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Os Grandes Vinhos do Mundo – Lendas norte-americanas – Final

O Branco 
A escolha do Chateu Montelena, safra 1973, como vencedor da degustação parisiense de 1976 foi mais impactante do que o resultado dos tintos. Este colosso norte-americano, apesar do nome francês, derrubou o mito sobre os brancos da Borgonha e mostrou que bons Chardonnays podem existir em outros lugares do mundo. 

Chateau Montelena 

Os derrotados foram os respeitadíssimos Meursault Charmes Roulot, Beaune Clos des Mouches Joseph Drouhin, Batard-Montrachet Ramonet-Prudhon e Puligny-Montrachet Les Pucelles Domaine Leflaive. Um dos jurados, a toda poderosa de então, Odette Khan, ensaiou uma revolta exigindo que suas fichas de votação lhe fossem devolvidas e insinuando que o resultado fora manipulado. Um escândalo! 
Este fabuloso Chardonnay foi fruto de uma obsessão. O que restava da vinícola original, desmantelada após a lei seca, foi adquirido por um grupo de investidores, entre eles, James (Jim) Barrett que se encarregou restaurá-la, plantando novos vinhedos e reequipando o velho prédio com modernos equipamentos para vinificação. Contratou o temperamental, mas muito competente enólogo, Mike Grgich, de origem Croata, para conduzir a vinificação. A primeira safra seria produzida em 1972. Tudo o que desejavam era fazer um vinho tecnicamente perfeito. 
Conseguiram! 

De modo análogo ao Cabernet da Stag´s Leap, este Chardonnay é vinificado num padrão diferente. Quase não passa por madeira e não é submetido à fermentação malolática. Deixa em segundo plano a madeira e o sabor amanteigado para privilegiar uma vivacidade e mineralidade que o faz um vinho muito elegante e discreto. 
Curiosidades: 
– Jim Barret e Mike Grgich acabaram se separando devido a diferenças irreconciliáveis. Jamais retomaram a parceria. Mike fundou sua própria vinícola, competindo diretamente com a Montelena; 
– Em 2004, foi detectada uma contaminação por 2,4,6-trichloroanisole, o TCA, nos seus vinhos. Caras medidas foram tomadas para promover a descontaminação dos barris de envelhecimento, origem do problema; 
– Hoje, outro vinho emblemático do Chateau Montelena é um especialíssimo Cabernet Sauvignon que está no mesmo nível do Cask 23 da Stag´s Leap. 

Uma triste conclusão 
A evolução dos vinhos do Chateu Montelena passa por altos e baixos. O filho de Jim, Bo Barrett, assumiu a vinícola em 1981 e a dirige até hoje. É considerado um dos melhores enólogos da América. Mas alguns de seus vinhos receberam críticas negativas, o que aponta para a existência de problemas nos vinhedos ou na vinificação. Em 2008 foi anunciada a venda da vinícola para a francesa Chateau Cos d’Estournel, de Bordeaux, num mega-negócio que incluía pesados investimentos no replantio de vinhedos e modernização de equipamentos. Nunca foi concluído. 
Talvez seja esta a grande diferença entre os vinhos do velho e novo mundo: faltam-lhes as tradições.

Dica da Semana: um Chardonnay da Califórnia bem acessível! 

Hayes Ranch Chardonnay 2008 
Vinícola: Hayes 
Pais: Estados Unidos / Califórnia 
Fundada há 125 anos, uma das vinícolas mais antigas do país. Hoje é líder na Califórnia. Misturando técnicas tradicionais e inovando sempre. 
Coloração amarela esverdeada, límpido e cristalino, aroma floral e frutado (frutas brancas), fresco e algo mineral, notas cítricas e de maçã verde com persistência média, guarneceu bem um salmão na grelha. 

Os Grandes Vinhos do Mundo – Lendas norte-americanas – 1ª parte

Dois vinhos importantíssimos. Foram os grandes campeões da famosa degustação às cegas organizada em Paris, no ano de 1976. Derrotaram marcas famosas e causaram, de forma indiscutível, uma grande alteração no mapa mundi do vinho. 
A Califórnia entrou em cena! (em grande estilo). 
O Tinto 
Imaginem uma vinícola, com apenas 6 anos de fundada, enviar um de seus vinhos para ser julgado, na França, sendo comparado com os fabulosos Château Haut-Brion, Château Mouton-Rothschild, Château Leoville Las Cases, Château Montrose e ser considerado o melhor da prova? 
Os julgadores? Nomes do maior respeito na época: 
Pierre Brejoux (França) – Instituto das Denominações de Origem 
Claude Dubois-Millot (França) – Guia Gault e Millau 
Michel Dovaz (França) – Instituto dos Vinhos da França 
Patricia Gallagher (Americana) – Academia do Vinho 
Odette Kahn (França) Editora da La Revue du Vin de France 
Raymond Oliver (França) – Restaurante Le Grand Véfour 
Steven Spurrier (Inglês) – crítico de vinhos e organizador do evento 
Pierre Tari (Frença) – Chateau Giscours 
Christian Vanneque (França) – Sommelier do Tour D’Argent 
Aubert de Villaine (França) – proprietário do Domaine de la Romanée-Conti 
Jean-Claude Vrinat (França) – Restaurante Taillevent 
O vinho apresentado foi o Stag’s Leap Wine Cellars Cabernet Sauvignon, safra de 1973. Vinificado por Winiarsky e seu enólogo, na época, Tchelistcheff, utilizou uvas colhidas de videiras extremamente jovens da área denominada S.L.V. O processo de vinificação ainda estava sendo ajustado. Um produto que tinha tudo para dar errado, um azarão. No entanto, tornou-se o vinho mais comentado da época e elevou a vinícola ao status de grande estrela.

O vinho, embora tenha uma denominação varietal, é um corte de 93% Cabernet e 7% de Merlot, respeitando a legislação americana. Por seguir uma receita de vinificação considerada clássica, os produtos da Stag’s Leap são muito diferentes daqueles dos produtores vizinhos, embora todos compartilhem um mesmo terroir. Os vinhos de Winiarsky são considerados dinâmicos, harmoniosos, equilibrados e transcendentes. Após a compra do vinhedo Fay, em 1986, houve um replantio das videiras o que forçou a mudança do nome, deste vinho, para Cask 23. Atualmente é considerado o melhor Cabernet dos EUA. Caríssimo!

Curiosidades: 
– existe uma outra vinícola com um nome semelhante, a Stags’ Leap Winery. Reparem que a diferença entre os nomes é, basicamente, a posição do apóstrofo – Stag’s e Stags’ – fruto de uma decisão judicial de 1986 que aproximou os dois vinhateiros, Winiarsky e Doumani. Para selar a nova amizade, produziram um vinho com uvas das duas propriedades, denominado Accord (Acordo);
– uma das poucas garrafas existentes faz parte da coleção do Smithsonian National Museum of American History;
– há uma garrafa desta mitológica safra para vender, em Hong Kong, por R$ 1.400,00; (pesquisa realizada em 2012).

Em 2007 a vinícola foi vendida para um consórcio formado pelo Chateau Ste. Michelle, uma vinícola do estado de Washington e pela italiana Marchesi Antinori Srl. O valor foi 185 milhões de dólares. 

Dica da Semana: A Stag’s Leap produz uma linha de vinhos mais acessíveis, a Hawk Crest, que se encontra à venda no Brasil. São um pouco mais caros que produtos chilenos ou argentinos, mas vale o investimento. 

Hawk Crest Cabernet Sauvignon 2006 
Produtor: Stag’s Leap Wine Cellars / 
Estados Unidos Elaborado pela aclamada vinícola Stag’s Leap Wine Cellars, produtora do mítico Cask 23, o Hawk Crest mostra concentração e profundidade de fruta e excelente relação qualidade/preço. 

Na próxima semana, vamos conhecer o Chardonnay que abalou a França.

Uma coluna para o Natal e Ano Novo – Final

Na semana passada, falamos de espumantes e lembranças para os amigos. Abrimos a coluna de hoje com um presente para a família. Vamos para a cozinha, vestimos o nosso melhor avental e mãos à obra: 
Gelatina de Vinho 
Vamos precisar de: 
2 envelopes de gelatina sem sabor 
½ xícara de água fria 
3 xícaras de vinho tinto (Merlot de preferência) 
½ xícara de Vinho do Porto ou Madeira (ou substitua tudo por 3 ½ xícaras de Jerez ou Porto) 
½ xícara de suco de laranja coado 
1/3 xícara de açúcar 
Preparo 
Amoleça a gelatina na água. Numa panela, aqueça, sem deixar ferver, o vinho e o suco de laranja. Acrescente o açúcar ao líquido aquecido. Prove e ajuste a doçura ao seu gosto. Acrescente a gelatina, misturando até a completa dissolução. Deixe esfriar e enforme numa forma tipo anel ou com furo central. Se preferir, use taças individuais como na foto. Leve para a geladeira. 
Para acompanhar, prepare um Chantilly batido com Vinho do Porto: 
Bata um xícara de creme de leite (fresco, não serve de lata ou caixa) num recipiente gelado até que comece a firmar. Acrescente, pouco a pouco, 3 ½ colheres de sopa de Porto e 2 ½ colheres de sopa de açúcar de confeiteiro, batendo até firmar. Coloque no centro da forma ou nas tacinhas. Decore com pistachos ou nozes picadas. 

É uma sobremesa fantástica, sem álcool e todos podem se servir. Para que o sucesso seja completo, é muito importante escolher o vinho. O Merlot é uma ótima opção. Uma alternativa seria o Carménère. Antes, um bom conselho: jamais usem um vinho barato para cozinhar, usem o mesmo vinho que vocês beberiam. 
Vinho na ceia de Natal ou Ano Novo 
A data de 25 de dezembro foi estabelecida como o dia de Natal no século IV. Antes disto, frente a uma inexatidão sobre o dia do nascimento de Jesus, as comemorações podiam durar até 12 dias, tempo da viagem dos Reis Magos até Nazaré. 
Embora ainda se copie tradições de outras culturas, Presunto, Peru ou outra ave, Pernil de porco e Bacalhau são os pratos mais comuns nas mesas de fim de ano. O vinho é o acompanhante perfeito ajudando no clima festivo e preparando o nosso paladar. 
Harmonizando com Tintos, Brancos e Espumantes 
Vamos esquecer os tintos encorpados e pesados, mesmo numa região mais fria ou debaixo de um artificial microclima (ar condicionado no máximo!). Os tintos ideais para esta época do ano devem ser leves e saborosos. Os brancos devem ser mais estruturados, preferencialmente com passagem por madeira. Já os espumantes podem funcionar como o ás na manga, servindo para qualquer situação. 
Peru ou Chester – um bom Merlot ou um Pinot sul americano são ótimas opções. São harmonizações modernas. Tradicionalmente, um Chardonnay é sempre bem vindo. Não tente nada além, exceto um espumante. 
Pernil – por ser uma carne versátil, vai bem com tintos leves como Pinot e até mesmo um bom Tempranillo. Novamente, o Chardonnay é o branco de preferência. 
Presunto Tender – os acompanhamentos adocicados determinam esta harmonização. Destacam-se os Merlot frutados sul-americanos. Entre os brancos, prefira um ótimo espumante Brut. 
Bacalhau – esta não é uma harmonização fácil. Tradicionalmente, um bom vinho verde cai muito bem. Outra opção são os Chardonnays amadeirados e envelhecidos. Infelizmente são caros. Entre os tintos, o Pinot seria a melhor escolha. 
Indicações: 

As Sobremesas Neste capítulo, o céu é o limite. As regrinhas tradicionais funcionam perfeitamente: chocolates com vinho do Porto; doces natalinos como tortas de nozes, panetones, casam perfeitamente com brancos de colheita tardia. 
Há uma tradição das mesas natalinas, a Rabanada, doce de origem portuguesa que simboliza o espírito de Natal. Em lugar de propor uma harmonização, que tal um inovação? 
Calda de Vinho do Porto para as Rabanadas 
Vamos precisar de: 
500 g de açúcar 
300 ml de água 
Casca de uma laranja 
1/2 cálice de vinho do Porto 
Preparo
Misture o açúcar e a água com a casca de laranja. Leve ao fogo e ferva por uns 3 minutos. Acrescente o vinho do Porto, espere ferver até o ponto de fio fino. Espere esfriar. 
Sirva as rabanadas acompanhadas da calda.

Alemanha, Líbano e Grécia

Antes de cruzarmos o Atlântico e iniciarmos a jornada pelos vinhos famosos do Novo Mundo, vamos conhecer um pouco destes três países e seus surpreendentes vinhos. 
Alemanha e seus brancos maravilhosos 
Os Romanos introduziram a vinicultura na Alemanha. Na idade média, a Igreja Católica adquiriu e expandiu os vinhedos. Coube ao Imperador Carlos Magno, no século XVIII, posicionar vinhedos na região de Rheingau. A vinicultura alemã também fez história. 
Não tendo mais a importância de antigamente, atualmente a área plantada é aproximadamente um décimo de França ou Itália. Muito respeitada por ser o berço da uva Riesling, uma das grandes damas do vinho branco, ao lado da Chardonnay, produz uma vasta gama de vinhos, desde os secos Kabinet aos raros e caros Trackenbeerenauslese (TBA) e bons tintos à base de Pinot Noir ou Spätburgunder. Os alemães são grandes consumidores de seus vinhos, não sobrando muito para exportar. O pouco que vai para o exterior não é a parcela mais significativa, principalmente no item qualidade. 
Alguns rótulos alemães foram falsificados sem nenhum escrúpulo como o famoso Liebfraumilch, muito popular há alguns anos atrás. Houve ainda a invasão dos vinhos conhecidos como garrafa azul, de pouca qualidade, que ajudariam a destruir a reputação dos germânicos aqui no Brasil. Mas há exceções. 

Uma das histórias mais interessantes é a do vinhedo Bernkasteler Doktor localizado na mais valorizada área rural do rio Mosela. Ocupa uma pequena área e poucos produtores o exploram. Há uma lenda sobre este nome: teria sido dado pelo arcebispo Boemund de Trier, século XIV, proprietário de um castelo sobre a cidade de Bernkastel. Um dia adoeceu e nenhum dos remédios conhecidos o faria melhorar. Mas uma taça do vinho ali produzido fez a cura milagrosa. Em gratidão, atribuiu o título de Doutor (Doktor) àquele local. Anos mais tarde, em 1921, sairia destas vinhas o primeiro TBA do Mosela. O principal vinhateiro da região é Dr. H. Thanish, seus vinhos estão entre os melhores e mais caros do país. 
A Mosela não é o único terroir da Alemanha: Reno, Palatinato, Nahe, Francônia, etc. produzem excelentes vinhos. São nomes famosos: Dr. Loosen (Mosela), Dr. Burkiln Wolf (Palatinato), Robert Weil (Reno) e Hans Wirsching (Francônia). 

Líbano e o Chateau Musar 

Este é uma das glórias entre os vinhos tintos, uma das poucas bebidas com uma enorme personalidade que traduz, perfeitamente, o carinho e a dedicação da família Hochar, que o vinifica desde 1930. Tendo superado todo o tipo de adversidade, inclusive uma devastadora guerra civil nos anos 80, conseguiram manter vinhedos e vinícola intactos, transportando as uvas, muitas vezes, pelas linhas de frente. 

Um delicioso corte de Cabernet Sauvignon, Cinsault e Carrignam, em proporções que variam a cada safra. Dependendo do ano, pode parecer um Côtes du Rhône ou um Medoc. Surpreendente e respeitado por críticos de todo o mundo. São produzidas versões em branco e rosé, além de um varietal de vinhedo único, o Hochar Pére et Fils. 

Serge Hochar atual proprietário 

Outros produtores libaneses conhecidos são Chateau Kefraya e Chateau Ksara. 
Os vinhos Gregos 
Grécia foi um dos berços dos vinhos. Sua história de vinicultura tem mais de 4.000 anos. Em 1000 AC, eram os grandes exportadores utilizando, como recipiente, as famosas ânforas que já naquela época mostravam sinais de uma legislação vinícola: havia diferentes formatos para cada área produtora, era obrigatória a indicação do ano de produção e cada vaso recebia um selo de autenticidade emitido pelo governo local. 

Os gregos difundiram o plantio de uvas em várias partes do Mediterrâneo, marco inicial da vitivinícola europeia. No sul da Itália ainda se encontram cepas com os nomes usados na Grécia. 

No mundo moderno a parcela de produção atual é mínima se comparada com a antiguidade. A partir dos anos 80, surge uma nova geração de enólogos, formados nos principais centros vinícolas do mundo e diversas marcas multinacionais investiram na produção de vinhos modernos, aproveitando a excelente diversidade de uvas autóctones. Cepas como Aghiorghitiko, Assyrtiko e Moschofilero e os produtores como Boutari, Gerovassiliou e Gaia já estão no repertório de bons enófilos. 

Existe uma classe de vinhos muito particular e simpática aos gregos, o Retsina. Para impedir a oxidação dos produtos que eram exportados nas ânforas, estas eram seladas com uma resina de pinheiro. Mais tarde, a resina passou a cobrir o líquido alterando o seu sabor e criando uma nova categoria: vinho com sabor de resina. Pouco a pouco, por exigência do mercado, esta característica foi se tornando mais sutil, com sabor menos intenso, fresco e fácil de beber. Embora renegado, existem exemplares de excelente qualidade e que harmonizam perfeitamente com a culinária local mais condimentada. 

Dica da Semana: um delicioso tinto da Grécia. 

Náoussa OPAP 2006 
Produtor: Boutári 
País: Grécia egião: Macedônia 
O mais emblemático vinho grego de qualidade, colecionando prêmios há mais de 50 anos, o ótimo Naoussa, elaborado com a uva Xynomavro, é rico e concentrado, bastante saboroso. Tem cor vermelha vívida e seu complexo buquê denota frutas vermelhas maduras, canela e carvalho. Tem grande potencial de envelhecimento. Foi o primeiro vinho a ser engarrafado na Grécia, continuando até hoje a ser um dos tintos de referência do país. 
RP 88 (06) – WS 87 (06)

Adoçando a Vida! – Final


Vin Santo, Passito, Icewines, Late harvest… ou: 
Não só de uvas botritizadas se fazem vinhos doces.

Se houvesse uma competição entre alguns vinhos de sobremesa, os dois produtos já apresentados seriam os favoritos. Mas há sempre aquele competidor inesperado, que surpreende os demais, deixando-os para trás. É o caso do primeiro personagem de hoje. Ele não é produzido a partir de uvas atacadas pela podridão nobre, mas com semi passificadas. Como o vinho húngaro, ele é um orgulho nacional. Conheçam-no! 
Vin Santo, da Itália
Batizado assim por ter sido usado, pela Igreja Católica, na consagração da missa. Outra explicação sugere que o nome surgiu em 1439, na época do Concílio Ecumênico que se realizou em Florença, capital da Toscana, onde é produzido. Alguns o grafam como Vinsanto, mas há uma pequena confusão com esta denominação: alguns vinhos, de origem grega, da ilha de Santorini, adotam este nome. 

Tradicionalmente, o Vin Santo provém das uvas Trebbiano, Malvasia, San Colombano e Canaviolo Branco. Algumas varietais mais contemporâneas já são aceitas, como Grechetti, Pinot branco e a Chardonnay. Existe um Vin Santo tinto, raro e delicioso, obtido a partir da uva Sangiovese. Não chega a ser um vinho de cor escura, estando mais próximo de um rosé, bem fechado. Ficou conhecido como Occhio di Pernice, ou Olho da Perdiz. Após a colheita, as uvas maduras são colocadas para secar sobre esteiras de palha durante um período de até 4 meses. As uvas serão prensadas, e o mosto fermenta e amadurece, em pequenos barris, os Caratelli. O período de amadurecimento pode durar de três a oito anos. Pode ser encontrado nos seguintes estilos: doce, amabile (meio doce) e seco. Deve ser bebido em cálice, ligeiramente resfriado, a 12°C. 

Uma das boas coisas da vida (realmente muito gostosa) é acompanhar o Vin Santo com um biscoito de amêndoas, o Cantuccini. Mergulha-se no cálice e… 
É fácil de encontrar, e também pode ser feito em casa (*receita depois da dica*). 

Vin Santo e Cantuccini 

A técnica de vinificação a partir de uva passa, Passito, origina excelentes vinhos. A Itália contribui com várias delícias, entre elas o reputado Passito de Pantelleria. A França nos dá os Côtes du Jura. Até no Brasil já temos o Passito de Moscato Giallo, produzido pela Vinícola Santa Augusta, em Sta. Catarina. 

Icewines 
Uma forma interessante de aumentar o teor de doçura na uva é deixar os cachos congelarem ainda na videira: a água congela, o açúcar, não. Obviamente, isto só é possível em países de climas frios. Alguns produtores, em países com climas mais temperados, adotam a criogenia, técnica de congelamento mecânico. Ao contrário das uvas passificadas e apodrecidas, para o Icewine a fruta dever estar intacta ou não resistirá aos rigores do processo. Podem ser usadas as uvas tradicionais, inclusive varietais tintas. 

Uvas congeladas 

Alemães e Canadenses dominam este mercado e os caldos são preciosos. Também já existe um Icewine brasileiro, produzido pela vinícola Pericó. 

Late harvest – Colheita Tardia 
O termo designa todo e qualquer vinho feito com frutas colhidas algum tempo depois de terem sido consideradas no ponto, o que abrange a grande maioria dos vinhos aqui descritos: Sauternes, Tokajis, Vin Santo, Passitos. Entretanto, produtores do Novo Mundo adotaram, informalmente, esta denominação para indicar os seus vinhos de sobremesa. Frequentemente, isso sinaliza o uso de uvas muito maduras, ainda não botritizadas. Se for o caso, haverá uma informação a respeito num dos rótulos. São ótimas opções, tendo excelente relação custo x benefício. 

Late Harvest Chileno 

Neste segmento, os vinhos brancos alemães se destacam indiscutivelmente, mas nem todos são doces. Por isso é indispensável compreender sua terminologia, algo bem ordenado, mas complexo. Vamos enfrentar esta fera! 
Os brancos germânicos são classificados como: 
Tafelwein – um vinho de mesa comum, sem grandes pretensões.
Landwein – vinho regional, normalmente seco. A lei exige uvas mais maduras, o que se traduz em melhor qualidade. 
Qualitätswein – vinho de qualidade. As uvas devem satisfazer um nível legal mínimo de maturação. 
Qualitätswein mit Prädikat – vinho de qualidade, dotado de seis predicados, mencionados nos rótulos, e indicativos de um determinado nível de maturação durante a colheita. As uvas são deixadas para amadurecer lentamente, e desenvolvem grande concentração de fruta e caráter, embora mantendo altos níveis de frescor e acidez. 
São elas:
    Kabinett – uvas totalmente maduras que resultam em vinhos leves, secos. 
    Spätlese – uvas colhidas no mínimo sete dias, ou mais, após a colheita principal, contendo grande conteúdo de açúcar. Os vinhos são intensos e concentrados, em duas versões, doce ou seco (Trocken).
    Auslese – uvas muito maduras, colhidas de maneira selecionada, muitas vezes botritizadas. Vinhos de paladar doce, produzidos nos estilos seco ou meio seco – Trocken ou Halbtrocken.
    Beerenauslese – bagos super maduros normalmente botritizados, produzindo vinhos muito doces e intensos.
    Trockenbeerenauslese – bagos super maduros, botritizados e passificados, e vinhos deliciosos, doces, incrivelmente concentrados, com acidez refrescante. Este é um vinho raro e muito caro, resultado de safras excepcionais.
Cabe nesta classificação o nosso conhecido Icewine (Eiswein). Sua doçura equivale a um Beerenaulese. 

Beerenauselese

Recomendações Finais Existe, principalmente no Brasil, um vinho de mesa, vendido em garrafão, sob a denominação de Suave. É um vinho doce, obtido graças à adição de açúcar refinado ao vinho denominado Seco.  
Não é sobre este tipo de vinho que estamos escrevendo!

Nunca, jamais, em tempo algum, devemos consumir vinhos de sobremesa para acompanhar o prato principal de uma refeição. Admitem-se, neste caso, os brancos alemães, até a categoria Spatelese, com carnes claras e acompanhamentos como os da cozinha contemporânea. É impensável usar estes caldos para amenizar sabores fortes ou picantes. São perfeitos para harmonizar com queijos tipo Roquefort, Gorgonzola, patês, etc. Devem ser degustados em cálices, como um licor, e de preferência gelados. 

Dica da Semana: um Vin Santo. 

Poderi del Paradiso Vin Santo (375ml) 
Região Produtora: San Gimignano 
Safra: 2004 
Cor amarela dourada intensa. Aromas de frutas secas (amêndoas, damasco), flores secas. Na boca é doce, equilibrado, untuoso, encorpado, boa acidez, longa persistência. Ideal para acompanhar sobremesas em geral, doces de colher e os tradicionais Cantucci (biscoitos de amêndoas). 

Receita dos Cantuccini 
Ingredientes 
250g de farinha de trigo 
200g de açúcar 
1 pitada de sal 
100g de amêndoas sem pele 
2 colheres (café) de fermento em pó 
Raspas de casca de laranja 
1 colher (café) de baunilha 
2 ovos 
2 gemas 
Modo de preparo 
Misture a farinha, o açúcar, o sal, as amêndoas, o fermento, as raspas de casca de laranja e a baunilha. Adicione os ovos e as gemas. Mexa bem. Com as mãos, enrole a massa dando-lhe o formato de cordões com aproximadamente 2 cm de diâmetro. Ponha os cordões em uma assadeira untada com margarina e asse-os em forno preaquecido (180°C) até que fiquem dourados. Assim que retirá-los do forno, corte os cordões em pedaços de 2 cm de largura, tomando cuidado para que não se quebrem. Arrume os biscoitos em outra assadeira virando uma das partes cortadas para cima. Leve para assar por mais uns 5 minutos até dourar levemente.

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