aparecem em qualquer lugar, nas degustações, nas festividades, na mesa vizinha no restaurante, são onipresentes. 
Para lidar corretamente com esta situação, precisamos conhecer a personalidade de um bicho destes. Em geral, são eles que se intrometem oferecendo um comentário que ninguém solicitou. Podemos ter certeza que frequentaram algum curso sobre vinhos e, a partir daí, acham que sabem mais que todo o mundo. Muitas vezes nos deixam em situações embaraçosas, por exemplo, ao comentar a qualidade de um vinho servido num evento, na frente de quem selecionou a bebida (ele nunca vai estar satisfeito com qualquer vinho que lhe sirvam) afirmando que outro vinho seria mais adequado. 
Se houvesse um manual de psicologia, esta atitude seria qualificada como uma autodefesa que esconde as suas deficiências enológicas. Simplificando, o enochato não entende de nada, mas gosta de cantar de galo. Isto não torna as coisas mais fáceis, mas podemos tomar algumas atitudes para conviver com o tipo. 

1ª – Nunca beba vinho com um Eno Chato. 
Este é o melhor conselho: evite-os. Nem sempre será possível e algumas vezes teremos que caminhar pelas raias da má educação, mas é preferível não desarrolhar uma garrafa na presença de um deles: pode ser um desastre. A saída ideal é adotar uma atitude sarcástica e afirmar, na lata: com você não bebo vinho, prefiro abrir uma cerveja. 
Além do consumo, devemos evitar conversas sociais sobre esta bebida, ao menor descuido, lá vem ele querendo ensinar padre a rezar missa. Haja paciência… 
Se for inevitável a sua companhia… 
2ª – Desafie-o: faça o teste da prova às cegas. 
Mesmo um grande conhecedor de vinhos vai ter muito trabalho para reconhecer a uva e a origem de um vinho provado no escuro. Baseado nisto, uma das maneiras de calar o nosso inconveniente companheiro é desafiá-lo para uma provinha. Mas não podemos facilitar as coisas, se ele acerta estamos perdidos… 
Um bom truque é usar um vinho de corte para o teste. Preferencialmente um fora do circuito mais conhecido. Um bom vinho português com aquelas uvas que só tem por lá é tiro e queda. 
A nosso favor está o fato que o personagem de hoje poderá ser facilmente desmascarado na frente de todos. 
Se nada disto resolver, seguimos com mais uma sugestão. 

3 ª – Bombardeie com muitas dúvidas. 
Todo enochato é insatisfeito com a vida e reclama das coisas mais bobas. Se prestarmos atenção, ele mesmo vai nos fornecer a munição adequada para enfrentá-lo. A lista de questões tem que ter duas características: 
1 – devem ser dirigidas à pessoa, jamais pergunte numa forma genérica ou impessoal; 
2 – usem sempre o modo negativo, por exemplo, por que você não gosta disto? 
Algumas sugestões que podem ser usadas livremente:
– Por que razão você não bebe vinho desta safra?
– O que você não aprecia nos vinhos (cite qualquer país)?
– Como é mesmo a sua explicação para não comprar vinhos de tampa de rosca? 
Só precisamos estar seguros de conhecer as respostas corretas e não abusar, neste caso, o feitiço pode virar contra o feiticeiro. A manobra é para obrigá-lo a contar o maior número de abobrinhas possível, ridicularizando-o. 
4ª – Chame-o à razão 
Como eles se acham os donos da verdade, nem sempre trazê-los à razão é uma tarefa fácil. Mas vale a pena tentar se os argumentos forem sólidos. Como o negócio deles é criticar, nunca se dão conta de um velho ditado que diz: cada coisa em seu lugar. Adaptando para o nosso relato, existe um vinho para cada situação. 
Um exemplo clássico é um evento, como num casamento, em que um vinho mediano é servido. Bem entendido que isto é o correto, mas eles sempre querem algo superior – criticar um vinho que custa vinte ou trinta reais não tem graça… Este é o momento de imprensar o seu chato favorito: O que você queria que servissem? Um Chateau Petrus? (ou outro vinho do mesmo nível). 
Quase sempre funciona, mas tem umas almas empedernidas! 

5ª – O Contra–ataque: mas com as suas regras. 
Esta jogada, se bem executada, é um xeque-mate. Vamos usar algumas expressões bem genéricas, de grande efeito, para confundi-lo. A trama é nos passarmos pelo expert acabando com a graça de sua encenação. Temos que nos antecipar ao que ele poderia criticar. 
Eis uma boa lista, mas antes uma recomendação: não abusem! Podemos ser chamados de enochatos também:
– Este vinho precisa respirar um pouco. (podemos usar em qualquer degustação de tintos)
– Está jovem demais, ganharia muito com mais alguns anos na garrafa! (idem)
– Aromas de pera e maçã. (ideal para Chardonnay)
– Muito maracujá e frutas cítricas. (Sauvignon Blanc)
– Querosene! (Riesiling Alemão ou Alsaciano)
– Toneladas de frutas vermelhas. (aplica-se a qualquer Pinot Noir)
– Muita/o: terra/trufa/azeitona/herbáceo/mineral. (para qualquer tinto do Velho Mundo)
– Taninos domados. (idem)
– Refrescante e com boa acidez – óbvio que não passou por madeira. (use com a maioria dos brancos jovens, precisamos ter certeza que não foram barricados)
– Amanteigado. (idem para brancos que passaram em madeira)
– Ótimo no nariz. (somente se realmente for aromático)
– Este vinho pede uma comida. (esta é clássica, uso universal) 
Se a situação chegou ao extremo, podemos apelar para esta saideira:
– Certamente você não leu a última Coluna de Vinhos do Tuty… 

Dica da Semana: para enochato nenhum botar defeito. 

Gayda Syrah 2009 

Produtor: Domaine Gayda País: 
França / Languedoc-Roussillon 
Vinhedos: Brugairolles (200m de altitude) e La Livinière (250m de altitude) 
Vinificação: Maceração a frio por uma semana. Fermentação natural com temperatura de 26-28°C. Maturação: 10% permanece em barricas de carvalho de 1, 2 e 3 anos por 9 meses. 90% permanecem em tanque com as borras. 
O saboroso Syrah do Domaine Gayda foi um dos únicos 9 vinhos franceses que mereceram a medalha de ouro no concurso Syrah du Monde, comprovando sua ótima relação qualidade/preço. Encorpado, com camadas de frutas negras e grande frescor, é uma bela descoberta para os amantes da casta Syrah.

Conhecendo as garrafas de vinho

Para os menos avisados, o nosso apreciado vinho só começou a ser servido em garrafas de vidro a partir de 1630, na Inglaterra. Antes disto, o vinho era guardado em ânforas cerâmicas, depois em tonéis de madeira. Vamos conhecer um pouco desta curiosa evolução. 

Tudo gira em torno da tecnologia de fabricação de vidros. Os Romanos armazenavam seus vinhos nas famosas ânforas, utilizando pequenos jarros de cerâmica ou estanho para servi-los (canjirões). Conheciam o vidro, mas era um material frágil e inadequado para armazenar ou para o serviço do vinho. 

No início do século XVII, após um período de escassez de madeira, surgiriam os fornos a carvão que podiam atingir a temperatura ideal (1500ºC) para a fabricação de vidros espessos e resistentes usados nas garrafas. Estas eram sopradas individualmente. Como havia a necessidade de decantar o vinho antes de servi-lo, os primeiros formatos eram bojudos, conhecidos como acebolados: sua forma lembrava o contorno da cebola. 

Este formato, em pouco tempo, ganharia laterais mais retas, com um contorno semelhante a um malhete ou massa, como preferem alguns autores. 

À medida que o vinho foi se popularizando, as pessoas passariam a comprá-lo em garrafas e não mais em barricas. Não existiam formatos ou quantidades padronizadas. O descontrole era de tal ordem que na Inglaterra de 1860, foi proibida a venda do vinho engarrafado. Como alternativa, o consumidor levava o seu recipiente que era preenchido com quantidades medidas pelo vendedor. Na França, os vinhos da Borgonha e as Champagnes eram vendidos em garrafas de 800ml, os de Beaujolais em garrafinhas de 500ml. Não havia um consenso. 
Somente a partir de 1970 houve uma mudança importante: por exigência dos Estados Unidos, as garrafas exportadas para lá deveriam ter um volume padronizado de 750ml, que acabou se tornando o padrão universal. 
Os Formatos 
Após a padronização do volume, surgiria uma plêiade de diferentes formatos. Alguns se tornaram tradicionais e as garrafas passaram a ser designadas pelos nomes destes vinhos: 
Garrafa Bordalesa – a mais conhecida: 

Os vinhos da Borgonha e do Vale do Ródano tem outro formato: 

A Flauta, típicas dos vinhos Alemães ou Alsacianos: 

Esta garrafa bojuda é da região alemã da Francônia (norte da Baviera): 

Não chega a ser um conceito universal estando mais próximo de uma tradição. Outras garrafas características são as de vinho do Porto e as de espumantes.  

Outros tamanhos 
Muito comum em comemorações esportivas, as grandes garrafas, principalmente as de espumantes, recebem denominações especiais. Eis uma lista resumida. 
Para quase todos os vinhos:  
Magnun – 1,5 l (duas garrafas);
Doble Magnum – 4 garrafas. 
Para os espumantes: (eventualmente podem ser usadas com outros vinhos) 
Jeroboão – 3 l (equivale a Double Magnum) 
Roboão – 6 l 
Matusalém – 8 l 
Salmanazar – 9 l 
Baltazar – 12 l 
Nabucodonosor – 20 l

Acima deste tamanho existem ainda a Melchior, a Salomão, a Soberano e a Melquisedec, com impressionantes 30 litros (fabricadas por encomenda). 

A foto a seguir mostra uma Melquidesec da Maison Drappier, especialista em grandes tamanhos. Tem aproximadamente 1,5m de altura, pesando mais de 40 quilos. São produzidas apenas 20 garrafas por ano. Quem vai encarar? 

Dica da Semana: depois deste exagero todo, ficamos com água na boca. 

Espumante Cave Geisse Brut Nature 
Elaborado pelo método champenoise, este espumante é apropriado para todos os momentos. Por não receber a adição de licor de expedição, acompanha muito bem qualquer refeição. 
Localização: Pinto Bandeira/Serra Gaúcha 
Açúcar Residual (aprox. 1,0 g/l) 
Vinho Base: 70% Chardonnay 30% Pinot Noir

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